**A Vovó só queria um jantar tranquilo para comemorar seu aniversário, mas a nossa família insistiu em fazer um grande evento. E não só tomaram conta do aniversário dela, como ainda a deixaram sozinha na mesa quando a conta chegou! Ninguém mexe com a minha avó. Nem mesmo a família!**
Minha avó sempre tem biscoitos fresquinhos prontos, nunca esquece um aniversário e, de alguma forma, faz com que toda reunião de família pareça lar. Se alguém merecia um jantar de aniversário perfeito, era ela.
Então, quando ela comentou que queria “só um jantarzinho simples fora esse ano”, eu topei na hora.
Ela está fazendo 85 anos, e isso é um grande marco. Uma noite tranquila com boa comida e suas pessoas favoritas? Feito. Mas, claro, o resto da família tinha outros planos.
“A vovó merece algo espetacular”, anunciou a Tia Linda no nosso grupo da família. “Nada de jantarzinho sem graça.”
O resto da família insistiu em levar a vovó ao restaurante mais chique da cidade — o que até poderia parecer um gesto bonito, se eles não tivessem feito tudo girar em torno deles.
Nosso tradicional domingo em família virou um circo. Saí um pouco para tomar ar e foi aí que ouvi minha prima Katie cochichando com o irmão, Mark.
“Sério, a Jade não vai dizer não”, sussurrou Katie. “Ela trabalha em banco! Tá cheia da grana. Mora sozinha. Sem filhos. Vai gastar com o quê?”
Mark riu. “Exato. A gente só precisa ficar de boa até a conta chegar. Aí a gente finge surpresa e ela paga.”
Fiquei paralisada. Ah, então esse era o plano. Transformar o jantar de aniversário da vovó num grande evento — e me deixar com a conta enquanto eles faziam cara de paisagem.
“E a vovó?”, perguntou Mark. “A gente pede pra ela trazer a carteira também? Só por precaução?”
Katie riu. “Imagina. Ela vai querer pagar de qualquer jeito. Sempre quer. Mas a priminha querida vai salvar o dia, porque é tão generosa.”
Senti meu rosto queimar de raiva. Usar a vovó assim? No aniversário dela?
Eu teria pago feliz para dar à vovó a noite dos sonhos. Mas ser usada como um caixa eletrônico ambulante? De jeito nenhum.
Tudo bem. Vamos ver como isso vai terminar, pensei, voltando para dentro.
Na noite do jantar, fui buscar a vovó, e dirigimos até a melhor steakhouse da cidade. Ela segurava a bolsinha e sorria como se fosse o melhor dia do ano.
Enquanto isso, o resto da família se comportava como se estivéssemos numa festa de celebridade. Katie tirava fotos sem parar “pelo feed”, posando com cada drink e aperitivo.
Mark provava cada uísque caro do cardápio, se autoproclamando “conhecedor” para o nosso garçom Miguel, que merecia uma medalha pela paciência.
Tia Linda recomendava alto e em bom som os pratos mais caros. E, no meio de tudo isso, a vovó sorria.
“Está tudo tão lindo,” ela sussurrou pra mim. “Nunca imaginei tanto carinho.”
“Fico feliz que esteja gostando, vovó.” Sorri e apertei sua mão rapidamente. Esperava que a alegria dela compensasse um pouco a decepção que sabia que viria.
Enquanto isso, observei a família pedindo garrafas de vinho (não taças), os cortes de carne mais caros e todos os acompanhamentos disponíveis.
Vi a conta subir a cada pedido, calculando mentalmente o golpe. Pedi com moderação — um filé simples e uma taça de vinho da casa. A vovó fez o mesmo.
“Tem certeza que é só isso?”, pressionou o Tio Joe. “É uma ocasião especial! Aproveita!”
Sorri com educação. “Isso é perfeito pra mim.”
Então a conta chegou.
A vovó tinha acabado de ir ao banheiro, e como num roteiro ensaiado, começou a encenação.
“Nossa senhora,” disse Tia Linda, olhando para a conta como se estivesse escrita em grego. “Eu ajudaria, mas sabe como é… ainda estamos pagando aquele time-share de dois verões atrás.”
Katie balançou a cabeça, subitamente fascinada pela própria manicure. “Gastei toda minha poupança em ingressos de show. É importante pra minha saúde mental.”
Mark suspirou dramaticamente, digno de novela. “Meu cachorro tá com problema de estômago e as contas do veterinário tão absurdas. Tô quase falido.”
Tio Joe se espreguiçou e sorriu, com o relógio dourado brilhando.
“A gente achou que você ia pagar essa, Jade. Você já tá quase quitando sua casa, né? Tem o melhor emprego da família. Você sabe dar um jeito. A gente te apoia… emocionalmente.”
E aí, Tia Linda ainda teve a cara de pau de apelar pro emocional.
“E convenhamos… é pela vovó. É o grande dia dela. Vai saber quantos mais teremos, né?”
Olhei ao redor da mesa. Toda aquela confiança. Toda aquela certeza. A conta deu mais de 800 dólares, e a parte deles era fácil uns 650.
Meu sangue ferveu, mas a vovó voltou do banheiro bem nessa hora. Não ia estragar o jantar dela discutindo conta na frente dela.
Disse: “Vou resolver uma coisa rapidinho e já voltamos a esse papo.”
E fui direto até o gerente.
Saí uns 15 minutos depois e voltei à mesa.
A vovó estava sentada sozinha, segurando a bolsinha e olhando ao redor com olhos assustados. O resto da família? Sumiu.
Eu sabia que eles iam tentar fugir da conta, mas abandonar a vovó no aniversário dela? Isso foi cruel.
“Vovó, tá tudo bem?” perguntei, sentando de novo.
“Você voltou!” disse ela, aliviada. “Todo mundo se levantou e foi embora. Disseram que iam pegar o carro, mas já faz uns dez minutos…”
Ela se inclinou e sussurrou: “Tá tudo pago, Jade? Eu posso ajudar, querida… Não tenho muito comigo, mas andei guardando um dinheirinho…”
Passei o braço pelos ombros dela, sentindo a raiva crescer de novo por terem deixado ela preocupada bem no dia dela.
“Não se preocupe, vovó. Tá tudo sob controle.”
Terminamos com calma, enquanto os funcionários cuidavam do resto. Miguel trouxe uma sobremesa cortesia — um lindo bolo de chocolate com uma velinha. Todos os garçons cantaram para ela.
A vovó ainda parecia um pouco preocupada, mas prometi que tudo estava resolvido.
“E os outros?” ela perguntou, enquanto eu a levava pra casa, sob um céu estrelado.
“Acho que tinham outro compromisso,” respondi, em tom leve. “Uma pena, mas confesso que adorei ter você só pra mim na melhor parte da noite, vovó. Você gostou do jantar de aniversário, né?”
Ela assentiu, mas vi que estava magoada. E isso só me deixou ainda mais brava.
Quando os telefonemas raivosos começaram na manhã seguinte, eu já estava pronta para saborear a indignação deles.
O primeiro foi da Tia Linda. Ela gritava que o restaurante estava “incomodando” por causa da conta.
“Já ligaram três vezes! Isso é culpa sua, né?”
Katie me mandou um áudio de três minutos dizendo que eu “estraguei o clima” do aniversário da vovó. “A gente só foi pegar o carro! A gente ia voltar! Você é muito dramática!”
Mark mandou mensagem me chamando de traidora por “dedurar a família”. As mensagens seguintes foram ficando cada vez mais desesperadas.
Tio Joe queria saber se era algum tipo de piada, porque agora o restaurante estava ameaçando com medidas legais. “Resolve isso! Já!”
Ah, é. Esqueci de mencionar…
Acontece que o gerente daquele restaurante era meu amigo de faculdade, o Eric.
Enquanto eles faziam a saída dramática pela porta da cozinha (tudo gravado pelas câmeras), eu garanti que o Eric tivesse todas as informações deles. Nome completo, número de telefone, endereço.
Ele só me cobrou pela minha parte e pela da vovó. O resto? Ah, ele vai cobrar diretamente deles — com juros, se continuarem enrolando.
A vovó me ligou depois pra agradecer novamente pela noite.
“Só queria que seus primos não tivessem sumido daquele jeito,” ela disse. “O jantar foi tão bom até… bom…”
Apenas sorri, imaginando a cara da Katie ao receber a cobrança oficial.
“Não se preocupe com isso, vovó. Eles não vão tentar nada assim de novo.”
E no ano que vem? Eu e a vovó vamos comemorar o aniversário dela em algum lugar bem bonito e tranquilo. Só nós duas.
E vou deixar o celular no silencioso.