**A MALA DO MEU MARIDO TINHA FOTOS DE UMA ESTRANHA USANDO O MEU COLAR**
Abri o zíper da mala grande, e o cheiro pesado de ar velho de avião atingiu meu rosto imediatamente. Eu só estava tentando guardá-la depois da viagem dele, arrumando espaço no armário do corredor já lotado. Empurrando de volta algumas roupas dobradas de qualquer jeito, meus dedos esbarraram em algo duro e plano, escondido bem no fundo de um bolso lateral com zíper que eu mal notava. Tirei aquilo de lá: um pequeno maço de fotos impressas, amarradas com um elástico grosso e já meio frouxo.
Não eram fotos de celular — eram impressões profissionais, brilhantes. Cada uma mostrava a mesma mulher que eu nunca tinha visto antes na vida, quase sempre sorrindo de leve, sempre posando. E em todas, sem exceção, ela usava no pescoço o pingente de safira que minha avó me deu no meu aniversário de 21 anos — aquele que eu não tiro desde então.
Minhas mãos começaram a tremer tão forte que deixei as fotos caírem, espalhando-se pelo chão de madeira fria como folhas secas. Aquele colar é parte da história da minha família, significa tudo para mim, representa anos de amor e memórias. Ele nunca sai do meu pescoço. Dei um passo cambaleante para trás, o ar velho da mala agora parecia sufocante, espesso, arranhando minha garganta.
Ele desceu as escadas naquele momento, viu as fotos espalhadas perto da mala e eu, paralisada, em frente ao armário.
“O que exatamente você acha que está fazendo mexendo nas minhas coisas?”, ele perguntou, a voz completamente fria e sem emoção, sem um pingo de surpresa ou culpa nos olhos ao finalmente ver as imagens no chão.
A mulher na primeira foto olhava diretamente pela janela da nossa sala de estar.
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*História completa continua nos comentários…*
Minha voz saiu como um sussurro rouco, o ar ainda denso e sufocante. “Mexendo nas suas coisas?”, repeti, apontando com um dedo trêmulo para as fotos no chão. “Essas… essas são *as minhas* coisas. Esse é *o meu* colar. E quem… quem é essa mulher olhando para dentro da nossa casa?”
Ele se aproximou, os olhos finalmente descendo para a imagem da mulher na janela. Um músculo se contraiu em sua mandíbula, mas a expressão permaneceu inquietantemente neutra — uma máscara que eu nunca tinha visto antes.
“É… complicado”, ele disse, a voz ainda baixa e sem calor.
“Complicado?” Quase gritei a palavra, o som rasgando minha garganta já irritada. “Você tem fotos de uma estranha usando o colar da minha avó! Na sua mala! Olhando pra nossa casa! O que pode ter de ‘complicado’ nisso?”
Ele suspirou — um som pesado e resignado que não fez nada para aliviar o nó no meu estômago. Não olhou para mim, o olhar fixo em algum ponto atrás do meu ombro.
“O nome dela é Sarah,” ele disse por fim, a voz mal audível. “Eu conheci ela… há um tempo. Numa viagem.” Ele parou, como se procurasse palavras, ou apenas tentando ganhar tempo.
“Ela o quê?”, insisti, o coração batendo forte no peito como um pássaro em uma gaiola. Era isso? A confissão? A verdade feia que eu não quis imaginar?
“Ela ficou… obcecada,” continuou ele, ainda sem me encarar. “Depois… depois da viagem. Começou a me procurar. Muito.”
“E o colar?”, perguntei, a voz falhando, frágil como vidro.
Ele finalmente levantou os olhos, e por um segundo vi algo brilhar ali — não culpa, mas talvez medo… ou exaustão.
“Ela viu numa foto que eu tinha no celular. Disse que adorou. Perguntou sobre ele. Eu… eu não dei pra ela, se é isso que você está pensando. Eu nunca faria isso. Isso significa muito pra você.” Ele passou a mão pelos cabelos, um gesto nervoso nada parecido com seu jeito habitual calmo. “Ela… ela é boa com câmeras. Essas nem são profissionais. Ela mesma tirou. Ela… mandou fazer uma réplica. Quase idêntica à sua.”
Meu coração parou por um instante. Uma réplica? Do meu colar? Por quê? Por que ir tão longe?
“E por que você tem fotos dela usando isso?”, exigi, as perguntas jorrando, desesperada por respostas que fizessem sentido naquele pesadelo que se desenrolava. “E por que ela está parada na janela da nossa sala?”
Ele se encolheu levemente com a última pergunta, como se a imagem no chão tivesse se tornado real e assustadora pra ele também.
“Ela… ela me mandou essas fotos,” admitiu, a voz quase um sopro. “Ela ficou… cada vez mais instável. Disse que queria que as coisas fossem… como ela imaginava. Descobriu onde eu morava. Mandou essas fotos. Aquela na janela… foi um aviso. Ou uma ameaça. Eu não sei.”
Ele finalmente me encarou, o rosto pálido e abatido, sem o menor traço do marido confiante que eu conhecia.
“Eu não sabia o que fazer,” confessou, as palavras carregadas de uma impotência que parecia estranha vindo dele. “Eu fiquei com medo. Dela. De você descobrir. Eu só… escondi tudo. Não queria que você se preocupasse. Ia tentar resolver.”
O peso das palavras dele me esmagou, sufocando mais do que o ar velho do avião. Um caso que virou obsessão? Uma estranha usando uma cópia do meu bem mais precioso como símbolo de… quê? Um aviso? Uma ameaça? O ar estava denso de coisas não ditas, e da dolorosa realização de que meu marido estava escondendo um segredo perigoso — que envolvia uma mulher desconhecida e agora havia invadido o santuário da nossa casa, simbolizado pela imagem dela nos observando pela janela.
Minhas mãos ainda tremiam, mas agora de um medo profundo, gelado até os ossos — não só de choque. Olhei do rosto pálido e tenso dele para as fotos espalhadas no chão — a estranha sorrindo, a réplica do colar brilhando sob a luz do corredor, o olhar frio direcionado à nossa janela. Não havia volta fácil, nenhuma explicação simples que pudesse juntar os cacos. O cheiro da mala não era só ar velho. Era o cheiro de uma vida desmoronando, e eu tinha acabado de abrir o zíper que continha sua ruína.