A vida de Leslie consistia em um trabalho meticuloso em casa e uma dedicação subestimada ao seu noivo, Peter. Quando uma entrega errada de um belo colar leva ao rompimento do noivado, Leslie decide limpar seu nome e encontrar o verdadeiro amor.
Leslie, uma mulher de meia-idade com talento para organização, começa seu dia como de costume, com um árduo trabalho doméstico. Sua manhã segue uma rotina aconchegante que ela aperfeiçoou ao longo dos anos.
Ela passa cuidadosamente as camisas, alisando cada dobra com precisão. As pendura na ordem certa, escolhendo as cores com atenção. Na mão esquerda, ela segura uma lista de tarefas e recomendações que ela mesma escreveu.
Desde criança, Leslie gostava de fazer listas. Elas a ajudavam com os deveres de casa, a limpeza da casa e até na organização de festas para os amigos.
Esse hábito inocente se tornou uma estratégia constante, tornando seu dia a dia mais gerenciável e agradável.
Depois do passar as roupas, chega a hora da limpeza. Leslie olha sua lista e começa a tirar o pó. Ela transforma as tarefas domésticas enfadonhas em um jogo, encontrando alegria em cumprir as tarefas na ordem e apreciando cada item riscado da lista.
Cantando uma melodia, ela passa o aspirador, arruma a sala e transforma suas tarefas em um passatempo prazeroso.
Finalmente, chega a parte favorita do dia de Leslie: preparar a comida. Ela alegremente pega uma das suas listas com a receita da lasanha, o prato preferido de Peter. Leslie gosta de cozinhar para Peter, embora ele raramente valorize isso.
Ela começa preparando os ingredientes, cantando uma melodia conhecida. O cheiro de tomates, alho e queijo enche a cozinha, fazendo-a sorrir.
Tudo está quase pronto quando, de repente, ela ouve a campainha. «Tão cedo?» pensa Leslie, olhando para o relógio, pois Peter geralmente chega mais tarde. Secando as mãos na toalha de cozinha, Leslie corre até a porta e, ao abri-la, vê o entregador.
— É o apartamento 4421, certo? — pergunta o entregador apressadamente.
— Sim, sim, está certo. De quem é o pacote? — pergunta Leslie curiosa.
— Não está especificado, senhorita… — responde o entregador, olhando rapidamente para seu tablet.
— Ainda “senhorita”, mas isso vai mudar em breve — acrescenta Leslie com um leve sorriso.
— Certo… — responde o entregador sem muito entusiasmo, entregando o pacote. Assim que Leslie o aceita, ele acena e rapidamente vai até seu carro.
— Boa noite, senhorita — diz ele se despedindo.
De volta para dentro, Leslie abre o pacote e fica chocada com o que vê.
É um colar com pedras preciosas coloridas. Ela nunca tinha visto algo assim. «Peter? Será que é meu Peter?» — pensa Leslie.
Quem mais poderia ser, senão seu futuro marido? Mas isso não parecia nada com ele. Até mesmo o anel que ele deu a Leslie era feito de metal simples e barato com uma pequena pedra. Ele nunca tinha dado algo assim, nem mesmo flores eram algo comum para ele.
Finalmente, Leslie sorri amplamente, coloca o colar e se admira no espelho.
Ela sente uma onda de emoção e alegria que não sentia há muito tempo. Contudo, sua alegria é curta. De repente, sente cheiro de queimado. «Droga! A lasanha!»
Ela corre para salvar o jantar, mas já é tarde demais; a comida queimou. Ela olha para a lasanha queimada, sentindo uma pontada de decepção, mas depois olha para o colar e sorri levemente.
A campainha toca novamente, e dessa vez é definitivamente Peter. Leslie corre para a porta, seu coração bate um pouco mais rápido. Assim que a porta se abre, Peter, um homem alto e severo de terno, entra.
Seu rosto, congelado em uma expressão eterna de descontentamento, imediatamente demonstra intolerância a erros. Ele passa friamente pela esposa, entregando-lhe o paletó sem dizer uma palavra.
— Estou em casa… — murmura ele, sem calor.
— Bem-vindo, querido! Como foi seu dia? — Leslie tenta soar alegre.
Ela cuidadosamente pendura o paletó e segue Peter para a sala. Nota a tensão em seus ombros e a rigidez da linha da boca.
— Como sempre… — responde Peter secamente. De repente, ele para e inspira o ar pelo nariz. — Espere, que cheiro é esse?
Leslie sente um calafrio de ansiedade. — Desculpe, querido, me distraí e…
— A comida, você queimou a comida! — interrompe Peter, a voz cheia de raiva. — Quantas vezes! Trabalho o dia inteiro feito um boi, e quando chego em casa encontro carvão no lugar do jantar!
— Eu me distraí com o presente, desculpe… — tenta explicar Leslie, a voz tremendo.
Com raiva, Peter se vira e vê o colar no pescoço de Leslie. Seus olhos se estreitam, e ele aponta agressivamente para ele, aproximando-se.
— De onde você tirou isso!?
Leslie dá um passo para trás, sentindo a intensidade da raiva dele. — O que quer dizer “de onde”? Você não me deu isso? — responde confusa.
— Mentirosa! Eu sabia que você tinha outro. Que idiota eu fui! Há quanto tempo isso dura? — o rosto de Peter está distorcido pela fúria.
— Querido, você entendeu tudo errado. Deve ter sido um engano. Vou devolver o colar imediatamente — suplica Leslie, as lágrimas começando a surgir nos olhos.
— Devolver para quem!? Para o seu amante? Não posso acreditar que quis formar uma família com alguém como você — rosna Peter. Ele tira o anel e o joga no chão com um baque seco.
— Faça as malas! Quero você fora daqui até amanhã de manhã! — grita ele. Após isso, bate a porta do quarto com força, deixando a casa em silêncio.
O eco do estrondo parece um zumbido nos ouvidos de Leslie. Ela fica atordoada. Tudo aconteceu tão rápido que ela sente como se seu mundo tivesse desabado.
As lágrimas começam a escorrer pelas bochechas, a realidade do ocorrido a domina. Ela nem sabe o que fazer a seguir. Enxugando as lágrimas, sobe as escadas, sentindo-se anestesiada.
Ela rapidamente faz sua mala, sabendo que discutir com Peter é inútil, pois ele fará o que quiser. Talvez, quando ele se acalmar, ela seja perdoada, pensa, agarrando-se a essa tênue esperança.
Leslie organiza meticulosamente as coisas na mala, sua mente dominada por um turbilhão de emoções.
Olha ao redor do quarto que antes parecia seu lar, mas que agora parece estranho e frio. Cada objeto que ela guarda traz lembranças da vida que pensava estar construindo com Peter.
Com o coração pesado, fecha a mala e senta na cama, sentindo o peso da incerteza.
Para provar sua inocência, Leslie decide encontrar o remetente do colar para explicar tudo e talvez conseguir o perdão de Peter.
Leslie vasculha a casa atrás do recibo do presente e, após alguma procura, o encontra dentro da embalagem.
O endereço no recibo lhe é desconhecido, mas ela está determinada a provar sua inocência. Respirando fundo, pega sua bolsa e parte para o endereço indicado.
Quando Leslie chega à casa, fica impressionada: diante dela está uma enorme mansão. O caminho até ela é longo, cercado por elegantes árvores altas.
Ela estaciona o carro e se aproxima da imensa porta da entrada, sentindo uma mistura de ansiedade e determinação. Reunindo coragem, ela bate à porta.
A porta é aberta pelo mordomo, cuja expressão é neutra, porém cortês. Seu olhar desliza pelo colar no pescoço dela, e sem hesitar diz:
— Entre, o senhor Rodri está aguardando por você.
Leslie fica surpresa com suas palavras. Como poderia o senhor Rodri estar esperando por ela? Ela segue o mordomo pelo luxuoso hall decorado com belas pinturas e lustres brilhantes.
Sente-se um pouco deslocada com suas roupas simples, mas lembra o motivo de estar ali.
O mordomo a conduz a um grande e elegante escritório. As paredes são cobertas por estantes cheias de livros de todos os tamanhos.
Atrás de uma grande mesa de mogno está o senhor Rodri, um homem imponente com cabelos grisalhos e olhos gentis.
— Boa tarde — cumprimenta calorosamente o senhor Rodri. — Por favor, sente-se.
Leslie senta, sentindo-se um pouco mais tranquila.
— Desculpe, houve um engano. Recebi seu colar, mas claramente foi enviado para mim por engano — diz rapidamente, querendo explicar a situação o quanto antes.
O senhor Rodri ouve calmamente, com a expressão pensativa.
— Peço desculpas, foi realmente um erro. Você e minha irmã têm endereços iguais em cidades diferentes, e por descuido o colar foi enviado para você ao invés dela.
Leslie estende a mão com o colar e o entrega ao senhor Rodri.
— É muito gentil da sua parte vir de tão longe para devolver algo tão valioso. Você poderia tê-lo vendido ou simplesmente ficado com ele — responde o senhor Rodri surpreso.
— Isso não seria correto — balança a cabeça Leslie. — E tem mais uma coisa importante. Por causa desse mal-entendido meu casamento foi cancelado. Meu noivo é muito ciumento e não acreditou que fosse um erro…
O senhor Rodri parece ainda mais surpreso.
— Vale a pena casar-se com alguém que não confia em você? — pergunta suavemente.
Leslie baixa os olhos, lágrimas começam a encher seus olhos. Ela se fazia a mesma pergunta, mas não tinha coragem de admitir.
— Eu não sei — sussurra.
O senhor Rodri pensa por um momento.
— Já é tarde. Por que você não fica para o jantar? Podemos conversar melhor e amanhã iremos juntos ao seu noivo para explicar tudo.
Leslie hesita. Ela não quer ser um peso, mas a ideia de enfrentar Peter sozinha é assustadora.
— É muito gentil da sua parte, senhor Rodri. Obrigada — diz suavemente.
O senhor Rodri sorri.
— Por favor, me chame de John. E não é nada demais. Você teve um dia difícil. Vamos resolver isso juntos.
Durante o jantar, Leslie pela primeira vez em muito tempo se sente realmente feliz. Tudo foi preparado especialmente para ela, e só lhe resta aproveitar a comida.
O senhor Rodri cuida de tudo, e Leslie não precisa se preocupar com nada.
Ela nem percebe quando começa a conversar com ele, rindo sinceramente. Pela primeira vez em muitos anos, ela se sente relaxada.
Não precisa ter medo de dizer ou fazer algo errado; ao lado do senhor Rodri, ela se sente segura.
Eles bebem vinho e riem das piadas um do outro, até que Leslie de repente para, como se proibisse a si mesma de ser feliz.
— Desculpe, senhor Rodri. Meu noivo está me esperando em casa. Talvez eu deva ir dormir.
Leslie se levanta da mesa e está quase saindo, mas o senhor Rodri suavemente segura sua mão, parando-a.
— Preciso confessar, senhorita Leslie, que nem tudo o que lhe disse sobre minha irmã é verdade.
— Veja bem, há muito tempo sofro de solidão, é muito difícil para mim encontrar alguém que me valorize não pelo meu dinheiro. Enviei esse colar aleatoriamente, perdendo a esperança de algum dia encontrar o amor, mas ele acabou chegando até você.
— Eu entendo que não é fácil para você, mas gostaria de passar mais tempo com você, se não se importar.
— Eu… Eu gostaria, mas… — os olhos de Leslie enchem-se de lágrimas e ela corre para seu quarto. Ela não consegue entender seus sentimentos. Fez tudo por Peter e queria voltar para ele, para que a perdoasse.
Mas ao lado do senhor Rodri ela se sente verdadeira, sentia-se atraída por ele.
— Isso está errado — disse para si mesma, fechando os olhos na cama.
Na manhã seguinte, Leslie e o senhor Rodri foram até Peter. O carro estava tenso, o silêncio pesado pairava no ar.
— Desculpe pelo que aconteceu ontem à noite, foi o vinho… — disse o senhor Rodri, rompendo o silêncio. Leslie suavemente colocou a mão na dele.
— Está tudo bem, você não precisa se desculpar — assegurou, dando-lhe um pequeno sorriso reconfortante.
Quando chegaram à casa de Peter, a tensão só aumentou. Leslie respirou fundo quando se aproximaram da porta.
Lá dentro, Peter levantou a cabeça, sua expressão era uma mistura de raiva e tristeza. Juntos, o senhor Rodri e Leslie explicaram tudo a ele.
O senhor Rodri pediu desculpas sinceramente, depois se afastou para o carro, deixando-os sozinhos.
Peter se virou para Leslie, seus olhos suavizaram.
— Desculpe, Leslie. Me arrependi das palavras assim que as disse. Eu senti tanto a sua falta.
Ele pegou o anel de Leslie que ela havia deixado e se ajoelhou.
— Por favor, vamos recomeçar. Coloque esse anel de novo.
Leslie olhou para o anel, depois para Peter. Ela não conseguiu estender a mão. Seus olhos encheram-se de lágrimas e ela virou-se para o carro de Rodri. Olhou para ele, pronto para ir embora para sempre.
— Está tudo como você queria, Leslie. O que há de errado? Por que você hesita? — perguntou a si mesma.
O som do motor do carro de Rodri a tirou de seus pensamentos. Naquele momento, Leslie percebeu que não queria voltar para a vida que tinha antes.
— Desculpe, Peter. Adeus — disse suavemente e correu para o carro de Rodri. Dessa vez, tinha certeza de que havia feito a escolha certa.
Ela sentiu alívio e uma nova esperança ao se aproximar da porta do carro, sabendo que estava indo para um futuro onde poderia ser realmente feliz.
