Jack fica furioso quando sua cunhada aparece em um evento familiar usando o vestido querido de sua falecida esposa, Della. Mas o golpe final vem quando ela “acidentalmente” o arruína bem na frente dele. Jack segura sua raiva, mas o carma tem suas formas de entregar justiça de maneiras que ninguém espera.**
Faz seis meses desde que perdi minha esposa, Della, e, em alguns dias, sinto que estou me afogando em memórias. Hoje foi um desses dias, até que o carma decidiu aparecer, atrasado para a festa.
Mas estou me adiantando. Deixe-me voltar um pouco para a semana passada.
Era para ser um dia feliz, o 45º aniversário de casamento dos pais de Della e sua irmã Lina. Em vez disso, tornou-se um pesadelo que me fez desejar ter ficado em casa, afogando minha dor em uma garrafa de uísque.
Eu estava no canto da sala de estar, segurando uma bebida e tentando me misturar com o papel de parede.
O barulho de conversas de família e amigos me envolvia, um som surdo que não conseguia apagar a dor em meu peito. Cada risada, cada tilintar de copos era um lembrete de que Della deveria estar ali, iluminando a sala com seu sorriso.
Foi então que aconteceu. O momento que fez meu sangue gelar e depois ferver em questão de segundos.
Lina apareceu no topo da escada, e meu mundo virou de cabeça para baixo.
Ela estava usando o vestido de noivado de Della. Aquele que eu lhe dei na noite em que a pedi em casamento, o qual ela valorizou por anos. Era uma peça suave e esvoaçante, em um tom de azul que combinava perfeitamente com os olhos de Della.
Vê-lo em Lina parecia uma violação.
Eu não conseguia me mover. Não conseguia respirar. Meus dedos apertaram o copo enquanto Lina descia as escadas, com um sorriso presunçoso nos lábios. Ela sabia exatamente o que estava fazendo.
“Jack!” ela chamou, a voz carregada de falsa doçura. “Você não acha que esse vestido é perfeito para a ocasião?”
Abri a boca, mas nenhuma palavra saiu. O que eu poderia dizer que não causasse uma cena? Que não jogasse exatamente no jogo dela?
Lina caminhou em minha direção, os olhos brilhando de deleite malicioso. “O que foi, Jack? O gato comeu sua língua?”
Respirei fundo, tentando me acalmar. “Esse é o vestido de Della,” consegui rosnar.
Ela riu, um som como unhas arranhando um quadro negro. “Ah, vamos lá. Não é como se ela precisasse dele agora. E agora,” ela se inclinou perto, o hálito quente em meu ouvido, “ela não pode dizer não para mim.”
Algo quebrou dentro de mim. Eu estava prestes a liberar anos de fúria reprimida quando Lina suspirou dramaticamente.
“Oh, não!” ela gritou. “Sou tão desastrada!”
O tempo parecia ter desacelerado enquanto eu observava uma onda de vinho tinto se espalhar pela frente do vestido de Della. Os olhos de Lina encontraram os meus, cheios de falsa inocência e um triunfo muito real.
“Ops,” ela disse, a voz carregada de sarcasmo. “Acho que estraguei. Que pena.”
Não me lembro de muito do que aconteceu depois. De alguma forma, consegui passar o resto da festa sem cometer um assassinato. Mas, enquanto dirigia para casa naquela noite, meus nós dos dedos brancos no volante, sabia que algo havia mudado.
De volta à nossa — minha — casa vazia, andei de um lado para o outro como um animal enjaulado. Memórias de Della inundaram minha mente, afiadas e dolorosas. Sua risada, sua força, a maneira como ela sempre enfrentava as besteiras de Lina.
“Deus, sinto sua falta, Del,” sussurrei para o quarto vazio. “Você sempre soube como lidar com ela.”
Eu quase podia ouvir a voz de Della na minha cabeça, calma e firme. “Não deixe que ela te afete, Jack. Ela não vale a pena.”
Mas não era mais só sobre mim.
Era sobre honrar a memória de Della, sobre não deixar Lina pisar na vida que construímos juntos.
Enquanto me jogava no sofá, exausto e de coração partido, uma estranha calma tomou conta de mim. Eu não buscaria vingança; isso não era o que Della teria desejado. Mas eu não ficaria no caminho do carma também.
Algo me dizia que o universo havia notado o comportamento de Lina, e era apenas uma questão de tempo até que as coisas se equilibrassem.
Mal sabia eu o quão certo estava.
Alguns dias depois, estava rolando sem pensar pelo feed das redes sociais, tentando me distrair do vazio que corroía meu peito, quando um post chamou minha atenção. Era de Lina, e era… dramático, para dizer o mínimo.
“Meus queridos amigos,” dizia, acompanhado de uma selfie de Lina com lágrimas manchando sua maquiagem, “Fui roubada ontem! Levaram todas as minhas roupas de coquetel e marcas de luxo. Estou devastada!”
Pisquei e li de novo.
Uma risada começou a surgir na minha garganta, inesperada e um pouco enferrujada de tanto tempo sem uso. Antes que eu pudesse processar completamente o que estava lendo, meu telefone tocou. O nome de Lina piscou na tela.
Atendi, movido pela curiosidade. “Alô?”
“Seu cretino colossal!” A voz estridente de Lina invadiu meu ouvido. “Eu sei que foi você! Como ousa?”
Afastei o telefone do ouvido, enquanto sua explosão continuava sem parar. Quando ela parou para respirar, entrei na conversa. “Lina, do que diabos você está falando?”
“Não se faça de idiota, Jack! Minhas roupas, todos os meus trajes de grife, se foram! E eu sei que você está por trás disso!”
Não pude evitar. Ri. Foi uma risada de verdade, daquelas que eu não experimentava desde que Della morreu. “Lina, odeio estragar sua teoria, mas eu não tenho nada a ver com o sumiço das suas roupas.”
“Mentiroso! Quem mais faria isso? É vingança pelo vestido, não é?”
Suspirei, apertando o nariz entre os dedos.
“Lina, estou em casa, afundado em minha dor. Não saí de casa há dias. Como exatamente você acha que eu organizei o roubo do seu guarda-roupa?”
Ela gaguejou, claramente não esperando que a lógica entrasse na conversa. “Mas… mas…”
“Olha,” eu disse, com um toque de diversão na voz, “sinto muito que você tenha sido roubada. Isso é uma droga. Mas não fui eu.”
“Então explique isto!” ela gritou.
Meu telefone apitou com uma mensagem recebida.
Afastei-o do ouvido para olhar, e o que vi quase me fez derrubá-lo.
Lá estavam as fotos das roupas desaparecidas de Lina. Mas elas não estavam no covil de algum ladrão ou em uma loja de penhores. Não, elas estavam sendo usadas por mulheres desabrigadas na rua.
Eu vi um blazer Gucci sobre os ombros de uma mulher idosa empurrando um carrinho. Um vestido Prada adornava uma jovem mãe segurando um bebê.
Eu não conseguia me conter. A risada irrompeu de mim, profunda e genuína.
Parece estranho, quase doloroso, mas Deus, foi bom.
“O que é tão engraçado?” Lina exigiu. “Isso não é uma piada, Jack!”
“Oh, Lina,” consegui dizer entre risos, “confie em mim, o carma funciona de maneiras misteriosas.”
“O que isso quer dizer? Juro, Jack, se eu descobrir que você teve algo a ver com isso—”
“Vai fazer o quê?” eu a cortei, de repente cansado de suas ameaças. “Olha, Lina, eu não peguei suas roupas. Talvez o universo tenha decidido que era hora de você aprender uma lição sobre pegar coisas que não lhe pertencem.”
Ela ficou boquiaberta, indignada. “Como ousa! Vou chamar a polícia!”
“Vá em frente,” eu disse, surpreso com o quão calmo me senti. “Tenho certeza de que eles estarão muito interessados na sua teoria sobre o seu cunhado enlutado orquestrar uma redistribuição de caridade do seu guarda-roupa.”
Desliguei antes que ela pudesse responder, sentindo-me mais leve do que havia me sentido em meses. Enquanto eu colocava o telefone de lado, uma memória surgiu: Della, revirando os olhos depois de mais um confronto com a irmã.
“Um dia,” ela disse, “Lina vai empurrar demais, e isso vai morder ela de volta.”
Sorri, levantando um copo imaginário para o teto. “Você previu, querida,” murmurei. “Você sempre soube.”
Pensei que aquilo fosse o fim. Um pouco de justiça cármica, uma risada muito necessária, e talvez uma lição aprendida para Lina. Mas o universo, ao que parece, ainda não estava satisfeito.
Na manhã seguinte, abri minha porta da frente para pegar o jornal e quase tropecei em um envelope branco simples no tapete de boas-vind
as. Sem endereço, sem selo. Apenas meu nome rabiscado na frente com uma caligrafia desconhecida.
Curioso, rasguei-o. Dentro havia uma única folha de papel com três palavras:
“Não me agradeça.”
Fiquei olhando para o bilhete, com a mente a mil. Alguém da família, alguém que eu não conhecia ou pelo menos não suspeitava, havia tomado as rédeas. Fez o que eu só tinha sonhado em fazer, aplicando uma vingança tão poética quanto justa.