Quando minha filha enlutada me ligou, chorando porque suas meio-irmãs a fizeram dormir no chão na noite do funeral de sua mãe, meu coração se partiu. Sem apoio da minha esposa, tomei as rédeas da situação. Misturar famílias nunca foi fácil. Depois de oito anos de casamento com Candace, achei que já tínhamos resolvido isso.
Minha filha, Shiloh, tem dezesseis anos. Ela é quieta e reflexiva, sempre preferindo um livro ou um caderno de desenho ao caos de suas meio-irmãs, Anna, de dezenove anos, e Sophie, de dezessete.
Anna e Sophie, por outro lado, são o centro das atenções. Ao longo dos anos, vi Shiloh tentar se encaixar, mas ela sempre foi a estranha no ninho.
Candace me assegurava que era apenas uma dinâmica normal entre irmãos, mas havia momentos que pareciam mais do que isso. Eu via Shiloh se retirar para o quarto depois de um comentário de Anna ou Sophie, com os lábios pressionados daquele jeito que ela faz quando está segurando as lágrimas.
Então, na semana passada, o impensável aconteceu.
A mãe de Shiloh, minha ex-esposa, faleceu inesperadamente. A ligação me deixou atordoado, minha mente correndo entre descrença, tristeza e preocupação com minha filha. Elas eram incrivelmente próximas. Isso a destruiria.
Saí imediatamente, dirigindo a noite toda para chegar até ela. Candace se ofereceu para levar as meninas antes, e embora eu estivesse grato, algo nos arranjos do hotel me deixou inquieto.
Dois quartos — um para Candace e eu, e outro para as meninas. “Isso vai manter a paz”, disse Candace, descartando minhas preocupações. Confiei nela para lidar com a situação, mas um nó de dúvida se instalou em meu peito.
Estava no meio da viagem quando meu telefone vibrou. Era Shiloh.
“Oi, querida”, eu disse suavemente.
Ela não respondeu de imediato. Quando finalmente falou, sua voz estava fraca e trêmula. “Pai… estou dormindo no chão.”
Pisquei, apertando o volante com mais força. “O quê? Por quê?”
“Anna e Sophie disseram que a cama é pequena demais para três pessoas”, murmurou. “Elas falaram que seria melhor se eu dormisse no chão.”
Senti minha mandíbula se apertar. “Você falou com Candace?”
“Ela disse que é só por uma noite e para deixar pra lá”, respondeu Shiloh, a voz falhando. “Está tudo bem, pai. Eu não queria causar problemas.”
Eu podia ouvir as lágrimas em sua voz, e isso quebrou algo dentro de mim. “Não, querida”, disse firmemente. “Isso não está certo. Você não deveria passar por isso.”
Encostei o carro no acostamento e passei a mão pelos cabelos, tentando conter a raiva crescente.
“Me escute”, falei. “Você não fez nada de errado, tá? Isso não é sobre fazer um escândalo — é sobre o que é justo. Você não merece isso, especialmente agora.”
Os soluços dela do outro lado da linha apertaram meu peito.
“Pai”, ela sussurrou, “tá tudo bem. Eu não quero brigar com elas.”
“Querida”, eu disse, tentando manter a calma, “você acabou de perder sua mãe. A última coisa que precisa é se sentir assim.”
Quando desliguei, não hesitei. Liguei para Candace imediatamente. Ela atendeu rápido, sua voz animada.
“Oi, amor! Ainda na estrada?”
“O que está acontecendo aí, Candace?”, perguntei, sem rodeios.
Houve uma pausa. “O que você quer dizer?”
“A Shiloh acabou de me ligar. Ela está chorando porque Anna e Sophie a fizeram dormir no chão. Por que você não fez nada?”
Candace suspirou. “As meninas disseram que a cama era apertada. É só uma noite, Robert. Ela vai ficar bem.”
“Ela NÃO está bem”, retruquei. “Ela acabou de enterrar a mãe, Candace. E agora está sendo empurrada para o chão como se não importasse?”
“Ela não está sendo empurrada!”, Candace rebateu. “Elas só queriam dormir confortáveis. Não vejo problema nisso.”
“O problema”, minha voz se elevou, “é que Shiloh está de luto e, em vez de apoiá-la, você está deixando ela se sentir como uma estranha. Como você pode estar bem com isso?”
O tom de Candace ficou mais duro. “O que você quer que eu faça, Robert? Obrigar Anna e Sophie a dormirem no chão? Elas também são crianças! Isso também não é fácil pra elas.”
“Elas não acabaram de perder um dos pais!”, gritei. “Shiloh está tentando se manter firme, e em vez de facilitar para ela, você simplesmente ignorou como se não fosse nada!”
Candace suspirou, frustrada. “Você está exagerando. É só uma noite. Shiloh pode aguentar.”
Deixei escapar uma risada amarga. “Isso não é sobre aguentar. É sobre mostrar a ela que não está sozinha. Ela acabou de perder a mãe, Candace. Como você não percebe a importância disso?”
Ainda estava a algumas horas de distância quando meu telefone vibrou de novo. O nome de Candace apareceu na tela, e eu me preparei ao atender.
“O que você fez, Robert?”, ela exigiu, furiosa.
“O que eu precisava fazer”, respondi friamente. “Shiloh me ligou chorando porque Anna e Sophie a fizeram dormir no chão. Você a ignorou, então liguei para o gerente do hotel, reservei outro quarto para ela e pedi que a levassem para lá.”
“Você reservou um quarto só para ela?”, Candace gritou. “Sem nem me consultar?”
“Eu não tinha tempo para discutir, Candace”, rebati, firme. “Ela está de luto, e em vez de defendê-la, você arrumou desculpas. Eu precisei agir.”
“Ela poderia ter aguentado uma noite, Robert! Você tem ideia do que fez? Anna e Sophie estão furiosas. Elas acham que você tem preferências.”
“Preferências?”, repeti, incrédulo. “Isso não é sobre favoritismo. Shiloh acabou de perder a mãe, Candace. Ela não precisa aprender a ‘ser forte’ agora. Ela precisa de apoio.”
“Você me desautorizou”, ela retrucou. “Sabe como isso me faz parecer? Eu deveria estar no comando enquanto você estava fora, e você passou por cima de mim para resolver algo que nem era tão grave!”
“Era grave”, falei. “Shiloh merecia melhor, e ninguém a defendeu — nem você.”
Quando cheguei ao hotel de manhã cedo, a tensão já estava no ar.
“Anna e Sophie nem querem olhar para você”, Candace disse. “Acham que você escolheu Shiloh no lugar delas. Isso pode destruir tudo que construímos.”
“Construímos?”, repeti. “Candace, se o que construímos não pode sobreviver ao fato de eu defender minha filha enlutada, talvez não fosse tão sólido assim.”
Ela ficou em silêncio por um momento.
No funeral, fiquei ao lado de Shiloh. Ela segurou meu braço, o rosto pálido de tristeza. Quando a cerimônia acabou, ela olhou para mim e sussurrou: “Obrigada por tudo, pai.”
Mais tarde, sentei com Candace para uma conversa séria.
“Candace, isso não pode acontecer de novo”, eu disse.
Ela suspirou. “Eu não lidei bem com isso”, admitiu, baixinho.
“Shiloh precisa de nós”, falei. “Precisa de você.”
Candace hesitou. “Eu vou tentar melhorar”, disse, mas com um resquício de ressentimento.
Naquela noite, Shiloh me abraçou apertado. “Obrigada por me defender, pai”, sussurrou.
Abracei-a de volta, sabendo que, naquele momento, fiz a escolha certa.