As manhãs eram um campo de batalha—crianças para alimentar, lanches para preparar, e um marido que mal percebia o peso que eu carregava. A desconfiança estava se infiltrando, e eu não podia ignorá-la por mais tempo. Então, instalei uma câmera escondida. Achei que pegaria uma babá preguiçosa. Em vez disso, descobri algo muito pior.
As manhãs sempre foram um campo de batalha. Cascas de ovos sob meus pés, prazos na minha mente, dois meninos com exigências infinitas, e um marido que achava que a paternidade era um trabalho de meio período.
Eu bocejei enquanto entrava na cozinha, esfregando as têmporas, ainda sentindo o peso das tarefas não feitas da noite anterior — pratos secando no escorredor, uma pilha de roupas esperando para serem dobradas, e migalhas do jantar de ontem teimosamente grudadas na bancada.
Mas eu empurrei tudo para o lado. Tinha café da manhã para fazer, lancheiras para preparar, e café para tomar antes que a realidade me pegasse.
Quebrei ovos na frigideira, o cheiro de manteiga se espalhou pelo ar, e virei as panquecas com a facilidade de uma mulher que já fez isso mil vezes.
Jimmy e Ted não comiam qualquer coisa—eu precisava acertar. Panquecas fofas, cortadas em quadradinhos, xarope à parte.
Atrás de mim, ouvi passos.
Ben entrou primeiro, esticando os braços e pegando o café que eu acabara de fazer—porque, claro, eu também fiz o dele. Um segundo depois, Jimmy e Ted entraram, ainda esfregando os olhos sonolentos.
“Bom dia, amor,” Ben murmurou, inclinando-se para me dar um beijo na bochecha.
Eu mal virei a cabeça. “Bom dia.”
Eu não estava brava. Não exatamente. Eu estava apenas cansada de um jeito que o sono não consertava.
Ben se acomodou na cadeira, tomando um longo gole de café como um homem que não tinha nada para se preocupar.
Coloquei as panquecas nos pratos dos meninos, assistindo enquanto eles devoravam rapidamente. Pelo menos alguém apreciava meu trabalho.
“A que horas a babá vai chegar?” Ben perguntou, mal levantando os olhos do celular.
Eu coloquei ovos mexidos em outro prato. “Emily? Como sempre, às nove.”
Ben franziu a testa, mexendo o café distraidamente. “Nove? Eu te falei que eu precisava sair mais cedo hoje. Quem vai cuidar das crianças?”
Suspirei, virando outra panqueca. “Ben, eles vão ficar bem por uma hora. A Emily vai chegar e cuidar disso.”
Ele fez uma cara de desdém, colocando a xícara com um barulho irritante. “Não faça um drama disso. Eles podem sobreviver uma hora sem babá.”
Algo em mim quebrou. Eu virei bruscamente, espátula ainda na mão, e olhei ele diretamente nos olhos.
“Ben! Eles são nossos filhos. Claro que são uma grande responsabilidade.”
Ele levantou as mãos, palmas para cima, um sorriso preguiçoso nos lábios. Como se eu estivesse exagerando. Como se eu estivesse sendo dramática.
“Tá bom, tá bom. Eu espero uma hora.”
Eu exalei, apertando os lábios. “E enquanto isso, garante que ela realmente faça o trabalho dela. Eu tenho a sensação de que ela nem está ficando com eles direito.”
Isso chamou a atenção dele. Seus olhos subiram do café. “Por que você acha isso?”
“Porque eu converso com nossos filhos, Ben.” Eu lancei-lhe um olhar. “Jimmy me disse que ela mal fica por perto. Talvez ela vá embora enquanto a gente não está.”
Ben deu uma risada, balançando a cabeça, como se eu fosse uma dona de casa paranoica com tempo demais nas mãos.
“Você está sendo paranoica de novo. Está tudo bem.”
Está tudo bem.
Eu mordi o lábio, segurando palavras que queriam sair cortantes.
Mas dessa vez, eu não ia deixar passar.
Eu teria minhas respostas.
Naquela noite, depois do trabalho, eu fiz o que sempre faço. Rotina. Estrutura. Controle. Isso me mantinha sã.
Tirei os sapatos na porta da frente, a dor nos pés sendo um lembrete vago de um dia longo. O cheiro de algo queimado ainda estava no ar—provavelmente uma refeição congelada passada do ponto, a versão da Emily de “babá”.
Subi as escadas e espiava o quarto dos meninos. O mundo deles era simples. Seguro. Intocado pelas sombras que se infiltravam no meu.
Jimmy, sempre o mais falante, estava sentado na cama folheando um gibi, seu rosto franzido de concentração. Ted, o mais quieto dos dois, empurrava um caminhão de um lado para o outro no tapete, completamente absorvido em seu próprio mundo.
Eu me apoiei no batente da porta. “Como foi o dia?”
Jimmy mal olhou para cima. “Foi bom. A Emily não estava muito por aqui, não.”
Sua voz era casual, como se fosse normal. Como se não fosse um problema.
Meu estômago se retorceu.
“Ela não estava por aqui?” Eu mantive o tom leve. Casual.
Jimmy deu de ombros. “Ela esteve aqui de manhã, mas depois ela meio que desapareceu. Acho que foi lá fora por um tempo.”
Lá fora. Onde exatamente?
Eu olhei para Ted, que assentiu distraidamente, confirmando as palavras do irmão.
Forçando um sorriso, alisei o cabelo de Jimmy. “Tá bom, camarada. Hora de dormir.”
Eu os cobri, beijei suas testas, e puxei os cobertores até os queixos deles.
Depois desci com um propósito.
Eu tinha duvidado de mim mesma o dia todo, me perguntando se eu estava apenas sendo paranoica. Mas agora? Agora, eu ia descobrir a verdade.
O ursinho de pelúcia na sala de estar não era apenas um ursinho de pelúcia.
Era minha apólice de seguro.
Eu o peguei com cuidado, os dedos tremendo, e desabotoei a costura nas costas. Dentro, aninhada entre o enchimento, estava uma mini câmera escondida. Algo pequeno o suficiente para ninguém notar.
Levei até o laptop, coloquei o pen drive minúsculo e apertei o play.
A filmagem piscou para a vida.
Luz suave da manhã. A sala de estar vazia. Um intervalo de tempo onde nada aconteceu.
E então—Emily.
Ela estava parada na porta, ajustando a jaqueta.
E Ben entrou no quadro.
Eu parei de respirar.
Meus dedos se cerraram em punhos.
O volume estava baixo, mas suas vozes estavam claras o suficiente para ouvir cada sílaba.
Emily: “Então, quando você vai me pegar?”
Ben: Sorrindo. “Às três. A Beth volta às seis, então vamos terminar antes dela voltar.”
Eu piscava para a tela, meu peito apertado.
Ben e Emily tinham… planos?
Emily deu uma risadinha, acenando de forma brincalhona enquanto Ben saía de casa. Os sorrisos deles. O jeito como se olhavam.
Meu estômago se revirou.
Eu ainda não tinha provas.
Mas o que mais poderia ser?
Meu marido estava me traindo.
E eu deveria ter visto isso chegando.
Eu precisava da verdade. Sem dúvidas. Sem desculpas.
Na manhã seguinte, estava na cozinha, meu café esfriando nas mãos, minha decisão já tomada. Eu não ia trabalhar.
Quando Ben entrou, recém-saído do banho, ajustando a gravata, ele parou no meio do caminho. Ele percebeu que algo estava estranho.
“Você não está pronta para o trabalho?” ele perguntou, com o tom cuidadosamente neutro.
Eu dei um gole lento de café, observando-o por cima da borda da xícara. “Não. Chamei para faltar.”
Ele se enrijeceu. Só por um segundo. Mas eu percebi.
“Você não vai?” Os dedos dele se mexeram levemente antes de ele forçá-los para os bolsos. “Você nunca falta.”
Eu dei de ombros. “Preciso de uma pausa.”
Ele esfregou o pescoço, mudando o peso de um pé para o outro. “Por que você não sai um pouco?” ele disse, voz leve, mas forçada. “Fazer compras? Se dar algo bom.”
Cruzei os braços. Agora ele estava nervoso.
“Você quer que eu vá fazer compras?”
Ele acenou—rápido demais. “Sim. Se divirta. Fique fora até às seis?”
Ali estava. A confirmação que eu precisava.
Eu soltei um suspiro lento, forcei um sorriso pequeno e acenei. “Parece uma ótima ideia.”
Mas eu tinha outros planos.
Lembrei que Emily tinha me dado uma vez um contato de emergência—o pai dela, Josh. Na época, eu ri, pensando que nunca precisaria.
Agora, procurei no celular, encontrei o número e liguei.
Quando ele atendeu, eu contei tudo.
Silêncio.
Depois, com a voz baixa e furiosa, ele disse: “Eu vou te encontrar na sua casa às três.”
Às três em ponto, Josh e eu estávamos no meu carro, estacionados do outro lado da rua.
O ar dentro estava denso com tensão, aquela sensação que fazia suas mãos apertarem o volante com força, a respiração ficar rápida.
Nós assistimos enquanto o carro de Ben chegava. Ele parecia relaxado. Despreocupado.
Ele saiu, esticou os braços como um homem que não fazia ideia de que seu mundo estava prestes a desmoronar, e entrou em casa.
Josh apertou a mandíbula, os punhos se cerrando no colo. “Aquele filho da…”
Eu respirei fundo, minha própria raiva borbulhando bem abaixo da superfície. Esse era o momento da verdade.
“Vamos.”
Saímos do carro, cruzamos a rua em passos rápidos e determinados, e subimos o caminho da entrada.
Eu arrebentei a porta da frente sem bater, sem hesitar, meu coração batendo tão forte que pensei que fosse estourar.
Josh estava um passo à frente de mim.
E no momento em que ele viu Emily na sala de estar, ele perdeu o controle.
“Emily! O que diabos está acontecendo?!”
Ela se virou, os olhos arregalados, o rosto empalidecendo como se tivesse visto um fantasma.
“Pai?” A voz dela estava pequena. Abalada.
O rosto de Josh se contorceu em raiva. “Você está se encontrando com um homem casado?”
Os olhos de Emily se voltaram para mim, depois para Ben, e depois para seu pai. Ela parecia aterrorizada.
Eu me preparei para o pior. Para as desculpas, as mentiras, as confirmações de cada pensamento feio que eu tinha na minha cabeça.
Mas então—notei algo.
A sala de estar não era o que eu esperava.
Havia balões, coloridos e brilhantes. Decorações, inacabadas, espalhadas pelos móveis. Presentes meio embrulhados espalhados pelo chão. Algumas caixas ainda fechadas, e algumas fitas ainda por amarrar.
Meu coração parou.
Não parecia um encontro secreto.
Parecia uma festa surpresa.
Emily desabou em lágrimas e correu por nós, empurrando a porta aberta enquanto fugia.
Josh hesitou por apenas um segundo antes de correr atrás dela. “Emily!” ele gritou, sua voz quebrada. “Espera!”
A porta se fechou atrás deles.
E então—ficamos só eu e Ben.
O silêncio entre nós era como um abismo.
Meu pulso martelava nos meus ouvidos enquanto eu me virava para ele, minha voz áspera. “O que… o que é isso?”
Ben soltou um longo e cansado suspiro. Os ombros caíram. Ele parecia mais exausto do que bravo.
“Era para ser uma surpresa para você.”
Eu pisquei. Minha boca estava seca. “O quê?”
Ele tirou do bolso dois bilhetes de avião.
“Eu vi o quanto você tem trabalhado, o quanto faz por nós,” ele disse baixinho. “Emily me ajudou a planejar isso. Íamos te surpreender hoje à noite.”
A voz dele estava plana. Derrotada.
“Mas eu acho que isso acabou.”
Uma onda de culpa me atingiu, tão forte que quase me fez vacilar.
Eu esperava traição.
Construi toda uma história na minha cabeça.
E eu estava errada.
Minha garganta queimava. Eu tinha machucado Emily. Tinha machucado Ben. E para quê?
Eu virei e corri para fora, minhas pernas se movendo antes que minha mente pudesse acompanhar.
Josh e Emily estavam de pé na beira do caminho. Ela com os braços cruzados, lágrimas correndo pelo rosto. Josh estava ao lado dela, sua raiva dando lugar a algo mais—arrependimento, talvez.
Eu parei a alguns metros deles, meu peito arfando.
“Emily,” eu falei, sem fôlego. “Eu… eu cometi um erro.”
Os lábios dela se apertaram. Ela limpou o rosto, ainda se recusando a me olhar. “É… você fez.”
Eu engoli seco. “Desculpe.”
O silêncio se estendeu entre nós.
Josh suspirou, passando a mão pelo rosto. “Jesus, Beth,” ele murmurou.
Emily fungou, finalmente me olhando, com a expressão inexpressível.
Eu queria dizer mais, mas o que eu poderia dizer que consertasse isso?
Alguns erros não vêm com desculpas fáceis.
Algumas lições vêm da maneira difícil.
A confiança é algo frágil.
Mas quando dada às pessoas certas, é o presente mais recompensador de todos.