Minha irmã deixou a filha sob meus cuidados, mas apenas algumas horas antes de ela voltar, notei que a criança havia desaparecido

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Cada homem chega a um momento em que deseja se estabelecer e ter uma família amorosa. Mas não Henry — ele estava convencido de que permaneceria solteiro para sempre, acreditando que essa era a melhor vida para ele. No entanto, um dia com sua sobrinha de nove anos o faz perceber o verdadeiro motivo por trás de suas escolhas.

A luz da manhã filtrava-se por cortinas desconhecidas, e acordei com a sensação de algo quente e úmido no meu rosto.
Era um cachorro — não meu — uma pequena criatura peluda com olhos grandes e ansiosos que pareciam dizer: «Agora você é meu.»
Ele lambia minha bochecha persistentemente, abanando o rabo com determinação. Queria comida? Um passeio? Quem sabia?

Enquanto esfregava os olhos, os acontecimentos da noite anterior voltavam lentamente à memória. Virei a cabeça e a vi — uma garota que eu havia conhecido no clube.

Ela estava dormindo, com os cabelos espalhados pelo travesseiro.
Este não era meu lugar. Se eu estava aqui, significava que havia cumprido o que pretendia.
E agora era hora de fazer o que sempre fazia: pegar minhas coisas e sair silenciosamente.

Saí da cama com cuidado, examinando o quarto. Lá estavam minhas calças, amassadas no chão. Minha camisa pendia de forma desajeitada de uma cadeira.
Uma meia estava ao lado do meu sapato, mas a outra… onde estava? Minha busca me levou ao tapete do cachorro.

Lá estava ela, reivindicada pelo pequeno bola de pelo que agora abanava o rabo com orgulho.
Abaixei-me, sussurrando:
“Ei, amiguinho, isso é meu.” Estendi a mão para pegar a meia, mas o cachorro a segurou com os dentes, rosnando de brincadeira.

Justo quando começamos nosso cabo de guerra, uma voz sonolenta quebrou o silêncio:
“Henry? Já está de pé?”

Eu congelei. Ela estava acordada. Virando-me, vi-a sorrindo para mim com olhos sonolentos.
“Ah, sim,” gaguejei, “Tenho trabalho. Estou atrasado para uma reunião.”
Ela franziu o cenho.

“Eu trabalho nos fins de semana às vezes. Coisas importantes, sabe.”
Seu sorriso desapareceu, substituído por uma expressão curiosa.
“Então… vou te ver de novo?”
“Claro,” menti habilmente. “Eu te ligo.”
Suas sobrancelhas se franziram.
“Você vai me ligar? Eu sequer te dei meu número?”
Ah, não. O pânico tomou conta de mim.
“Eu pensei que você tinha feito. Não fez?”
“E como você salvou o meu nome?” ela insistiu.
Pego de surpresa, gaguejei: “Pelo seu nome, obviamente.”

Engoli seco. Duas opções: admitir a verdade ou…
“Nancy?” adivinhei, com franqueza.
O rosto dela escureceu instantaneamente.
“Saia daqui! Eu sabia! Você é igual aos outros—ugh!”
Pantufas voaram na minha direção enquanto eu pegava minha jaqueta e sapatos, desviando da fúria dela até sair pela porta.
Sentado no meu carro, recostei-me e suspirei. O retrovisor refletia um rosto que parecia satisfeito, até arrogante.

Essa era a minha vida: sem amarras, sem responsabilidades, apenas liberdade. Quem precisa das complicações de uma família? Eu não.
Enquanto outros se prendiam, eu vivia para a adrenalina—festas, trabalho, e a independência que a maioria das pessoas só sonha.
Um toque de celular interrompeu meus pensamentos. Olhei para a tela e pisquei. Riley? Minha irmã quase nunca ligava. Hesitei antes de atender.

“Henry,” ela disse, a voz tensa, “preciso falar com você. Tem um minuto?”
Franzi a testa. “Claro. O que aconteceu?”
“Vem logo, não dá para explicar por telefone. Quando você pode chegar?”
“Em quinze minutos. Está tudo bem?”
“Só venha. Eu explico.”
Fiquei olhando para o celular por um momento e então liguei o carro. Seja o que for, tinha que ser sério.

Vinte minutos depois, estacionei na garagem dela e mal cheguei à porta antes que ela se abrisse.
Riley estava lá, com os braços cruzados, a expressão uma mistura de aborrecimento e urgência.
“Cinco minutos,” retruquei, entrando.
“Relaxa, Riley. Você não precisa ser tão chata…”
“Não xingue,” ela sibilou. “Minha filha está por perto.”

Olhei na direção dela e vi Mira, sua filha de nove anos, encolhida no sofá com uma enciclopédia.
Seu rostinho estava concentrado, o dedo seguindo as linhas do texto como uma mini acadêmica.
“Como esperado, você é a minha última opção,” disse Riley com um suspiro. “Preciso que você cuide da Mira hoje.”
“Eu? Sério?” perguntei, olhando nervoso para Mira, que não havia tirado os olhos do livro.
“Eu não pediria se tivesse outra opção,” ela disse, exasperada.
“Eu tenho um jantar de negócios hoje. Ou eu vou e fecho o negócio, ou cancelo porque não posso deixá-la sozinha. Você me ajuda ou não?”

“Tá bom,” murmurei. “Se for tão importante assim.”
“Ótimo. A comida está na cozinha. Deixei dinheiro caso você precise pedir alguma coisa, mas mantenha saudável. Nada de junk food. E ela não pode sair. Entendido?”
Com um rápido adeus, Riley saiu pela porta, me deixando sozinha com Mira. Olhei para ela. Ela olhou para mim.
Nenhum de nós disse uma palavra. Que comece o dia mais longo da minha vida.

O dia arrastou-se como um loop interminável de tédio.
Mira estava no sofá, segurando a enciclopédia e, de vez em quando, olhava para mim com uma expressão que me fazia sentir como um experimento científico fracassado.
Seu rosto estava calmo, mas as sobrancelhas levantadas gritavam julgamento.
“Então, você gosta de ler?” perguntei, tentando quebrar o silêncio constrangedor.

“Sim, gosto. Minha mãe diz que livros são conhecimento, e eu quero saber muito,” ela disse, sua voz fria e afiada, como uma personagem saindo de um filme sobre prodígios infantis.
Assenti. “Legal, legal… Qual é a sua matéria favorita na escola?”
Mira suspirou, olhando para mim como se eu tivesse acabado de fazer a pergunta mais entediante do mundo.
“Essa pergunta é muito sem graça, mas vou responder mesmo assim. Eu gosto de biologia porque tem muitos animais, e eu adoro aprender sobre eles.”

“Legal,” murmurei, sem saber o que mais dizer. Conversar com crianças era mais difícil do que eu pensava.
Após um momento, ela fechou o livro e inclinou a cabeça. “Então, você é meu tio?”
“Sim,” respondi. “Você provavelmente não se lembra de mim. Nos conhecemos quando você era pequena.”
“Entendi,” disse ela simplesmente. Então, me soltou uma bomba. “Você é casado?”
“Ah, não. Não sou casado.”
“Por que não?” ela perguntou, o tom curioso soando mais como um interrogatório.

“Eu não quero me casar. Gosto de ficar sozinho,” respondi, esperando que isso terminasse a conversa.
“Ninguém gosta de ficar sozinho,” ela respondeu, cruzando os braços.
“Eu gosto,” insisti, embora as palavras dela me cutucassem mais do que eu gostaria de admitir.
“Talvez você tenha medo,” ela disse, com um tom factual.
“Medo? Do que eu teria medo?”
“Minha mãe diz que casamento dá muito trabalho. Ela também diz que você não gosta de trabalhar. Então talvez você tenha medo do trabalho pesado.”

“Ela te disse isso!? Bem, só para você saber, eu não tenho medo! Talvez seja só… não para mim. Por enquanto.”
“Entendi. Você tem medo,” Mira concluiu, os lábios se curvando em um pequeno sorriso. “Enfim, estou com fome.”
“Então come alguma coisa,” disse, apontando para a cozinha.
“Mãe disse que você vai cuidar de mim. Então cuide de mim,” ela rebateu.
“Tá bom,” murmurei, abrindo a geladeira. Estava cheia de saladas, sucos e nada do que eu queria comer. Suspirei e peguei o celular.

“Pizza, então,” declarei.
Minutos depois, estávamos no sofá, devorando fatias enquanto assistíamos à TV. Mira estava quieta, sua face iluminada pela tela.
Antes que percebesse, minha cabeça repousou contra o encosto do sofá, e o cansaço do dia me pegou. Nem percebi quando adormeci.
Acordei com um sobressalto, piscando contra a luz que entrava pela janela. Algo estava errado. A casa estava muito quieta. Olhei ao redor e aí percebi—Mira não estava em lugar nenhum.

“Mira!” chamei, minha voz ecoando pela casa. “Mira, onde você está?”
O pânico se apoderou de mim. Comecei a vasculhar a casa, abrindo portas, olhando embaixo das camas, e até verificando os armários e armários.
Cada espaço vazio zombava de mim. Meu coração acelerava a cada segundo que passava.
Eu tinha um trabalho. Um trabalho simples. Cuidar de Mira por um dia, e eu não consegui nem isso.

Peguei o celular, desesperado por uma pista, e vi uma mensagem de Riley:
“Estou a caminho. Chego em uma hora. Está tudo bem?”
Congelei por um momento, então respondi: “Tudo bem!” Era mentira, mas eu precisava de tempo para consertar isso.
Corri para o andar de baixo, olhei novamente para a sala e percebi algo que tinha perdido antes: a janela.
Estava aberta, e uma leve brisa fazia as cortinas balançarem. Mira tinha saído.
Crawlando pela janela, vi um pequeno sapato caído perto da cerca do vizinho. Minha respiração parou.

Escalando, me encontrei no quintal deles, onde uma árvore alta se erguia com uma casa na árvore resistente perto do topo.
“Mira!” gritei, olhando para cima.
“Estou aqui,” respondeu sua voz calma de lá de cima.
Subi pela escada rangente, meu pulso ainda acelerado. No topo, encontrei Mira sentada de pernas cruzadas com outro garoto.
Eles estavam brincando com figuras de brinquedo, completamente despreocupados.
“Mira! Você me assustou!” disse, ainda sem fôlego. “Por que você fugiu assim?”

“Fiquei entediada,” ela disse, dando de ombros. “E o Sam estava aqui. Sam, diga oi para meu tio.”
“Oi, tio da Mira,” Sam disse, sem olhar para cima.
“Mas sua mãe disse que você não podia sair!”
“Ela disse que você tinha que garantir que eu não saísse,” Mira apontou, com um tom factual. “Mas você estava dormindo. Agora eu sei do que você tem medo.”
“Claro que eu estava com medo!” respondi, depois suavizei. “Desculpa. Mas por que sua mãe não deixa você brincar com outras crianças?”

“Ela diz que vou pegar maus hábitos,” Mira disse.
“Mas eu gosto de brincar com o Sam.”
“Não tem nada de errado em brincar com outras crianças,” disse gentilmente.
“Sua mãe é só… protetora.”
“E você não é protetor o suficiente,” ela comentou com um sorriso travesso.
Suspirei. “Você está certa. De agora em diante, vou ser mais cuidadoso.”

Meia hora depois, a porta rangeu e Riley entrou em casa, as chaves tilintando quando as colocou na bancada. “Mira!? Henry!? Onde vocês dois estão!?” ela gritou, sua voz ecoando pelas paredes.
A casa estava escura e estranhamente silenciosa, sem sinal de vida. A luz fraca das lâmpadas de rua se infiltrava pelas cortinas, criando sombras longas que faziam o espaço vazio parecer ainda mais desconfortável.

O coração de Riley acelerou enquanto ela vasculhava a sala. “Onde eles estão?” murmurou para si mesma, com as mãos ligeiramente trêmulas. Seus olhos se fixaram na janela aberta, a cortina balançando preguiçosamente com a brisa.
“Ah meu Deus! Eu sabia que não devia confiar no meu irmão idiota!” ela murmurou, o pânico tomando conta. Ela correu em direção à janela, a mente dela cheia de piores cenários possíveis.

“Surpresa!!” Mira e eu pulamos de fora, gritando em uníssono.
Riley deu um pulo para trás, segurando o peito. “Deus! Achei que vocês tinham sumido! O que há de errado com vocês dois!?”
Explodimos em risadas, e Mira quase se dobrou de alegria. O rosto de Riley suavizou enquanto ela observava sua filha rindo, seu espírito brincalhão contagiante.
“Desculpa, irmã. Você pediu por isso,” provoquei, sorrindo. “Não se preocupe tanto. Nada poderia dar errado, você tem que confiar muito mais na Mira.”
“É, mãe!” Mira completou, sorrindo.
Riley suspirou, um sorriso relutante surgindo em seu rosto. “Vocês dois são impossíveis,” disse, abraçando Mira. “Mas acho que vou deixar passar dessa vez.”
Quando saí, percebi uma coisa: às vezes, as crianças nos ensinam coisas sobre nós mesmos que nem sabíamos que precisávamos aprender.

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