Todos os dias, eu me deparava com a mesma boneca em minha casa-até que um dia desvendei seu significado e identifiquei quem estava por trás dela

Histórias interessantes

A vida de Elise era previsível — até que as bonecas começaram a aparecer. Primeiro na sua porta, depois dentro de sua casa trancada. Sempre que jogava uma fora, ela voltava. Durante semanas, Elise questionou sua sanidade, até a noite em que viu uma figura sombria em seu quintal segurando aquela mesma boneca.

Nunca acreditei em fantasmas até que um apareceu na minha porta.

Não do tipo transparente, com correntes chacoalhando, mas algo muito mais pessoal — um lembrete de que, não importa quantas vidas eu salvei, eu nunca poderia fugir das que perdi.

Meu nome é Elise. Aos 37 anos, eu estava exatamente onde queria estar: uma das melhores cirurgiãs pediátricas de um hospital prestigiado, com um escritório na esquina e uma reputação de ter mãos firmes até nas piores emergências.

Minha vida seguia um ritmo previsível: cirurgia, papelada, voltar para minha casa silenciosa, dormir, repetir.

Sem marido, sem filhos, sem animais de estimação. Apenas eu e o pager, que nunca parecia parar de tocar.

A maioria dos meus dias começava comigo correndo pelos corredores, vestindo o avental e focando minha mente no pequeno corpo que estava prestes a abrir.

As pessoas às vezes me chamavam de fria. Distante. Mas quando você está tentando reparar um coração do tamanho de uma ameixa, o distanciamento não é apenas útil; é necessário.

Aquela terça-feira começou diferente.

Acordei antes do despertador, sentindo-me estranhamente descansada. Espreguicei-me, ouvindo meus ossos estalarem, e fui abrir a janela.

Foi quando a vi.

Uma boneca, sentada bem ao lado da minha janela. Era antiga, com um rosto de porcelana e um vestido azul desbotado. Seus olhos de vidro captavam a luz, dando-lhe uma aparência inquietante, quase viva.

Fiquei paralisada. “Que diabos?”

Peguei a boneca com cautela. De perto, pude ver as rachaduras em seu rosto de porcelana e o tecido gasto do vestido.

Parecia amada. Muito usada.

Mas não era minha. Eu morava sozinha e não tinha filhos.

“Isso é ridículo”, murmurei.

Joguei-a no lixo da cozinha, enterrando-a sob restos de café e embalagens do jantar de ontem, e fui trabalhar. Ao meio-dia, já havia esquecido dela.

Uma semana se passou. Sete cirurgias, duas perdas, um milagre.

O de sempre.

Cheguei em casa tarde na quinta-feira, exausta depois de um plantão de 14 horas. Meus pés arrastavam-se enquanto caminhava até a porta.

E lá estava ela de novo.

A boneca. Sentada na minha porta, seus olhos de vidro brilhando sob a luz da varanda.

Meu estômago revirou.

“Isso é impossível”, sussurrei, mas a peguei mesmo assim.

Era a mesma boneca. O mesmo rosto rachado, o mesmo vestido gasto.

A boneca que eu jogara fora uma semana antes.

Ela já deveria estar enterrada em algum lixão. Olhei ao redor, esperando ver adolescentes rindo, saindo de trás de um arbusto para me dizer que era uma pegadinha.

Mas a rua estava vazia.

Fui direto até a lixeira e a joguei dentro.

Um som estranho ecoou pela noite. Virei-me rapidamente.

O cachorro do vizinho soltou um uivo esquisito.

“Cachorro estúpido”, murmurei, ainda examinando a escuridão com desconfiança enquanto me apressava para dentro.

Tranquei a porta e tentei convencer a mim mesma de que a boneca reaparecendo era apenas um trote. Mas não consegui me livrar da sensação de que algo muito pior estava acontecendo.

Outra semana se passou. Eu me pegava olhando por cima do ombro com mais frequência, verificando os cantos escuros antes de entrar nos cômodos.

A falta de explicação me atormentava. Eu era uma mulher da ciência, da lógica. Bonecas não apareciam e desapareciam sozinhas.

Então veio a manhã em que acordei e a encontrei colocada cuidadosamente ao lado da minha cama.

Eu gritei.

Não consegui evitar. O som saiu da minha garganta antes que eu pudesse segurá-lo. Porque dessa vez, a boneca estava dentro da minha casa. Dentro da minha casa trancada.

“Isso não está acontecendo”, sussurrei, com a voz trêmula. “Você só está cansada. Alucinando por causa do estresse.”

Mas a boneca era sólida em minhas mãos quando a peguei.

Joguei-a no carro e, no caminho para o hospital, descartei-a no lixo do hospital.

Mas ela voltou algumas noites depois.

O padrão continuou por dois meses. A boneca aparecia na minha varanda, na cozinha, ao lado da minha janela. Eu a jogava fora, e alguns dias depois ela reaparecia.

Troquei as fechaduras e deixei as luzes acesas a noite toda. Nada disso adiantou. A boneca sempre voltava.

Dormir virou um luxo que eu não podia mais me dar. Olheiras escuras surgiram sob meus olhos. Meus colegas notaram.

“Você está bem, Elise?”, perguntou Dr. Chen enquanto nos preparávamos para uma cirurgia.

“Tô”, menti. “Só cansada.”

Como eu poderia explicar que estava sendo assombrada pelo brinquedo de uma criança?

O ponto de ruptura veio em uma noite fria de novembro.

Acordei sobressaltada de um pesadelo. No sonho, eu tentava salvar uma menina na mesa de cirurgia, mas minhas mãos não se moviam. Eu só conseguia assistir enquanto a vida escapava dela.

Meu coração ainda disparava quando ouvi um barulho fora da minha janela. Um som de passos sobre a brita.

Alguém estava lá fora.

Peguei o celular e uma lanterna pesada do criado-mudo. O medo apertava meu peito, mas uma estranha calma tomou conta de mim.

Fosse o que fosse, eu estava prestes a ter respostas.

Saí correndo.

Minha lanterna cortou a escuridão. E lá, na beira do meu quintal, estava uma figura. Um homem, alto e magro, recortado contra o luar.

Ele segurava a boneca.

“QUEM É VOCÊ? O QUE VOCÊ QUER?” Minha voz saiu mais forte do que eu me sentia.

O homem estremeceu, mas não fugiu.

Deu um passo à frente, na luz da varanda.

Seus olhos estavam vazios de dor.

“Você não se lembra de mim”, disse ele, a voz áspera. “Mas eu me lembro de você.”

Ele tirou a máscara.

Seu rosto era abatido, marcado pela tristeza. Algo em seus traços despertou minha memória.

“Minha filha”, ele sussurrou. “Ela morreu na sua mesa de cirurgia.”

O impacto daquelas palavras foi como um golpe.

Dois anos depois, segurei minha filha nos braços. Noah, ao meu lado, sussurrou:

“Sophie teria amado ela.”

A boneca, agora, não era um símbolo de perda. Mas de cura.

Mesmo nos momentos mais sombrios, a luz sempre encontra um jeito de brilhar.

Visited 179 times, 1 visit(s) today
Rate the article
( Пока оценок нет )