Minha sogra pegou de volta a bicicleta que ela deu de presente para minha filha no aniversário dela. Sim, você leu direito. Uma mulher adulta roubando da própria neta. Mas o que me fez perder a paciência não foi só o ato… foi o motivo absurdo por trás disso. Até agora, meu sangue ferve só de pensar nisso.
Na manhã do sexto aniversário da Jean, tudo estava perfeito. O sol entrava pelas janelas da nossa cozinha enquanto eu arrumava os cupcakes com cobertura rosa numa bandeja…
“Mãe! Olha o que a vovó me trouxe!” A voz da Jean ecoou pela casa, pura alegria em cada sílaba.
Eu saí para a varanda e vi minha sogra, Jacqueline, parada ao lado da bicicleta mais bonita que eu já tinha visto. Ela brilhava com a tinta rosa, fitinhas pendiam do guidão, uma cesta branca com margaridas plásticas ficava na frente, e um sininho prateado tocava quando a Jean apertava.
“Você gostou?” Jacqueline perguntou, com um sorriso largo enquanto ajeitava sua blusa cara.
Jean pulava de alegria, seus cachos dourados balançando. “É o melhor presente de todos!”
Levantei as sobrancelhas. Isso foi… inesperado.
Nos sete anos em que conhecia Jacqueline, ela nunca demonstrou esse nível de generosidade para conosco.
Nosso relacionamento sempre foi tenso — sorrisos educados mascarando críticas veladas. Essa era a base do nosso vínculo frágil.
“Isso foi muito atencioso, Jacqueline,” eu disse, observando Jean dar voltas pela garagem com suas novas rodas.
Os lábios de Jacqueline se apertaram ligeiramente. “Bem, eu sou a avó dela, e minha neta merece o melhor!”
“Claro.” Forcei um sorriso. “Você gostaria de entrar? A festa vai começar.”
“Eu não perderia por nada!” ela respondeu, sua voz doce como mel enquanto me seguia para dentro.
“Posso te oferecer algo para beber?” perguntei, tentando ser hospitaleira.
“Só de ver minha neta aproveitando o presente já está bom,” ela disse, me dando um tapinha no braço de uma forma que me deu arrepios.
Eu deveria ter sabido que era bom demais para ser verdade.
Cinco dias depois, eu estava dobrando roupas quando ouvi o barulho dos pneus no nosso caminho de cascalho. Pela janela da sala, vi o sedã prateado de Jacqueline estacionando.
Jean já estava correndo para a porta. “A vovó chegou!”
Arrumei o cabelo e coloquei um sorriso no rosto. “Que surpresa boa,” disse enquanto abria a porta.
Jacqueline nem me olhou. Seus olhos estavam fixos na bicicleta encostada na parede da varanda.
“Jean, querida,” ela disse, sua voz doce e ensaboada, “você seria tão gentil e me traria um copo d’água? Estou seca depois da viagem.”
“Tá bom!” Jean respondeu, correndo para dentro.
No momento em que a porta bateu, Jacqueline se atirou para a bicicleta.
“O que você está fazendo?” perguntei, minha voz subindo à medida que ela lutava com o apoio da bicicleta.
“Eu preciso levar isso de volta,” ela disse, nem me olhando.
Minha boca se abriu. “Esse é o presente de aniversário da Jean.”
“Não mais,” ela respondeu, empurrando a bicicleta em direção ao carro dela.
A porta se abriu. “Aqui está a sua água, vovó,” Jean gritou, parando de repente, o copo tremendo em sua mão pequena. “Vovó? Por que você está levando minha bicicleta?”
O sorriso de Jacqueline não chegou aos olhos quando ela se agachou. “Ah, querida, só preciso pegar emprestada por um tempo.”
“Mas…” o lábio inferior de Jean tremia, seus olhos se enchendo de lágrimas. “Ela é minha. Você me deu ela.”
Eu dei um passo à frente, o calor subindo no meu peito. “Jacqueline, o que diabos você está fazendo?”
Ela se endireitou, largando o sorriso falso. “Teresa, eu preciso levar a bicicleta de volta. Eu acho que a Jean e você não merecem.”
Minhas mãos se fecharam em punhos ao lado do corpo. “Você está falando sério? Por quê?”
Ela soltou um suspiro dramático, jogando o cabelo perfeitamente iluminado para trás. “A Mia viu na festa e agora não para de chorar dizendo que quer uma igual. A Kate disse que eu tenho que comprar uma para ela.”
Ah, a Mia. Minha sobrinha e, claramente, a neta dourada. Ela tinha sete anos e já era tão mimada quanto a mãe.
“Então… compre uma para ela?” sugeri.
O sorriso de Jacqueline não vacilou. “Ah, eu até compraria, mas o dinheiro está um pouco apertado agora.”
Levantei uma sobrancelha. Isso veio da mulher que acabou de voltar de um cruzeiro no mês passado.
“A Kate disse que vai me levar de férias com a família dela na próxima semana,” Jacqueline continuou, examinando sua manicure. “Mas só se eu comprar a mesma bicicleta para a Mia.”
As peças começaram a se encaixar. Eu a olhei, incapaz de acreditar no que estava ouvindo.
“Espera, então a sua solução é pegar de volta a bicicleta que você já deu para a Jean?”
“Ela tem seis anos! Ela nem vai se lembrar!”
Atrás de mim, os soluços de Jean ficaram mais altos.
“Ah, ela vai se lembrar, Jacqueline,” eu disse, minha voz gelada.
Jean se agarrou à minha perna, seu corpinho tremendo. “Por favor, mamãe, não deixa ela levar.”
Eu me agachei, enxugando as lágrimas de Jean com o polegar. “Às vezes, querida, precisamos deixar as pessoas nos mostrarem quem realmente são. E quando elas fazem isso, nós acreditamos nelas.”
Me levantei, dei um passo para o lado e assisti enquanto Jacqueline colocava a bicicleta da minha filha no porta-malas do carro dela.
“Obrigada por entender, Teresa,” ela disse com um sorriso satisfeito. “A família vem em primeiro lugar, afinal.”
Quando ela foi embora, segurei minha filha chorando e sussurrei: “Sim, vem.”
Naquela noite, eu andava de um lado para o outro no quarto, minha raiva crescendo a cada passo. Adam estava sentado na beirada da cama, com o rosto nas mãos.
“Não acredito que ela fez isso,” ele murmurou.
“Eu acredito! Sua mãe sempre fez isso de fazer favores para um e não para o outro. Mas isso? Levar o presente de uma criança? Isso ultrapassa todos os limites.”
Ele fez um barulho de escárnio, balançando a cabeça. “Sim, e se eu falar alguma coisa, ela vai agir como se eu fosse o pior filho do mundo. Você sabe como ela é.”
Sentei ao lado dele, com o colchão afundando sob nosso peso combinado. “Nós precisamos fazer algo sobre a sua mãe.”
Adam suspirou, esfregando o rosto. “Eu sei. Ela sempre faz essas coisas. Mas o que você quer fazer?”
Um plano começou a se formar na minha mente, doce e perfeito. Eu sorri. “Vamos dar a ela o que ela realmente quer.”
As sobrancelhas dele se franziram. “O que você quer dizer?”
Eu me inclinei para frente, baixando a voz como se fosse um segredo. “A gente estava falando de dar aquele chalé à beira do lago para o aniversário de 60 anos dela, lembra?”
Adam assentiu. “Sim…?”
“Bem, a gente deveria anunciar agora. Publicamente.” Fiz uma pausa para o efeito. “Mas fazendo ela saber que ela NÃO vai mais receber.”
Os olhos dele se arregalaram. Então, os lábios dele se curvaram para um sorriso que combinava com o meu.
“Ah… você é malvada!” ele sussurrou, com uma nota de admiração na voz.
Eu sorri. “Aprendi com a melhor.”
Na noite seguinte, nossa sala de jantar estava iluminada por velas. Eu preparei um banquete — frango assado, purê de batata com alho e a torta de limão favorita da Jacqueline. A mesa estava posta com nossa melhor porcelana, e nenhum garfo estava fora do lugar.
Minha cunhada, Kate, chegou primeiro, com a Mia pulando atrás dela — as duas vestindo vestidos de grife combinando. Jacqueline seguiu logo atrás, com uma garrafa de vinho na mão.
“Que surpresa agradável,” ela disse, me entregando a garrafa. “Embora eu não saiba o que estamos comemorando.”
Eu sorri docemente. “Ah, você vai ver.”
Durante o jantar, fui a anfitriã perfeita. Refilava os copos, perguntava sobre o trabalho da Kate e elogiava o novo corte de cabelo da Mia. O tempo todo, Jacqueline me observava com um olhar desconfiado.
Quando servi a sobremesa, bati meu garfo contra o copo. A sala ficou em silêncio.
“Eu só quero aproveitar o momento para agradecer a Jacqueline,” comecei, minha voz transbordando de doçura. “Ela tem sido uma avó tão carinhosa para a Jean. Ela até foi além para garantir que outra neta tivesse a mesma experiência especial de aniversário.”
Kate e Mia sorriram.
Jacqueline se encheu de orgulho, absorvendo o elogio.
Adam se levantou ao meu lado, acompanhando. “E por causa disso, nós planejamos uma surpresa especial.”
Os olhos de Jacqueline brilharam.
“Uma surpresa?” ela repetiu, sua voz ansiosa.
Eu acenei com a cabeça. “Nós íamos te presentear com um chalé à beira do lago totalmente pago… já que você sempre fala sobre querer um lugar tranquilo para relaxar nos seus anos dourados.”
Silêncio se fez na mesa. A boca de Jacqueline ficou aberta.
Kate soltou um suspiro. “Espera… o quê?”
Adam suspirou, balançando dramaticamente a cabeça. “Mas depois do que aconteceu com o presente de aniversário da Jean, percebemos algo…”
Eu coloquei uma mão sobre o coração. “A família deve conquistar suas bênçãos, não manipular os outros para conseguir o que quer.”
O rosto de Jacqueline perdeu a cor.
“Então,” continuei, “decidimos pegar esse dinheiro e colocar em uma conta poupança especial.”
O olhar esperançoso de Jacqueline retornou. “Para… para mim?”
Eu sorri docemente. “Ah, não. Para a Jean. Para que ela possa comprar uma bicicleta nova, caso alguém roube outra dela.”
A sala ficou em total silêncio.
O rosto de Kate ficou vermelho. “Você não pode estar falando sério.”
“Ah, mas estou,” respondi, cortando minha torta. “Alguém tem que ensinar à Jean que ações têm consequências. Você não concorda, Jacqueline?”
As mãos da minha sogra tremiam enquanto ela largava o garfo. “Isso é ridículo. Você está me punindo por causa de um brinquedo de criança?”
Eu me reclinei na cadeira, inclinando a cabeça. “Não, Jacqueline. Você se puniu no momento em que decidiu roubar de uma criança de seis anos.”
“Eu acho que vou embora.”
Peguei a espátula da torta e sorri. “Mas você não terminou sua sobremesa,” disse, oferecendo uma fatia extra. “É de limão… sua favorita.”
Jacqueline me lançou um olhar fulminante antes de pegar sua bolsa e sair em direção à porta.
“Fique à vontade,” eu gritei atrás dela. “Embora eu tenha ouvido que amargura combina bem com limão.”
***
Na manhã seguinte, eu estava regando as flores quando um sedã prateado familiar estacionou no nosso caminho. Jacqueline saiu do carro, com o rosto tenso e mal contendo a raiva. Ela abriu o porta-malas e retirou a bicicleta de Jean.
Sem dizer uma palavra, ela levou a bicicleta até a nossa varanda e a deixou lá. Nenhuma desculpa, nenhuma explicação… apenas um aceno rígido enquanto ela se virava para ir embora.
“Obrigada por devolver,” eu gritei atrás dela.
Ela parou, virou-se ligeiramente. “A Kate não está falando comigo.”
Eu dei de ombros. “Famílias podem ser complicadas.”
“Eu acho que não vou mais para as férias com eles,” ela continuou, sua voz amarga.
“Sempre tem o ano que vem,” respondi, tentando não sorrir.
Enquanto ela se afastava, senti uma mão pequena se enfiar na minha. Jean olhou para cima, seus olhos grandes.
“A bicicleta voltou para sempre?” ela perguntou.
Eu assenti, me agachando para ficar na altura dela. “Sim, querida. E ninguém vai tirar ela de você de novo.”
Ela sorriu, revelando um buraco onde o dente da frente estava. “Posso andar nela agora?”
“Com certeza,” respondi, assistindo enquanto ela subia no assento e pedalava para baixo do caminho, com as fitinhas balançando atrás dela.
Adam apareceu na porta, com uma caneca de café na mão. “Eu acabei de ver minha mãe devolver a bicicleta?”
Eu assenti, encostando-me nele enquanto ele passava o braço pelos meus ombros. “Parece que, quando você tem que escolher entre uma bicicleta roubada e um chalé à beira do lago, a escolha fica bem clara.”
Ele riu. “Nunca a vi se mover tão rápido.”
“Algumas lições são caras,” respondi, assistindo Jean dar voltas pelo caminho, despreocupada e feliz. “Mas acho que essa valeu cada centavo que não gastamos.”
À distância, o telefone tocou. Provavelmente a Kate, finalmente pronta para ouvir o nosso lado da história.
Mas eu não estava com pressa para atender. Por agora, eu estava contente em ficar ao sol, vendo minha filha aproveitar o presente de aniversário… dado duas vezes, e finalmente dela para manter.
“Você acha que a mamãe aprendeu a lição?” Adam perguntou, sua voz suave no meu ouvido.
Sorri, observando Jean tocar o sininho da bicicleta com pura alegria. “Vamos dizer que, da próxima vez que ela der um presente, ela vai pensar duas vezes antes de pegar de volta!”