A velha desabrigada abraçou seu gato e chorou-o frio se aproximou cada vez mais, e não havia calor nem ajuda por perto.

Histórias interessantes

Maxim estava sentado diante do computador, sem desviar o olhar do monitor. Na tela, uma linha de código sucedia a outra — um fluxo interminável de símbolos, compreensível apenas para ele. O dia de trabalho estava chegando ao fim, mas isso não importava. O tempo já havia perdido sentido para ele — dias, semanas, meses se fundiram numa existência cinzenta e monótona. Ele não sentia satisfação pelas tarefas concluídas, nem cansaço. Tudo estava envolto numa névoa tênue de vazio interior.

Lá fora, o crepúsculo se adensava. A noite de inverno parecia abafada e silenciosa: o frio levemente fazia cócegas na pele, a neve caía suavemente sobre o chão, e os postes iluminavam as ruas com uma luz suave e difusa. A cidade parecia distante, fria e indiferente — como se não percebesse a dor humana.

Maxim desligou o monitor, colocou o cachecol, meteu as mãos nos bolsos do casaco de modo displicente e saiu. Ele não precisava ir a lugar algum — como sempre, seus passos não tinham destino. Assim ele vagava já há meses, desde que sua mãe faleceu.

Ela se foi de repente, inesperadamente, como se alguém tivesse arrancado da vida um pedaço do que era mais importante. O pai abandonou a família quando Maxim ainda era criança, e a única pessoa que sempre esteve ao seu lado era a mãe. Ela trabalhava em vários turnos para sustentar os dois, deu-lhe educação, criou-o e fez dele um homem independente.

E então — um diagnóstico, câncer, e em apenas um mês ela definhou. Ele segurou a mão dela nos últimos minutos, quando ela abriu os olhos pela última vez. Desde então, dentro dele só restou um vazio profundo — uma depressão que ele não nomeava em voz alta, mas que lentamente drenava toda a sua vitalidade.

Lá fora, havia um silêncio mortal. Frio, estranho. Maxim caminhava lentamente pela calçada, sentindo o ranger da neve sob seus pés. Os carros passavam velozes, mas ele quase não os notava. Na sua cabeça, uma única ideia girava repetidamente:

“Trabalho — a única forma de não enlouquecer. Programar apaga as emoções.”

Era algo como um mantra que ele repetia para si mesmo, tentando manter ao menos a aparência de controle. Mas até o trabalho deixou de lhe trazer alegria. Todas as tarefas se tornaram iguais: tickets, testes, correções — uma sequência interminável de rotina monótona. Isso não salvava, mas ao menos distraía.

Ficou difícil com os amigos. Sem querer, eles apenas reforçavam seu sentimento de solidão. As piadas começavam a irritar, as conversas pareciam vazias, as noites juntos — sem sentido.

As mulheres também não traziam alívio. Tudo começava como sempre: mensagens, café, flerte leve. Elas eram diferentes — bonitas, simpáticas, vibrantes. Mas assim que o relacionamento passava da primeira fase, tudo se resumia a perguntas: “Onde você trabalha?”, “Quanto você ganha?”, “Tem carro?”, “O apartamento é seu ou dos seus pais?”.

As perguntas eram feitas de modo casual, quase de passagem, mas Maxim sentia nelas um cálculo frio. Não o aceitavam como pessoa — o viam como um conjunto de possibilidades. Ele não era pobre. Tinha um bom cargo, apartamento, carro. Mas depois de cada encontro, restava o mesmo — vazio. Como se ele tentasse se aquecer tirando algo quente da geladeira. Por fora, tudo em ordem. Por dentro — frio.

Às vezes, ele simplesmente sentava no carro e dirigia pela cidade, sem ligar o rádio. Dava voltas por horas, do centro até as periferias, como se procurasse alguém ou algo. Às vezes parecia que procurava a mãe. Ou o próprio eu que foi um dia.

A mãe lhe ensinou a ser bom não com palavras, mas com ações. Não de modo professoral, mas naturalmente, no dia a dia. Ajudar os idosos, comprar produtos deles, mesmo que pudesse ser mais barato em outro lugar. Ela dizia: “Eles não estão só vendendo — estão tentando sobreviver. E nós podemos ajudar. Ao menos um pouco, de verdade.” Essas palavras ficaram com ele para a vida toda.

Mesmo agora, sem ela, ele continuava esses pequenos atos de bondade — como uma homenagem à memória, como um laço com o passado.

Hoje ele vagava sem rumo até chegar perto de uma estação de metrô, onde costumava ir com a mãe. Saiu do carro. O frio fazia cócegas no rosto, flocos de neve rodopiavam silenciosos no ar. Havia poucas pessoas, o caminho levava à passagem subterrânea, e naquele silêncio o olhar de Maxim parou em algo incomum.

Nos degraus estava sentada uma mulher. Parecia idosa. Vestida simplesmente — um casaco velho, capa de chuva por cima, botas de feltro nos pés. À sua frente, uma caixa com coisas espalhadas: livros, duas maçãs, alho, copos de cristal. Tudo isso criava um conjunto estranho, mas comovente.

Maxim se aproximou.

— Com licença, por quanto estão as maçãs?

A mulher ergueu os olhos. Tirou os óculos lentamente, colocou o livro cuidadosamente de lado, ajeitou o capuz. Seu olhar era gentil, atento.

— Leve tudo de graça — respondeu. — Eu não vendo nada. Talvez alguém precise.

Maxim sorriu.

— Você é uma péssima vendedora. Nem tentou dizer o preço.

Ela riu baixinho.

— Nem sou vendedora. E as maçãs foram compradas… Mas os livros são meus. Especialmente este — “As Vinhas da Ira”, de Steinbeck. Um livro muito bom. É bom para ler no inverno. Nestes livros há mais luz do que nas notícias.

Maxim pegou o livro. A capa estava gasta, as páginas amareladas, mas bem conservadas.

— Você leu?

— Claro! Trabalhei quase quarenta anos na biblioteca. Na central científica. Depois, ainda ajudava na aposentadoria.

Maxim olhou para ela de outra forma. Não como uma estranha qualquer, mas como alguém com uma vida rica.

— A senhora tem muitos anos?

— Quase oitenta e cinco. Mas a idade não é um número. É a memória. Enquanto você lembrar quem é e para quê, você vive.

O coração dele apertou. Ele lembrou da mãe — sua voz, seu cuidado, seu calor.

— Eu sou Maxim.

— Evdokia. Muito prazer. Obrigada por não passar direto.

Ele olhou para as mãos dela — rachadas, com luvas velhas, mas com movimentos delicados, como os de uma verdadeira bibliotecária.

— Desculpe se a pergunta for pessoal… Por que está aqui?

A senhora ficou em silêncio, limpou os óculos.

— Tenho uma casa. Morávamos lá eu e meu marido a vida toda. Depois nós três, eu, ele e o filho. Depois só nós dois. E então… meu marido morreu. Câncer. Os últimos meses em casa. Depois o filho… uma explosão na fábrica. Nada sobrou.

Maxim sentiu a dor que ele tanto escondia reacender dentro de si. Lembrou do hospital, da mão fria da mãe, daquele dia em que tudo acabou.

— Eu também… perdi minha mãe recentemente — disse Maxim, baixinho.

Evdokia olhou para ele de outra forma. Em seus olhos brilhou compreensão — não só compaixão, mas um vínculo profundo, quase invisível, entre quem viveu a mesma dor. Agora falavam não como estranhos, mas como quem sabe o que é um buraco no peito, que ninguém vê, mas que se sente a cada movimento da alma.

— Desculpe, — disse ela suavemente — isso vira parte de você. Você anda com isso, vive, trabalha, fala, mas por dentro é como um vazio. Só quem passou por isso entende.

Ela ficou em silêncio um pouco, depois continuou — calma, sem queixas, como se contasse uma história alheia:

— Eu tinha um neto, Andrei. Um bom garoto, inteligente, gostava de estudar. Amava livros. Mas depois tudo mudou. Ele largou os estudos, começou a andar com gente ruim, a beber. A cada dia ficava mais amargo.

Maxim ouvia atento, sem interromper. A voz dela era firme, sem histeria — falava como se só quisesse passar a verdade, sem despertar pena.

— Apresentou uma garota — Masha. Diz que é sério. Eu via que ela não ligava. Desleixada, rude, sempre no celular. Eles ficavam na cozinha, fumavam pela janela, e eu tossia, e até o gato sofria.

Ela apertou o livro contra o peito, como se se protegesse.

— Um dia ele disse: “Ou você vai embora com o gato, ou eu jogo ele pela janela.” Imagine? Assim, de passagem. Mas a Musya não é só um animal. É a última coisa que eu tenho.

Maxim ficou gelado por dentro. Não conseguia imaginar alguém falando assim com uma pessoa que perdeu tudo, menos um pequeno pedaço de calor.

— Antes dela tinha a Luna — continuou Evdokia. — Uma cachorrinha. Peguei ela no abrigo quando ainda trabalhava na biblioteca. Vivemos muitos anos juntas. Mas um dia Andrei disse que ia levar ela para passear. Voltou sozinho. Disse que ela fugiu. Mas eu sabia: ela não iria embora. Mesmo assustada, encontraria o caminho de casa. Provavelmente… ele a deixou em algum lugar. No frio.

A voz da senhora tremeu, mas ela não chorou.

Maxim sentiu uma raiva verdadeira subir no peito — não teatral, não fingida, mas autêntica, pela injustiça. Aquela mulher não pedia nada a ninguém. Só contava sua história — e em cada palavra havia uma dor imensa e muda.

— Eu procurei a Luna — acrescentou ela baixinho — nos quintais, perto dos lixos, nas paradas. Chamava… As pessoas riam. Depois parei. Só chorava.

Ela estendeu a mão para a caixa ao lado. Sob o cachecol estava um gato — ruivo, com patinhas brancas, enrolado em bola. Pela aparência dava para perceber: frio, fome, doenças. Mas o olhar era gentil, até um pouco inteligente.

— Essa é a Musya — disse Evdokia. — Eu a achei na biblioteca. Ela corria entre as estantes, se escondia. Com o tempo virou uma das nossas. Recebia os leitores como uma funcionária. Quando me aposentei, a trouxe comigo. Luna e Musya eram amigas. Agora só restamos nós.

Maxim estendeu a mão. O gato encostou o focinho nos dedos dele, miou e voltou a se enroscar no cachecol.

— Leve ela — pediu a senhora — por favor. Ao menos por um tempo. Ela não vai sobreviver aqui. Tem problema nos rins, eu tratei, mas os remédios acabaram. Eu não aguento mais…

Ela cobriu a caixa com o segundo cachecol, com cuidado, como se fosse um bebê.

— Ela é boa. Treinada para a caixa, paciente. Tem um temperamento muito delicado — sorriu entre as lágrimas.

Maxim ficou em silêncio. Seu coração resistia — como simplesmente entregar alguém que virou o último apoio?

— E você? — perguntou. — Para onde vai?

— Minha irmã Lera virá. Ela tem alergia, filhos… Não pode morar com animais. Tentamos deixar a Musya na entrada, na varanda — não deu certo. Preciso achar um lar para ela. Ao menos temporário.

A voz dela falhou. Chorou — não alto, mas com dor.

— Eu… não posso. Mas devo. Por favor… ao menos por um tempo. Eu ligarei. Talvez tudo mude…

Maxim sentou ao lado. Olhou nos olhos dela — havia um abismo, mas nesse abismo ardia uma faísca de força. Não gritante, não heroica — silenciosa, indomada.

— Posso alugar um apartamento para a senhora — ofereceu de repente. — Perto daqui. Para ficar quente. Com a Musya.

Mas Evdokia balançou a cabeça.

— Não. Não precisa. Não estou acostumada a receber. Só preciso saber que ela está segura.

— Então eu a levarei. Mas com uma condição — você vai me ligar. Aqui está meu número.

Ele escreveu os números num papel, sublinhou duas vezes. Evdokia guardou o bilhete com cuidado.

— Obrigada, querido… — sussurrou.

Ela tirou da caixa: ração, caixa de areia, prato, escova. Maxim pegou tudo.

— Então está combinado — disse. — Vou comprar os livros. Vou ler até o fim.

Ela assentiu, como se isso também importasse.

— Deixe-me me despedir — pediu baixinho.

Maxim aproximou a caixa. Evdokia apertou o gato contra o peito, acariciou demoradamente e com cuidado. Lágrimas escorriam pelo rosto, caíam no pelo ruivo.

— Nós vamos nos encontrar de novo — ela sussurrava — Vai ficar tudo bem, minha pequena… Ele é bom. Não vou deixar ele te perder…

Ela beijou Musya, demorou um instante, inalou seu cheiro. E passou a caixa para Maxim.

Ele se afastou, pisando com cuidado na neve. Por dentro tudo tremia, tudo desmoronava. As lágrimas corriam pelo rosto, grandes, quentes, incontíveis. Ele não as escondeu. Que corram. Não é vergonha. É certo.

— Eu prometi a mim mesmo… não chorar mais — expirou.

Mas chorou. Porque entendeu: força não é segurar as emoções. Força é agir. Ele fazia algo maior do que simplesmente salvar um gato. Ele preservava um amor, segurava a confiança, a ternura, o vínculo humano do desaparecimento.

Dois dias se passaram. Nenhuma ligação, nenhuma mensagem.

Maxim não aguentou. Voltou ao metrô. Perguntou a todos que pôde. Ninguém sabia. Até que uma mulher disse:

— Você é o rapaz com o gato? Sim… Ela morreu. Aqui mesmo. Logo que você foi embora. Sem pulso. A ambulância chegou — tarde demais.

Ele ficou parado, sem conseguir acreditar. O mundo acabara de fazer sentido… E logo desmoronou de novo.

Em casa, Musya o esperava. Aconchegada na poltrona, enrolada numa manta, ronronando com os olhos fechados. Ela o aceitou. Ele a aceitou.

Sentou ao lado, pôs o livro no colo — “As Vinhas da Ira”, de Steinbeck. Páginas amareladas, anotações a lápis nas margens, colchetes cuidadosos, pétalas como marcadores.

Abriu a primeira página. Musya enroscou-se em seu colo e ronronou.

O silêncio não era vazio. Era vivo.

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