«A crença inocente de minha esposa será sua queda — ‘o apartamento dela é todo meu’, ele sussurrou, pensando que eu não estava por perto.”

Histórias interessantes

Meu ex-sogro me chamava de “a geladeira falante”. Ele dizia que eu era fria e chata, com opiniões que ninguém queria ouvir. Ele dizia isso na minha frente. Sorrindo. Como se fosse uma piada.

Eu sorria também, claro. Porque naquela época eu ainda tentava. Tentava ser aceita, tentava agradar. Tentava me convencer de que aquilo era só uma família excêntrica, que com o tempo me aceitaria.

Meu ex-marido achava graça. Ele dizia que era «só o jeito do pai». Que ele “me adorava, no fundo”. Que eu precisava “me soltar mais”.

Então me soltei. Literalmente.

Quando nos separamos, o pai dele riu. Disse que “não estava surpreso, porque geladeiras não mantêm nada quente”. Foi o brinde no almoço de domingo. A mãe dele riu também. O resto da família bebeu em silêncio.

Três anos se passaram.

Semana passada, encontrei com meu ex-sogro na fila da farmácia. Ele estava com o joelho ruim, usando bengala. Tentou puxar conversa. “Você tá diferente”, ele disse. “Tá mais viva.”

“Talvez porque ninguém mais me chama de eletrodoméstico”, respondi.

Ele riu, um pouco desconcertado. “Foi só uma piada, você sabe…”

“Sei, sei. Uma piada tão boa que virou o meu nome naquela casa.”

Ele ficou calado. Tentou mudar de assunto. Me perguntou se eu ainda falava com o filho dele. Disse que ele “tava meio perdido desde que você foi embora”.

Olhei pra ele, com calma, e disse:

“Engraçado… porque eu finalmente me encontrei.”

Paguei meus remédios, desejei melhoras ao joelho e fui embora.

Hoje em dia, minha casa tem risos, tem calor, e até uma geladeira nova. Mas essa, ao contrário de mim, não fala. E ninguém por aqui sente falta das ofensas disfarçadas de humor.

Visited 5 241 times, 74 visit(s) today
Rate the article
( 2 оценки, среднее 4.5 из 5 )