Minha mãe abandonou eu, de 10 anos, para criar seu ‘filho perfeito’ — mas minha avó a fez pagar por isso

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Eu tinha dez anos quando minha mãe decidiu que eu era um fardo. Ela tinha uma nova família, e eu não encaixava na imagem. Então, ela se livrou de mim e me entregou como se eu não fosse nada, para criar seu “filho perfeito.” Minha avó me acolheu e me amou. Anos depois, a mulher que me abandonou apareceu na minha porta… implorando.

Há um momento em que você percebe que algumas feridas nunca cicatrizam. Para mim, esse momento veio aos 32 anos, quando eu estava diante do túmulo da minha avó. A única pessoa que realmente me amou havia partido, e a mulher que me deu à luz e me abandonou estava do outro lado do cemitério, sem nem olhar na minha direção.

Eu não via minha mãe há anos. Não desde que ela decidiu que meu irmão valia a pena ser criado… e eu não.

A chuva caía em cortinas naquele dia, encharcando meu vestido preto enquanto eu via o caixão da vovó Brooke ser baixado ao solo. Minha mãe, Pamela, estava sob um guarda-chuva com sua família perfeita — seu marido Charlie e o filho deles, Jason… meu substituto, o “filho dourado” digno do amor dela.

Ela não chorou. Não de verdade. Apenas secava os olhos ocasionalmente, para manter as aparências.

Quando tudo terminou, ela se virou e foi embora sem me dirigir uma única palavra, exatamente como fez 22 anos atrás, quando eu tinha dez. Permaneci ali, parada, sozinha diante do monte de terra fresca que cobria a única mãe que realmente tive.

— Eu não sei como seguir sem você, vovó — sussurrei para o túmulo.

Eu nasci de um breve caso e fui um incômodo que minha mãe nunca quis. Quando eu tinha dez anos, ela se casou com meu padrasto Charlie e teve o “filho perfeito,” Jason. De repente, eu não passava de um lembrete do erro do passado dela.

Ainda me lembro do dia em que ela me disse que eu não moraria mais com eles.

— Rebecca, venha aqui — ela chamou da mesa da cozinha, onde estava sentada com a vovó Brooke.

Entrei na cozinha com um fio de esperança no peito.

— Sim, mãe? — perguntei. Ela raramente falava diretamente comigo.

Seus olhos estavam frios e distantes.

— Você vai morar com a vovó agora.

As palavras não fizeram sentido no começo.

— Tipo… por um fim de semana?

— Não — ela disse, sem olhar nos meus olhos. — Para sempre. A vovó vai cuidar de você de agora em diante.

Olhei para a vovó, cujo rosto estava rígido de raiva e tristeza.

— Mas por quê? Fiz algo errado?

— Não dificulte as coisas mais do que já são — minha mãe retrucou. — Agora eu tenho uma família de verdade. Você só… atrapalha.

A mão da vovó bateu com força na mesa.

— Basta, Pamela! Ela é uma criança, pelo amor de Deus. Sua filha.

Minha mãe deu de ombros.

— Um erro pelo qual já paguei tempo suficiente. Ou você a leva, ou eu encontro alguém que leve.

Fiquei ali, lágrimas escorrendo pelo meu rosto, invisível para a mulher que me colocou no mundo.

— Arrume suas coisas, querida — a vovó disse suavemente, envolvendo-me nos braços. — Vamos dar um jeito, eu prometo.

A casa da vovó virou meu refúgio. Um lugar onde eu era querida e onde alguém ficava feliz ao me ver. Ela pendurava meus desenhos na geladeira, me ajudava com o dever de casa e me cobria à noite.

Mas a ferida da rejeição da minha mãe nunca se fechou.

— Por que ela não me quer? — perguntei uma noite, enquanto a vovó escovava meu cabelo antes de dormir.

Ela parou por um momento.

— Ah, Becca. Algumas pessoas não conseguem amar como deveriam. Não é sua culpa, querida. Nunca pense que é sua culpa.

— Mas ela ama o Jason.

A vovó retomou a escovação, cada movimento suave e reconfortante.

— Sua mãe é quebrada de um jeito que eu não pude consertar. Eu tentei, Deus sabe como eu tentei. Mas ela sempre fugiu dos próprios erros, ao invés de enfrentá-los.

— Então eu sou um erro?

— Não, querida. Você é um presente. O melhor presente que já recebi. Sua mãe só é egoísta demais para enxergar o que está desperdiçando.

Encostei minha cabeça no ombro dela, sentindo o cheiro de lavanda que sempre impregnava suas roupas.

— Você vai me deixar também, vovó? — sussurrei.

— Nunca — ela respondeu com firmeza. — Enquanto eu tiver vida, você sempre terá um lar comigo.

— Promete?

— Prometo.

Anos depois, minha mãe bateu na minha porta. Ela envelhecera, fios grisalhos marcavam seus cabelos escuros, e rugas delineavam seu rosto. Mas seus olhos eram os mesmos — frios e calculistas.

— Por favor — ela sussurrou, apertando a bolsa com as mãos trêmulas —, eu só preciso falar com você.

Meu instinto gritava para fechar a porta. Mas havia algo em sua voz… algo derrotado.

Cruzei os braços.

— Fale.

Ela suspirou, olhando para baixo antes de me encarar.

— Seu irmão sabe sobre você.

Meu coração parou por um segundo.

— O quê?

— Antes de morrer, sua avó mandou uma mensagem para ele. Contou tudo.

Eu engoli em seco.

— Ele nunca soube de mim?

— Ele era muito pequeno. E eu… não deixei a sua avó falar sobre você para ele. Eu disse que, se ela contasse, nunca mais veria Jason.

Meu estômago revirou. Ela não só me abandonou… ela me apagou.

Ela percebeu meu horror e tentou se justificar.

— Achei que era o melhor! Você tinha sua avó, e eu tinha minha família…

— Você tinha uma família — interrompi. — Decidiu que eu não fazia parte dela.

Lágrimas brotaram em seus olhos. Mas não me comoviam mais.

Ela respirou fundo.

— Ele está com raiva de mim. Preciso que você fale com ele. Diga que eu não sou um monstro.

Soltei uma risada vazia.

— Não é um monstro? Você abandonou sua filha aos dez anos, fingiu que eu nunca existi, ameaçou sua própria mãe… O que mais seria preciso?

Ela chorou, mas eu já havia derramado lágrimas demais por ela.

Mesmo assim, hesitei. Não por ela. Mas por Jason.

Eu sempre achei que ele tinha me esquecido. Mas ele nunca teve a chance de me conhecer.

— Me dê o número dele — disse friamente.

Ela suspirou aliviada, até perceber o que eu queria dizer.

— Você pode dar meu número para ele. Se quiser falar comigo, será escolha dele. E se ele não quiser falar com você… também será escolha dele.

Encontrei Jason uma semana depois. Ele me olhou e disse:

— Sinto muito.

— Você não precisa se desculpar. Não foi culpa sua.

Nos tornamos irmãos. Minha mãe tentou nos alcançar, mas nunca mais abrimos a porta.

No fim, família não é quem te dá à luz. É quem fica ao seu lado.

E, de alguma forma, a vovó me deu o maior presente de todos: ela me deu um irmão.

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