A sogra pediu-lhe para ter um filho-eu aceitei. E depois descobri uma coisa que me fazia sangrar.

Histórias interessantes

— Tânia, já pensaste em ter um filho para mim?

Valentina Petrovna disse isto com tanta calma como se estivesse a oferecer uma chávena de chá. Dei um gole brusco na caneca — e engasguei-me com a bolacha.

— Desculpe… O que quer dizer com isso?

— Ora, o quê? Tu e o Maxim ainda não têm filhos. E eu quero tanto ter netos! Tu engravidas, dás à luz, e eu fico com os cuidados.

Olhei para a minha sogra à espera que, a qualquer momento, ela se risse e dissesse: “Estava a brincar!” Mas o seu rosto permanecia absolutamente sério.

— Valentina Petrovna… Isso é…

— Qual é o problema? Na família não nos ajudamos uns aos outros? Tu tens dificuldades em conciliar o trabalho com a casa, e eu tenho muito tempo livre.

“Dificuldades em conciliar”? Passámos três anos a lutar para ser pais. Três anos de injeções, exames, tratamentos, desilusões e lágrimas. E nenhum teste positivo.

O Maxim chegou tarde a casa — ficou preso no escritório. Durante o jantar, toquei cuidadosamente no assunto:

— Hoje a tua mãe sugeriu que… eu tivesse um filho e lho entregasse.

Ele ficou imóvel, com o garfo na mão.

— O quê? Ela disse isso mesmo?

— Disse. Que eu engravido e ela cria a criança.

O meu marido esfregou o rosto com as mãos.

— Ouve, e se… e se isto até fizer sentido?

— Sentido? Estás a falar a sério? Entregar o nosso filho?

— Não entregá-lo! Só dividir os cuidados. A minha mãe tem experiência, criou três filhos.

Olhei para ele e não o reconheci. Era este o homem que chorava no meu ombro depois de mais um ciclo falhado de tratamentos?

— E se eu não conseguir simplesmente afastar-me dele? Se me apegar?

— Tânia, continua a ser o nosso filho. A minha mãe só vai ajudar um pouco.

“Ajudar”. Palavra interessante para descrever a entrega total dos direitos parentais.

Pensei durante duas semanas. Os médicos diziam que as hipóteses de engravidar naturalmente eram quase nulas. A FIV exigia dinheiro, energia, e não garantia sucesso. Aqui, havia uma hipótese de finalmente viver a gravidez — ainda que em condições especiais.

— Está bem, — disse eu à Valentina Petrovna. — Mas com as minhas condições.

— Quais exatamente?

— A gravidez é só minha. Nada de conselhos sobre onde ir, o que comer ou que médicos consultar.

— Claro, querida!

— E quero ver o bebé. Não como uma estranha, mas como a verdadeira mãe.

— Naturalmente! Tu és a mãe!

Tudo parecia lógico. Eu teria o bebé sem me preocupar com as tarefas domésticas, podia trabalhar e evoluir. E a Valentina Petrovna, uma mulher experiente que criou três filhos, assumiria a carga principal.

O que podia correr mal?

Fiquei grávida ao fim de dois meses. Pela primeira vez em três anos, o teste mostrou aquelas duas linhas tão esperadas.

O Maxim ficou eufórico — parecia uma criança. E a Valentina Petrovna também. Começou logo a comprar roupas de bebé, a preparar o quarto.

— Vocês têm pouco espaço aqui — comentou. — Melhor que o bebé viva comigo. Tenho mais espaço.

Parecia razoável: ela tinha um T3, nós um pequeno T1.

Mas já no quarto mês senti algo estranho. A Valentina começou a apresentar-me às pessoas como mãe de aluguer.

— Esta é a Tânia, está a gerar um bebé para nós — dizia ela às vizinhas.

— Eu não sou uma mãe de aluguer, sou a sua nora — tentava eu corrigir.

— Claro, querida! É só uma forma mais simples de explicar às pessoas.

Explicar o quê?

No sexto mês, levou-me ao médico dela.

— Doutor, aqui está a nossa mamã — apresentou-me. — Está a gerar um bebé para nós.

— Entendo — respondeu o médico. — E quem são os pais biológicos?

— O meu filho e ela mesma — apontou para mim. — Mas quem vai educar somos eu e o meu filho.

O médico olhou com estranheza, mas não disse nada.

No sétimo mês, ouvi por acaso uma conversa telefónica dela.

— Sim, ela dá à luz em fevereiro. Não, vai entregar logo. Está tudo acordado… Claro, vamos tratar da papelada como deve ser. Ela aceitou…

Estava no corredor, encostada à parede. Com quem ela falava? Que documentos eram aqueles?

— Valentina Petrovna, com quem estava a falar?

— Com uma amiga. Ela também espera netos.

— E que papelada era aquela?

— Normal, sobre a criança. Nada de mais.

Mas nos olhos dela havia algo — não medo, mas preocupação evidente.

À noite, perguntei ao Maxim:

— Quem vai ser o tutor legal da criança?

— Nós os dois, naturalmente.

— E a tua mãe?

— Ela ajuda, mas os documentos ficam em nosso nome.

Fiquei mais tranquila. Achei que estava a imaginar coisas.

Mas no oitavo mês, Valentina pediu-me para ir com ela ao Registo Civil — “era preciso tratar de uns papéis”.

Foi lá que descobri tudo. Ela queria pedir a adoção da criança.

— Valentina Petrovna, o que significa isto?

— Não te preocupes, Tânia. É só uma formalidade. Fica melhor assim.

— Melhor para quem?

— Para o bebé. Tu queres continuar a trabalhar. E eu posso ser uma mãe completa.

“Mãe completa”. E eu o quê? Um útero com pernas?

— Eu não vou assinar nada para adoção.

— Mas tínhamos combinado!

— Combinámos ajuda! Não abrir mão dos meus direitos como mãe!

O rosto dela empalideceu.

— Tânia, não percebes. O Maxim concordou.

— O quê?!

— Ele disse que tu não irias aguentar, que seria difícil conciliar carreira e maternidade. Por isso, não se opôs a que eu fosse a mãe oficial.

Fiquei tonta. O Maxim? O meu marido? Ele concordou em dar o nosso filho à própria mãe?

Cheguei a casa como um furacão. O Maxim estava na sala com o portátil.

— Concordaste com a adoção?

Ele estremeceu e fechou o computador.

— Tânia, calma…

— Responde! Concordaste que a tua mãe fique com o nosso filho?

— Não é dar-lhe! Só que ela será a tutora legal. É mais prático.

— Prático para quem?

— Para todos! Tu própria disseste que tinhas medo de não conseguir.

— Ter medo de não conseguir não é o mesmo que desistir!

O Maxim tentou abraçar-me. Afastei-me.

— Tu queres um filho? Ou uma carreira?

— Quero o meu filho! Não uma mãe substituta nem documentos formais!

— Mas ele será nosso!

— No papel, será dela. E eu? Uma mulher qualquer que aparece de vez em quando?

Ele ficou em silêncio. E com esse silêncio disse tudo.

— Diz-me a verdade, — pedi baixinho. — Era este o plano desde o início? Tu e a tua mãe decidiram que eu ia dar à luz e depois desistir?

— Tânia…

— Diz-me a verdade!

Sentou-se no sofá, a cabeça nas mãos.

— A mãe disse que seria melhor assim. Que és nova, que a carreira é importante. Que se te apegasses, te ias arrepender.

— E tu? O que pensaste?

— Pensei… que ela tinha razão. Que ainda não estavas pronta. Que seria melhor se ela ficasse com o bebé e nós ajudássemos.

Ajudar. De longe. Numa casa alheia.

— Entendi — disse. — Agora entendi tudo.

No dia seguinte fui a um advogado. Descobri que nenhuma lei permite obrigar uma mãe a desistir de um filho — mesmo que ela tenha “aceitado” antes da gravidez.

O Maxim foi para casa da mãe “explicar tudo”. E eu arrumei as minhas coisas. Só o essencial.

Deixei um bilhete:
“Vou ter o bebé sozinha. Vou criá-lo sozinha. Se quiseres ser pai — sê bem-vindo. Se quiseres continuar a ser filho — fica com a tua mãe.”

A minha mãe recebeu-me com lágrimas e abraços.

— Filha, o que aconteceu?

Contei-lhe tudo. Ela acariciava a minha barriga, sussurrando: — Minha netinha… minha menina.

Não uma estranha. Não deles. Da minha mãe.

A minha filha nasceu em fevereiro. Chamei-a Vera — em homenagem à minha avó. O Maxim veio ao hospital.

— Tânia, ela é tão linda… Vamos esquecer tudo. Volta para casa.

— Para que casa? Aquela onde a tua mãe vai “educar” a minha filha?

— Não! Isso acabou. Prometo.

— É tarde demais, Max.

Ele registou a filha no nome dele — como pai. Mas não voltámos. Vivemos com a minha mãe. Ela ajuda-me com a Verinha, mas não me substitui como mãe.

A Valentina Petrovna liga às vezes. Chora. Pede desculpas. Diz que queria o melhor.

O melhor para quem? Só para ela.

Ser mãe não é um serviço que se pode delegar. Esta é a minha filha. A minha escolha. A minha vida.

E não a darei a ninguém.

Visited 1 357 times, 1 visit(s) today
Rate the article
( 1 оценка, среднее 5 из 5 )