Quando bati na porta do banheiro e ouvi a voz tensa do meu marido, soube que algo não estava certo. Mas nada poderia ter me preparado para o verdadeiro motivo pelo qual ele vinha se escondendo atrás daquela porta trancada há meses.
Sempre me considerei sortuda. Liam e eu estamos casados há 25 anos e, na maior parte do tempo, a vida tem sido… confortável. Tivemos nossos altos e baixos, como qualquer casal, mas éramos sólidos.
Pelo menos, era o que eu costumava pensar. Ultimamente, as coisas têm parecido diferentes. Não aquele tipo óbvio de diferente: nada de grandes brigas ou mudanças dramáticas, mas pequenas alterações, o tipo que faz você duvidar de seus próprios instintos.
O mais estranho de tudo? A súbita obsessão de Liam com o banheiro.
Liam nunca foi do tipo que passa muito tempo lá dentro. Na verdade, sempre o zoei por entrar e sair tão rápido, brincando que ele era algum tipo de especialista em eficiência. Mas, há cerca de seis meses, ele começou a demorar. E quando digo demorar, é *mesmo* demorar.
Não era só questão de uns minutinhos a mais; ele sumia por horas. No início, ignorei. “Talvez ele só esteja ficando mais velho”, pensei. Todo mundo merece um pouco de tempo sozinho. Não queria ser uma daquelas esposas que reclamam de tudo.
Mas aí começaram os barulhos.
Uma noite, enquanto eu dobrava roupas na cama, ouvi um som abafado, como um baque. Parei, prestando atenção. Lá estava de novo: desta vez, um grunhido baixo, seguido por algo que parecia uma respiração pesada.
Levantei-me, hesitando no corredor antes de bater suavemente na porta. “Liam?” chamei, tentando manter o tom casual. “Está tudo bem aí?”
Houve uma pausa. “Sim, só… estou demorando um pouco,” ele respondeu, a voz levemente tensa.
Fiquei intrigada, mas não insisti. Talvez ele não estivesse se sentindo bem? Mas os dias viraram semanas, e as sessões de banheiro só aumentaram. Ele passava cada vez mais tempo trancado naquela porta, e, a cada dia que passava, eu me sentia mais e mais inquieta.
Não era só o tempo que me incomodava; era o segredo. Ele começou a trancar a porta toda vez, algo que nunca fazia antes. Quando perguntei casualmente sobre isso uma manhã, durante o café, ele deu de ombros e disse com indiferença: “Um cara não pode ter um pouco de privacidade?”
Tentei não deixar isso me afetar, mas a curiosidade não me deixava em paz, especialmente com aqueles sons estranhos. “Privacidade para quê, exatamente?” murmurei certa noite. Foi quando comecei a me preocupar que algo mais estava acontecendo.
Uma noite, depois de mais uma longa sessão de banheiro trancado, não consegui mais me segurar. “Liam, por que você sempre fica tanto tempo lá dentro?” perguntei, com a voz mais dura do que pretendia.
Ele me olhou, irritado. “Por que você sempre tem que perguntar sobre isso? Eu só… não consigo fazer mais rápido, tá bom?”
“Fazer o quê mais rápido?” perguntei, confusa.
“Deixa isso pra lá, Naomi,” ele retrucou, entrando no banheiro de novo e trancando a porta atrás dele.
Tentei esquecer, mas todas as noites, enquanto estava deitada na cama ouvindo aqueles sons estranhos vindos do banheiro, minha imaginação corria solta. Será que ele estava escondendo algo? Será que ele estava em apuros?
A ideia de ele guardar segredos de mim, depois de todos esses anos, me deixava com o estômago embrulhado. Considerei todas as possibilidades, até mesmo as piores: será que ele estava com outra pessoa?
Então, tudo mudou em uma tarde. Liam tinha se trancado no banheiro novamente, e eu estava na cozinha quando o telefone dele, deixado no balcão, vibrou.
Olhei de relance, esperando ver alguma mensagem de trabalho ou uma notificação qualquer. Mas não: era sua mãe, Meredith, ligando.
“Liam, sua mãe está ligando!” gritei, batendo impaciente no balcão.
Houve um grunhido vindo do banheiro. “Pode atender? Estou ocupado!” Sua voz estava abafada, tensa.
Hesitei por um momento e atendi. “Oi, Meredith,” disse, tentando ser breve. Depois de uma conversa rápida sobre sua próxima consulta médica, desliguei.
Mas, ao ir bloquear o telefone, algo chamou minha atenção: um vídeo aberto na tela. A miniatura mostrava que ele havia sido gravado há apenas uma hora.
Meu coração acelerou. Antes que pudesse me conter, apertei o play. E, enquanto o vídeo começava, senti minha respiração travar na garganta.
Era o Liam no banheiro, vestindo roupas de academia… se exercitando? Ele estava no meio de uma série de flexões, suor escorrendo pelo rosto, grunhindo a cada repetição.
Depois, ele passou para abdominais, respirando pesadamente, esforçando-se como nunca tinha visto antes.
Minha primeira reação foi alívio. Então era *isso* que estava acontecendo lá dentro? Minha imaginação tinha ido para os lugares mais sombrios, e lá estava ele… fazendo algumas poses de yoga meio desajeitadas. Eu até ri, uma mistura de diversão e alívio tomando conta de mim.
Eu marchei pelo corredor, o coração ainda acelerado, e bati na porta do banheiro, mais forte desta vez. «Liam! Abra a porta. Precisamos conversar.»
Houve silêncio do outro lado, e eu quase podia sentir a hesitação dele através da madeira grossa. «Eu, uh, tô meio ocupado agora,» ele finalmente murmurou, a voz ofegante.
Eu não aceitei. «Liam. Abra. A. Porta.»
Eu o ouvi se mover, e depois de um momento, o trinco clicou. A porta rangeu lentamente, revelando meu marido, corado, suado, e segurando uma faixa de resistência verde brilhante em uma das mãos. Ele me encarava, os olhos arregalados como um cervo pego nos faróis.
«Você viu o vídeo, não viu?» ele perguntou, a voz mal mais alta que um sussurro. Seus ombros caíram enquanto ele olhava para o chão.
Cruzei os braços, tentando manter minha voz calma. «Sim, vi. O que está acontecendo?»
Liam suspirou profundamente, passando a mão pelos cabelos úmidos. «Eu… eu ganhei peso,» ele admitiu, a voz carregada de vergonha. «Nove quilos nos últimos meses, e eu… eu me senti tão envergonhado. Achei que você pudesse… sabe, perceber.»
«Perceber o quê? Que você ganhou um pouco de peso? Liam, todo mundo engorda de vez em quando. O que isso tem a ver com você trancar a porta do banheiro por horas?» perguntei, genuinamente confusa, mas sentindo uma parte da minha frustração derreter.
Ele gemeu, esfregando a testa como uma criança pegando biscoitos antes do jantar. «Eu não queria que você me visse assim,» ele murmurou. «Então comecei a malhar… em segredo. Contratei esse treinador online e comecei a fazer esses exercícios no banheiro para você não… perceber como eu estava fora de forma.»
Eu pisquei, processando suas palavras. «Espera. Todo esse tempo, você estava aqui… malhando? Não estava escondendo algo de mim? Não estava traindo ou… Deus sabe o que mais eu pensei?» Eu senti uma mistura de exasperação e alívio me invadir.
Ele assentiu, ainda sem me olhar nos olhos. «Eu não queria que você me ouvisse sofrendo. É embaraçoso, tá? Eu ficaria gemendo e ofegante, e pensei que, se você soubesse, ficaria preocupada… ou pior, pensaria menos de mim.»
Eu o encarei e então comecei a rir. Não consegui evitar. A pura absurdidade de tudo: as horas gastas se preocupando, os olhares secretos, as portas trancadas; tudo porque ele estava com vergonha de admitir que estava malhando.
«Liam, você é um idiota!» eu ri, lágrimas se formando nos cantos dos meus olhos. «Você poderia ter simplesmente me contado. Você sabe que eu te apoio, não importa o quê!»
Liam olhou para mim, um sorriso tímido começando a aparecer, rompendo a vergonha. «Eu não queria te preocupar. Sei o quanto você tem lidado ultimamente: trabalho, a saúde da minha mãe, tudo. Não queria te sobrecarregar.»
Eu balancei a cabeça, a última tensão se dissipando enquanto eu dava um passo em direção a ele. «Me preocupar? Liam, você ME preocupou. Você estava agindo tão estranho. Minha imaginação estava a mil! Eu pensei que você estava escondendo algo sério de mim…»
Ele estremeceu, claramente se sentindo culpado. «Desculpa,» ele murmurou. «Eu só… eu tenho me sentido mal comigo mesmo. E não queria te sobrecarregar com isso.»
Eu suavizei, estendendo a mão para tocar seu braço. «Liam, nós estamos casados há 25 anos. Você não precisa esconder nada de mim, especialmente não isso.» Fiz uma pausa, tentando ler seu rosto.
«Você ainda é o mesmo homem que eu casei, tenha ganhado alguns quilos ou não. Além disso, não é como se eu tivesse ficado no mesmo tamanho,» eu acrescentei com um sorriso, batendo na minha barriga para enfatizar.
Liam finalmente sorriu de verdade. «Acho que fui um pouco ridículo, né?»
«Só um pouco,» eu zombava, levantando uma sobrancelha. «Da próxima vez, ao invés de se trancar, que tal a gente correr juntos? Ou, sei lá, me contar sobre sua rotina secreta de exercícios?»
Ele riu, a tensão completamente quebrada agora. «Você e eu? Fazendo yoga juntos?» ele brincou, os olhos brilhando pela primeira vez em semanas.
«Por que não? Eu poderia usar um pouco de alongamento,» eu disse com um sorriso, depois suspirei, de repente me sentindo exausta pela montanha-russa emocional das últimas semanas. «Mas sério, Liam, sem mais segredos. Por favor. Você pode me contar qualquer coisa, mesmo que seja sobre algo assim.»
Liam assentiu, olhando para os pés antes de olhar para mim novamente. «Eu vou. Eu prometo.»
Ficamos lá por um momento, o ar entre nós mais leve agora, como se um peso tivesse sido tirado. Eu não percebi o quanto essa situação me afetou até ela desaparecer.
Finalmente, sorri, balançando a cabeça para ele novamente. «Todo esse tempo, e era só você fazendo flexões aqui?»
Liam riu, jogando a faixa de resistência de lado. «Sim, e bem mal, também.»
Nós dois rimos, o som preenchendo o pequeno banheiro. Era ridículo, sim, mas também um lembrete. Às vezes, as coisas que mais tememos admitir — as coisas que achamos que vão afastar as pessoas — são as mesmas que nos aproximam.
Eu apertei sua mão e disse suavemente: «Da próxima vez, só me conta, tá?»
«Tá,» ele sussurrou, me puxando para um abraço.
E naquele momento, parecia que tudo tinha voltado ao seu devido lugar.