O mundo de Trent desmorona quando ele encontra uma nota enigmática na mochila de sua filha de nove anos: “Eu sou seu verdadeiro pai, venha me ver.” A desconfiança o consome, mas nada o prepara para a verdade chocante que ele descobre.
Eu estava na pia da cozinha, olhando para a caneca de café meio cheia na minha mão. O sol da manhã filtrava pelas cortinas, lançando um brilho suave sobre a rua tranquila lá fora.
Manhãs como essa costumavam significar algo para mim — paz, calor, o simples conforto de saber que Lily estava lá em cima, se preparando para a escola. Mas ultimamente, as coisas pareciam diferentes.
Coloquei a caneca na pia com um suspiro, ouvindo o som leve dos passos de Lily no andar de cima. Ela costumava descer as escadas correndo, com o cabelo bagunçado, falando sem parar sobre seus sonhos ou algo que aconteceu na escola no dia anterior.
Agora? Agora ela arrastava os pés, quase não falava, como se carregasse um peso nos ombros.
Algo estava errado, e isso me preocupava.
“Lily,” chamei, esperando por algum tipo de resposta que aliviasse a tensão. “Você quer panquecas? Posso fazer antes de você ir.”
“Não estou com fome,” ela murmurou do alto da escada, sua voz tão apática quanto vinha sendo há semanas.
Fiz uma careta. Ela nunca tinha soado assim antes: tão fria, tão cortante. Não era nada parecido com ela. Enxugando as mãos, me virei para encará-la enquanto ela descia.
“Ei, querida, o que está acontecendo? Você tem estado tão quieta ultimamente.”
Ela deu de ombros, ainda sem olhar nos meus olhos. “Nada.”
Eu odiava essa resposta. Ela costumava me contar tudo, mas agora parecia que estava me afastando. Ela colocou a mochila nas costas e foi em direção à porta como se não pudesse esperar para sair.
“Lily, espera.” Meu coração estava na garganta. Eu odiava como ela tinha se tornado distante, e isso me assustava mais do que eu queria admitir. “Você sabe que pode falar comigo, né? Sobre qualquer coisa.”
Ela parou com a mão na maçaneta.
Por um segundo, achei que talvez ela fosse se virar e se abrir comigo. Mas então seus ombros se enrijeceram, e ela apenas assentiu.
“Sim. Eu sei.” Suas palavras eram ocas, como se nem ela mesma acreditasse nelas. Ela abriu a porta e saiu sem dizer mais nada.
Fiquei ali no silêncio, sentindo-o me sufocar. Algo estava errado. Eu só não sabia o quê ainda.
**(Continuação da tradução para o português)**
Naquela tarde, eu estava separando as roupas para lavar, como sempre fazia nos finais de semana. Lily tinha jogado sua mochila na cama, e parecia que ela tinha passado por algum tipo de batalha.
Decidi limpá-la antes de colocá-la na máquina, então comecei a mexer na bagunça de papéis amassados e embalagens de lanche. Foi quando encontrei a nota.
Um pedaço de papel dobrado escorregou do bolso lateral, tão desgastado que estava praticamente se desmanchando.
Fiquei olhando para ele por um momento antes de desdobrá-lo, sentindo algo pesado no peito.
“Eu sou seu verdadeiro pai. Venha me ver na última segunda-feira de setembro atrás da escola.”
Meu coração parou. As palavras ficaram embaçadas por um segundo, e parecia que meu cérebro não conseguia processar o que aquilo significava. Pai verdadeiro? Que diabos era isso?
Eu era o pai de Lily… Eu a tinha criado desde o dia em que nasceu.
Kate, minha esposa, que tinha falecido há seis anos, não teria escondido algo assim de mim. Ela me amava. Ela não teria me traído.
Teria?
Senti um enjoo no estômago. A nota não era apenas algo aleatório. Parecia dirigida. Como se alguém soubesse exatamente como me machucar, usando Lily para me atingir. Mas quem? E por quê?
Eu quis confrontar Lily naquele momento e exigir respostas.
Mas algo me impediu. Eu não podia fazer isso com ela, não ainda.
A nota dizia para se encontrar na última segunda-feira de setembro, que seria dali a dois dias. Eu precisava descobrir quem estava por trás disso.
Dois dias depois, eu estava sentado no carro, observando a escola. Eu odiava fazer isso; seguir minha filha como se fosse algum tipo de detetive, mas eu não tinha escolha. Precisava saber o que estava acontecendo.
Vi Lily caminhando lentamente em direção à cerca dos fundos da escola, seus ombros tensos, como se soubesse que aquilo não estava certo. E então eu o vi: um homem alto, um pouco curvado, parado perto da cerca. Demorei um segundo, mas quando percebi quem era, meu sangue gelou.
Jeff. Um cara que eu conhecia do trabalho. Ele sempre foi quieto e reservado, mas eu nunca pensei muito sobre isso.
Até agora.
Lily hesitou por um momento antes de se aproximar dele. Abri um pouco a janela, apenas o suficiente para ouvir suas vozes.
“Você veio,” Jeff disse, sua voz baixa e quase calma demais. “Eu não tinha certeza se viria.”
Lily não respondeu, mas eu podia vê-la mexendo nos ombros da mochila. Ela estava nervosa. Eu conseguia sentir isso de onde estava.
“Eu sei que é muito,” Jeff continuou, sua voz gentil de um jeito que me deu arrepios. “Mas sua mãe queria que você soubesse a verdade. Ela não queria te machucar. Ou… ele.”
Eu não consegui mais ficar parado. Abri a porta do carro e caminhei em direção a eles, meu coração batendo tão forte que parecia que ia explodir. “O que diabos está acontecendo aqui?”
Jeff recuou, seu rosto se contraindo por um segundo antes de se recompor. “Trent. Eu esperava que pudéssemos conversar sobre isso.”
“Conversar?” Minha voz tremia de raiva. “Você acha que pode simplesmente aparecer e dizer à minha filha que é o pai dela?”
Jeff olhou para Lily, que parecia mais confusa do que eu jamais a tinha visto, e depois voltou a olhar para mim. “Ela merece saber. Kate e eu… tivemos algo. Lily é minha filha.”
Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Minhas mãos se fecharam em punhos, meu corpo inteiro tremendo de descrença. “Não. Você está mentindo. Kate não faria isso comigo. Ela não esconderia isso de mim.”
“Ela não queria te machucar, Trent.” A voz de Jeff era tão calma, tão confiante. “Ela achou que seria o melhor.”
Virei-me para Lily, meu coração se partindo ao ver a expressão em seu rosto: olhos arregalados e apavorados. “Lily, não escute ele. Ele está mentindo.”
A voz de Lily era quase um sussurro, mas cortou-me como uma faca. “É verdade? Pai… é verdade?”
**(Continuação da tradução para o português)**
Caí de joelhos na frente dela, minhas mãos segurando seus braços. “Não importa o que qualquer um diga. Eu sou seu pai. Estive lá todos os dias da sua vida. Isso é o que me faz seu pai. Nada mais.”
Ela não disse nada, apenas me encarou, seu lábio tremendo. Eu podia sentir o quanto ela estava tremendo sob minhas mãos, e isso me destruía por dentro. Virei-me novamente para Jeff, minha raiva explodindo mais uma vez.
“Vá embora.”
Jeff suspirou, parecendo quase triste. “Eu sei que isso é difícil, mas não vou a lugar nenhum. Ela merece saber a verdade.”
“Você não é o pai dela,” rosnei, mal conseguindo conter minha raiva. “Você nunca será.”
Jeff me lançou um último olhar de pena antes de se virar e ir embora. Eu queria correr atrás dele, exigir respostas, mas o pequeno soluço de Lily me trouxe de volta.
Eu a envolvi em meus braços, segurando-a o mais forte que podia. Eu não deixaria ninguém machucá-la. Nunca.
Naquela noite, deitado na cama, olhei para o teto, minha mente girando com pensamentos que eu não queria ter. Poderia ser verdade? Kate poderia ter escondido algo assim de mim?
Pensei em cada momento que compartilhamos, cada risada, cada conversa. Nada fazia sentido.
No dia seguinte, comecei a investigar o passado de Jeff. Eu não podia simplesmente esperar por respostas. Eu precisava saber a verdade.
Não demorou muito para descobrir que Jeff tinha sido demitido da nossa empresa um mês atrás por mentir em seu currículo.
Ele tinha um histórico de manipulação, de usar pessoas para conseguir o que queria. O alívio que senti foi esmagador. Ele tinha mentido sobre tudo.
Alguns dias depois, Lily e eu estávamos sentados no sofá, assistindo a um programa que nenhum de nós realmente prestava atenção. Eu sabia que precisava falar com ela. Ela merecia saber a verdade.
“Lily,” disse suavemente, “precisamos conversar sobre Jeff.”
Ela se encolheu, se aproximando um pouco mais de mim, mas não disse nada.
“Ele mentiu para você, querida. Sobre tudo. Jeff não é seu pai de verdade. Ele está… doente. Ele estava tentando nos machucar.”
Lily me olhou, seus olhos grandes e assustados. “Mas… e se for verdade?”
“Não importa o que ele disse,” eu disse, puxando-a para mais perto. “Eu sou seu pai. Sempre fui seu pai, e nada vai mudar isso.”
Ela me encarou por um longo momento, seu lábio tremendo, e então assentiu. “Eu te amo, pai.”
“Eu também te amo, querida. Sempre.”
Alguns dias depois, recebi uma ligação da polícia. Jeff havia sido preso por perseguir outra família. Acontece que o cara tinha um histórico de mentiras e manipulação. Tudo tinha acabado. Desliguei o telefone, sentindo que finalmente podia respirar novamente.
Lily estava na mesa da cozinha, desenhando em silêncio. Caminhei até ela e beijei o topo de sua cabeça. Nós ficaríamos bem.
Tínhamos que ficar.