Minha esposa morreu em um acidente de avião há 23 anos – se eu soubesse que não seria nosso último encontro

Histórias interessantes

Meu telefone vibrou, tirando-me dos meus pensamentos. Quase o ignorei, mas o hábito me fez olhar para a tela.

— Abraham? — A voz do meu sócio, James, crepitou no alto-falante. — Desculpe incomodar no seu dia de visita ao cemitério.

— Tudo bem. — Limpei a garganta, tentando soar normal. — O que foi?

— Nossa nova contratada da Alemanha chega em algumas horas. Você poderia buscá-la? Estou preso em reuniões a tarde toda.

Olhei para a lápide de Emily uma última vez. — Claro, eu posso fazer isso.

— Valeu, amigo. O nome dela é Elsa. O voo chega às 14h30.

— Me manda os detalhes do voo por mensagem. Estarei lá.

O saguão de desembarque fervilhava de atividade enquanto eu segurava meu improvisado cartaz com “ELSA” escrito.

Uma jovem de cabelos loiro-mel chamou minha atenção e veio em minha direção, puxando sua mala. Algo no seu jeito de andar e na postura fez meu coração acelerar.

— Senhor? — Seu sotaque era leve, mas perceptível. — Eu sou Elsa.

— Bem-vinda a Chicago, Elsa. Por favor, me chame de Abraham.

— Abraham. — Ela sorriu, e por um momento, me senti tonto. Aquele sorriso me lembrava algo que eu não conseguia identificar.

— Vamos pegar sua bagagem? — perguntei rapidamente, afastando o pensamento.

No caminho para o escritório, ela falou sobre sua mudança de Munique e sua empolgação com o novo emprego. Havia algo familiar no seu riso e no jeito como seus olhos se enrugavam nos cantos.

— Espero que não se importe — eu disse —, mas a equipe costuma almoçar junta às quintas-feiras. Gostaria de se juntar a nós?

— Seria maravilhoso! Na Alemanha, dizemos: “O almoço faz metade do trabalho.”

Eu ri. — Dizemos algo parecido aqui… “O tempo voa quando você está almoçando!”

— Isso é horrível! — Ela riu. — Eu adorei.

No almoço, Elsa fez todos rirem com suas histórias. Seu senso de humor combinava perfeitamente com o meu — seco, ligeiramente sombrio, com um timing impecável. Era impressionante.

— Sabe — Mark, do financeiro, comentou —, vocês dois poderiam ser parentes. Mesmos tipos de piadas estranhas.

Eu ri. — Ela é jovem o suficiente para ser minha filha. Além disso, minha esposa e eu nunca tivemos filhos.

As palavras tinham um gosto amargo na minha boca. Emily e eu queríamos tanto ter filhos…

Nos meses seguintes, Elsa se mostrou indispensável no trabalho. Ela tinha meu olhar atento aos detalhes e minha determinação. Às vezes, observá-la me lembrava tanto minha falecida esposa que meu peito apertava.

— Abraham? — Elsa bateu à porta do meu escritório certa tarde. — Minha mãe vem me visitar da Alemanha na próxima semana. Você gostaria de jantar conosco? Ela está ansiosa para conhecer minha nova família americana… Digo, meu chefe!

Sorri com sua escolha de palavras. — Eu ficaria honrado.

O restaurante, no fim de semana seguinte, era tranquilo e elegante. A mãe de Elsa, Elke, me estudava com uma intensidade que me deixava desconfortável. Quando Elsa se levantou para ir ao banheiro, a mão de Elke agarrou meu ombro com força surpreendente.

— Não ouse olhar para minha filha desse jeito — ela sibilou.

Recuei. — Como é?

— Você me ouviu. Eu sei tudo sobre você, Abraham. Tudo.

— Eu não entendo do que está falando.

— Vou lhe contar uma história — ela interrompeu, baixando a voz. Seus olhos prenderam os meus, e de repente, eu não conseguia desviar o olhar. — Uma história sobre amor, traição e segundas chances.

Elke se inclinou para frente, os dedos envoltos na taça de vinho. — Era uma vez uma mulher que amava o marido mais do que a própria vida. Eles eram jovens, apaixonados e cheios de sonhos.

— Não vejo o que isso tem a ver com—

— Escute — ela ordenou suavemente. — Essa mulher queria dar algo especial ao marido. Havia um velho amigo… alguém que tinha brigado com ele anos antes. Ela pensou: “Que presente melhor do que curar velhas feridas?”

Meu coração começou a acelerar.

— Ela procurou esse amigo, Patrick. Lembra desse nome, Abraham? Eles se encontraram em segredo, planejando uma surpresa para o aniversário do marido.

O mundo pareceu girar. — Como você sabe sobre Patrick?

Ela continuou, ignorando minha pergunta. — Então, pouco antes da festa, ela descobriu algo maravilhoso. Estava grávida. Por um breve momento, tudo era perfeito. Um bebê, uma amizade reconciliada, uma família completa… Perfeito.

Sua voz falhou. — Mas então vieram as fotografias. A irmã do marido, sempre tão protetora e ciumenta, as trouxe para ele. Fotos da esposa com Patrick, conversando, rindo, seus encontros secretos no parque. E, em vez de perguntar, em vez de confiar na mulher que dizia amar, ele simplesmente—

— Pare! — sussurrei.

— Ele a expulsou — Elke continuou. — Não atendeu suas ligações. Não a deixou explicar que estava planejando a festa de aniversário, que Patrick tinha concordado em vir para fazer as pazes.

Lágrimas escorriam pelo seu rosto agora. — Ela tentou acabar com tudo. Mas seu chefe a encontrou e conseguiu ajudá-la. Arranjou para que ela deixasse o país e recomeçasse. Mas o avião—

— O avião caiu — completei, com a voz vazia.

— Sim. O avião caiu. Encontraram-na com o passaporte de outra passageira — uma mulher chamada Elke, que não sobreviveu. Seu rosto estava irreconhecível. Precisou de múltiplas cirurgias. E, durante todo esse tempo, ela carregava um filho. O seu filho, Abraham.

— EMILY? — O nome saiu como um sussurro quebrado. — Você está vi—

— VIVA! — Ela assentiu devagar, e então eu vi. Aqueles olhos… Por trás do rosto diferente, dos traços alterados. Os mesmos olhos pelos quais me apaixonei 25 anos atrás.

— E Elsa?

— É sua filha.

Meu mundo desmoronou e renasceu ao mesmo tempo.

Quando Elsa voltou e olhou para mim, seus olhos cheios de lágrimas, tudo que consegui fazer foi assentir. Ela cruzou o espaço entre nós em três passos e me abraçou. Segurei-a firme, sentindo 23 anos de perda e amor me atingirem de uma vez.

— Sempre senti que algo estava faltando — ela sussurrou.

Nas semanas seguintes, conversamos, choramos e tentamos recuperar o tempo perdido.

Sentado ao lado de Emily, vendo nossa filha rir do lado de fora do café, entendi algo profundo: o amor não é sobre finais perfeitos.

É sobre segundas chances.!

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