Disseram que eu estava distraída demais para manter meu emprego, poucos meses depois de voltar da licença-maternidade. O que fiz a seguir deu início a uma conversa que milhões de pessoas não conseguiram ignorar.
Eu costumava acordar às 5h30 da manhã. Meu filho já estava chorando, com o rosto vermelho e se contorcendo no berço como um pequeno alarme de incêndio.
Eu o pegava no colo, o apoiava no quadril e, com a mão livre, abria meu laptop. E-mails, notificações do Slack, um lembrete no calendário para uma reunião às 7h. O café na minha caneca sempre estava frio quando eu me lembrava dele.
Essa era a minha vida: planilhas ao nascer do sol, canções de ninar ao luar. Eu não estava prosperando — mas estava sobrevivendo. E, nos primeiros dias, isso parecia suficiente.
Era só eu, meu bebê e uma casa que nunca ficava silenciosa. Eu o balançava em um sling enquanto digitava relatórios semanais. Trocava fraldas entre chamadas no Zoom e silenciava reuniões para niná-lo de volta ao sono.
Uma manhã, um colega perguntou: “Isso é um bebê chorando?”
Sorri sem piscar. “Provavelmente é só o meu toque do celular.”
Alguns riram, mas depois disso, mantive meu microfone desligado mais do que o normal.
Antes de me tornar mãe, eu era aquela em quem todos confiavam. Estava na empresa há cinco anos, comecei na administração e cheguei a líder de projeto. Fiz cursos noturnos, consegui um certificado em marketing digital e ajudei a treinar a última turma de novos contratados. Quando o rebranding de 2020 quase derrubou o site, fiquei duas noites seguidas consertando a página inicial. Sem reclamar.
Rob, meu gerente, já me disse: “Se eu tivesse cinco de você, essa empresa se tocava sozinha.”
Outra vez, numa avaliação de desempenho, ele disse: “Você é constante. Inteligente. Não reclama. Sinceramente, é uma funcionária dos sonhos.”
Lembro de ter sorrido e dito: “Obrigada, Rob. Gosto de trabalhar aqui.”
E eu gostava. Gostava do trabalho, da estrutura, da equipe. Gostava de saber onde eu estava pisando.
Então me tornei mãe. E tudo mudou.
Quando voltei da licença-maternidade, me sentia pronta. Cansada, mas pronta. Na nossa reunião de retorno, disse ao Rob: “Estou de volta. Entro cedo, saio tarde. Estou aqui.”
Ele fez um joinha e disse: “Adoro essa atitude. Só mantenha o ritmo.”
Eu tentei. Mesmo com duas horas de sono. Mesmo quando meu bebê estava com cólicas e eu não conseguia terminar uma frase sem barulho de fundo.
Mantinha a câmera ligada e o sorriso no rosto. Mas as pessoas começaram a me tratar de forma diferente.
“Você está com uma cara… cansada”, disse Sarah, da contabilidade, numa manhã. O tom era suave, mas os olhos diziam outra coisa.
“Coisa de bebê”, respondi.
Ela levantou as sobrancelhas. “Hmm. Espero que não afete seus prazos.”
Na semana seguinte, Rob anunciou na reunião da equipe: “Vamos precisar de flexibilidade neste trimestre. Pode haver noites longas. Talvez fins de semana.”
Escrevi no chat: “Posso ser flexível, só preciso de aviso prévio. Tenho responsabilidades com o meu filho.”
Ninguém respondeu.
Na sexta-feira à tarde, surgiu uma reunião. 18h30.
Mandei mensagem para o Rob. “Podemos fazer mais cedo? Preciso buscar meu filho na creche.”
Ele respondeu: “Vamos conversar depois.”
Mas não conversamos.
Então meu pagamento atrasou. Três dias. Mandei e-mail para o setor financeiro. Nenhuma resposta. Perguntei ao Rob na nossa reunião individual. Ele se recostou na cadeira e disse: “Não é como se você fosse o ganha-pão da casa, né?”
Congelei. “Na verdade, sou. Estou divorciada.”
Ele riu sem graça. “Ah. Achei que ainda estivesse com aquele cara.”
Não respondi. Eu precisava daquele pagamento. Não podia me dar ao luxo de causar problemas.
Então falei: “Tudo bem. Só queria confirmar.”
Ele acenou com a mão como se não fosse nada. “Com certeza vai cair.”
Mas algo na maneira como ele disse aquilo me fez sentir pequena. E essa sensação ficou comigo mais do que eu esperava.
A reunião seguinte foi marcada para as 15h. Só eu, Rob e alguém do RH que eu nunca tinha visto.
Na plaquinha, o nome dela era Cynthia, e ela não sorriu nenhuma vez. A sala estava fria. As persianas meio fechadas, e as luzes fluorescentes zumbindo acima. A cadeira que me deram estava bamba, mas me sentei ereta mesmo assim.
Rob começou a falar como se fosse só uma checagem de rotina. “Obrigado por disponibilizar um tempo”, disse ele.
Assenti. “Claro.”
Ele se inclinou para frente, juntando as mãos na mesa como se fosse me elogiar. “Agradecemos seu tempo na empresa”, começou, “mas precisamos de alguém sem… distrações.”
Pisquei. “Distrações?”
Ele pausou, tentando suavizar a palavra. “Alguém totalmente disponível. Que não se importe com noites ou fins de semana. Alguém com quem não precisemos confirmar antes de agendar coisas.”
Cynthia ficou em silêncio, me observando como se esperasse que eu chorasse ou gritasse. Mas não. Eu só ouvi.
“Você está dizendo que meu filho é a distração”, falei, com voz neutra.
Rob olhou para Cynthia, depois de volta para mim. “Não estamos dizendo exatamente isso.”
“Mas estão”, respondi. “Estão dizendo que ser mãe me torna um problema.”
Ele não respondeu. O silêncio se alongou.
Levantei, alisei minha blusa, mesmo com as mãos tremendo. “Obrigada pela honestidade”, disse, e saí. Sem gritar. Sem chorar. Apenas uma saída silenciosa.
Mas por dentro, eu queimava. Não me demitiram porque eu não era boa no que fazia. Me demitiram porque eu não me curvava mais. Pedi aviso prévio, horários justos, um pagamento em dia. Me tornei alguém que eles não podiam controlar — uma mãe que impunha limites.
Naquela noite, depois de colocar meu filho para dormir, sentei no sofá, ainda com a roupa do trabalho. O monitor do bebê piscava ao meu lado. Abri o laptop e liguei a câmera. A sala estava com pouca luz, mas aquilo parecia certo.
“Oi”, disse para a lente. “Hoje fui demitida. Não porque eu era ruim no que fazia. Mas porque me tornei mãe. Porque não podia ficar até tarde sem aviso. Porque perguntei por que meu pagamento estava atrasado três dias.”
Pausei e olhei direto para a câmera. “Eles me chamaram de distração.”
Respirei fundo. “Então vou fazer algo a respeito.”
E postei.
No começo, nada. Algumas curtidas. Alguns compartilhamentos. Mas à meia-noite, o vídeo explodiu — mais de 3.000 compartilhamentos e crescendo. De manhã, já tinha 2 milhões de visualizações. Mensagens de mulheres que eu nunca conheci começaram a chegar.
“Isso aconteceu comigo também.”
“Chorei assistindo isso.”
“Obrigada por dizer o que todas sentimos.”
Um comentário se destacou: “Se você começar algo, eu topo.”
E foi aí. Esse foi o momento. Em uma semana, já tinha uma lista de espera — mães que eram programadoras, designers, profissionais de marketing, assistentes virtuais. Todas talentosas. Todas cansadas. Todas prontas.
Registrei a empresa e comprei um domínio. Chamei de **Agência Soneca**.
Trabalhávamos em mesas de cozinha e tapetes da sala. Durante as sonecas e depois da hora de dormir. Fazíamos reuniões no Zoom com bebês no colo e crianças brincando ao redor. Enviávamos rascunhos à meia-noite e cumpríamos prazos com uma mão enquanto limpávamos vômito com a outra.
Amanda, nossa redatora em Detroit, trabalhava com o recém-nascido em um sling. Maya, designer em Austin, trabalhava à noite enquanto os gêmeos dormiam ao lado do laptop. Não pedíamos desculpas por nossas vidas. Construímos o negócio ao redor delas.
Três meses depois, recebi um e-mail de um dos maiores clientes da minha antiga empresa. “Vimos seu vídeo”, escreveram. “Preferimos trabalhar com pessoas que entendem a vida real.”
Vieram mais dois clientes.
No fim do trimestre, tínhamos seis contratos, uma dúzia de mulheres na folha de pagamento e mais esperando para entrar. Não estávamos apenas criando sites. Estávamos criando o tipo de ambiente de trabalho que desejávamos quando mais precisávamos.
Já faz um ano desde aquela reunião — aquela em que chamaram meu filho de distração.
Hoje ele tem dois anos. Dorme a noite toda, come bem e insiste em escolher as próprias meias. A gente ri muito agora. As manhãs ainda são agitadas, mas agora têm propósito, não pânico.
A **Agência Soneca** cresceu de uma mãe com um laptop para uma equipe de 30. Designers. Redatoras. Desenvolvedoras. Gerentes de projeto.
Todas mães. Todas brilhantes. Criamos sites para startups, lançamos campanhas para ONGs e ajudamos pequenos negócios a triplicar seu alcance online. Cada conquista parece uma pequena rebelião.
Às vezes, aquele vídeo antigo reaparece. Quando vejo, não sinto vergonha. Eu sorrio. Ele me lembra onde tudo começou — com uma verdade difícil e uma decisão ainda mais difícil.
Disseram que eu era uma distração. Mas olhem para nós agora — 30 fortes, 30 brilhantes, e nenhuma de nós é um pedido de desculpas. O que eles viram como fraqueza virou nossa base. Perder aquele emprego não me destruiu. Me libertou.