Quando meu marido decidiu onde eu passaria o verão, fiz algo que ele não esperava.

Histórias interessantes

**Svetlana estava sentada na cozinha, mexendo lentamente o chá, quando Igor entrou com a expressão de quem tinha algo importante a dizer. Ela já estava acostumada ao jeito dele de fazer pausas antes de começar a falar — como se ensaiasse cada frase mentalmente. Do lado de fora, uma fina chuva de junho escorria pelas janelas, deixando rastros suaves no vidro. O apito baixo da chaleira criava uma ilusão de aconchego.**

**Svetlana levantou os olhos por cima da caneca, imaginando que ele iria falar sobre o trabalho ou sobre o conserto do carro. Mas suas palavras foram bem diferentes.**

— Olha, não planeje nada para o verão — disse ele, olhando não para ela, mas para o padrão desbotado da toalha de mesa. — A Larisa vai deixar os filhos na casa da mãe dela. Você vai com eles.

**Ela congelou. A colher parou no ar, e o chá tremeu levemente. Por dentro, tudo se contraiu, como se alguém tivesse puxado uma corda invisível. Sua voz, quando finalmente falou, saiu cortante, quase fria:**

— Quer dizer que eu vou ter que morar lá? — Ela pousou a caneca com força sobre a mesa, fazendo algumas gotas de chá respingarem. — É sério isso? Você simplesmente decidiu onde eu vou passar o verão?

**Igor franziu a testa. Claramente não esperava essa reação. Antes, Svetlana sempre aceitava suas decisões, mesmo que não gostasse delas. Mas agora, algo novo brilhava em seus olhos — não era apenas descontentamento, era protesto de verdade.**

— Svet, qual é? — Sua voz endureceu. — São só três meses. A Larisa pediu ajuda, tá sobrecarregada no trabalho, e a mãe dela não dá conta das crianças. Você gosta da casa de campo!

— Eu disse que gosto da *nossa* casa de campo, Igor! — Svetlana se levantou de repente, as bochechas vermelhas de indignação. — Não de ser babá de graça para a sua irmã! Por que você acha que pode decidir o que eu faço com meu tempo?

**Igor a olhava, surpreso e cada vez mais irritado. A estrutura familiar que ele conhecia estava se rompendo. Esperava que ela, como sempre, cedesse, se ajustasse. Mas agora ela estava ali, de punhos cerrados, falando com uma voz que parecia esquecida.**

— Você tá contra a família? — ele elevou a voz. — A Larisa é minha irmã, as crianças são meus sobrinhos. A gente precisa se ajudar!

— E eu não sou parte dessa família? — gritou quase. — Meus planos, meus desejos não importam? Você nem me perguntou, Igor! Só anunciou sua decisão!

**A cozinha, antes acolhedora, agora parecia sufocante. A chuva do lado de fora apertou, o barulho aumentando a tensão entre eles. Igor ficou em silêncio, o olhar dizendo que ele realmente não entendia por que ela estava tão revoltada.**

**Svetlana virou-se para a janela, sentindo as lágrimas se aproximarem. Não agora. Não na frente dele. Mas dentro dela tudo fervia. Lembrou-se do verão anterior, quando passou meses sozinha na horta, enquanto Igor se divertia com os amigos. Na época, ela aceitou. Achava que era normal. Mas agora algo havia quebrado. Sua complacência, seu papel de “esposa ideal”, já não cabiam mais nela.**

— Eu vou pensar — disse enfim, sem se virar. — Mas não espere que eu simplesmente aceite.

**Igor bufou, murmurou algo como “tá bom” e saiu, batendo a porta um pouco mais forte que o habitual. Svetlana ficou sozinha. A chuva caía lá fora, e dentro dela algo novo nascia — não era apenas mágoa ou raiva, era a consciência: estava na hora de impor limites.**

**Mais tarde, na sala, Svetlana folheava um velho álbum de fotos que tirou do armário. Depois da conversa da véspera, não conseguiu dormir, se revirando até as três da manhã, revendo em pensamento as palavras dele e as suas. O álbum cheirava a poeira e memórias. Numa página, o casamento de dez anos atrás. Ela de vestido branco, sorriso aberto. Igor jovem, com barba por fazer, a abraçando pela cintura. Naquele tempo tudo parecia simples. Acreditava que casamento era igualdade, amor, parceria.**

**Agora, olhando as fotos, o coração se apertava. Quando tudo mudou? Quando ela virou figurante na própria vida? Lembrou das palavras dele: “Somos uma equipe”. Com o tempo, essa equipe virou ele decidindo e ela obedecendo.**

**Fechou o álbum e se jogou no sofá. O diálogo da noite anterior não saía da cabeça. As palavras dele — “você vai morar lá” — soaram como ordem. E a própria voz dela, firme e decidida, ainda ecoava. Não estava acostumada a falar assim. Não estava acostumada a ser ouvida.**

**Foi até a janela. O céu encoberto refletia seu estado interno. Pensou na casa da mãe da Larisa — uma casa de madeira velha, cheiro de mofo, crianças barulhentas. A simples ideia de passar o verão lá causava repulsa quase instintiva. Lembrou da mãe, que uma vez dissera: “A mulher na família deve ceder”. Agora, isso parecia mais uma sentença do que sabedoria.**

**A semana passou em silêncio tenso. Mal se falavam, trocando apenas frases funcionais. Entre eles, uma muralha de gelo.**

**Svetlana estava no seu “escritório” — um quartinho com uma mesa e um notebook velho. Abriu um documento de tradução, mas sua mente estava longe. Pensava nos sonhos de juventude: viajar, tirar fotos, ter um blog… que abandonou depois do casamento. Igor dissera: “Pra que isso? Ninguém lê”. E ela acreditou.**

**Uma batida. Igor entrou sem avisar.**

— Precisamos conversar — disse, sentando à sua frente.

— Sobre o quê? — Svetlana fechou o notebook, olhando desconfiada.

— Sobre a casa de campo. Sobre nós. — Ele suspirou. — Não entendo por que você surtou. Não é o fim do mundo. É só o verão. Você ajuda a Larisa, depois tudo volta ao normal.

— Volta ao normal? — Svetlana o encarou. — E o que é o «normal», Igor? Eu sempre me ajustando a você, à sua família, aos seus planos. E eu? Onde eu entro nisso?

**Ele franziu a testa. Não esperava essa pergunta.**

— Você tá exagerando. Eu só pedi pra ajudar a família.

— *Sua* família — ela corrigiu. — E os meus desejos? Eu queria ir à praia, tirar férias, trabalhar nos meus projetos. Mas você nem me perguntou.

**Ele ficou em silêncio, olhando para o chão. Depois levantou os olhos, e neles havia confusão, não raiva.**

— Achei que você gostava de ser… assim. Cuidadosa. Caseira.

**Svetlana sentiu o corpo se enrijecer. Lembrou da avó — sempre vivendo para os outros, elogiada pela “sabedoria” e “paciência”. Mas Svetlana se lembrava dos olhares vazios pela janela, achando que ninguém via.**

— Eu não quero ser só “cuidadosa” — disse baixo. — Quero ser eu mesma.

**Igor se levantou, o rosto endurecido.**

— Se é assim, talvez a gente deva repensar se ainda faz sentido ficar junto.

**Ele saiu. O silêncio ficou. Svetlana olhou para a porta fechada, com um nó no peito — medo e, ao mesmo tempo, alívio. Não sabia o que viria depois, mas pela primeira vez em muitos anos, sentia: agora, a escolha era dela.**

**Diante do espelho no banheiro, observava o reflexo: trinta e cinco anos, cabelo preso de qualquer jeito, leves rugas ao redor dos olhos. Sentia-se mais velha — ou talvez mais jovem, como se estivesse voltando a si mesma, aquela que ainda sabia sonhar.**

**Ligou a torneira para abafar o silêncio e começou a falar sozinha:**

— O que você está fazendo, Sveta? É só por causa da casa de campo? Ou é algo maior?

**Ela sabia a verdade. Não era só sobre não ir. Era um protesto contra tudo — o silêncio, as concessões, a vida vivida por decisões alheias. Lembrou-se de como, na infância, queria ser escritora, escondia os contos sob o colchão. A mãe achou um caderno e riu: “Fofo, mas isso não é sério”. E Svetlana acreditou.**

**Agora, olhando no espelho, pensou: e se ainda for possível? E se ela ainda puder ser aquela menina que sonhava com liberdade?**

**Voltou ao escritório, ligou o notebook, criou um novo documento e começou a escrever — não uma tradução, não um trabalho pago, mas uma história. Sobre uma mulher que um dia disse “não”.**

**Quando Igor voltou pra casa, encontrou-a escrevendo.**

— O que você tá fazendo? — perguntou, confuso.

— Escrevendo.

— Tradução?

— Não. Escrevendo a mim mesma.

**Ele parou. Não soube o que dizer. E Svetlana continuou digitando. Cada tecla, um passo rumo a algo novo. Não sabia onde isso a levaria, mas pela primeira vez em muitos anos, sentia — estava viva.**

**A tensão na casa chegou ao limite. Igor não falou mais sobre a casa de campo, mas o silêncio dele era uma parede de pedra. Ele a olhava como se ela fosse uma estranha. Ela, por sua vez, mergulhava cada vez mais em si mesma, nos textos, nos pensamentos. Cada noite diante do notebook era um pequeno ato de libertação.**

**Numa noite chuvosa, Igor explodiu:**

— Isso é absurdo. Você tá se comportando como uma adolescente. Escreve sabe-se lá o quê, se cala, me ignora. O que tá acontecendo?

**Svetlana fechou o notebook, olhou direto nos olhos dele:**

— Estou cansada de ser quem você quer que eu seja. Não vou para a casa de campo. Não é por não querer ajudar a Larisa. É porque quero decidir como viver minha vida.

**Igor se aproximou, a voz trêmula:**

— Então agora você tá contra mim? Contra a família? Eu trabalho, faço planos, me esforço por nós, e você tá destruindo tudo!

— Eu não estou destruindo — respondeu com calma. — Estou me encontrando. Você só se acostumou a me ver como parte do seu plano.

**Ele hesitou, o medo piscando nos olhos. Claramente não esperava isso — segurança, força, disposição para resistir.**

— Então talvez devêssemos mesmo nos separar — disse ele, quase como uma despedida.

— Talvez devêssemos — respondeu ela, sem desviar o olhar.

**Ele saiu, batendo a porta. Svetlana ficou…**

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