**Achei que tinha encontrado o homem perfeito até o dia em que ele desapareceu sem dizer uma palavra. Quando fui procurá-lo, descobri que ele estava no próprio casamento. Mas isso foi só o começo das mentiras.**
Nossos encontros sempre foram perfeitos, como cenas de um filme romântico. Jake tinha o dom de escolher lugares que pareciam mágicos—jantares íntimos em terraços, caminhadas tranquilas à beira do rio, piqueniques-surpresa em jardins escondidos.
Aquela noite não foi diferente.
Estávamos sentados no canto mais aconchegante de um elegante restaurante na cobertura. A luz suave das velas tremeluzia entre nós, e o horizonte da cidade brilhava ao fundo. Mas algo estava errado.
Jake não parecia ele mesmo.
À medida que a noite avançava, eu não conseguia ignorar a tensão sutil em seu rosto. Era o jeito como sua mandíbula se contraía quando achava que eu não estava olhando ou o olhar distante quando a conversa esfriava.
— Dia difícil? — perguntei, tentando fazê-lo falar.
Ele assentiu, com os olhos fixos na vela tremeluzente entre nós.
— Pode-se dizer que sim.
A conversa, que normalmente fluía com facilidade, parecia forçada.
— Você parece… diferente esta noite — falei suavemente, colocando o garfo de lado.
— Eu pareço? — Ele sorriu. — Desculpe, acho que estou só cansado.
Mas «cansado» não explicava o fato de ele mal tocar na comida ou como seu habitual humor afiado parecia ter desaparecido. Quando a sobremesa chegou—uma fatia de bolo de chocolate que planejávamos dividir—, comecei a me sentir inquieta.
Então, do nada, ele suspirou profundamente.
— Acho que peguei alguma coisa — disse baixinho, sem me encarar. — Vamos cancelar nossa viagem de fim de semana para a casa no lago.
— O quê?! Jake, planejamos essa viagem por semanas. Tem certeza de que está bem?
Ele assentiu, oferecendo um sorriso fraco.
— Só preciso de alguns dias para descansar.
Mas Jake não parecia doente. Parecia, talvez, preocupado. Olhei para seu rosto, tentando encontrar algum sinal de que ele escondia algo.
— Se precisar de qualquer coisa, você me avisaria, certo? — perguntei, estendendo a mão para tocar a dele.
— Claro — ele disse, apertando meus dedos rapidamente antes de se afastar.
Quando ele me deixou em casa naquela noite, hesitei na porta, esperando que dissesse algo mais. Mas ele apenas beijou minha bochecha, desejou-me boa noite e foi embora.
Naquela noite, deitada na cama olhando para o teto, eu não conseguia me livrar da sensação de que o homem perfeito, que havia me conquistado, estava escondendo um segredo.
Na manhã seguinte, o silêncio foi ensurdecedor. Nenhuma ligação, nenhuma mensagem de Jake. Na hora do almoço, eu encarava meu celular, esperando que vibrasse, mas ele permanecia teimosamente imóvel no balcão.
Por fim, peguei uma cesta de frutas frescas e decidi ir vê-lo.
Se ele não está se sentindo bem, precisa comer algo, certo?
Foi o que me disse enquanto calçava os tênis e saía. Na verdade, eu só precisava vê-lo, entender o que estava acontecendo.
Quando cheguei à casa de Jake, a garagem estava vazia. Toquei a campainha e esperei. Nada.
— Jake? — chamei. — Jake, sou eu, Emily!
Nenhuma resposta. Espiei pelas janelas da frente. Nenhum sinal de vida.
— Procurando por alguém?
Uma mulher estava parada junto à cerca branca. Ela era mais velha, com cabelos grisalhos presos em um coque impecável.
— Sim — respondi, tentando esconder a preocupação na minha voz. — Só vim ver como Jake está. Ele disse que não estava se sentindo bem.
— Ah, ele não está em casa. Está em um casamento.
— Um casamento? — Pisquei, certa de que havia entendido errado.
— Sim, no dele! — ela disse, claramente encantada com minha reação. — Acho que o que ele pegou foi “febre de compromisso”. Coisa perigosa, ouvi dizer.
— O… próprio casamento?
— Não se preocupe, querida, casamentos curam quase tudo. Bem, exceto pés frios. — Ela riu, satisfeita com sua própria piada.
— Eu… acho que deve haver um engano.
— Ah, sem engano — disse ela, dispensando minha descrença. — É na casa da Nora, aquela branca e vermelha com jardim, na Maple Street. Ela fala desse casamento há semanas. Sempre passa aqui para tomar café quando visita Jake. Foi assim que soube de tudo. Mulher adorável, muito… particular.
Nora. Maple Street. Um casamento.
Minha mente tentava montar um quebra-cabeça sem peças suficientes.
— Espere! Nora… Quem é ela?
— Ah, ela é a mãe da Julia — explicou a mulher, como se isso esclarecesse tudo. — Você sabe, Julia, a noiva.
— Obrigada — murmurei, forçando meus pés a se moverem de volta ao carro.
A viagem até Maple Street foi um borrão. Minha mente corria com imagens de Jake, seu sorriso suave, a maneira como sua mão repousava sobre a minha na mesa de jantar.
Como o mesmo homem poderia estar no altar com outra mulher?
Quando parei em frente à casa, parecia um sonho. Ou um pesadelo.
Jake estava nos degraus, vestindo um terno impecável, incrivelmente bonito. Ao lado dele, em um vestido branco esvoaçante, estava a noiva.
Eu queria dar meia-volta e fugir, mas antes que pudesse, uma mulher surgiu da casa. Sua presença era magnética, seu olhar afiado pousando sobre mim como um holofote.
— Eu sei quem você é — disse friamente. — Meu filho Jake está casado agora. Sugiro que o deixe em paz.
Nora. Suas palavras cortaram-me, mas eu não consegui responder. Então Jake me viu. Seus olhos se arregalaram em choque, e ele correu até mim.
— Emily, eu posso explicar.
— Você está casado?
— Não é o que parece — implorou. — Julia está doente… A mãe dela me implorou. O seguro cobriria a cirurgia dela.
Eu o encarei, as lágrimas queimando meus olhos.
— Quem faz isso se não está apaixonado?
Virei-me e corri, sem esperar sua resposta.
No dia seguinte, fiz de tudo para me distrair. Mas não importava o quanto tentasse, Jake, Nora e Julia continuavam a invadir meus pensamentos.
Eu não conseguia deixar para lá.
Então, ao anoitecer, me vi dirigindo de volta àquela casa. Parte de mim sabia que era loucura.
Mas então ouvi.
— Você armou tudo isso! Ele não me ama. Você mentiu sobre minha doença para forçá-lo a casar comigo!
O choque tomou conta de mim. Mas então, a voz de Nora seguiu.
— Fiz isso por você. Ele é bom demais para deixá-lo escapar. Agora ele não pode te deixar, não importa o que aconteça.
Meu coração disparou. Peguei o celular e liguei para Jake.
— Você precisa ver isso — sussurrei, apontando a câmera para a janela.
Minutos depois, seu carro parou na rua. Ele passou por mim sem olhar, murmurando apenas:
— Vá para casa. Eu resolvo isso.
Na manhã seguinte, uma batida na porta fez meu coração saltar. Era Jake, os ombros tensos, o olhar cansado.
— Eu pedi a anulação — disse, finalmente. — Acabou.
Eu o encarei, processando suas palavras.
— Vamos sair para uma caminhada — sugeri suavemente.
— Você pode fazer uma mala? — perguntou ele, um pequeno sorriso surgindo. — Vamos para o lago?
Ri.
— Nunca desfiz minha mala.
E assim partimos. Porque o amor não é sobre evitar imperfeições, mas ter coragem de enfrentá-las juntos.