— Então a minha opinião não importa nem um pouco? — Nika colocou a pá de lixo de volta na prateleira e encarou o marido, com a voz tensa de emoção.
— Eu também estou exausta, Lev. Não sou invisível.
— Não se esqueça do seu lugar — você é esposa, não visitante! — Lev respondeu, com o rosto corado de irritação. — Você tem deveres para com esta casa!
Os dedos de Nika bateram suavemente contra a bancada enquanto a chaleira começava a chiar, soltando ondas de vapor no ar. O silêncio da manhã de domingo a envolveu como um cobertor, incomumente calmo, como se o mundo tivesse pausado só para ela. A luz penetrava pelas cortinas finas, projetando padrões suaves pela cozinha e iluminando as pequenas partículas flutuando no ar. E Nika apenas ficou ali, absorvendo o silêncio que raramente conseguia ouvir.
Há cinco anos, quando ela e Lev se mudaram para este apartamento, as paredes estavam nuas e a decoração estava, francamente, à beira do minimalismo. Agora, cada canto exalava calor e aconchego. Ela se lembrava de quanto tempo levou para escolher o papel de parede da sala, de como ela e Lev discutiam interminavelmente sobre a cor das cortinas e de como ela se alegrava quando finalmente encontrou aquele sofá perfeito.
— Bom dia, — Lev disse sonolento ao entrar na cozinha. — O que tem para o café da manhã?
— Omelete com cogumelos e tomates, — Nika sorriu enquanto retirava os ingredientes da geladeira. — E um café fresco.
Lev se aproximou por trás dela e a abraçou pelos ombros.
— Você realmente é a dona da casa, não é? — comentou com um tom que imediatamente colocou Nika na defensiva. Havia algo na voz dele que geralmente prenunciava algo… bem, não muito bom.
— O que aconteceu? — Nika se virou, apertando os olhos.
— Nada em particular, — Lev desviou o olhar. — Só que a mamãe e a Kristina estão planejando vir aqui. Bem, para o almoço.
Nika soltou um suspiro. «Só por um tempo» no entendimento dos parentes de Lev muitas vezes se estendia por algumas horas ou mais. Ela apertou as mãos, tentando não trair sua ansiedade.
— A que horas elas vão chegar? — perguntou, com a tensão evidente na voz.
— Por volta da uma às duas. E… — Lev fez uma pausa. — A Kristina vai trazer as crianças.
Nika contou mentalmente até dez. As crianças de Kristina — os gêmeos de seis anos — não eram apenas travessas, eram verdadeiros furacões. Depois das visitas deles, o apartamento parecia um campo de batalha.
— Certo, — Nika disse enquanto pegava uma frigideira e ligava o fogão, tentando não deixar a irritação transparecer. — Então talvez eu precise correr para o mercado. Não vai ter comida suficiente.
— Querida, você sabe o quanto a mamãe adora seus pratos, — Lev tentou se aproximar e a abraçar, mas Nika, fingindo não perceber, se esquivou. Por que ela precisaria disso agora?
Na verdade, Varvara Dmitrievna nunca perdia uma oportunidade de criticar a comida dela. Às vezes a sopa estava salgada demais, às vezes a carne estava crua, às vezes a salada estava sem graça.
Às duas horas, o apartamento brilhava de limpeza, e na cozinha, o forno estava assando lentamente uma batata com carne, que já exalava um cheiro delicioso. Na geladeira, aquele bolo que Varvara Dmitrievna adorava estava esperando o seu momento.
A campainha tocou exatamente às 14:15. Nika ajeitou o avental e foi atender.
— Niku-sha! — Varvara Dmitrievna entrou no corredor como um furacão, seu casaco esvoaçando. — Como você está, querida?
Logo depois, Kristina entrou com as crianças. Os gêmeos, assim que pisaram no apartamento, correram para a sala sem tirar os sapatos.
— Crianças, sapatos! — Nika gritou, mas Varvara Dmitrievna acenou com a mão, desdenhosa, e respondeu:
— Deixe-os, deixe-os correr. Você sabe o quanto é difícil para eles ficarem parados.
Nika apertou os lábios, observando o carpete claro sendo manchado por pegadas sujas. Ela sempre se perguntava por que ninguém conseguia fazer com que tirassem os sapatos na porta, mas nunca dizia isso em voz alta — ninguém nunca ouvia de qualquer maneira.
— O que tem para o almoço? — Kristina perguntou enquanto entrava na cozinha. — Ah, torta? Mãe, lembra da semana passada, quando eu fiz uma com cogumelos? Foi uma verdadeira obra-prima!
— Claro que lembro, querida, — Varvara Dmitrievna se sentou à mesa, sorrindo. — Niku-sha, você deveria aprender com a Kristina. Ela tem um talento para cozinhar.
Nika permaneceu em silêncio enquanto arrumava os talheres. De repente, um barulho alto se ouviu da sala, como se algo tivesse caído no chão.
— Lev, veja o que seus sobrinhos fizeram, — Nika disse calmamente.
— Ah, deixa disso, — Lev a dispensou com um gesto, sem nem se virar. — Deixe-os brincar; são só crianças.
— Exatamente, — Varvara Dmitrievna apoiou seu filho. — Caso contrário, Nika, você é tão certinha. Tudo tem que ser perfeito.
— Eu só amo a ordem, — Nika respondeu suavemente.
— Uma casa tem que ser cheia de vida! — Varvara Dmitrievna declarou em voz alta. — Você, Niku-sha, está sempre obcecada com a limpeza. Imagina se tivesse filhos — você ficaria correndo atrás deles com um pano.
Nika sentiu suas bochechas queimarem. O assunto sobre filhos era doloroso — depois de duas tentativas frustradas, os médicos haviam aconselhado a esperar um pouco antes de tentar novamente. Mas ela permaneceu em silêncio, segurando todas as palavras que estavam prestes a sair.
O almoço seguiu da mesma forma. Varvara Dmitrievna distribuía conselhos, Kristina se gabava de suas conquistas culinárias, e os gêmeos corriam pelo apartamento, deixando um rastro de destruição. Lev sentava quieto, aproveitando o momento, alheio à crescente tensão de Nika.
— Você sabe, Niku-sha, — Varvara Dmitrievna disse, enquanto terminava uma segunda fatia de bolo, — Kristina e eu estávamos pensando… Talvez a gente se reúna na sua casa todo domingo? Sua cozinha é tão espaçosa, e você cozinha… bem, com alma.
Nika congelou, parada com uma xícara na mão, e a olhou.
— Todo domingo? — ela repetiu, tentando se acalmar.
— Claro! — Kristina entrou na conversa, animada. — Vai ser maravilhoso! Eu posso trazer meus pratos especiais, mamãe pode compartilhar receitas. E as crianças adoram brincar aqui!
Em algum lugar na sala, outro barulho. Pelo som, parecia ser uma estatueta que Nika trouxe de uma viagem à Itália.
— Lev, o que você acha? — Varvara Dmitrievna se virou para o filho.
— Ótima ideia! — Lev sorriu, ignorando o traço de desgosto no rosto de Nika. — Certo, querida?
Com um esforço visível, Nika colocou a xícara sobre a mesa, sentindo como o pensamento de que sua opinião não significava nada a invadia.
— Eu não acho que… — Nika começou, mas Varvara Dmitrievna já estava fazendo planos:
— No próximo domingo, eu vou trazer minha torta especial. Niku-sha, você não se importaria de preparar algo com carne? E mais saladas — você sabe o quanto as crianças adoram sua salada Olivier.
Nika se levantou da mesa, o coração apertado pela indignação. Todas as suas semanas eram passadas trabalhando e lidando com os afazeres da casa, e agora até os domingos se transformavam em intermináveis horas de cozinha e limpeza.
— Com licença, mas no próximo domingo eu quero descansar, — Nika disse baixinho, mas com firmeza.
Varvara Dmitrievna congelou, com o garfo na mão:
— O que você quer dizer com “descansar”? E o almoço de família?
— Eu estou cansada, — Nika tentou falar com calma, mas sua voz já carregava cansaço. — Eu preciso de um dia de folga.
— Cansada de quê? — Kristina zombou. — Cansada de andar pela casa?
Lev franziu a testa, sentado à mesa. Um silêncio pesado caiu sobre a sala, quebrado apenas pelo som de um papel sendo mexido, enquanto Varvara Dmitrievna pegava um guardanapo.
— Querida, vamos discutir isso depois, — ele disse, tentando retomar o controle da situação.
— Não há nada para discutir aqui, — Varvara Dmitrievna resmungou, colocando o guardanapo sobre o colo. — A família precisa se reunir. E você, Niku-sha, é só mimada. Nos meus tempos…
— Mãe, por favor, — Lev interrompeu, percebendo a tensão
. — Nika precisa descansar.
Nika finalmente se sentou, sentindo como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros. Ela olhou para Lev, seu marido, mas algo dentro dela dizia que talvez, apenas talvez, as coisas nunca mudassem.
A discussão entre ela e a família de Lev estava longe de acabar. Mas, de alguma forma, Nika sabia que ela precisaria encontrar sua própria força para finalmente colocar os limites necessários.
A paz nunca seria fácil de conquistar, mas Nika estava determinada a encontrar o caminho para ela.