**»O que vai, volta», repetia sempre a velha Eleanor.** No entanto, a enfermeira Claire se preocupava com o futuro da idosa. Depois de dar ao filho acesso a todas as suas economias, Eleanor quase foi despejada e jogada na rua. Porém, uma entrega inesperada de seu passado mudou tudo.
O quarto carregava o charme silencioso dos anos que haviam passado. O leve aroma de lavanda misturava-se ao polimento da madeira antiga, evocando uma sensação de aconchego e tranquilidade.
A luz do sol filtrava-se pelas cortinas rendadas, criando delicados padrões no papel de parede desbotado.
Sentada em sua poltrona favorita, Eleanor tinha um olhar distante e suave. Suas mãos frágeis repousavam sobre um cobertor bordado, o tecido tão gasto e familiar quanto as memórias às quais ela se agarrava.
O tique-taque rítmico do relógio na parede parecia acompanhar seus pensamentos, vagando entre o passado e o presente.
O olhar de Eleanor demorou-se no relógio, um presente de casamento de décadas atrás, agora uma relíquia de uma vida que ela conhecia tão bem.
Uma batida suave na porta a tirou de seu devaneio. A enfermeira Claire espiou para dentro, seu sorriso gentil iluminando o ambiente silencioso.
— Senhora, a senhora tem uma visita — disse ela no tom sempre doce e tranquilizador.
Eleanor endireitou-se o máximo que suas costas rígidas permitiam, a expressão curiosa.
— Uma visita? Pois bem, deixe entrar, querida — respondeu, com um leve toque de expectativa na voz.
Momentos depois, o som de sapatos polidos no piso de madeira anunciou a chegada de seu filho, Andrew.
Ele entrou a passos firmes, alto e imponente em seu terno sob medida. Seu perfume preencheu o cômodo com um aroma cortante, tão afiado quanto sua postura.
— Mãe — cumprimentou ele, sua voz curta, embora forçasse um sorriso tenso.
O rosto de Eleanor iluminou-se.
— Andrew, que surpresa agradável — disse calorosamente, embora a frieza no tom dele não lhe tenha passado despercebida.
Andrew não perdeu tempo com conversa fiada. Tirou uma pasta elegante e colocou-a sobre a mesinha ao lado da cadeira de Eleanor.
— Mãe, preciso que assine estes papéis — disse, em um tom apressado e eficiente.
— É só uma pequena formalidade. Isso me dará acesso às suas contas e aos investimentos da empresa. Vou cuidar de tudo para a senhora — será muito mais fácil.
Eleanor piscou, suas mãos trêmulas pairando sobre a pasta.
— Oh, Andrew, se isso facilitar sua vida… — começou, hesitante.
Antes que ela pegasse a caneta, a enfermeira Claire deu um passo à frente, sua expressão suave agora firme.
— Senhora — interveio, a voz decidida —, talvez seja melhor revisar esses documentos mais tarde. Foi um dia longo, e a senhora precisa descansar.
O maxilar de Andrew se contraiu, seu sorriso forçado vacilando.
— É só uma assinatura — retrucou, sua paciência se esgotando.
Claire não recuou.
— Mais tarde — repetiu, com um olhar firme.
Eleanor olhou de um para o outro, confusa, mas conformada.
— Está bem, Andrew. Faremos isso depois — disse suavemente, ainda confiando no filho, apesar da intervenção da enfermeira.
Andrew se levantou abruptamente, a irritação cintilando em seu rosto.
— Tudo bem. Volto amanhã — declarou, virando-se e saindo sem mais uma palavra.
Quando os passos dele desapareceram pelo corredor, Claire ajoelhou-se ao lado da cadeira de Eleanor, sua voz voltando a ser gentil.
— A senhora está bem?
Eleanor assentiu, mas seu sorriso hesitou.
— Ele é meu filho, Claire — disse, a voz carregada de emoção. — Ele só quer o melhor para mim… não quer?
Claire hesitou, seu coração apertado pela idosa.
— Claro, senhora — murmurou, embora a dúvida persistisse em seus olhos.
🌿🌿🌿
O jardim era um refúgio silencioso, afastado do burburinho da casa de repouso.
Rosais em plena floração subiam graciosamente pelos caramanchões, suas pétalas suaves capturando a luz dourada do fim da tarde.
Uma pequena fonte borbulhava ritmicamente, o som misturando-se ao chilrear animado dos pardais que saltitavam entre os galhos.
O ar estava impregnado pelo doce aroma do jasmim, e por um instante, parecia que o mundo além daquele jardim não existia.
A enfermeira Claire empurrava a cadeira de rodas de Eleanor pelo caminho de pedras, cuidando para que o trajeto fosse suave.
Ela olhou para a idosa, cujo rosto parecia sereno enquanto absorvia a beleza ao redor.
Claire hesitou, suas palavras presas entre o coração e os lábios.
— Senhora — disse finalmente, a voz hesitante —, sei que não é da minha conta, mas Andrew… ele não parece se importar com a senhora.
Eleanor riu baixinho, suas mãos frágeis repousando no colo.
— Oh, Claire, ele é meu filho. Ele só é ambicioso. Isso não é algo ruim.
Claire parou a cadeira e ajoelhou-se ao lado de Eleanor, seu tom agora suave, mas urgente.
— Ambicioso? Talvez. Mas ele não a vê como mãe. Ele a vê como um meio para um fim. Se a senhora der a ele o controle de suas finanças, ele vai esquecê-la. Ele já a deixou aqui, não foi?
O sorriso de Eleanor vacilou, a ternura em seu olhar apagando-se ligeiramente. Mas ela não respondeu, deixando seus olhos vagarem até as rosas, como se buscassem conforto.
Claire continuou, sua voz ganhando força.
— Esta casa de repouso está com dificuldades. Em breve, pode fechar. Se a senhora investisse aqui em vez disso, garantiria seu conforto e ajudaria outras pessoas.
Eleanor estendeu uma mão trêmula e a pousou sobre a de Claire, seu toque leve, mas firme.
— Claire, querida, vivi minha vida por um princípio: o que vai, volta. Se Andrew quer meu dinheiro, que fique com ele. O universo se encarregará do resto.
Os olhos de Claire se encheram de frustração, sua voz tremendo ligeiramente.
— Isso é… ilusão, senhora. A vida nem sempre funciona assim.
Eleanor sorriu novamente, de um jeito tão doce quanto inabalável.
— Sempre funcionou para mim, Claire — disse suavemente.
🌿🌿🌿
O tempo provou que Eleanor estava certa. Quando Andrew tomou o dinheiro da mãe, ele o perdeu em investimentos desastrosos. Já Eleanor, que nunca perdeu a fé no que semeou no passado, viu o retorno inesperado de sua generosidade quando um misterioso benfeitor doou dinheiro suficiente para salvar a casa de repouso e garantir seu conforto.
**»O que vai, volta», ela sempre dizia. E, no final, a vida provou que suas palavras eram verdadeiras.**