Eu nunca pensei em mim mesma como o tipo ciumenta. Eu tinha um ótimo emprego, uma vida estável e nenhum motivo para duvidar do meu relacionamento até que vi a foto. Um café aconchegante. Dois sorrisos familiares. E um único comentário que fez meu sangue gelar.
Eu nunca me considerei o tipo ciumenta. Sério, eu não me considerava.
Eu tinha um ótimo emprego, um apartamento lindamente decorado e um relacionamento estável com Callum. Ele era o tipo de cara que você procurava depois dos vinte e cinco—calmo, confiável, o tipo com quem você poderia planejar um futuro.
Nada de drama desnecessário, nada de montanhas-russas emocionais.
Mas havia um «mas»—a ex dele, Renee.
No começo, me convenci de que não era um problema. Eu era uma mulher madura e confiante. Muitas pessoas continuam amigas de seus ex. Era normal.
Callum foi honesto desde o início—ele e Renee tinham um histórico, mas isso era tudo do passado. Sem sentimentos, só amizade. Eu acreditei nele.
Eu até tolerava os encontros ocasionais para um café, as piadas internas de que eu não fazia parte, e as “coincidências” em que ela aparecia nos mesmos lugares que nós.
Mas ultimamente, ela vinha aparecendo com muita frequência. E naquele momento, olhando para o meu celular, eu fiquei chocada. Odette, minha melhor amiga, tinha me enviado uma mensagem.
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Sem palavras. Só uma foto.
Eu toquei para abrir. Callum. Renee.
Sentados em um café aconchegante, inclinados um para o outro, sorrindo como se tivessem a conexão mais simples do mundo.
Deslizei para baixo. O carimbo de data e hora dizia, “Uma hora atrás.”
Uma hora atrás, Callum me enviou uma mensagem:
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“Trabalhando até tarde, o prazo está me matando. Falo depois.”
E logo abaixo da foto, havia um comentário que me fez sentir um calafrio.
“Tão feliz que vocês estão juntos de novo!”
Eu pisquei. Uma vez. Duas vezes. Meu coração batia forte nos meus ouvidos.
Uma piada? Um mal-entendido?
Meu telefone vibrou. Odette ligando. Atendi.
“Menina.” A voz dela era aguda. “Se fosse o meu homem, o carro dele estaria sobre tijolos agora.”
“Odette, não vamos cometer crimes hoje.”
“Quem falou sobre crimes? Eu estou falando sobre pequenos inconvenientes. Talvez um pneu furado, um carregador de celular misteriosamente desaparecido… uma queda de Wi-Fi quando ele mais precisa.”
Eu olhei para a foto de novo. Aquilo não era um simples encontro casual. Não era só uma amizade.
Callum mentiu. E eu estava prestes a descobrir o porquê.
***
Eu não o confrontei imediatamente. Isso teria sido fácil demais.
Em vez disso, eu joguei junto.
Quando Callum entrou pela porta, eu já estava na cozinha, mexendo uma panela de macarrão como se tivesse passado a noite inteira sem saber do encontro dele no café.
“Oi, amor,” ele disse, deixando as chaves no balcão.
Eu me virei com um sorriso caloroso, me aproximando para beijá-lo.
“Dia longo?”
“O pior,” ele suspirou, me abraçando. “Chamadas seguidas, meu cérebro está derretendo.”
Mentiroso.
Eu murmurei como se acreditasse nele e voltei para o fogão.
“O jantar está quase pronto. Achei que poderíamos ter uma noite tranquila, talvez assistir a algo?”
“Perfeito. Exatamente o que eu preciso.”
Jantamos juntos, o som do talher batendo preenchendo o silêncio confortável. Eu enrolei meu macarrão no garfo, observando ele de relance.
Ele parecia relaxado, completamente sem saber que eu sabia.
“Então, algum projeto interessante no trabalho?” perguntei casualmente, tomando um gole do meu chá favorito.
“Só o de sempre. Reuniões, prazos, uma caixa de entrada sem fim. Você sabe como é.”
Eu acenei com a cabeça, fingindo estar focada no meu prato.
“Parece exaustivo. Pelo menos você teve um pequeno intervalo hoje.”
“Não muito,” ele suspirou. “Mal tive tempo para comer.”
Eu mordi o lábio para não sorrir.
Mentiroso.
Em vez disso, eu ri baixinho, balançando a cabeça.
“Você precisa parar de se matar de trabalhar. Vai virar um desses caras que respondem e-mails na noite de encontro.”
Ele riu.
“Isso nunca vai ser comigo.”
Oh, Callum. Você não tem ideia.
Então, deitada no sofá, eu assisti enquanto ele lentamente abaixava a guarda. O celular dele vibrou.
Eu senti ele se mover um pouco. Num flash, ele virou o celular, com a tela para baixo.
“Oh,” eu disse suavemente, fingindo não me importar. “Trabalho de novo?”
Ele mal olhou para mim.
“Sim. Só algumas mudanças de última hora em um projeto.”
Eu inclinei a cabeça, agindo como se estivesse pensando em algo.
“Falando em trabalho… você viu a Renee essa semana?”
Ele se enrijeceu. Só por um segundo. Eu teria perdido se não tivesse prestado atenção.
“Não,” ele disse rápido demais.
Peguei minha xícara e tomei um gole de chá devagar.
“Sério?”
Ele exalou pelo nariz, esfregando a nuca.
“Bem… eu esbarrei nela outro dia.”
Lá estava.
“E?”
Ele pegou o copo de água.
“Apenas colocamos a conversa em dia por um tempo. Nada importante.”
Eu sorri docemente, acenando como se tivesse acreditado totalmente.
“Ah. Ok.”
Oh, Callum. Você é bom. Mas eu sou melhor.
Continuamos assistindo ao filme, o braço dele sobre meus ombros. A respiração dele se acalmou conforme o cansaço tomava conta. Eu me relaxei contra ele, esperando.
E então, finalmente—ele adormeceu. Eu me movi com cuidado, deixando o braço dele escorregar de mim.
Finalmente, era a minha chance. Peguei o celular dele. Face ID. Fácil.
Inclinei-me, repousando a cabeça dele no meu colo, acariciando seus cabelos suavemente. Ele murmurou algo enquanto dormia, mas não se mexeu.
“Doces sonhos, amor,” sussurrei.
Então, com suavidade, levantei o celular até o rosto dele. A tela se desbloqueou. Segurei a respiração enquanto olhava as notificações.
Renee: Podemos nos encontrar amanhã? Mesmo café?
Uma onda fria passou por mim. Então ela se sentia confortável o suficiente para mandar uma mensagem diretamente para ele sobre o encontro. Nem um pingo de cautela.
Fiquei olhando a mensagem por um momento, minha mente já processando as possibilidades. Então, com a mesma suavidade, bloqueei o celular dele e o coloquei de volta no sofá ao lado dele.
E com isso, eu já sabia o que tinha que fazer.
Eu saí de debaixo do braço de Callum, peguei meu próprio celular e fui para fora do quarto. Assim que fechei a porta do quarto atrás de mim, liguei para o banco.
No dia seguinte, Callum teria uma surpresa.
***
Lágrimas? Gritos? Isso não é meu estilo.
Se Callum queria jogar seus joguinhos, eu o deixaria pensar que estava ganhando—até eu virar o jogo.
Eu rolei meu celular, encontrei o café onde ele e Renee tiveram seu “encontro amigável” e fiz um pedido. Uma entrega especial.
Depois, esperei. Duas horas depois, meu telefone tocou.
Callum. Perfeito.
Deixei ele vibrar algumas vezes antes de atender, mantendo a voz leve.
“Oi, amor. Como está a sua noite?”
Houve silêncio. Então, em um tom confuso e frustrado, “Ayla… o que você fez?”
Eu sorri, mexendo meu milkshake com o canudo.
“Hmm? Você soa estressado. Aconteceu alguma coisa?”
“O garçom acabou de trazer algo para a minha mesa.”
Eu finji curiosidade.
“Ah? Foi a conta? Imagino que a Renee tenha pago, considerando, bem…” Deixei a frase no ar.
“Ayla,” ele disse tenso.
“Você enviou flores.”
Eu me recostei no sofá, ajustando o cobertor ao meu redor.
“Enviei?”
“O cartão…” Ele se interrompeu, depois respirou fundo. “‘Para as lembranças. Aproveite enquanto durar.’ O que isso significa?”
Eu murmurei.
“Só um gesto atencioso. Amigos merecem flores, não merecem?”
“Você é inacreditável,” ele murmurou como se tivesse acabado de perceber que eu não era do tipo de mulher que fica sentada se lamentando. “Ayla, por que você está fazendo isso?”
“Ah, sei lá, talvez porque meu namorado me disse que estava trabalhando até tarde enquanto tinha encontros de café aconchegantes com a ex?”
“Não foi assim.”
“Mmm. Claro, amor.”
Outra pausa pesada. Então, o golpe final.
“O garçom acabou de me entregar a conta… meu cartão foi recusado.”
Eu segurei o riso. “Bem, considerando suas recentes despesas extras, achei que um pouco de orçamento seria adequado.”
“Ayla…”
“Relaxa, Callum,” murmurei suavemente. “Estou apenas jogando limpo.”
Houve outra longa pausa, aquele tipo de pausa que me fez imaginar ele sentado lá com os dentes cerrados, os ombros tensos, tentando controlar uma situação que já escapou de suas mãos.
Então, finalmente, ele falou. “Eu estou indo para casa.”
“Bom. Eu estarei esperando.”
Mas antes de eu desligar, ele acrescentou, “Eu não estou vindo sozinho.”
Eu olhei para a tela. Excitação. O jogo não tinha acabado.
Em vinte minutos, a porta da frente se abriu e eu me endireitei.
Callum entrou parecendo exausto—mas não culpado. E então eu vi ela.
Renee. Estava bem atrás dele.
Por que ele trouxe ela aqui? Isso é tudo? Ele está prestes a confirmar o meu maior medo?
Callum passou a mão pelo cabelo. “Ok. Você quer a verdade?”
“Acho que mereço isso.”
Renee suspirou. “Ayla, eu sei como isso parece, mas…”
“Ah, você sabe?” Minha voz estava afiada. “Porque do meu ponto de vista, parece exatamente como eu imaginei.”
Callum levantou a mão. “Só ouça.”
Eu forcei a mim mesma a ficar em silêncio.
“Eu estava comprando um presente para você. Um anel personalizado. Renee é joalheira. Eu pedi ajuda a ela.”
Eu pisquei. Isso foi… inesperado.
“Eu achei que te contar ia estragar a surpresa.”
Soltei uma risada seca. “Bem, missão cumprida.”
Silêncio. E então, de repente, o peso de tudo me atingiu.
Eu passei dois anos com Callum. E ainda assim, aqui estou—armando armadilhas, procurando provas de uma traição que não existia.
Não nele. Em mim mesma. Eu deixei meus próprios medos tomarem conta.
Eu suspirei. “Eu estraguei tudo.”
Callum levantou uma sobrancelha.
“Eu deixei minhas inseguranças vencerem. Eu não confiei em você. Eu pulei para conclusões, joguei joguinhos e…” Eu gemi. “O bilhete no restaurante. Meu Deus.”
Renee sorriu. “Quero dizer, foi icônico.”
Callum riu. “Foi dramático.”
Eu cobri o rosto. “Nunca vou viver isso para cima, vou?”
“Nem a pau,” Callum brincou.
“Nós vamos ficar bem,” eu disse. “Desde que comecemos a ser honestos.”
Ele apertou meus dedos. “Combinado.”
Renee suspirou. “Ótimo. Posso ir agora ou ainda estamos processando?”
Eu ri—de verdade, ri—pela primeira vez no dia. A tempestade passou.