O chefe da colônia notou a suspensão do filho falecido no pescoço da prisioneira e percebeu a verdade deprimente

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Veronika Sergeevna ajeitou pela última vez o seu rigoroso paletó diante do espelho e franziu a testa — tudo precisava estar perfeito. Depois, como de costume, colocou a máscara de calma fria, atrás da qual tão acostumada estava a esconder seus verdadeiros sentimentos. «Serve», pensou, olhando seu reflexo. Em quinze anos como diretora de uma colônia feminina correcional, ela aprendeu a esconder as angústias tão profundamente que às vezes nem sabia onde elas terminavam. Hoje era especialmente importante manter a firmeza — por dentro tudo doía, mas não podia demonstrar.

Ela saiu do gabinete e caminhou pelo longo corredor. Hoje chegaram novas presas, e Veronika sempre as conhecia pessoalmente. Queria olhar nos olhos delas, entender quem estava à sua frente — criminosas perigosas reincidentes ou apenas pessoas perdidas que acabaram no lugar errado na hora errada.

Quem pensasse que só homens eram capazes de crimes cruéis estava enganado. Nos casos havia histórias que até os funcionários experientes sentiam arrepios na pele.

Dois meses atrás, seu filho Denis morreu subitamente. Tão bobo, tão inesperado… Ele estava voltando para casa, passou mal e caiu. Parecia algo comum num dia quente. Mas bateu a cabeça numa pedra jogada na calçada — e a vida acabou. O garoto tinha só vinte e dois anos. A idade em que os outros ainda têm tudo pela frente, mas ele já não teria mais nada. Nem chegou a apresentar a namorada para a mãe, embora Veronika soubesse que ele tinha alguém, e sério.

— Como ela se chama? — perguntou ela uma vez.

— Mãe, tudo tem seu tempo — ele sorria. — Daqui a algumas semanas te apresento.

— Você é igual ao seu pai — suspirava ela. — Teimoso até não poder mais.

Agora, folheando os processos das recém-chegadas, Veronika reparou numa ficha especial. Duas mulheres — veteranas do sistema, e a terceira — muito jovem, confusa, órfã, claramente deslocada naquele lugar horrível. Pelos papéis, parecia que ela fora condenada injustamente — simplesmente acharam uma vítima conveniente.

«Era só o que faltava», pensou a mulher. Presas assim costumavam dar problema: tentavam suicídio ou buscavam justiça onde ela não existia.

— Levem essas duas para as celas, e tragam essa moça para mim — ordenou. — Preciso conversar.

Outro fato desagradável — Lilia estava grávida. Estranho. Se havia um filho, deveria haver um pai. Por que ele não a protegeu? Talvez fosse mais um «jovem de ouro» que não quer complicações?

Quando a moça entrou no gabinete, Veronika notou sua fragilidade e medo. Ela falou com voz trêmula:

— Olá…

A diretora deu um leve sorriso:

— Isso aqui é uma colônia, Lilia. Aqui não se cumprimenta assim. Então, conte, por que foi condenada?

— Eu não sei… — a jovem chorou. — Disseram que roubei um celular e dinheiro, mas eu nem estava no gabinete! Depois eles acharam tudo na minha bolsa. Só porque o namorado de uma estudante quis namorar comigo…

Veronika assentiu. Agora muita coisa fazia sentido.

— O que é isso no seu pescoço?

Lilia agarrou o pingente:

— Por favor, não tire! É um amuleto, uma lembrança. Meu amado me deu. Íamos casar, mas ele desapareceu…

— Fugiu?

— Não! Ele nunca faria isso! Algo aconteceu… Ele se chamava Denis. Era o melhor…

Veronika estremeceu. Algo passou por sua mente. Olhou de perto o pingente — ela o reconheceu imediatamente. Só duas pessoas tinham esse tipo de joia: seu marido e Denis. Seu filho usava exatamente aquele até morrer.

— Mostre — disse baixinho, aproximando-se.

Lilia baixou a mão lentamente. Então Veronika viu — era o pingente do filho.

Assim que a porta se fechou, ela caiu na cadeira. A cabeça girava.

Alguns minutos depois, entrou uma amiga — Natasha, médica do setor de saúde.

— Nika, posso entrar?

— Pode. Você parece ter saído de um pesadelo.

— Parece que vi um fantasma…

— Conte.

Quando Veronika terminou, Natasha assobiou pensativa:

— Ou seja, você tem quase certeza que a menina não tem culpa?

— Quase cem por cento. Mas agora a pergunta: o que fazer?

— Escuta, talvez você possa descobrir de quem é o filho?

Veronika se animou:

— Verdade! E mais… por enquanto, ela fica comigo. Uma grávida não pode ficar em celas comuns.

— Claro, fica aí. Eu vou tentar descobrir.

— Obrigada, Natasha.

Veronika não entendia por que o filho nunca falara da namorada. Talvez ele nem soubesse da gravidez? Quatro meses de gestação. Talvez fosse isso. Ou será que a criança não era dele?

A cabeça de Veronika estava prestes a explodir. Ficar especulando não ajudava. Era preciso agir.

Depois do trabalho, foi ao cemitério. Curvando-se sobre o túmulo do filho, falou baixinho:

— Filho, por que me deixou tantas dúvidas? Como resolver tudo isso?

A foto de Denis no túmulo sorria, como se soubesse as respostas. Veronika endireitou-se, como se carregasse um peso invisível nos ombros.

Decidiu primeiro ir até a casa de Lilia. No processo havia um endereço — zona residencial. Uma casa dividida em duas metades: numa morava a avó da moça, na outra, outras pessoas.

— Com licença, posso falar com a senhora? — perguntou Veronika à idosa.

Ela a olhou desconfiada:

— Sobre o quê?

— Sobre Lilia. Sobre Denis — disse Veronika com cautela. Se o jovem vinha muito ali, a avó devia saber.

— Quem é você?

— Sou mãe dele.

— Meu Deus! Onde você esteve até agora? — exclamou a mulher. — O garoto vinha aqui quase todo dia, mas depois… Lilia ficou grávida, e ele sumiu. Nada de ajuda, nada de palavra!

— Espere — cortou Veronika. — Você não sabe de tudo. Denis morreu há mais de dois meses. Ele nem sabia da criança.

A avó ficou imóvel, segurando o coração:

— Morreu? E Lilia esperava… Esperava que ele voltasse e a tirasse daqui…

Entraram na casa. Durante o chá, a mulher contou muito. Lilia era como filha para ela e ela não acreditava na culpa da moça.

— Ela não poderia roubar! Não acredito, nunca vou acreditar! Uma boa garota, gentil. Eu até fui à polícia para garantir, mas disseram: «Vai para casa, não se meta onde não deve».

Veronika lembrou das avaliações negativas no processo e entendeu: a verdade era mais profunda do que parecia.

— Obrigada — disse ela, preparando-se para sair.

— Espere, querida — a avó trouxe um pacote. — Aqui estão as coisas de Lilia. O álbum de fotos também. Olhe em casa.

Em casa, ao abrir o pacote, Veronika chorou. Na primeira foto, Lilia e Denis abraçados, rindo, felizes. Ela folheou todo o álbum, achando uma foto do curso, tentando identificar quem poderia ter armado contra a moça. Mas o rosto da traidora permanecia oculto.

No dia seguinte, foi ao instituto.

— Por que você precisa disso? — perguntou fria a reitora.

— Queria ajudar.

— Ajudar uma ladra? — ela zombou. — Só quem vai para a cadeia aqui são os culpados.

Veronika percebeu que não conseguiria a verdade ali. Mal saiu da porta, uma estudante se aproximou:

— Desculpe, você perguntou sobre a Lilia? Sei de algumas coisas. Mas vamos longe daqui para ninguém ouvir.

Três dias depois, Veronika foi atropelada por um carro. Felizmente, conseguiu desviar, mas a batida foi forte.

No hospital, Natasha a visitou:

— Aviso, né?

— Sim. O carro vinha direto para mim. O motorista me viu. E eu o vi.

— O que vamos fazer? E a Lilia?

— Por enquanto, tudo bem. Ela está começando a entender o que é estar presa.

— Nika, liga para o Oleg. Você não dá conta sozinha.

Oleg era irmão do falecido marido dela. Eles não se falavam há tempos — Veronika secretamente o culpava pela morte de Sasha, pois ele não fora pescar com ele. Se estivesse lá, talvez nada tivesse acontecido.

Quando Oleg chegou, estava assustado:

— Por que não ligou antes?

— Eu não consegui. Me desculpe.

— Para com isso. A gente sempre procura culpados. Conte tudo.

Ele concordou em ajudar.

Um tempo depois, Veronika e Natasha foram visitar Lilia. A jovem se levantou.

— Lilia — começou Veronika — Denis… ele morreu. Uma morte totalmente estúpida e acidental.

Lilia gritou, lágrimas brotaram:

— Não! Que ele ao menos tenha me abandonado, que tenha encontrado outra! Mas não isso!

Natasha aplicou uma injeção rápido. Dez minutos depois, o ataque de histeria passou.

— Você está esperando meu neto ou minha neta — disse Veronika suavemente. — Estamos fazendo tudo para você ser libertada. Você não está sozinha. Vamos conseguir.

Passaram-se três anos.

— Nikita! Pare! — gritou Veronika, correndo atrás do menino pequeno.

Ele fugia feliz, rindo alegremente. Lilia apareceu na frente. Hoje ela tinha feito o último exame. Graças a Oleg e Veronika, ela conseguiu terminar o curso — mesmo que à distância.

Um carro freou perto:

— Meninas! Como eu estava com saudades! Especialmente de você, Nikitos!

O garoto hesitou: mãe, avô… Depois pensou e correu para Oleg.

Um ano atrás, ele e Veronika haviam se casado. Hoje ele estava se mudando para essa cidade de vez.

— Vendi o apartamento na capital — disse abraçando Veronika. — Agora estou aqui de novo.

Ela saiu do trabalho na colônia para ajudar Lilia a estudar. Agora planejava encontrar um emprego tranquilo para mulheres.

Lilia se aproximou, pegou o filho no colo e todos se abraçaram. As pessoas que passavam desviavam, olhando curiosas: estavam no meio da calçada e não conseguiam se desgrudar.

Estranhos?

Não. Eles simplesmente passaram por algo que não desejariam nem para um inimigo. E se tornaram uma família — verdadeira, viva, unida. E isso era o mais importante no mundo para eles.

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