Após cinco anos de namoro, Charlotte decide que é hora de dar o próximo passo e faz o pedido de casamento a Peter durante um jantar aconchegante. Quando olhares curiosos no restaurante se voltam para eles, a reação estupefata e hesitante dele a faz questionar tudo o que ela pensava saber sobre o futuro deles. Charlotte se sentou na beira da cama, a luz da manhã filtrando pelas finas cortinas do hotel. O telefone pressionado contra sua orelha parecia mais pesado a cada palavra de sua mãe. «Mãe… eu não sei…» ela repetiu suavemente, a voz embargada de frustração.
«O que você quer dizer com ‘não sei’?!», a mãe dela gritou do outro lado. «Charlotte, você está com o Peter há quanto tempo agora? Cinco anos?»
«Cinco anos e três meses», murmurou Charlotte, como se o número exato pudesse defender sua posição.
«E ainda nada de pedido? Charlotte, você tem 33 anos! Quanto tempo mais você vai andar por aí sem se casar? Do jeito que as coisas estão, nunca vou ver netos», a mãe continuou, o tom cortante e firme.
Charlotte mordeu o lábio, a dor no peito aumentando.
«Quando o Peter planejou essa viagem de duas semanas, eu realmente pensei… eu pensei que seria agora, mãe. Achei que ele me pediria em casamento.»
«E agora essa viagem está quase no fim», a mãe interrompeu.
«Passado o dia seguinte, você vai estar em casa, e o que você tem? Nada além do anel do seu avô, que já deveria estar no dedo do seu marido.»
«Mãe, por favor», Charlotte disse, o peso da conversa apertando ainda mais o coração. «Eu sei a história. Você já me contou um milhão de vezes.»
«Não me interrompa, Charlotte! Esse anel é para o seu marido, e como você vai passá-lo para frente se não tiver um?», a mãe cortou, suas palavras afiadas como vidro.
Charlotte fechou os olhos e suspirou profundamente.
«Tá bom, mãe. Eu entendi. Vou desligar agora.»
«Ou encontra alguém ou pede a ele você mesma!», gritou a mãe, pouco antes de Charlotte encerrar a ligação. O silêncio no quarto foi ensurdecedor.
Deixando o telefone cair sobre a cama, Charlotte enterrou o rosto nas mãos. Depois de um momento, ela pegou sua bolsa e tirou a pequena caixa de veludo.
A abriu lentamente, revelando o delicado anel de ouro que carregava gerações de história familiar.
Ela o segurou na palma da mão, olhando fixamente para ele. O anel não era apenas uma peça de joalheria; era um símbolo de tradição, de responsabilidade.
Como única filha, essa responsabilidade parecia um peso que ela não sabia se conseguiria carregar por muito mais tempo.
O restaurante estava quente e suavemente iluminado, com o zumbido de conversas e o tilintar de copos preenchendo o ar.
Charlotte estava sentada diante de Peter, suas mãos descansando sobre a mesa, sua mente corrida com pensamentos que ela não conseguia silenciar.
«O tempo passou rápido, não é?», disse Peter, inclinando-se para trás na cadeira com um sorriso relaxado. «Eu nem percebi. Amanhã estaremos de volta para casa, e essa viagem será apenas uma lembrança.»
Charlotte forçou um sorriso tímido.
«Sim, passou rápido… mas sinto que algo está faltando, como se tivéssemos esquecido algo importante», respondeu ela, com a voz tingida de tristeza.
Peter franziu a testa, inclinando-se ligeiramente. «O que você quer dizer? O que está faltando?»
Ela hesitou, seus dedos mexendo na borda do guardanapo. «Peter, você não acha que está na hora do nosso relacionamento passar para o próximo nível?»
Peter deu uma risada leve, seu tom brincalhão.
«Próximo nível? Você está dizendo que quer que a gente compre um cachorro? Ou talvez um gato?»
Charlotte deu um sorriso forçado, balançando a cabeça. «Não. Quero dizer outra coisa…»
«Não estou entendendo», Peter disse, seu comportamento brincalhão dando lugar à confusão.
Ela respirou fundo para acalmar os nervos e puxou da bolsa a pequena caixa de veludo.
Colocou-a sobre a mesa entre eles, seu coração batendo forte.
«Peter», começou ela, a voz tremendo, mas firme, «estamos juntos há mais de cinco anos. Já faz um tempo que eu sei que quero passar o resto da minha vida com você.»
Com uma respiração profunda, ela abriu a caixa, revelando o anel de herança. «Peter, você quer se casar comigo?»
A cor sumiu do rosto de Peter e seus olhos se arregalaram de choque. Ele olhou para o anel, depois para ela, seu desconforto evidente.
Ao redor deles, o zumbido das conversas foi diminuindo à medida que outros clientes começaram a observar, seus olhares curiosos fazendo Peter se mover inquieto.
«Você está me pedindo em casamento?», ele perguntou, a voz mal acima de um sussurro.
«Sim», respondeu Charlotte, o sorriso vacilando levemente. «Qual é a sua resposta?»
Peter olhou ao redor, visivelmente incomodado com a atenção. «Eu… eu não sei», balbuciou.
«Isso não parece certo… eu preciso de tempo para pensar.»
O peito de Charlotte apertou. «Tempo? Você teve mais de cinco anos! Eu não posso continuar esperando – preciso de uma resposta.»
O restaurante caiu em silêncio, todos os olhares voltados para a mesa deles. Peter se levantou abruptamente, pegando seu casaco.
«Eu não posso fazer isso. Charlotte, acho que precisamos dar um tempo. Eu preciso descobrir o que realmente quero.»
O ar lhe faltou. «Um tempo? Você está terminando comigo?»
«Não», Peter disse rapidamente, sua voz defensiva.
«Não é um término. Só acho que precisamos de um tempo separados. Eu vou te procurar quando estiver pronto.» Sem mais palavras, ele virou-se e saiu.
«Peter!» Charlotte chamou, mas ele não olhou para trás. Sozinha na mesa, Charlotte sentiu o peso dos olhares de julgamento ao seu redor.
Lutando contra as lágrimas, ela apressadamente pegou suas coisas, pagou a conta e saiu do restaurante, a dor da rejeição ficando com ela a cada passo de volta ao hotel. No dia seguinte, ela retornou à sua cidade natal, e a primeira pessoa que ela foi encontrar foi sua mãe.
Charlotte entrou na casa de sua mãe, a mala arrastando pelo chão, as rodas chiando no piso de cerâmica.
A casa exalava lavanda, como sempre, mas, em vez de conforto, isso fez seu peito apertar. A garganta estava seca, e seus pensamentos um turbilhão de tristeza e raiva.
Assim que sua mãe apareceu na porta, Charlotte desabou em lágrimas e correu para seus braços. O peso das emoções se derramou em soluços entrecortados.
«Ele me deixou, mãe», Charlotte chorou, as palavras abafadas contra o ombro da mãe. «Você estava certa. Eu perdi os melhores anos da minha vida por nada.»
Sua mãe acariciou suavemente seus cabelos, sua voz surpreendentemente calma.
«Está tudo bem, querida. Sinto muito se eu te empurrei demais. Mas talvez isso seja uma bênção disfarçada. Pelo menos agora ele não vai perder mais o seu tempo.»
Charlotte afastou-se ligeiramente, o rosto manchado de lágrimas e vermelho. As palavras de sua mãe doeram a princípio, mas a suavidade em sua voz fez Charlotte hesitar.
Ela não esperava simpatia – tinha se preparado para um «Eu te avisei.»
«Você realmente acha que é para o melhor?» Charlotte perguntou, a voz trêmula.
Sua mãe deu um pequeno sorriso triste. «Acho que sim. Você merece alguém que saiba o que quer e não tenha medo de lutar por você. Está na hora de pensar no que você quer.»
Ouvir isso fez Charlotte soltar outro soluço, mas desta vez sentiu um peso começar a se aliviar.
Anos de ansiedade acumulada, frustração e coração partido se derramaram, e, pela primeira vez, ela se permitiu sentir tudo.
Ela permaneceu no abraço da mãe, suas lágrimas diminuindo.
Não foi uma cura instantânea, mas naquele momento, Charlotte percebeu algo importante: esse capítulo de sua vida havia terminado, e agora ela tinha a chance de escrever um novo.
Quase um mês se passou desde a viagem de Charlotte. Embora seu coração ainda carregasse o peso da dor, ela começara a se curar.
Cada dia parecia um pouco mais leve, e as mensagens de Reggie, o homem que ela conhecera recentemente, eram uma distração bem-vinda. Suas mensagens atenciosas, salpicadas de humor e calor, faziam com que Charlotte sorrisse toda manhã.
Não era algo sério, mas ele era gentil, e por enquanto, isso era suficiente.
Naquela manhã, enquanto ela rolava o celular com o café nas mãos, um nome diferente apareceu na tela. Sua respiração falhou.
Era Peter.
«Oi, como você está? Eu gostaria de conversar. Você está livre hoje às cinco?»
O peito de Charlotte apertou. Durante semanas, ela se convenceu de que já estava superada, mas ver o nome dele trouxe à tona uma onda de emoções.
Suas mãos tremeram enquanto ela olhava para a tela, o café esfriando. Depois de uma respiração profunda, ela digitou uma resposta simples:
«Sim, podemos nos encontrar.»
Mais tarde naquela noite, Charlotte estava sentada em uma mesa de canto em um café tranquilo, os nervos à flor da pele.
Quando Peter entrou, seu estômago se revirou. Ele trazia um buquê de rosas e se aproximou com o mesmo sorriso confiante e familiar de sempre.
«Eu senti sua falta, Charlotte», disse ele, inclinando-se para beijar sua bochecha. Ela se afastou ligeiramente, encontrando sua surpresa com um olhar frio.
«Eu não percebi», respondeu ela, o tom cortante.
Peter hesitou, mas continuou, sentando-se do outro lado dela. «Olha, eu sei que agi como um idiota. Eu estava com medo.»
«Medo de quê, Peter?» ela perguntou, cruzando os braços.
«De responsabilidade… casamento. E você me surpreendeu com aquele pedido. Na frente de todo mundo? Imagina como isso foi para mim.»
O queixo de Charlotte se apertou.
«E como você se sentiu? Você já parou para pensar em como eu me senti? Estar em um relacionamento por mais de cinco anos sem sinal de compromisso? Isso fez com que eu questionasse tudo sobre nós.»
«Eu não percebi que isso importava tanto para você», Peter disse, sua voz suavizando.
«Você deveria ter percebido», ela retrucou.
«Isso importava para mim, e deveria ter importado para você. Mas você foi embora. Você fez sua escolha.»
«Eu sei», Peter admitiu, inclinando-se para frente.
«Mas eu tive tempo para pensar. Eu estava errado, Charlotte. Vamos consertar isso. Eu estou pronto agora. Vamos voltar ao que tínhamos. Foi especial, e eu quero me casar com você.»
Charlotte balançou a cabeça, sua determinação se solidificando.
«Já é tarde demais, Peter.»
«Não diga isso», ele suplicou.
«Nós nos amamos. Podemos fazer isso funcionar.»
«Não, Peter», ela disse, levantando-se.
«Não existe mais ‘nós’. O que tínhamos está no passado, e eu não quero voltar.»
Enquanto caminhava para fora do café, Charlotte sentiu um peso se levantar.
Pela primeira vez em anos, ela se sentiu livre – livre para abraçar o futuro, um futuro onde sua felicidade não dependia de alguém que não conseguia ver seu valor.