Os planos de Carl para um Natal perfeito se despedaçam quando sua filha, Lily, se recusa a abrir seus presentes. Segurando seu coelhinho de pelúcia, ela revela: “Vovô me contou a verdade sobre a mamãe.” A confusão se transforma em fúria quando Carl descobre uma mentira cruel que ameaça destruir a confiança de sua filha.
Há algo nas manhãs de Natal que faz tudo parecer mais brilhante, mais quente e talvez um pouco mais mágico.
Eu podia sentir o cheiro de baunilha e canela flutuando pelo ar enquanto a máquina de waffles chiar atrás de mim. As luzes na árvore piscavam em um ritmo lento e sonolento, seu brilho refletindo nas decorações que Lily e eu havíamos pendurado juntas na semana passada.
Abaixei-me perto da árvore, colocando a última caixa sob os galhos mais baixos. A fita vermelha se enrolava perfeitamente, suas bordas nítidas. «Perfeito», murmurei para mim mesmo, inclinando a cabeça para obter um melhor ângulo.
Cada presente estava posicionado como se fosse parte de umaquelas fotos de catálogos de Natal. Já conseguia imaginar o rosto de Lily quando descesse correndo as escadas, seus olhos brilhando de empolgação.
Aquela alegria familiar e incontrolável. Era por isso que eu fazia isso — por isso eu ficava acordado até tarde embrulhando presentes, assando e fazendo o meu melhor para preencher as lacunas que a vida às vezes deixava para trás.
Mas algo parecia errado. Endireitei-me, ouvindo o rangido das escadas ou o barulho de pés pequenos pulando do último degrau.
Nada. Apenas o zumbido do aquecedor e o suave chiado da música de Natal tocando baixinho da cozinha. Estava quieto demais.
“Lily?” Chamei, olhando em direção à escada. Nenhuma resposta. Estranho. Ela geralmente estava acordada antes de mim no Natal.
Passaram-se quinze minutos, depois trinta. Eu virei os waffles da máquina e os coloquei no prato, mas já não estava pensando mais no café da manhã.
A ansiedade roía a beira da minha mente. Coloquei a espátula e limpei as mãos no pano de prato.
“Lily?” Chamei novamente, mais alto desta vez, enquanto subia as escadas. O quarto dela ficava no final do corredor, a porta entreaberta. “Você está acordada, querida?” Empurrei a porta devagar.
Ela estava lá, sentada na beirada da cama, ainda de pijama de pinguim de fleece. Seu coelhinho de pelúcia, Buttons, estava caído em suas mãos. Sua cabeça estava inclinada para baixo, o cabelo caindo como uma cortina sobre seu rosto.
“Oi,” disse, entrando lentamente. “Você está bem, meu amor?”
Ela não se moveu. Seus dedos brincavam com a orelha do coelho, torcendo-a repetidamente.
“Lily?” Ajoelhei-me na frente dela, inclinando a cabeça para pegar seus olhos. Meu coração deu uma leve apertada. Suas bochechas estavam rosadas, não pelo calor, mas pelo tipo de choro silencioso que as crianças tentam esconder. “O que aconteceu, meu anjo?”
Os lábios dela se apertaram e ela balançou a cabeça.
“Você não quer vir ver o que o Papai Noel deixou embaixo da árvore?” Perguntei, forçando um sorriso na voz. “Tem waffles lá embaixo também. Seus favoritos — calda de morango e chantilly.”
Os dedos dela pararam de torcer. Ela fungou e me olhou, seus olhos brilhando de lágrimas.
“Eu não quero,” disse em voz baixa. Sua voz estava tão pequena, como um sussurro quase se desfazendo.
Senti meu peito apertar. Não era sobre waffles.
“Fala comigo, querida.” Sentei-me ao lado dela, adotando sua postura pequena, com os cotovelos sobre os joelhos. “O que está acontecendo?”
O lábio inferior dela tremeu. Ela olhou para mim, depois para o coelho. O puxou para perto e o abraçou forte contra o peito. Por um segundo, pensei que ela não fosse dizer nada, mas então ela murmurou: “Vovô me contou a verdade sobre a mamãe.”
As palavras me atingiram como um tijolo nas costelas. Pisquei, minha mente se apressando para encontrar contexto. “A verdade? O que você quer dizer?”
Os olhos dela se voltaram para mim, testando minha reação. “Ele disse… ele disse que o Papai Noel não é real, que a mamãe compra meus presentes porque ela se sente mal por sempre trabalhar e nunca estar em casa. E que ela não se importa comigo.”
A voz dela quebrou nas últimas palavras, como se doer fisicamente dizê-las.
Respirei devagar, tentando manter o rosto calmo.
“Ele disse isso, né?” Meu coração estava disparado agora, e não de um jeito bom como estava lá embaixo.
A puxei para os meus braços antes que ela visse a raiva formando-se nos meus olhos. “Isso não é verdade, querida. Nada disso é verdade.” Passei a mão nas costas dela, sentindo os pequenos tremores da respiração dela.
“Você sabe que sua mãe te ama muito, não sabe? Mais do que tudo.”
Ela fungou em minha camisa. “Então por que ela não está aqui?”
“Porque ela está trabalhando duro para ajudar as pessoas, como sempre faz. Mas ela vai chegar cedo hoje. Só para você.”
O abraço dela em mim apertou. Beijei o topo da cabeça dela, balançando-a de um lado para o outro como eu fazia quando ela era bebê. Minha mandíbula estava tão apertada que doía, mas não me importei. Já estava planejando meu próximo passo.
Depois de um tempo, ela se acalmou o suficiente para eu deitá-la de volta. Afastei o cabelo do rosto dela.
“Eu vou ligar para o vovô, tá? Você fica aqui e descansa um pouco.”
Ela assentiu lentamente, abraçando Buttons como um escudo.
Saí do quarto dela e fui para o corredor, fechando a porta suavemente atrás de mim. Meu telefone já estava na minha mão. Rolei até o nome dele, apertei o número e ouvi o toque.
Ele atendeu no terceiro toque. “Feliz Natal, filho!” disse, animado demais. “Eu ia pedir para falar com a Sarah, mas imagino que ela esteja trabalhando, como sempre.”
“Sim, ela está trabalhando hoje. Feliz Natal,” respondi, minha voz fria como aço. “Precisamos conversar. Por que diabos você disse à Lily que a Sarah não se importa com ela? Já bastava você ter dito que o Papai Noel não é real, mas fazer ela duvidar do amor da mãe? Isso é baixo.”
“Olha, eu estava só sendo honesto com ela,” disse papai, em tom defensivo. “Alguém tem que contar a verdade para ela antes que o mundo faça isso.”
“Contar a verdade?” Repeti, minha voz agora afiada.
Ele fez um som de irritação. “Essa mulher nunca está em casa. Sempre salvando estranhos. Que tipo de mãe faz isso?”
Minha respiração estava lenta e constante, cada parte de mim vibrando de raiva. “O tipo de mãe que trabalha turnos de doze horas como operadora de 911 para que as pessoas sobrevivam aos seus piores dias. O tipo de mãe que fica acordada até tarde com a Lily fazendo projetos de ciência depois de trabalhar dois turnos.”
“Ela deveria colocar a família em primeiro lugar,” resmungou ele.
Minha voz se elevou, o calor fluindo por cada palavra. “Ela coloca! Ela tem trabalhado turnos extras para ajudar seus pais a passar por uma fase difícil. Você não tem o direito de destruí-la porque não entende isso.”
“Cuidado com o tom, Carl,” ele retrucou. “Eu estou só cuidando da minha neta, e de você também.”
“Não,” disse firmemente, “você não está. Você está cuidando da sua versão velha e ultrapassada do que uma mãe deveria ser.”
Desliguei a chamada e voltei para a cozinha. Eu tinha um jantar de Natal para preparar para minha família.
Mais tarde naquele dia, eu estava na cozinha mexendo o molho quando ouvi a porta da frente se abrir com um rangido.
“Mamãe!” O grito de Lily veio primeiro, seguido pelo som dos seus pezinhos batendo em direção à entrada.
Virei-me a tempo de ver Sarah largando sua bolsa e pegando Lily no meio do pulo.
“Ah, eu senti tanto a sua falta, minha bebê,” Sarah disse, com os olhos fechados enquanto abraçava Lily forte. “Eu te amo mais do que tudo.”
“Eu também, mamãe,” Lily sussurrou no pescoço dela.
Observei-as da cozinha, sentindo o peso no meu peito finalmente desaparecer.
“Bem-vinda em casa, querida,” disse, aproximando-me para abraçá-las. “O jantar de Natal estará pronto em alguns minutos.”
Sarah sorriu para mim enquanto se inclinava para me dar um beijo rápido. “Obrigada, Carl. Você é o melhor.”
Naquela noite, depois que Lily adormeceu e a louça foi lavada, eu me sentei na beirada do sofá, telefone na mão.
Ele atendeu no segundo toque. “Você está ligando para se desculpar, filho?”
“Não,” disse baixinho, mas com firmeza. “Estou ligando para te dizer que se você algum dia fizer minha filha duvidar do amor da mãe dela novamente, você não será bem-vindo nesta casa. Nem no Natal. Nem em qualquer outro dia.”
Houve silêncio do outro lado.
“Você me entende?” Perguntei.
“… Eu ouvi você,” ele murmurou.
“Bom,” respondi, e desliguei. Não esperei para ele dizer mais nada.
Pela primeira vez em muito tempo, eu senti que tinha feito a coisa certa pela minha família.