O vento de outono rodopiava sobre o cemitério, erguendo folhas amarelas do chão. Anna Alexeevna ajeitou a gola do casaco e se agachou junto ao túmulo. O monumento de granito brilhava após a recente chuva. Da fotografia, olhavam para ela dois rostos — um homem de uns trinta e cinco anos, com olhar aberto e bondoso, e um menino, como sua miniatura.
— Olá, meus queridos — ela disse baixinho, tirando uma pequena escova da bolsa. — Veio mais folhas. Vou limpar tudo agora.
Ela limpava cuidadosamente a lápide, falando quase em sussurros, como se soubesse que eles podiam ouvi-la. Contava sobre os assuntos da fazenda — aquela que um dia tinha construído junto com Vasya. Sobre o velho trator que teimava de novo, e que Petrovich, o mecânico deles, já estava cheio de raiva. E sobre o recado da vizinha Marya Ivanovna.
O telefone vibrou dentro da bolsa. Anna Alexeevna suspirou e o tirou.
— Alô, Lenotchka?
— Anna Alexeevna, a senhora pediu para eu lembrar! O concerto no Centro Cultural começa em uma hora!
A mulher estremeceu. O tempo… como ele escapa sem que a gente perceba, quando se está aqui, entre o passado.
— Obrigada, querida. Chegarei em pouco.
Lena era sua secretária, mas, na verdade, mais próxima de uma filha. Órfã, criada num orfanato. Elas se conheceram dois anos atrás, num concerto beneficente parecido. Naquela vez, a moça ajudava nos bastidores — confortava crianças tristes, ajeitava vestidos, dizia palavras de encorajamento a cada uma antes de subir ao palco.
Após a morte de Vasya e Kiryusha, o único sentido de vida para Anna passou a ser ajudar crianças. Primeiro, ela apenas doava dinheiro a orfanatos. Mas, com o tempo, se questionou — será que o recurso chegava de fato? Então, ela criou seu próprio sistema: concertos beneficentes. Transparentes, honestos, com a chance de mostrarse para quem nunca teve essa oportunidade.
Anna Alexeevna se levantou, sacudiu as folhas que grudaram no casaco e disse:
— Bom, meus amados… Já é hora. As crianças estão me esperando. Volto logo, prometo.
Uma única lágrima deslizou pelo seu rosto. Cinco anos. Cinco longos anos sem eles.
O Centro Cultural zumbia como uma colmeia agitada. Assim que Anna Alexeevna entrou no foyer, as crianças se aproximaram — alegres, bem vestidas, cheias de emoção.
— Anna Alexeevna! Decorei toda a poesia!
— E eu trouxe vestido novo, vejam só!
— Tia Anya, será que vai ter muita gente?
Ela sorria, acariciava a cabeça de cada um, tinha uma palavra carinhosa para cada criança. A jovem professora Nelli Sergeyevna, cheia de nervos, veio correndo.
— Crianças, por favor! Deixem a Anna Alexeevna tirar o casaco!
— Está tudo bem, Nelli. E vocês, estão prontos?
— Ai, Anna Alexeevna! Está lotado! E tem gente importante!
— Ótimo. Assim arrecadaremos o suficiente. O Andrey Ivanovich já chegou?
— Está na primeira fila, deixou um lugar ao seu lado.
Andrey entrou em sua vida um ano atrás. Ofereceu ajuda com a divulgação dos concertos — e realmente ajudou. Graças a ele, o salão estava cheio. Um homem agradável, confiável. Só que… ele tentava cortejá-la. Como se não entendesse: seu coração havia partido com Vasya e Kirill.
E era mesmo lotado. Apenas uma poltrona na primeira fila estava vazia — ao lado de Andrey. Ao vê-la, o público aplaudiu. Anna Alexeevna acenou e se sentou.
— Hoje a senhora está radiante — ele sussurrou.
— Obrigada — ela respondeu friamente, desviando o olhar para o palco.
O concerto começou. O pequeno Vanechka dançava animado “Kalinka Malinka”, e a plateia ria e batia palmas. As meninas do grupo mais velho dançaram uma valsa — um pouco desajeitadas, mas com tanto esforço que muitas mulheres se emocionaram.
Subiu ao palco a apresentadora:
— Agora teremos a apresentação de um menino com uma voz surpreendente. O nome dele é Kostya. Ele veio de outra cidade. Teve uma infância difícil — ficou doente por muito tempo, passou por várias cirurgias. Mas é justamente por isso que suas canções tocam o coração — falam de esperança, de força de espírito…
Andrey se inclinou:
— Depois do concerto, permita-me convidá-la para jantar.
— Andrey Ivanovich — Anna se virou abruptamente — até quando? Eu…
Não deu tempo de completar.
Subiu ao palco um garoto de cerca de nove anos. Magricela, olhos cinzentos grandes. E Anna Alexeevna sentiu um choque no peito.
Era Kirill.
Não, ele tinha crescido, mas ela o reconheceria entre mil. As mesmas feições, a mesma inclinação da cabeça, a mesma postura…
— Kiryusha! — ela exclamou.
O menino estremeceu. O salão silenciou. E Anna Alexeevna não viu mais nada — o mundo girou em círculos escuros diante dos seus olhos.
Recobrou a consciência no camarim. Um médico verificava seu pulso, Andrey segurava sua mão, os organizadores murmuravam preocupados.
— Anna Alexeevna! Graças a Deus! Como se sente?
Ela se sentou de repente, empurrando o médico:
— Onde está o menino? Onde ele está?!
— Que menino? Anna, você precisa…
— Meu filho! Onde está meu filho?!
Todos se entreolharam. Andrey falou com cautela:
— Anna, você sabe… que o Kirill…
— Me dê a bolsa! Rápido!
Com mãos trêmulas, ela tirou a carteira e mostrou uma foto. Todos ficaram sem fôlego — a semelhança era impressionante.
— Não pode ser… só pode ser coincidência… — alguém murmurou.
Mas Anna já corria pelos corredores. A intuição guiava-a. Em uma das salas, ela o encontrou — o menino estava sentado, encolhido, com olhar assustado voltado aos adultos.
— Como você se chama?
— Kostya… — ele respondeu, quase inaudível.
Anna se abaixou à frente dele, estudando seu rosto. Não, não era Kirill. De perto, ela viu as diferenças: sem a pinta acima da sobrancelha, queixo diferente, e não havia cicatriz na têmpora. Mas a esperança, mesmo que falsa, lhe tocou o coração.
Mas a semelhança… Meu Deus, que semelhança impressionante!
— Kostya, qual é seu sobrenome? — Anna perguntou tentando manter a voz calma.
— Não tenho sobrenome. Venho de um orfanato.
O coração da mulher parou.
— E seus pais?
O menino encolheu os ombros:
— Não sei. Tia Valya disse que fui para o hospital logo ao nascer. Fiquei doente por muito tempo.
Ao lado, havia uma mulher desconhecida — parecia educação.
— Posso falar com a senhora por um instante? — Anna se dirigiu à ela.
No corredor, encarou a mulher nos olhos:
— Conte-me tudo o que sabe sobre esse menino. Tudo.
A mulher se apresentou como Valentina Petrovna, ajeitando timidamente os óculos:
— O que há para dizer… Trouxeram ele para nosso orfanato há quatro anos, vindo de um hospital. Antes disso, passou mais de um ano lá — cirurgias, UTI… Nasceu com grave problema cardíaco, os médicos não davam chances. Mas um professor estrangeiro assumiu a operação gratuitamente. Um milagre verdadeiro! E os pais? Não há — ele é um bebê abandonado.
— Abandonado? A senhora tem certeza?
— Nos documentos está escrito assim: a mãe recusou no próprio hospital.
Anna Alexeevna encostou-se na parede. Pensamentos rodopiavam como folhas ao vento. Gravidez complicada com gêmeos. As palavras do médico: “Um feto se desenvolve às custas do outro. O segundo não sobreviverá”. Parto prematuro. E Vasya, entre lágrimas: “Temos um filho. Um só filho”.
— Me dê o endereço do orfanato. E vou precisar do material genético do Kostya para testes.
— A senhora acha que ele é seu?… — Valentina Petrovna suspirou.
— Ainda não sei. Mas tenho que verificar.
Duas semanas foram um verdadeiro teste. Anna Alexeevna viajou entre cidades em busca de registros, conseguiu autorizações. Andrey ajudou no que pôde — encontrando pessoas, marcando encontros.
E então veio o resultado: o teste genético confirmou o impossível — Kostya era seu filho.
Na promotoria, apenas deram de ombros — o caso era de cinco anos atrás, nenhum dos médicos ainda trabalhava naquele hospital. Mas o fato era o fato: o menino havia sido registrado como natimorto, embora estivesse vivo. Por quê? Quem tomou essa decisão?
Após buscas, encontrou-se a enfermeira-chefe da maternidade — agora aposentada. Ela relutou, mas acabou cedendo:
— Foi um pesadelo. Os gêmeos nasceram prematuros — um nasceu saudável, o outro azul e sem respirar. Levaram o bebê, mas uma hora depois ele estava vivo! Mas os documentos já tinham sido feitos, a mãe inconsciente e o pai em choque. O diretor ordenou: «Não compliquem. A criança não iria sobreviver de qualquer forma». Então ele foi mandado ao hospital como sem família.
— Como puderam?! — Anna quase gritou.
— O que poderíamos fazer? — a mulher chorou. — O diretor ameaçou demitir-me. Tenho três filhos. Para onde iria sem o emprego?
Anna Alexeevna saiu do hospital como em transe. Cinco anos. Cinco anos em que seu filho vivia — e ela acreditava que estava morta. Crescendo sem família, sem amor, sem mãe…
Os documentos para restabelecer a maternidade foram expedidos em caráter de urgência. A história ganhou repercussão, jornalistas lotavam o orfanato.
Kostya observava tudo com desconfiança. Estava acostumado à solidão. Acostumado com adultos que vinham e iam. E agora essa mulher dizia ser sua mãe.
— Kostya — disse Anna, sentada ao seu lado na sala de jogos. — Entendo que é difícil aceitar. Também é difícil pra mim. Mas você é meu filho. Vou levá-lo para casa.
— Por que me abandonou?
Essas palavras o machucaram profundamente. Ela engoliu em seco:
— Não abandonei você, querido. Me disseram que você… não sobreviveu no parto. Achei que estivesse no céu, com o papai e o irmãozinho.
— Eu tinha um irmão?
— Sim. Vocês eram gêmeos. O nome dele era Kirill. Ele… morreu com seu pai há cinco anos.
Kostya ficou pensativo, e então segurou sua mão:
— A senhora está chorando. Não chore.
Foi demais. A mulher se despedaçou em lágrimas. E o garotinho que ela havia lamentado por tanto tempo gentilmente fez cafuné na cabeça dela, repetindo:
— Não chore, tia… quer dizer, mamãe. Não chore, mamãe.
No dia em que Kostya foi oficialmente entregue à mãe, Anna Alexeevna o levou ao cemitério.
— Aqui está o papai e o Kiryusha — ela falou baixinho. — Quer dizer algo a eles?
Kostya ficou olhando a foto por um bom tempo. Depois colocou no túmulo um ursinho de pelúcia — seu único brinquedo trazido do orfanato.
— É para o Kiryusha. Para que ele não fique entediado.
Anna conteve as lágrimas mordendo o lábio.
Quando se afastaram, Andrey, que os levaria de volta, atrasou-se junto ao túmulo. Virando-se, Anna ouviu quando ele disse:
— …não o conheci, Vasily Petrovich. Mas era um bom homem, se Anya o amava tanto. Eu me apaixonei por sua esposa. E vou amar seu filho como se fosse meu. Prometo cuidar deles. Desculpe-me.
Kostya puxou a mamãe pela mão:
— Mamãe, será que o tio Andrey vai morar com a gente?
— Não sei, filho. Vamos ver.
— Seria bom. Gosto do tio Andrey.
Anna olhou para o homem que os esperava pacientemente junto ao carro. Talvez… talvez a vida realmente continue, mesmo após a dor mais terrível. Especialmente quando acontece um milagre.
— Vamos para casa — ela disse a Kostya. — A vovó Marya Ivanovna fez torta de maçã. Gosta?
— Não sei. No orfanato damos só em dias de festa.
— Pois então você vai comer todo dia.
Eles entraram no carro. De repente, Kostya perguntou:
— Mamãe, será que o papai e o Kiryusha nos veem?
— Claro, querido. Eles estão felizes por nós.
— Que bom. Então agora somos todos juntos. Só que eles estão no céu, e nós aqui.
Anna Alexeevna abraçou o filho com força. Agora eles realmente estavam juntos — não do jeito que ela tinha sonhado, mas estavam. E isso era suficiente.