Um pai solteiro se viu diante de um doloroso reconhecimento quando seus pais, conhecidos por suas críticas severas, menosprezaram a apresentação de piano de sua filha durante um jantar em família. O que começou como um momento de orgulho para sua filha rapidamente se transformou em uma batalha para proteger sua inocência e autoestima.
Eu assisti aos pequenos dedos de Lily pairarem sobre o teclado, suas sobrancelhas franzidas em concentração. Nossa sala de estar parecia quente e aconchegante, com o brilho suave da lâmpada no canto lançando uma luz suave em seu rosto ansioso.
Meus olhos se desviaram para a foto emoldurada no piano—apenas nós dois. Ela mal tinha cinco anos na época, sentada no meu colo, ambos sorrindo amplamente. Era um lembrete do porquê de eu fazer tudo o que faço.
“Leve seu tempo, querida,” eu disse, mantendo minha voz calma e firme. “Você consegue.”
Ela respirou fundo, os ombros tensos. “Ok, papai. Espero não errar.”
Inclinei-me para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos, tentando encontrar seu olhar. “Mesmo que você erre, tudo bem. Apenas faça o seu melhor. Estou orgulhoso de você por ter praticado tanto.”
Ela me deu um pequeno sorriso, sua confiança mal visível, e então começou a tocar. A música era simples, com algumas notas erradas e pausas, mas eu podia ver o quanto ela estava se esforçando. Quando ela terminou, eu bati palmas, sorrindo de orelha a orelha.
“Isso foi ótimo!” eu disse, sentindo aquele orgulho familiar crescer. “Você está melhorando a cada dia.”
“Realmente?” ela perguntou, sua voz pequena e incerta.
“Absolutamente,” eu disse, levantando-me e dando-lhe um abraço. “Você teve apenas algumas aulas e já está tocando assim! Não é fácil, eu sei, mas você está fazendo um trabalho incrível.”
Ela olhou para a foto no piano. “Você acha que a vovó e o vovô vão gostar?”
Meu sorriso se apertou. Eu não queria mostrar a ela a dúvida que sentia. “Tenho certeza de que vão,” eu disse, esperando estar certo.
O campainha tocou, me tirando dos meus pensamentos. Meu coração pulou uma batida. Respirei fundo e abri a porta.
“Tom,” minha mãe disse, entrando para um rápido e rígido abraço. “Faz muito tempo.”
“É verdade,” eu respondi, dando um passo para o lado para deixá-los entrar. Meu pai, Jack, me cumprimentou com um aceno curto, mal me olhando antes de passar e entrar na casa. Fechei a porta, já sentindo a familiar tensão no meu peito. Esta deveria ser uma boa noite.
Eles caminharam para a sala de estar, onde Lily estava parada, as mãos nervosamente unidas à sua frente.
“Oi, vovó! Oi, vovô!” ela disse alegremente, tentando muito parecer confiante.
O sorriso da minha mãe suavizou um pouco. “Olá, querida Lily. Nossa, como você cresceu.”
Meu pai mal olhou para ela. “A casa está boa,” ele murmurou, seus olhos vasculhando o lugar como se estivesse inspecionando a casa.
Eu segurei minha irritação. “O jantar está quase pronto,” eu disse, tentando manter minha voz firme.
Quando terminamos de comer, comecei a limpar a mesa. Lily hesitou, olhando entre a cozinha e a sala.
“Posso tocar agora? Está tudo bem?” ela perguntou suavemente, olhando para meus pais.
“Claro, querida,” minha mãe disse com um sorriso educado que não alcançava seus olhos. “Adoraríamos ouvir o que você tem praticado.”
“Pode começar, querida,” eu disse, sorrindo. “Vou escutar daqui.”
“Você tem certeza?” ela perguntou, seus dedos brincando com a barra da camisa.
Eu assenti. “Eu posso te ouvir muito bem. E estarei lá assim que terminar de limpar.”
Ela me deu um pequeno sorriso e virou-se para o teclado. Meus pais se acomodaram no sofá, meu pai com uma bebida na mão, e minha mãe alisando a saia, olhando ao redor da sala.
Lily respirou fundo, suas mãos pairando sobre as teclas. Eu me ocupei com os pratos, tentando me concentrar no som dela tocando. Ela começou devagar, a melodia um pouco irregular no início. Eu podia perceber que ela estava nervosa. Sequei um prato e o coloquei de lado, ouvindo atentamente.
Ela errou algumas notas, fez uma pausa, então começou novamente. Eu podia ouvir a determinação em sua música, o jeito que ela tentava superar seus erros. Meu coração se encheu de orgulho. Ela estava dando o seu melhor, e isso era o que importava.
Estava prestes a começar a lavar as panelas quando ouvi um barulho estranho. A princípio, pensei que algo tivesse dado errado com o piano, mas depois percebi que era minha mãe. Ela estava rindo, suavemente no início, uma risada abafada. Eu congelei, pano de prato na mão, esforçando-me para ouvir.
Então o riso do meu pai se juntou ao dela, mais alto e mais áspero. Foi como um tapa, ecoando pela cozinha. Meu estômago se revirou. Deixei o prato de lado e fui até a porta, espiando na sala de estar.
“Foi a sua primeira vez tocando?” minha mãe perguntou, e eu pude ouvir aquele tom familiar em sua voz.
Os olhos de Lily se moviam entre eles, suas pequenas mãos ainda pairando sobre as teclas. A expressão de confusão e dor em seu rosto era como uma faca girando em meu estômago. Eu a vi encolher, se fechando, como se tentasse desaparecer. Seu lábio tremia, e ela piscava rapidamente, lutando contra as lágrimas. Meu coração se despedaçou naquele instante.
“Não, não, eu-eu tive duas aulas,” ela gaguejou, sua voz tremendo. “É só que… é difícil tocar com as duas mãos.”
Meu pai riu mais alto, sua voz ecoando. “Um cachorro poderia ter feito melhor,” ele disse, enxugando uma lágrima do olho. Ele olhou para minha mãe, e eles compartilharam um olhar, como se estivessem em alguma piada doentia.
Eu não conseguia me mover. Estava congelado, preso entre a descrença e uma fúria ardente que estava crescendo no meu peito. Esses eram meus pais. Meus pais, que deveriam amar e apoiar sua neta, a derrubando, assim como fizeram comigo tantas vezes antes. A velha e familiar raiva ressurgiu, me sufocando, mas eu a engoli, lutando para permanecer calmo pelo bem de Lily.
“Ei,” consegui dizer, minha voz tensa. “Ela está apenas começando. Ela está indo muito bem.”
Minha mãe acenou com a mão, me dispensando. “Oh, Tom, não seja tão sensível. Estamos apenas nos divertindo um pouco.”
Diversão. Era assim que eles chamavam. Olhei para Lily, que havia se tornado silenciosa, seus olhos fixos no chão. Eu conhecia aquele olhar. Eu o usei por anos.
“Mãe, pai,” eu disse, tentando manter minha voz firme, “acho que é hora de vocês irem embora.”
Ambos pararam de rir, me encarando como se eu tivesse perdido a cabeça.
Meu pai se levantou, seu rosto vermelho. “Nós te criamos melhor do que isso. Você está sendo muito mole. Ela nunca vai sobreviver lá fora se você a mimar assim.”
Eu não consegui mais aguentar. Toda a raiva, a dor de anos de suas críticas constantes, a maneira como menosprezavam tudo o que eu fazia, tudo isso voltou à tona. Minha voz ainda estava firme, mas eu sentia como se estivesse à beira de um precipício.
“Isto,” eu disse, minha voz baixa, mas firme, “é por isso que eu fui tão problemático quando criança. Porque vocês não podiam ser apenas gentis. Sempre tinham que me derrubar. Bem, não vou deixar que façam isso com ela. Agora saiam.”
Eles me encararam, chocados. Minha mãe abriu a boca para dizer algo, mas eu balancei a cabeça. “Não. Pegue suas coisas e vá.”
Sem mais palavras, eles pegaram seus casacos e bolsas, e com um último olhar de desprezo, saíram. A porta se fechou atrás deles, e eu fiquei lá, tremendo, tentando recuperar o fôlego. Virei-me e vi Lily, seu rosto marcado por lágrimas.
“Papai, sinto muito,” ela sussurrou. “Eu não queria—”
Crossei a sala em dois passos e a puxei para meus braços. “Não, querida, não. Você não fez nada de errado. Você se saiu incrível, tá bom? Estou tão orgulhoso de você.”
Ela fungou, se agarrando a mim. “Mas eles riram de mim.”
Senti meu peito apertar novamente, mas mantive minha voz suave. “Eles estavam errados, querida. Eles não sabem ser legais às vezes. Mas esse é o problema deles, não seu.”
Ela hesitou, então assentiu lentamente. “Ok.”
Sentei-me ao seu lado, meu braço em torno de seus ombros, e ela começou a tocar novamente. Desta vez, seus dedos estavam
um pouco mais confiantes, a melodia mais suave. Eu a observei, meu coração transbordando de orgulho.
“Viu?” eu disse suavemente quando ela terminou. “Você está melhorando a cada vez.”
Ela me deu um pequeno sorriso, e eu senti um calor se espalhar por mim. Não era apenas sobre aquele momento. Era sobre tudo o que eu estava tentando fazer, tudo o que eu estava tentando ser por ela.
Depois que Lily foi para a cama, fiquei sozinho na sala de estar. O silêncio era pesado, minha mente ainda relembrando os eventos da noite.
Respirei fundo e me levantei, caminhando até o piano com uma foto acima dele. Toquei suavemente as teclas, pensando em como esse instrumento, uma vez uma fonte de alegria, havia sido manchado pela crueldade deles. Mas não mais. Eu não deixaria que eles tirassem isso dela. Eu não deixaria que eles tirassem isso de nós.
Na manhã seguinte, Lily e eu nos sentamos no piano novamente. Ela olhou para mim, uma pergunta em seus olhos. Eu sorri e acenei.
“Vamos tentar de novo, tá bom?” eu disse. “Você e eu.”
Ela assentiu, seus dedos encontrando as teclas, e ela começou a tocar. A melodia encheu a sala, um pouco mais forte, um pouco mais certa. Eu a observei, meu coração cheio, e enquanto a música tocava, eu sabia que ficaríamos bem.