Tenho 60 anos. E pela primeira vez na minha vida, sinto que não existo mais — nem para o meu ex-marido, nem para meus filhos, nem para meus netos, nem para o mundo. Ainda estou aqui, claro. Respiro. Vou à farmácia, compro pão, varro o pequeno jardim embaixo da minha janela. Mas por dentro, há um vazio, que fica mais pesado a cada manhã em que não tenho um trabalho para correr. Quando ninguém liga só para perguntar: *Mãe, como você está?*
Eu moro sozinha. Já faz anos. Meus filhos são adultos, têm suas próprias famílias, espalhados pelo país — minha filha em Brighton, meu filho em Manchester. Meus netos estão crescendo, e eu mal os conheço. Não os levo para a escola, não faço suéteres para eles, não conto histórias para dormir. Nem uma vez me convidaram para visitar. Nem uma vez.
Eu perguntei para minha filha uma vez:
*Por que vocês não querem que eu vá? Eu poderia ajudar com as crianças…*
*Mãe, você sabe como é… Meu marido não gosta de você. Você está sempre interferindo, e do jeito que você fala —*, ela respondeu.
Fiquei em silêncio. Dor, vergonha, ressentimento torciam dentro de mim. Eu não estava me impondo — só queria estar perto deles. E a resposta foi: *Ele não gosta de você.* Nem os netos, nem meus filhos. Eu fui apagada. Até meu ex-marido, que mora numa vila perto, não acha tempo para me encontrar. Uma vez por ano, uma mensagem seca de feriado. Como se ele estivesse me fazendo um favor.
Quando me aposentei, pensei: *Finalmente, tempo para mim.* Eu ia aprender a tricotar, sair para caminhar de manhã, me inscrever naquele curso de pintura que sempre sonhei. Mas, em vez de alegria, o medo tomou conta.
Primeiro vieram os episódios estranhos — tontura súbita, coração acelerado, medo de morrer que me dominava do nada. Fui ao médico, fiz exames, eletrocardiogramas, ressonâncias. Tudo normal. Um deles finalmente disse:
\*Está tudo na sua cabeça. Você precisa conversar com alguém. Você está só. \*
Isso foi pior que qualquer diagnóstico. Porque não existe remédio para a solidão.
Às vezes, vou à loja só para ouvir o caixa falar. Às vezes, sento no banco em frente ao meu apartamento, fingindo ler, na esperança de que alguém pare para conversar. Mas todo mundo está com pressa. Lugares para ir, vidas para viver. E eu só… aqui. Sentada. Respirando. Lembrando.
O que eu fiz de errado? Por que minha família se afastou? Eu os criei sozinha. O pai deles saiu cedo. Eu fazia turnos duplos, cozinhava, passava os uniformes, ficava acordada à noite quando eles estavam doentes. Sem beber, sem sair para farra — eu dei tudo para eles. E agora? Eu não sou nada para eles.
Talvez eu tenha sido rígida demais. Talvez tenha controlado demais. Mas eu queria o melhor para eles — que crescessem decentes, responsáveis. Eu os protegi de más companhias, de arruinar as vidas. E no fim? Fui a que ficou para trás.
Não estou pedindo pena. Só respostas. Será que eu sou uma mãe tão terrível assim? Ou é assim mesmo hoje — hipotecas, escolas, times de futebol, e não sobra espaço para a mãe?
As pessoas me dizem: *Arrume um homem. Entre em um site de encontros.* Mas eu não consigo. Não confio. Anos sozinha me tornaram dura. Não tenho mais forças para me abrir, me apaixonar, deixar um estranho entrar na minha casa. Meu corpo não é mais o que era.
Trabalhar não é mais um escape. Pelo menos no escritório havia conversa, piadas. Agora? Silêncio. Tão alto que deixo a TV ligada só para ouvir uma voz.
Às vezes me pergunto: se eu simplesmente desaparecesse, alguém perceberia? Nem meus filhos, nem meu ex, nem o vizinho do terceiro andar. O pensamento me sufoca em lágrimas.
Mas aí eu me levanto. Faço chá. Digo para mim mesma: *Talvez amanhã. Talvez alguém se lembre. Ligue. Mande mensagem.* Talvez eu ainda importe para alguém.
Enquanto houver esperança, eu também existo.