Uma menina de rua se aproximou de um velho moribundo e desenhou sua mãe Когда quando ele viu o desenho, as lágrimas correram por suas rugas

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Quarto parto

Nastya estava de pé junto à janela, com a testa encostada no vidro frio do quarto do hospital, e rezava a todos os santos de que conseguia se lembrar. Que este bebê sobreviva. Meu Deus, que ele apenas nasça com vida. Que haja uma chance — uma única chance — de ser mãe de verdade.

As três gestações anteriores terminaram em tragédia. Uma doença crônica hereditária, como uma maldição, tirava a vida dos bebês ainda no ventre. Cada perda não era apenas uma dor — eram feridas profundas que não cicatrizavam por anos. O terceiro bebê ela chegou a batizar — Ivan. O padre veio direto para a UTI, quando já não havia mais tempo. O bebê viveu apenas algumas horas, mas foi enterrado com um crucifixo no peito. Todos os sábados, Nastya ia ao seu pequeno túmulo no cemitério, levava flores e conversava com ele, como se ele pudesse ouvi-la.

Os médicos haviam avisado: as chances eram mínimas. Valery sabia disso. Discutiram tudo nos mínimos detalhes, leram centenas de relatórios médicos, consultaram os melhores especialistas. Mas não desistiram. Queriam um filho a qualquer custo. Queriam acreditar que um milagre era possível.

E ali estavam — o quarto parto. Depois, a sala de cirurgia mergulhou em silêncio. Nenhum choro de recém-nascido. Apenas ações urgentes dos médicos: respiração artificial, massagem cardíaca, tentativas de devolver a vida ao pequeno corpo. Tudo em vão. Mais uma perda. Mais um nome que não faria parte de suas vidas.

Nastya foi levada para a enfermaria pós-parto. Ao redor, a alegria de outras mulheres. Ao lado de cada cama, um berço com um pequeno embrulho dormindo ou resmungando. Apenas ao lado da cama de Nastya havia vazio. Ela deitava-se virada para a parede, para que ninguém visse suas lágrimas. Para que ninguém ouvisse seus soluços silenciosos.

À noite, trouxeram uma nova parturiente — uma menina de não mais de dezesseis anos. Dreads sujos, um avental hospitalar grande demais, no qual ela parecia ainda mais perdida. As outras mulheres a olhavam de lado, cochichavam, julgavam. Mas a garota parecia não notar nada. Deitou-se e adormeceu instantaneamente, como se não descansasse de verdade havia anos.

A enfermeira trouxe um bebê e o colocou no berço ao lado dela.

— Sorte a sua, hein — disse, batendo de leve nas costas do bebê. — Com uma mãe dessas.

O pequeno se encolheu como uma bolinha e bocejou. Nastya o observava sem desviar o olhar. Ele se espreguiçou, esticou os dedinhos, bocejou de novo. Tão simples — começar a viver. Mesmo se a mãe for uma andarilha qualquer. Por que ela não podia ter o mesmo destino?

À meia-noite, o bebê chorou. A mãe continuava dormindo profundamente. Nastya se levantou, foi até o berço, pegou o bebê com cuidado nos braços:

— Posso amamentar? Meu leite está descendo bastante.

— Claro, se a mãe não se importar.

O bebê se agarrou ao peito, mamando com voracidade, como se soubesse que não era para sempre. Um minuto depois, a mãe acordou.

— Ah, ainda está escuro. Achei que já fosse de manhã. Ia embora.

— Como assim, embora?

— Ah, o bebê… Qual bebê? Ah, esse aí. Pra que quero ele? Vou assinar a renúncia.

Pela manhã, a chefe das enfermeiras chamou Nastya na sala dos médicos.

— Kostina assinou a renúncia. O menino será enviado para o abrigo. Mas você pode adotá-lo aqui mesmo. Temo que esta possa ser sua última chance de ter um filho saudável.

O coração de Nastya parou. Aquele bebê, que ela já havia amamentado, que se aconchegava nela com tanta confiança, já lhe era querido. Como explicar tudo a Valery? O que diriam os pais? O que pensariam os amigos?

— Dá pra fazer como se ele fosse meu? Quero dizer, registrá-lo oficialmente no meu nome, como se eu tivesse dado à luz?

— Temos regras rigorosas. Mas há um jeito: se Kostina assinar um termo de transferência direta para você. Mas é preciso um cartório.

Nastya correu de volta para o quarto. Kostina já estava se preparando para sair.

— Irochka, espera! Quero adotar seu bebê. Espera pelo cartório.

— Quinhentos rublos — e fico mais um dia neste buraco fedorento.

— Tudo bem, só não vá embora!

Uma hora depois, uma amiga trouxe o dinheiro e os documentos. Assinaram o termo no consultório médico.

— Nastya, e o Valerka concorda? — perguntou a amiga.

— Disse a ele que nosso bebê nasceu em estado grave. Não sei se estou fazendo a coisa certa, mas o médico disse que eu não conseguiria ter um filho vivo.

Valery estava em êxtase. Perguntava várias vezes: “É verdade? Mesmo?” Ligou para todos os parentes, amigos, conhecidos. Enquanto Nastya ainda estava no hospital, ele já havia celebrado o nascimento do filho com diferentes grupos, sem conseguir conter a alegria.

Quando foram buscar o bebê, a mãe de Nastya o pegou no colo, olhou bem para ele.

— Nossa, como parece com o Valerka!

— Mãe, dá pra saber isso agora?

— Claro! Você nasceu com o narizinho fino, e o dele é batatinha. Igual ao do Valera.

— Ótimo. Que se pareça com o pai.

Por seis longos anos, o quarto infantil ficou vazio. Agora, ouvia-se ali o primeiro choro, as primeiras risadas, as primeiras palavras. O bebê era exigente, principalmente na hora de comer.

— Espera, apressado! — resmungava Nastya em tom brincalhão enquanto se preparava para amamentar.

No corredor, ouviram-se passos. Valery perguntou:

— Como você o chama?

— Kostya. Um bom nome — Konstantin.

— Nome de imperador — disse Nastya, pensativa. Sempre quis dar esse nome a um filho.

E assim ficou — Konstantin Valerievich. Todos notaram logo a impressionante semelhança com o pai. Quando o menino aprendeu a andar, virou a sombra de Valery. Onde o pai ia, ele estava — no colo, nos pés, pendurado no pescoço como um macaquinho.

Dois anos e meio depois, Nastya engravidou novamente. Dessa vez, não havia medo — só confiança. Olhando para o animado Kostya e para Valery, ela se sentia em paz, e a quinta gravidez correu tranquila. Nasceu uma menina saudável e cheia de vida.

A bebê foi chamada de Viktoria. Para Nastya, o nome simbolizava vitória sobre as tragédias passadas. Valery disse:

— Já temos o imperador Konstantin, agora vem a rainha Vitória.

Kostya amou a irmã desde o primeiro dia. Primeiro achava que era um brinquedo, depois entendeu que era uma pessoinha e começou a cuidar dela. Trazia a chupeta, balançava o berço, gritava: “Mamãe, onde você está? A bebê tá chorando!”

A avó se derretia pelos netos. Chamava-os de “meus tesouros” e os fotografava sem parar.

Um dia, Nastya recebeu uma ligação de um número desconhecido. Um homem se apresentou como tabelião, dizendo ligar em nome de Pyotr Alekseevich Kostin. Queria discutir um assunto de herança.

“Que bobagem”, pensou Nastya. “Herança?” E então lembrou: Pyotr Kostin era o pai de Irina, a mãe biológica de Kostya!

O coração disparou. O que eles queriam? Contar a verdade para Valery? Destruir a família?

Isso não podia acontecer. Ela precisava ir até o cartório e pedir que os deixassem em paz.

Deixou Kostya com a mãe, pegou Viktoria e foi ao endereço indicado. Lá, um homem de uns cinquenta anos, baixo e forte, esperava por ela. O rosto lhe parecia familiar.

— Meu Deus, não tem com quem deixar o bebê? Desculpe incomodá-la.

— Não tem problema. Vamos aproveitar pra passear. Por que me chamou?

— Não quero complicar sua vida. Prazer, Pyotr Alekseevich Kostin.

— Anastasia Olegovna Danilova. Por que achou que precisávamos de ajuda?

— Vou explicar. Você é mãe do meu neto. Minha filha… — Pyotr se virou, enxugando as lágrimas. — Fugiu de casa aos 14 anos. De vez em quando voltava — uma vez de uma turnê com uma banda, outra vez de algum lugar aleatório. Inútil. Era impulsiva, teimosa.

Três anos atrás, teve um filho de pai desconhecido e transferiu os direitos para você. Um tabelião conhecido me manteve informado. Depois, ela entrou em uma fase de shows de fogo, se viciou em pílulas e… morreu de overdose.

Pyotr mostrou uma foto. Nastya viu uma garota com sorriso radiante e cabelo castanho. Mal reconhecia a mesma andarilha de dreads.

— E o Kostya nem parece com ela.

Olhou para Pyotr e sorriu. O avô tinha o mesmo nariz batatinha do neto.

— E essa é minha filha mais nova, Viktoria. Meu neto ficou com a avó.

— Ah, que velho tolo! Claro, o menino já tem três anos. Já fala, né?

— Claro! E é muito engraçadinho.

— Tem fotos?

Nastya mostrou no celular.

— Criança adorável. Lembra alguém.

“Lembra você,” pensou Nastya, rindo por dentro.

— Não vou demorar. Meu filho mais velho, Vadim, vai se casar. Um novo membro na família. O advogado sugeriu fazer um testamento justo. Ele sabe do neto e quer incluí-lo. A única condição: não obrigá-lo a ter contato com vocês.

— Eu também não queria novos parentes surgindo de repente.

— Por quê? — perguntou o homem, decepcionado.

— Meu marido não sabe da adoção. Aconteceu na maternidade depois que perdemos nosso quarto filho. E eu disse a todos que o bebê era meu.

— Entendo. Vou pensar em uma solução. Nem seu marido nem seus familiares desconfiarão.

— E se a gente simplesmente não fizer nada? Não somos pobres.

— Isso não é pagamento. Só quero que os descendentes não passem necessidade.

“Ah, vovô, a história com sua filha não te ensinou nada. Você cria filhos em estufa e eles fogem por tédio,” pensou Nastya, mas não disse nada. Só prometeu ir com Kostya à próxima visita.

A próxima visita foi ainda mais surpreendente. Primeiro, Valery recebeu uma carta pedindo exame de DNA em um laboratório. Nastya entrou em pânico: que outra ideia o estranho avô teve?

Tudo foi esclarecido num restaurante. Kostin estava animado. Quando todos se acomodaram, ele entregou uma carta.

— Olá. Não imaginei que se lembrasse de mim. Dez anos atrás você não teria respondido, mas hoje vou contar tudo. Ainda mais depois de ficar viúva há cinco anos.

Quando nos separamos, eu estava grávida. Não contei — ainda estava no início, pensei em abortar. Sua Lyuda não me deixou. Conheci um homem maravilhoso, contei tudo e ele se casou comigo. Quando o bebê nasceu, ninguém suspeitou que não era dele. Danilov criou e educou como um verdadeiro pai.

— De quem é isso? — perguntou Valery, chocado.

— Da minha mãe.

— Não pode ser! Meu pai não era meu pai?

— Pode sim, filho — disse Kostin, contente. — Quando vi você e o neto na foto, soube na hora — é nosso sangue. Aí decidi… No passado fui um cafajeste. Suspeito que tenho filhos ilegítimos por todo o país. Não posso encontrar todos, mas localizei Anya, a mais próxima.

— Incrível — pensou Nastya. — Então Kostya é sobrinho de Valery.

— Pois é! Apresento-me oficialmente: sou pai de Valery, sogro da Nastya e avô dessas crianças maravilhosas. Que tal essa reviravolta?

— Espera aí — disse Valery. — Por que resolveu procurar uma ex-namorada?

— Queria fazer um testamento justo. Anya foi a única que ficou na cidade. Achei mais fácil encontrá-la. E consegui. Agora posso partir tranquilo.

Nastya olhou para os três homens — avô, pai e filho. Todos com o mesmo nariz batatinha. A vida tem mesmo suas surpresas. Quem diria que o bebê adotado seria sangue do próprio sangue?

A felicidade nem sempre chega como esperamos. Às vezes, vem na forma de um pequeno embrulho, deixado por uma adolescente sem rumo. E muda toda uma vida.

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