Depois de anos de amargura, meu padrasto me levou ao meu restaurante favorito—mas seu gesto não foi movido pelo amor

Histórias interessantes

**Eu nunca recebia visitas.** Então, quando Rachel bateu à porta e disse que alguém estava me esperando, eu não esperava ver *ele*—Ronnie, o padrasto que sumiu depois que minha mãe morreu. Ele sorriu como se ainda fôssemos família, se chamou de «pai» e me convidou para jantar. Eu deveria ter ido embora. Em vez disso, eu o segui.

As páginas do meu livro didático ficaram embaçadas enquanto meus olhos percorriam anotações, fórmulas e trechos sublinhados. As provas intermediárias estavam chegando, e eu não tinha tempo para distrações. Suzy, no entanto, tinha outros planos.

«Você não vai acreditar», ela disse, deitada na cama, enrolando uma mecha de cabelo loiro nos dedos.

«Ele simplesmente pediu por mim. Tipo, sem nem perguntar. Dá para acreditar?»

Murmurei algo vago, meus olhos ainda grudados no livro.

Suzy suspirou dramaticamente. «Sophie, você é a pior plateia. Pode pelo menos fingir indignação?»

Antes que eu pudesse responder com alguma provocação, uma batida na porta cortou o momento.

Suzy ergueu uma sobrancelha. «Você está esperando alguém?»

Balancei a cabeça. Ninguém nunca vinha me ver.

Rachel, uma garota do fim do corredor, espiou para dentro. «Ei, Sophie. Você tem visita.»

Eu pisquei. «Visita?»

Rachel apontou com o polegar para o corredor. «Sim. Ele está lá fora. Parece meio… familiar?»

Meu estômago revirou.

Confusa, me levantei e passei por ela, meu coração batendo forte demais contra as costelas.

E então eu o vi.

Ronnie.

Ele estava perto da entrada, mãos nos bolsos de uma jaqueta de couro surrada, balançando ligeiramente sobre os calcanhares, como se não tivesse certeza se deveria estar ali.

O cabelo grisalho estava penteado para trás, e o sorriso era o mesmo que eu lembrava—fácil demais, familiar demais, ensaiado demais.

Meus pés ficaram pesados como chumbo.

Rachel se inclinou. «Você conhece ele?»

Engoli em seco, minha garganta subitamente seca. Sim, eu conhecia.

E agora, depois de tantos anos, depois de desaparecer quando eu mais precisei dele… ele estava ali.

Eu o encarei, ainda tentando entender como *ele*—o homem que sumiu da minha vida—agora estava na minha frente, sorrindo como se tivéssemos alguma conexão.

«Ronnie?» repeti, minha voz mais afiada desta vez. «O que você está fazendo aqui?»

O sorriso dele se alargou. «Qual é, garotinha. Que história é essa de ‘Ronnie’?» Ele colocou a mão no peito, fingindo mágoa. «Somos família. Me chama de pai.»

A palavra me atingiu errado, revirando no meu estômago como leite estragado.

Endireitei os ombros. «Nós não somos família.»

A expressão dele não mudou, mas vi um lampejo de algo por trás dos olhos—irritação, talvez, ou frustração.

Mas, tão rápido quanto apareceu, ele escondeu com aquele mesmo sorriso descontraído.

«Ainda teimosa, hein?» Ele estendeu a mão e deu um tapinha no meu ombro, como se tivesse o direito de me tocar.

«Vamos colocar o papo em dia. Já faz tempo.»

Tempo demais.

Cerrei os punhos. Ele tinha desaparecido depois que minha mãe morreu.

Me deixou sozinha, tendo que juntar os cacos da minha vida, enquanto minha avó fez tudo o que ele deveria ter feito. Ela pagou por tudo—minha comida, minha escola, minha sobrevivência.

E agora ele estava aqui. Agindo como se nunca tivesse me abandonado.

Soltei o ar pelo nariz. «Por quê agora?»

O sorriso dele não vacilou. Em vez disso, ele enfiou a mão no bolso da jaqueta e puxou um pequeno pacote embrulhado em papel de seda.

«Tenho um presente para você», disse ele, estendendo-o.

Hesitei antes de pegá-lo, meus dedos rígidos ao desembrulhar as camadas finas.

Dentro, havia uma caneta rosa—daquelas com um coelhinho na ponta, as orelhas caindo para os lados, como um souvenir barato.

Soltei uma risada curta, mas sem humor. «Você tá de brincadeira?»

Ronnie inclinou a cabeça, divertido. «O quê?»

Levantei a caneta, sacudindo-a levemente. «Eu não tenho mais dez anos.»

O rosto dele se contraiu—por um segundo—mas então ele riu, coçando a nuca.

«Ah, qual é, Sophie. É uma piada! Relaxa.»

Uma piada.

Um homem que me abandonou e achou que podia reaparecer com uma caneta rosa barata e um sorriso forçado.

Eu deveria ter ido embora. Eu deveria ter dito para ele sumir.

Mas não fiz.

Porque, por mais que eu odiasse admitir, algo nessa atenção repentina… me fez bem.

Cruzei os braços, estudando-o. «Por que você *realmente* está aqui?»

Ele não respondeu de imediato. Em vez disso, passou um braço pelos meus ombros, como se fôssemos velhos amigos.

«Sabe de uma coisa?» disse ele, animado demais. «Vamos comemorar. Seu restaurante favorito ainda existe, certo?»

Eu hesitei. «Ronnie—»

«Pai—» ele corrigiu, o tom afiado pela primeira vez.

O ar mudou.

«Vamos lá,» ele incentivou, o charme forçado voltando. «Diz. Pai.»

A palavra travou na minha garganta.

Cerrei os dentes. «*Ron…*—Pai. É caro.»

Ele piscou, com um sorriso fácil demais. «Não se preocupa, garotinha. Hoje, é por minha conta.»

Eu deveria ter dito não.

Mas, em vez disso, eu assenti.

O restaurante estava exatamente como eu me lembrava—luzes suaves, música suave tocando ao fundo, e o rico cheiro de manteiga e alho no ar, como um velho amigo.

Pela primeira vez em anos, eu me permiti relaxar.

Ronnie pediu por nós dois, insistindo para que eu experimentasse o bisque de lagosta, dizendo que estava «bom demais para deixar passar.» Eu quase não protestei. Ele estava pagando.

Ele despejou charme, preenchendo a conversa com histórias e risadas fáceis.

«Então, ainda é a rata de livros?» ele perguntou, cortando seu bife. «Lembro que você costumava andar com o nariz enfiado em um romance. Isso deixava sua mãe maluca.»

Sorrindo, eu respondi: «Ainda leio. Mas, principalmente, para a escola agora.»

«Garota esperta,» ele disse, acenando com aprovação. «Tá me imitando.»

Quase engasguei com o meu drinque.

*Imitando ele?*

O homem que desapareceu por anos e agora queria fingir o papel de pai?

Mas eu deixei passar. Deixei-me acreditar que isso era real.

Talvez, só talvez, ele estivesse tentando.

Pela primeira vez, eu baixei a guarda. Me permiti aproveitar o momento.

Quando a sobremesa chegou—um enorme bolo de chocolate coberto com caramelo quente—eu já estava cheia.

Reclinei-me na cadeira, rindo de uma história boba que Ronnie contou sobre se perder no metrô, dispensando as últimas mordidas do meu bolo.

E então—

Ele perguntou.

«Você fala muito com a sua avó?»

Pisquei, meu estômago se apertando.

«O quê?»

Ronnie tomou um gole devagar do seu drinque, observando-me de perto agora.

«Sua avó, querida,» ele disse, mantendo o tom leve. «Como anda a saúde dela?»

Um arrepio desceu pela minha espinha.

Deixei o garfo na mesa, de repente sem fome. O calor do momento desapareceu, substituído por algo agudo.

Forcei um pequeno encolher de ombros. «A gente se fala às vezes,» disse, com cautela. «Ela está bem.»

Ronnie sorriu largo demais, recostando-se na cadeira.

«Ela é bem generosa, né? Pagando sua escola assim?»

Aí estava.

A mudança.

Eu senti no fundo dos ossos—como a conversa havia mudado.

«Eu acho,» respondi, mantendo o tom neutro.

Ronnie bateu os dedos na mesa. «Tem que ter uma grana boa para fazer isso, né?»

Eu não gostava de onde isso estava indo.

«Ronnie—»

«Pai—» ele corrigiu novamente, com o tom um pouco mais tenso.

Fechei a mandíbula. Esse jogo de novo.

Forcei uma cabeça afirmativa. «*R…*Pai… sobre o que é isso?»

Ele suspirou dramaticamente, esfregando as mãos como se estivesse prestes a entregar uma notícia ruim.

«Olha, querida, me envolvi em uma situaçãozinha,» disse ele. «Um investimento de negócios—coisa promissora, mas, hum, eu preciso de uma ajudinha para segurar as pontas.»

Eu fiquei olhando para ele.

«Você precisa de dinheiro.»

Ronnie estendeu as mãos, como se a palavra fosse ofensiva.

«Não é dinheiro, só… um empréstimo. Da sua avó.»

Uma risada aguda escapou de mim antes que eu pudesse segurar.

«Você quer um empréstimo da vovó?» repeti, incrédula.

A mandíbula de Ronnie se contraíu, só por um segundo. «Não faça parecer assim. É temporário. Eu só preciso de uma ajudinha. Ela tem o dinheiro. Ela nem vai sentir falta.»

«Então por que você não pede diretamente para ela?»

A expressão de Ronnie escureceu por meio segundo, antes de ele colocar de volta aquele sorriso fácil.

«Tivemos… problemas de comunicação,» disse ele, a voz forçando um tom agradável.

Isso era um eufemismo.

«Você,» disse lentamente, observando sua reação, «quer que eu convença minha avó a te dar dinheiro?»

Ronnie se inclinou para frente, deixando de lado toda a encenação.

«Sophie. Ela te ama. Ela faria qualquer coisa por você.» Sua voz estava suave demais, suave demais. «Só fala com ela, querida. Ela não vai dizer não para você.»

Eu me senti enjoada.

Claro. Isso não tinha nada a ver comigo.

Esse jantar, esse ato de pai repentino—tudo isso era sobre conseguir o dinheiro da vovó.

Eu deveria ter percebido isso antes.

Deveria ter ido embora ali mesmo.

Mas então—

Ronnie estendeu a mão e segurou a minha.

«Por favor,» disse ele, a voz agora mais baixa, mais suave, como se estivesse fechando um trato. «Só confia no seu velho, tudo bem?»

Meus dedos tremiam em sua mão.

*Confiar.*

Uma palavra que não significava nada vindo dele.

E ainda assim—

Eu assenti.

«Ok,» sussurrei.

No dia seguinte, eu me sentei em frente à minha avó, Laura, com as mãos torcidas no colo.

O cheiro familiar de chá de camomila e pão recém-assado enchia o ar, mas isso fez pouco para acalmar a ansiedade que se formava no meu peito.

Ela me serviu o chá, movendo-se com a mesma graça tranquila de sempre. Laura sempre foi firme, inabalável, uma presença que me ancorou desde que minha mãe morreu.

«Você parece preocupada, querida,» ela disse, entregando-me uma delicada xícara de porcelana. «O que está acontecendo?»

Hesitei, meus dedos apertando a xícara com força demais.

«Eu… preciso de dinheiro,» disse finalmente.

Laura levantou uma sobrancelha, mexendo seu chá sem tirar os olhos de mim. «Ah?»

Forçei uma risada fraca. «Só umas… dívidas. Para a escola. Eu vou pagar de volta, prometo.»

Ela tomou um gole devagar, então colocou a xícara de volta com um som suave.

«Sophie,» ela disse, com uma voz suave. «Por que você não me conta a verdade?»

Meu estômago caiu.

«O quê?» Tentei soar surpresa, mas minha voz vacilou.

Laura suspirou, me observando cuidadosamente. «Isso é sobre o Ronnie, não é?»

Eu congelei.

«Como você…?»

«Porque essa não é a primeira vez.» Ela balançou a cabeça, uma tristeza cansada nos olhos. «A única diferença é que, desta vez, ele te mandou em vez de vir ele mesmo.»

Eu me senti doente.

Todo o calor do momento evaporou da sala.

«Mas… ele disse—»

«Ele sempre diz,» interrompeu ela, a voz firme, mas não impiedosa. «Ele sempre promete. E sempre desaparece no momento que consegue o que quer.»

As lágrimas queimaram meus olhos.

Olhei para minhas mãos, envergonhada.

Laura estendeu a mão, tomou minha mão gentilmente, apertando-a com força silenciosa.

«Você tem um bom coração, Sophie. Bom demais.» Ela suspirou. «Você estava disposta a abrir mão da sua educação, do seu futuro, por esse homem.»

Mordi o lábio com força, o peso das minhas escolhas pesando sobre mim.

«Você me lembra sua mãe,» Laura continuou. «Ela teria feito a mesma coisa. E é por isso que eu não vou deixar você destruir sua vida por ele.»

Eu engoli em seco. «Você… não está brava?»

Ela sorriu, o tipo de sorriso que carregava anos de compreensão. «Não, querida. Mas eu estou te dando uma escolha.»

Laura se levantou, foi até sua escrivaninha e pegou um talão de cheques.

«Eu vou te dar o dinheiro—porque é seu, não dele. Mas se você vai dar para ele ou não… isso é com você.»

Eu fiquei ali, tremendo, enquanto a verdade se fixava nos meus ossos.

Ronnie nunca mudaria.

E, pela primeira vez na minha vida, eu não me senti culpada por dizer não.

Visited 863 times, 1 visit(s) today
Rate the article
( 1 оценка, среднее 5 из 5 )