Minha filha deixou meu neto comigo e desapareceu-três semanas depois, recebi um telefonema de Partir o coração

Histórias interessantes

**Todos na minha família foram convidados para o casamento da minha prima — menos eu. Mesmo assim, eu fui, achando que tinha sido um engano. Mas quando minha prima me puxou de lado e me contou o verdadeiro motivo de não querer que eu estivesse lá… Juro, nunca senti algo me atingir tão forte.**

Eu encarei meu reflexo no espelho de corpo inteiro, alisando o tecido lilás do meu vestido novo. Os brilhos sutis captavam a luz conforme eu me virava, um pequeno sorriso surgindo nos meus lábios. Pela primeira vez, eu me sentia bonita e desejada.

— Kylie, você está pronta? — gritou minha mãe lá de baixo. — Precisamos sair em 10 minutos!

— Quase! — respondi, dando uma última borrifada de spray no meu cabelo cacheado.

Aquele era o grande dia da Debra. Ela era minha prima, minha melhor amiga de infância, praticamente uma irmã enquanto crescíamos. Eu mal podia esperar para vê-la entrando na igreja.

Meu celular vibrou com uma mensagem da minha irmã, Emma.

**“Já estamos no local. Onde vocês estão?”**

Respondi rápido: **“A caminho. Guarda um lugar pra mim!”**

Mal sabia eu que não haveria lugar nenhum para mim.

— Você está linda, querida — disse meu pai quando desci as escadas. — Esse vestido valeu cada centavo do seu dinheiro de babá.

Dei uma voltinha, sentindo o tecido balançar nos meus joelhos. — Obrigada, pai. Queria estar bonita pras fotos da Debra.

Minha mãe sorriu, nos conduzindo até a porta. — Vamos celebrar o casamento dela!

— Nem acredito que a Debra vai mesmo se casar — comentei, entrando no banco de trás do carro. — Parece que foi ontem que a gente brincava de se vestir com as roupas da mãe dela.

— Vocês cresceram rápido demais — suspirou minha mãe, ajustando o colar no espelho retrovisor. — O tempo voa.

Meu pai girou a chave na ignição. — Vamos criar novas memórias hoje.

**Ah, se ele soubesse que tipo de memória seria…**

O local era deslumbrante. Um celeiro reformado com luzes pisca-pisca nos vigamentos de madeira, e rosas brancas com mosquitinhos enfeitando tudo. Convidados em trajes formais circulavam com taças de champanhe nas mãos.

Vi meu irmão, Ryan, perto da entrada e acenei.

— Ei, maninha — disse ele, bagunçando meu cabelo. — Você tá linda.

Afastei a mão dele. — Não estraga meus cachos! Demorei uma eternidade nisso.

— Já viu a Debra? — perguntou minha mãe.

Ryan balançou a cabeça. — A Emma tá com o grupo das madrinhas. Acho que elas estão num quarto lá atrás.

Eu me remexia de animação. — Vou dar um oi antes da cerimônia.

Fui me esgueirando pelos grupos de convidados, sorrindo educadamente para parentes distantes e desconhecidos. O corredor até a suíte da noiva estava silencioso, longe da multidão. Alisei meu vestido mais uma vez antes de bater à porta.

Uma madrinha que eu não reconhecia abriu, com o rosto perfeitamente maquiado demonstrando confusão. — Sim?

— Sou a Kylie, prima da Debra. Ela está aí?

A garota se virou. — Deb, sua prima tá aqui.

Houve uma pausa, e então Debra apareceu na porta. Estava deslumbrante em seu vestido branco, o cabelo preso com elegância. Mas quando seus olhos encontraram os meus, o sorriso sumiu.

— Kylie? O que você está fazendo aqui?

A pergunta foi como um tapa. — Como assim? Vim pro seu casamento.

Os olhos dela passaram por mim, e então ela saiu pro corredor, fechando a porta atrás de si.

— Por que você veio? — perguntou num tom baixo.

Pisquei, confusa. — Como assim? O convite era pra família. Achei que eu…

— Eu não te convidei.

As palavras pairaram entre nós, afiadas e frias.

— O quê… por quê?

Antes que ela respondesse, ouvimos passos se aproximando e um homem bonito de terno apareceu. Era Brian, o noivo. O rosto dele se iluminou ao me ver.

— Ei! Que bom que você veio! A Debra disse que você não podia vir. Que surpresa boa!

Olhei pra ele, depois pra Debra, cujo rosto empalideceu.

— Brian, você pode nos dar um minuto? — ela pediu, nervosa.

Ele deu de ombros, beijou a bochecha dela e se afastou assobiando.

Debra voltou-se pra mim, cruzando os braços. — Como se você não soubesse.

— Saber o quê? Debra, do que você tá falando?

Ela suspirou fundo, olhando ao redor pra garantir que ninguém ouvia.

— Quando a família do Brian viu aquelas fotos suas… as da festa de Natal? Eles não paravam de perguntar quem era você. Diziam que você era tão jovem e bonita, perguntaram se era modelo. Quando eu disse que você também estudava engenharia e tirava notas ótimas, ficaram ainda mais impressionados.

Eu a encarava, sem entender. Isso não podia estar acontecendo.

— A mãe dele disse: “Tem certeza que ela é a prima e não a noiva?” Eu sorri por fora, mas por dentro… eu estava morrendo. Eu queria que eles focassem em MIM. No MEU noivado. Não em VOCÊ.

— Você não me convidou porque… achou que eu pareceria melhor que você?

— Você não entenderia. Sempre foi a bonita e inteligente. Tudo parece fácil pra você.

— Fácil? Você acha que minha vida é fácil? Eu ralo pra tirar boas notas. E bonita? Eu passei o ensino médio me sentindo invisível!

— Bem, você não é invisível pra família do Brian — ela rebateu. — Eu não queria que você viesse e… roubasse a cena, tá? Não queria que me ofuscasse no meu próprio casamento.

A injustiça de tudo me atingiu como uma onda. O tempo todo eu achava que estávamos nos afastando porque ela estava ocupada com a faculdade, com o Brian… com a vida adulta. Mas era ciúmes. Por coisas que eu nem podia controlar.

— Então é por isso que você se afastou? Por inveja? Achei que éramos família.

— Somos. Mas você não entenderia.

— Não, não entendo. Não entendo como você foi capaz de me excluir do seu casamento. Me deixar me arrumar, empolgada pra te celebrar, só pra dizer que eu não era bem-vinda porque eu poderia o quê? Ser bonita demais? Inteligente demais? O que você disse pros outros sobre eu não estar aqui?

— Disse que você tinha um compromisso — ela murmurou. — Um trabalho da escola.

Balancei a cabeça, sem acreditar. — Isso é cruel, Debra.

Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Limpei com cuidado pra não borrar o rímel. — Se você se sente melhor sem mim aqui, eu vou embora. Não queria atrapalhar seu dia. Mas nunca imaginei que ser quem eu sou te faria sentir tão pequena. Isso parte meu coração mais que tudo.

Os olhos de Debra se encheram de lágrimas, e antes que eu pudesse recuar, ela me puxou para um abraço.

— Desculpa. Eu só… deixei minha insegurança tomar conta. Esse casamento me deixou tão estressada. E a família do Brian é tão perfeita e refinada… eu sinto que não sou suficiente.

Fiquei rígida no abraço, sem saber como reagir. Parte de mim queria perdoá-la na hora — era a Debra, afinal, quem trançava meu cabelo e me ensinou a dançar. Mas outra parte estava profundamente ferida.

— Você me machucou. Eu achei que tinha feito algo errado. Passei anos tentando entender por que você me evitava. Continuava próxima dos meus irmãos, mas comigo… foi como virar uma chave.

— Eu sei. Me perdoa. Por favor, fica.

— Tem certeza? E a família do Brian?

— Dane-se o que eles pensam — disse ela, com um lampejo da velha Debra. — Você é minha família. Quero você aqui. Fui muito idiota. Me perdoa… por favor.

Uma madrinha apareceu. — Deb, tá quase na hora.

Debra assentiu, depois voltou-se pra mim. — Você vai ficar?

Olhei pra ela, cercada de luxo, prestes a casar com o homem que amava — e ainda assim, insegura.

— Eu vou ficar. Não porque você pediu, mas porque eu escolho. Por nós.

— Obrigada. Preciso terminar de me arrumar, mas… a gente conversa depois?

— Vai. Seja noiva. Eu vou estar torcendo por você.

Ela sorriu, um sorriso verdadeiro desta vez, antes de desaparecer na suíte da noiva.

Encostei na parede, respirando fundo. Que bagunça. Mas pelo menos agora eu sabia a verdade.

***

A cerimônia foi linda. Sentei com meus pais, assistindo Debra e Brian trocarem votos sob um arco de rosas brancas. Quando foram declarados marido e mulher, aplaudi tão alto quanto qualquer um.

Na recepção, fiquei quieta, com um copo de espumante sem álcool na mão, perto da pista de dança. Meu irmão me encontrou ali.

— Que cara é essa? — perguntou Ryan, encostando no meu ombro. — A comida do casamento não está à altura?

Forcei um sorriso. — Só cansada.

— Mentira. O que houve?

Suspirei, sabendo que ele não deixaria passar. — Você sabia que a Debra não me convidou de verdade?

As sobrancelhas dele se ergueram. — O quê? Claro que convidou.

— Não, só convidou vocês. Eu era pra ser excluída.

— Mas por que ela faria isso?

— Porque eu sou bonita demais, aparentemente — disse, sarcástica. — A família do Brian viu fotos minhas e fez alguns comentários, e a Debra ficou com ciúmes.

— Isso é ridículo.

— Pois é. — Dei de ombros, tentando parecer despreocupada. — A gente conversou. Meio que.

— Você tá bem?

Olhei para Debra, rindo com o marido. — Eu vou ficar. Mas dói.

— Quer que eu derrube vinho no vestido dela? — Ryan ofereceu, meio brincando.

Isso me fez rir de verdade. — Não. Mas obrigada pela oferta.

— É pra isso que servem os irmãos mais velhos. — Ele apertou meu ombro. — Quer dançar? Prometo pisar no seu pé só um pouquinho.

— Talvez depois — respondi. — Preciso de um pouco de ar.

Saí, o ar fresco da noite foi um alívio após o salão lotado. Estava prestes a procurar um canto tranquilo quando uma voz me chamou.

— Você deve ser a Kylie.

Me virei e vi uma mulher elegante, mais velha, num vestido de grife, com os cabelos prateados perfeitamente arrumados.

— Sou sim — respondi com cautela.

Ela sorriu. — Sou Eleanor, mãe do Brian. Ouvi muito sobre você.

Imagino que sim, pensei.

— Sua prima é adorável — continuou ela. — Brian a adora. Estamos felizes em tê-la na família.

— A Debra é incrível — concordei, apesar de tudo. — Ela e o Brian parecem muito felizes.

Eleanor assentiu, me observando com interesse. — Quando vi sua foto pela primeira vez, disse à Debra que você poderia ser modelo.

E aí estava. Engoli seco. — É muita gentileza, mas estou focada em engenharia de software. Começo a faculdade no outono.

— Engenharia! Que impressionante. Beleza e inteligência. Seus pais devem estar orgulhosos.

— Espero que sim — respondi, desconfortável com o rumo da conversa.

— Preciso dizer — continuou ela —, você agiu com tanta elegância hoje. Poucas jovens seriam tão maduras.

A encarei, confusa. — Como assim?

Ela baixou a voz. — Sei que a esposa do meu filho não te incluiu desde o começo. Ouvi eles discutindo sobre isso semanas atrás. — Tocou meu braço. — Você tem muita classe, querida. Admiro isso.

Então ela sabia. Todos sabiam. De certa forma, isso tornava tudo melhor… e pior.

— Obrigada — consegui dizer. — A Debra e eu… sempre fomos muito próximas. Quero que ela seja feliz.

— Fico feliz que esteja aqui, querida. Não seria uma celebração familiar de verdade sem você.

Fiquei parada enquanto ela se afastava, processando suas palavras. Aquela mulher, que sem querer causou o afastamento entre mim e Debra, acabou me dando mais validação do que a própria prima.

Enquanto voltava para a pista de dança, cercada por meus irmãos e pais, percebi algo importante: todos temos nossas inseguranças e fraquezas. Mesmo quem parece ter tudo sob controle. O verdadeiro teste não é errar… mas o que fazemos depois.

Não se tratava de ofuscar ninguém, ou de ser ofuscada. Era sobre brilhar sem apagar os outros. Sobre ser seguro o suficiente na própria luz para não temer o brilho de outra pessoa.

E Debra? Ela aprendeu que as pessoas que mais te amam só querem te ver brilhar… mesmo que não seja o momento delas no centro do palco.

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