MINHA MÃE SEMPRE DEIXAVA MEU PAI, JURANDO QUE ERA PARA SEMPRE, SÓ PARA VOLTAR DEPOIS DE SUAS DESCULPAS E PRESENTES**
Eu nunca vou esquecer aquele dia. Minha mãe apareceu na minha porta com uma mala, mas dessa vez ela trazia uma notícia que mudaria tudo.
Estava sentada na cozinha com minha amiga Sandy, aproveitando um raro momento de folga juntas. A vida estava corrida, e parecia que quase não nos víamos mais.
“É bom finalmente colocar o papo em dia,” Sandy disse com um sorriso.
“Sim, é mesmo,” eu concordei, servindo uma taça de vinho para ela.
Depois de uma pausa, Sandy me olhou curiosa. “Sua mãe está morando com você agora?”
“Não, por que estaria?” Eu perguntei, franzindo a testa.
“Pensei que ela tivesse deixado seu pai de novo?”
“Ah, você sabe como é com eles. A cada dois anos, a mesma história. Ele faz besteira, ela fica brava, arruma as malas e jura que acabou para sempre. Então ele compra algo caro para ela, e de repente, tudo está perdoado. Eles agem como se estivessem apaixonados de novo, como se nada tivesse acontecido.”
“Você já tentou falar com ela sobre isso?”
“Tentei,” respondi, sentindo a velha frustração voltar.
“Eu disse a ela que ela merecia coisa melhor. Mas então ela voltava para ele, e ficava brava comigo, dizendo que eu não estava a apoiando.”
Sandy suspirou e tomou um gole de vinho. “Sinto muito, Amalia. Isso deve ser difícil.”
Meus olhos se fixaram no canto da mesa da cozinha, onde minha mãe tinha deixado um bilhete da última vez que saiu de casa. Ainda me lembro dela naquela noite—parada na minha porta, com a mala na mão e um sorriso determinado.
“Dessa vez eu deixei ele para sempre, Amalia,” ela disse com um sorriso confiante.
Queria acreditar nela, mas lá no fundo, duvidava. Ainda assim, uma pequena esperança surgiu dentro de mim, sussurrando que talvez, dessa vez, fosse diferente.
Saímos para tomar café da manhã em um café próximo, sentando uma em frente à outra. Respirei fundo, tentando controlar meus nervos, e finalmente disse o que sempre tive medo de dizer.
“Mãe, você sabe que não pode continuar voltando para ele, certo?” perguntei, com a voz firme.
Ela olhou para o café, depois de volta para mim, com um sorriso fraco. “Claro, não estou planejando voltar. Eu tomei uma decisão.”
Suspirei e me inclinei para mais perto. “Ele é horrível, mãe. Ele te tratou muito mal. Ele não vai mudar.”
“Eu sei,” ela sussurrou. Peguei sua mão.
“Só quero que você seja feliz. Você merece isso, sabia?”
Ela apertou minha mão, os olhos lacrimejando. “Obrigada, querida. Isso significa muito para mim.”
Pensei que talvez minhas palavras tivessem chegado até ela. Talvez dessa vez fosse diferente. Mas quando cheguei em casa naquela noite, tudo estava quieto. Chamei por ela, mas sem resposta.
Em vez disso, havia um bilhete na mesa: “Seu pai se desculpou e me deu um carro novo. Percebi que exagerei e voltei. Beijos, Mamãe.” Amassei o bilhete, jogando-o no lixo. Que tola eu fui por ter esperança.
As palavras de Sandy me tiraram dos meus pensamentos. “Você entende sua mãe mais do que ninguém,” ela disse. “Você deixou Robert, e foi difícil. Mas você fez isso.”
Eu dei de ombros. “Sim, foi difícil. Mas eu sabia que precisava.”
Ela levantou a taça, com o olhar carinhoso. “Bem, acho que você é muito forte. Um brinde a isso.”
Eu ri e levantei minha taça. “Um brinde.”
Na manhã seguinte, acordei atrasada. Meu despertador não tocou, ou talvez eu apenas tenha dormido demais. De qualquer forma, eu estava correndo, tentando me vestir, pegar minhas chaves e minha bolsa tudo ao mesmo tempo.
Meu cabelo estava uma bagunça, e eu mal conseguia pensar direito. Já sabia que seria um daqueles dias em que nada dá certo. Quando estava tentando calçar os sapatos, ouvi a campainha. Olhei para o relógio.
Não tinha tempo para isso. “Droga,” murmurei, frustrada. Abri a porta e congelei. Lá estava minha mãe, segurando uma mala, com o rosto sério.
Não queria soar dura, mas as palavras saíram sem querer. “O que foi que o pai fez dessa vez?!”
Ela não desviou o olhar. Seus olhos ficaram fixos nos meus, e ela disse: “Ele morreu.”
Por um momento, tudo ao meu redor parou. Não conseguia respirar ou pensar. Minha mente ficou completamente vazia, como se um interruptor tivesse sido desligado. Tentei dizer algo, qualquer coisa, mas nenhuma palavra saiu.
Após ouvir a notícia, liguei para meu chefe e pedi o dia de folga. Não consegui explicar muito, então só disse que era uma emergência familiar. Minha mãe e eu pegamos o carro e voltamos para a casa onde cresci.
Quando chegamos, entrei no meu antigo quarto e senti uma onda de lembranças. Tudo estava igual—os pôsteres na parede, a colcha desbotada, até as pequenas figuras na prateleira. Era como voltar no tempo, e por um momento, me senti adolescente de novo.
Na manhã do funeral, acordei com uma música alta tocando pela casa. Gemei, puxei o travesseiro sobre minha cabeça, mas minha mãe só aumentou o volume, enchendo cada canto da casa.
“Mãe! Abaixe o som!” eu gritei, minha voz quase sendo engolida pela música alta.
“O quê?!” ela gritou de volta de algum lugar no corredor. “Espera, não consigo te ouvir!”
Um momento depois, a música parou, e ouvi seus passos. Ela apareceu na minha porta, parecendo calma, como se fosse uma manhã qualquer. “O que você estava dizendo?” ela perguntou, inclinando a cabeça.
“Por que a música está tão alta?” perguntei, tentando manter a calma. “Está muito cedo para isso.”
Ela deu de ombros, com um sorriso no rosto. “Essa música me faz feliz,” disse ela, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
Eu a encarei. “Você não deveria estar feliz hoje. É o funeral.”
Ela olhou para mim, ainda sorrindo. “Por que não? Você deve se sentir feliz todos os dias, não importa o que esteja acontecendo.”
Suspirei, esfregando as têmporas. “Além disso, essa música é de uns 20 anos atrás. Ninguém ouve mais isso.”
Ela levantou a sobrancelha. “Você costumava amar essa música,” ela disse. “Eu me lembro de você dançando no seu quarto, cantando cada palavra.”
“Sim,” respondi, “e depois enjoei, como todo mundo.”
Ela fez uma pausa por um momento. “Não sei. Quando amo algo, amo para sempre,” disse suavemente, e então se virou e saiu. Segundos depois, a música começou de novo, tão alta quanto antes.
Depois de cumprimentar todos na igreja, apertando mãos e ouvindo as mesmas frases—“Sinto muito pela sua perda,” “Ele era um bom homem”—eu me sentia exausta. Era como se estivesse no piloto automático, apenas acenando e agradecendo sem realmente pensar.
Eu precisava de um momento de paz, então me escondi em uma pequena sala silenciosa no fundo da igreja. Esperava estar sozinha por um minuto, mas quando entrei, minha mãe já estava lá, sentada perto da janela. Ela olhou para cima e sorriu, com os olhos cansados, mas tranquilos.
“Eu também não gosto de funerais,” minha mãe disse, olhando pela janela.
Soltei uma risada amarga. “Sim, mas estamos aqui.”
Ela se virou para mim. “Você preparou seu discurso?” perguntou, com um tom gentil.
Balancei a cabeça. “Não vou dizer nada. Não tenho nada de bom para falar sobre ele.”
O rosto dela suavizou, como se tentasse entender. “Por quê? Ele era um bom pai e um ótimo marido.”
Eu a encarei, atônita. “Você só pode estar brincando. Estamos falando da mesma pessoa?”
Ela parecia confusa. “Por que você o odeia tanto?” perguntou, como se realmente não entendesse. “Eu nunca entendi.”
“Quer mesmo saber?” Algo se quebrou dentro de mim, e as palavras começaram a sair. “Quando eu tinha 13 anos, você foi viajar a trabalho, e uma amiga minha dormiu aqui. Ouvimos barulhos no seu quarto. Pensamos que alguém estava machucado, então fomos ver…”
“… E lá estava ele, na cama com a Sra. Brown, nossa vizinha. Eu só gritei e saí correndo. E quando voltei, ele não disse uma palavra para mim. Ele fingiu que nunca aconteceu, como se eu não tivesse visto. É por isso que eu o odiava. E ainda o odeio,” eu disse, com a voz trêmula.
Os olhos da minha mãe suavizar
am. “Eu sei.”
“Você não sabe como eu me sinto!” eu gritei, com os olhos cheios de lágrimas.
“Eu quero dizer, eu sabia sobre as traições,” ela disse calmamente.
“Você sabia?” perguntei, chocada. “E não fez nada?”
“Claro que eu sabia,” ela disse suavemente.
“Então eu te odeio também,” eu disse, com a voz fria. Virei-me para sair, mas sua voz me deteve.
“Sinto muito, Amalia,” minha mãe disse. “Sinto muito por não ter sido forte como você. Eu tinha medo de deixá-lo. Não sabia como fazer isso para valer.”
“Você acha que eu não tive medo quando deixei Robert? Eu estava apavorada,” eu disse, com a voz um pouco trêmula. “Mas eu fiz isso porque sabia que precisava. E sabe de uma coisa? Foi difícil, mas com o tempo, me senti… livre.”
“Fico feliz em ouvir isso. Nunca gostei do Robert, sabia? Quando você o deixou, fiquei tão orgulhosa. Você sabia que merecia coisa melhor. Mas não era o mesmo para mim. Quando amo algo, amo para sempre. E eu amava seu pai.” Eu a encarei, confusa.
“Mesmo depois de ele te tratar daquela maneira?”
Ela assentiu. “Ele não era perfeito. Eu nunca precisei que ele fosse. Ele tinha defeitos, e alguns eram muito grandes. Mas ele sempre voltava.”
Eu franzi a testa, tentando entender.
Ela suspirou, seus olhos encontrando os meus. “Sinceramente, fico feliz em ouvir que você me odeia. Porque o tempo todo eu pensei que você não se importava. E entre ódio e indiferença, prefiro seu ódio.”
Eu não esperava que aquelas palavras me afetassem da maneira que afetaram, mas afetaram. Por algum motivo, me peguei sorrindo um pouco. Olhei para o relógio. “Precisamos ir. As pessoas vão estar esperando.”
Minha mãe colocou a mão nas minhas costas. “Sabe, seu pai amava duas coisas acima de tudo: bebida cara e fazer você rir. Talvez você possa mencionar isso no seu discurso, mas… omita a primeira parte,” ela disse, com um leve sorriso.
Não pude evitar e ri, uma risada verdadeira e sincera, e por um momento, a tensão se dissipou. Saímos da pequena sala juntas, lado a lado, e senti algo mudar dentro de mim.
Olhei para minha mãe e percebi que ela não era apenas minha mãe—ela era uma pessoa, com seus próprios medos, falhas e arrependimentos. Eu sempre a vi como alguém que deveria ser mais forte, alguém que deveria saber o que fazer. Mas naquele momento, entendi que ela estava apenas tentando, assim como eu.
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