**Eu esperei por meses para conhecer o noivo da minha filha, imaginando uma apresentação perfeita. Mas, quando abri a porta e o vi, toda a empolgação desapareceu. Isso não era o que eu esperava. Naquele momento, eu soube: esse casamento não podia acontecer. Eu precisava impedi-lo — custasse o que custasse.**
Eu estava correndo pela cozinha o dia inteiro feito uma louca, porque hoje era um dia importante — Kira finalmente traria o noivo e os pais dele para jantar.
Sonhei com esse momento por meses, imaginando como sentaríamos juntos, rindo de histórias, criando laços como futuros sogros.
Mas por alguma razão, Kira vinha evitando isso, sempre inventando desculpas. “Eles estão ocupados, mãe.” “Outra hora, eu prometo.” Não fazia sentido. O que poderia ser tão difícil em nos apresentar?
Mas agora, ela não tinha mais escolha. Marcus havia pedido sua mão. Estava oficializado. E isso significava que eu o conheceria — e conheceria a família dele — gostasse ela ou não.
Bradley estava sentado à mesa, folheando o jornal, me observando com divertimento.
“Jessica, senta um pouco,” ele repetia.
Eu o dispensava com a mão. “Não tenho tempo pra sentar! O assado está no forno, a mesa ainda não está posta e as flores — onde estão as flores?”
Justo quando comecei a colocar a comida na mesa, a campainha tocou. Meu coração disparou. Era agora.
“Meu Deus, eles chegaram!” gritei, arrancando o avental e jogando-o no balcão.
Bradley mal levantou os olhos da cadeira. “Eu atendo,” disse, tranquilo como sempre.
“Não!” Corri até ele. “Temos que recebê-los juntos!”
Bradley suspirou, mas levantou-se. Agarrei o braço dele e arrumei meu vestido, forçando o sorriso mais brilhante que consegui.
“Posso abrir agora?” ele perguntou.
Assenti.
Bradley abriu a porta. Lá estava Kira, radiante de empolgação, com Marcus ao seu lado, e atrás deles, os pais dele. Meu sorriso congelou. Minha respiração travou. Meu coração afundou.
Eles eram negros.
Pisquei, tentando processar o que via. Minha mente girava. Isso não era o que eu tinha imaginado. Lancei um olhar para Bradley. Seu rosto endureceu.
“Mãe?” A voz de Kira me trouxe de volta à realidade. “Você vai convidar nossos convidados pra entrar?”
“Sim, claro,” respondi rapidamente, com a voz tensa. Afastei-me e os deixei entrar.
Conduzi todos até a mesa de jantar, mas minhas mãos tremiam. Meus pensamentos disparavam. Eu precisava de um momento.
“Com licença,” disse. “Preciso trazer mais alguns pratos. Kira, vem me ajudar.” Virei-me para Bradley. “Você também.”
Kira hesitou, mas me seguiu. Bradley veio atrás.
Assim que a porta da cozinha se fechou, virei-me para Kira.
“Tem alguma coisa que você esqueceu de nos contar?”
Ela franziu a testa. “O que você quer dizer?”
“Seu noivo é negro!” As palavras escaparam antes que eu pudesse contê-las.
“Sim, mãe. Eu sei.” A voz dela era calma, mas os olhos estavam duros.
“Por que você não nos contou?” exigi.
“Porque eu sabia como vocês reagiriam,” ela disse, cruzando os braços. “Apenas deem uma chance ao Marcus. Ele é um bom homem, e a família dele é maravilhosa.”
A voz de Bradley cortou o ar. “Minha filha não vai se casar com um homem negro.”
“Essa não é uma decisão sua!” Kira rebateu. A voz dela tremia, mas ela se manteve firme. “Vocês podem agir normalmente por uma noite?”
Sem dizer mais nada, ela saiu da cozinha.
Bradley e eu levamos os pratos à mesa em silêncio. Quase ninguém falou durante o jantar, embora Kira e Marcus fizessem o possível para manter a conversa. O ar estava pesado. Cada mordida parecia sem gosto.
Após o jantar, Kira trouxe álbuns de fotos da infância. Ria enquanto mostrava fotos antigas para Marcus. Eu os observava do outro lado da sala, com o estômago apertado.
Ao meu lado, a mãe de Marcus, Betty, inclinou-se. “O que você acha deles como casal?”
Hesitei. “Não me entenda mal, eu não sou racista,” disse, baixando a voz. “Só acho que Kira ficaria melhor com alguém… mais parecido com ela.”
Betty assentiu. “Concordo completamente. Também acho que eles não combinam. Marcus estaria melhor com alguém que entendesse nossa… cultura.”
Soltei o ar, aliviada. “Você leu meus pensamentos.”
Betty se endireitou. “Não podemos deixar esse casamento acontecer.”
“Não, não podemos,” concordei.
Daquele dia em diante, Betty e eu formamos uma aliança silenciosa.
Queríamos o melhor para nossos filhos — ou, pelo menos, o que achávamos que era melhor.
Discutíamos tudo. Betty criticou o vestido de Kira, dizendo que não combinava com as tradições deles.
Eu discutia com Marcus sobre o cardápio, insistindo que Kira não ficaria feliz com as preferências da família dele.
Quando chegou a hora da igreja, Betty e eu quase brigamos. Ela queria a cerimônia na igreja da família dela; eu queria na nossa. Discordamos sobre a música, a lista de convidados, até o arranjo dos assentos.
Mas nada funcionava. Quanto mais pressionávamos, mais Kira e Marcus se uniam. Em vez de verem as diferenças, se apegavam ainda mais um ao outro.
Então, tivemos que ser mais espertas.
Organizei um almoço “inofensivo” para Kira com o filho de uma colega — um jovem educado, com uma carreira estável e bons valores familiares.
Enquanto isso, Betty arranjou um encontro entre Marcus e uma mulher da igreja deles, alguém que ela achava ser uma “melhor escolha.”
Claro, nunca chamamos isso de encontro. Isso levantaria suspeitas. Só precisávamos que eles aparecessem.
Naquela noite, nos reunimos na casa de Betty e Rod. Bradley e eu chegamos cedo, e enquanto Betty e eu cochichávamos sobre nosso plano, notei algo estranho — Bradley e Rod estavam na frente da TV, rindo e tomando cerveja.
Quando consegui ficar sozinha com Bradley, sibilei: “O que está acontecendo?”
Ele deu de ombros. “O quê? Torcemos para o mesmo time. Rod é um cara legal.”
Estreitei os olhos. “Você devia estar do meu lado!”
“Estou,” ele disse, dando outro gole.
Ouvi a porta da frente se abrir com força e depois bater. Passos pesados ecoaram pela casa.
Meu coração disparou. Corri para a sala, onde Betty já estava de pé, braços cruzados, o rosto tenso.
Kira e Marcus estavam na nossa frente, os olhos cheios de fúria.
“Vocês ficaram malucos?!” Marcus gritou, a voz trêmula.
Kira se voltou para mim, o rosto vermelho. “Nosso casamento é daqui a uma semana e você me arma um encontro?”
Abri a boca, mas Betty falou primeiro. “Só queríamos o melhor para vocês.”
Kira soltou uma risada amarga. “O melhor pra mim? Vocês acham que mentir, enganar e me humilhar é o melhor?”
Respirei fundo. “Vocês dois poderiam encontrar alguém mais… adequado,” disse, tentando manter a calma.
O corpo de Kira se enrijeceu. “Eu não me importo com a cor da pele dele! Eu amo o Marcus. Quero estar com ele.”
Marcus deu um passo à frente. “E eu amo a Kira. Não quero estar com mais ninguém.”
Olhei para Betty. Ela me olhou de volta. Ficamos ali, em silêncio.
“Só estávamos tentando fazer o que achávamos certo,” disse finalmente.
“Exatamente,” Betty concordou.
Kira balançou a cabeça, uma risada vazia escapando. “Vocês ficam dizendo o quanto somos diferentes, que não deveríamos ficar juntos. Mas olhem pra vocês duas! São exatamente iguais. Teimosas, manipuladoras, sempre tramando.” Ela se voltou para mim, a voz afiada. “Mãe, você passa mais tempo com a Betty do que com suas próprias amigas.”
Abri a boca para responder. “Você não entende—”
Kira me interrompeu. “Não, quem não entende é você! Eu vou me casar com o Marcus. Quer você aceite ou não. Aceite isso.” Ela olhou para o sofá onde papai estava com Rod, assistindo ao jogo, rindo como se nada estivesse errado. “Até o papai está ali, tomando cerveja com o Rod. Se ele pode aceitar, por que você não pode?”
Engoli em seco.
“Se você não consegue aceitar, não vá ao casamento,” disse Kira.
“E o mesmo vale pra você,” Marcus disse a Betty, firme.
Sem mais palavras, eles se viraram e saíram.
O silêncio que ficou era denso. Ninguém falou. Ninguém se mexeu. Um momento depois, Bradley suspirou fundo, desligou a TV e se levantou. “Hora de ir,” murmurou.
Vi o olhar dele. Decepção. Não com Kira. Comigo.
Naquela semana, liguei para Kira. Mandei mensagens. Nenhuma resposta. O silêncio se estendeu.
Na noite do jantar de ensaio, entrei no quarto e encontrei Bradley arrumando a gravata.
“Onde você vai?” perguntei.
“Pro jantar de ensaio,” ele disse, ajeitando o colarinho.
“Você não pode ir!” rebati.
Ele se virou para mim. A voz era calma, mas os olhos, firmes. “Minha única filha vai se casar, e eu não vou perder isso.”
E então, ele saiu pela porta.
Fiquei ali, encarando o espaço vazio que ele deixou. Meu peito apertado.
Por fim, cedi. Me vi do lado de fora do restaurante, olhando pela janela. Kira e Marcus andavam entre os convidados, radiantes, sorrindo, felizes.
Uma voz familiar falou ao meu lado. “Você também não conseguiu ficar em casa, né?”
Virei. Betty estava ali, braços cruzados.
“Tenho tentado alcançá-los pra me desculpar,” admitiu. “Mas estão ocupados demais.”
Suspirei. “Devemos esperar. Não precisamos estragar a noite deles agora.”
Betty soltou o ar com força. “Mas precisamos pedir desculpas. Quero ser permitida a ver meu futuro neto.”
Cruzei os braços. “Neta. Na nossa família, sempre nascem meninas primeiro.”
Betty zombou. “Na nossa, sempre meninos.”
Pela primeira vez em semanas, ri. Já estávamos discutindo sobre netos que nem existiam ainda.
Olhei para ela. Ela olhou para mim.
“Ah, vamos ter um relacionamento difícil, sogra,” disse, balançando a cabeça.
“Nem me fale,” murmurou Betty.
Depois, suspirou, olhando para Kira e Marcus. “Mas contanto que eles sejam felizes, é isso que importa.”
Assenti, com os olhos fixos na minha filha. Ela parecia mais feliz do que nunca.