**— Desculpe por chegar tão tarde, mas não temos para onde ir. — Este agora também é o seu lar,** disse a melhor amiga da esposa, corando, segurando seu filho nos braços e entrando com confiança. O marido abaixou os olhos com vergonha.
Svetlana segurava seu filhinho enquanto arrastava uma mala grande para dentro do corredor.
**— Claro, entrem,** disse Nastya, abrindo mais a porta da frente. Sergey ficou em silêncio, com a cabeça baixa.
**— Dá pra acreditar? A senhoria nos expulsou sem aviso, no meio da noite?!**
A melhor amiga, com lágrimas nos olhos, contou suas desventuras.
**— Sempre pagamos em dia, não sei o que deu nela.**
**— Mas qual foi o motivo?** perguntou Nastya. **— Ninguém pode simplesmente expulsar os outros assim!**
**— Ela disse que parentes viriam e que precisava do apartamento com urgência. O que eu podia fazer? Não tínhamos nada por escrito.**
**— Bem, não se preocupe, podem ficar aqui até encontrarem outro lugar. Vamos dar um jeito.**
Svetlana era a melhor amiga — Nastya era amiga dela desde a infância. Foi madrinha de casamento e também madrinha da filha deles. Quando Svetlana teve um bebê, Nastya se surpreendeu, pois não havia visto nenhum homem ao lado dela, mas nunca questionou a amiga.
Svetlana morava de aluguel. Quem a sustentava durante a licença-maternidade, Nastya não sabia, mas suspeitava que fosse o pai do bebê. Svetlana nunca compartilhava esse tipo de informação.
O apartamento de dois quartos onde Nastya morava com o marido e a filhinha era herança da avó. Era apertado para duas famílias, claro, mas não havia outra opção — amigos devem ajudar uns aos outros.
Uma semana depois, ao chegar mais cedo do trabalho, Nastya congelou na porta. Vozerio vinha do apartamento; o marido e a melhor amiga estavam discutindo. A mulher abriu a porta silenciosamente. Não que pretendesse escutar escondido, mas os dois gritavam tanto que não notariam sua presença de qualquer forma.
**— Por que você fez tudo isso?!** gritou Sergey. **— Eu não te dava dinheiro suficiente?**
**— Devia ter dado mais! Senão, a Nastya teria descoberto tudo há três anos!** retrucou Svetlana.
**— Me explica o que você quer? Por que saiu do apartamento? Eu encontrei aquele lugar com tanta dificuldade e por um bom preço! E agora? Começar a procurar tudo de novo?!**
**— Você não entende? Estou cansada de ser ninguém! Meu filho merece um pai e uma vida normal!**
**— Eu tenho uma família, e você sabia disso desde o começo. Você aceitou as minhas condições quando decidiu ter essa criança. O que mudou?**
**— Já disse: meu filho precisa de um pai!**
**— Mas eu sou casado, tenho uma filha, não posso me dividir!**
**— Eu não me importo. Estou cansada de me esconder. Agora aqui é nosso lar, e vamos viver aqui.**
**— E como pretende explicar tudo isso pra Nastya?**
**— Esse é o seu problema, você que se vire!**
Nastya levou a mão à boca para conter um grito. Estava claro: o marido e a melhor amiga a haviam traído. E isso acontecia há tempos. A prova viva era o pequeno Antoshka, filho da amiga.
Sem saber ainda o que faria, Nastya voltou silenciosamente para o corredor e bateu a porta com força, fingindo que acabava de chegar.
**— Sergey, cheguei!** a esposa tentou esconder a agitação e falou com uma alegria forçada.
**— Antosha ainda está na creche? Vamos buscar as crianças e ir ao parque, o dia está lindo!**
Ela precisava se acalmar, se ocupar com as tarefas domésticas, colocar os pensamentos em ordem.
Durante o passeio, o marido e a amiga não deram pistas, agindo com uma polidez exagerada. Mas Nastya percebeu os olhares furiosos que trocavam disfarçadamente.
A mulher não sabia como agir naquela situação. À noite chorava no travesseiro, de dia fingia que nada acontecia. Uma semana depois, decidiu que precisava desabafar com alguém, alguém que a escutasse e ajudasse.
Karina, colega de trabalho e amiga, percebeu que algo estava errado com Nastya e propôs conversarem com um café.
**— É realmente uma situação horrível,** disse Karina, após ouvir todo o relato.
**— Eu não aguento mais, Kari! Tenho que conviver com os dois na mesma casa, e nem consigo olhar na cara deles.**
Nastya já não tinha mais lágrimas, apenas olhava para o nada.
**— E por que você não fala com eles?**
**— Não sei como. Eles vão negar tudo, inventar alguma desculpa, e eu não tenho forças pra assistir esse teatro.**
**— Mas o que você quer de verdade? Expulsar ela? Ou ele?**
**— Quero expulsar os dois! Mas não só isso — quero que se arrependam do que fizeram. Que não tenham paz juntos!**
**— Bem, se seu marido não valoriza muito os votos do casamento, é fácil dar um jeito nisso,** sorriu a amiga. **— E o apartamento, é de quem? Se for dele, você expulsa o traidor e ainda fica sem casa.**
**— O apartamento é meu. É isso que dói — eles estão vivendo sob o meu teto, bem debaixo do meu nariz…** disse a mulher, chorando.
**— Calma, amiga. Aqui vai o plano…**
No dia seguinte, Karina estacionou o carro perto do escritório de Sergey. O expediente havia terminado, e os funcionários saíam em grupos, conversando animadamente. Sergey saiu sozinho e foi em direção ao estacionamento. Karina saiu rápido, abriu o capô do carro e fingiu estar olhando o motor com atenção.
O truque era velho, mas eficaz. Para garantir que funcionasse, Karina estava preparada: usava um terno justo, salto alto, maquiagem impecável e um perfume sedutor.
**— Moça, precisa de ajuda?**
A armadilha havia se fechado.
**— Por que está tão pálida?** perguntou Svetlana à amiga. **— Está passando mal? Comeu algo ruim? Está com uma cara péssima.**
As duas estavam na cozinha, tomando chá. Sergey ainda não tinha voltado do trabalho, e as crianças estavam na creche. Para o plano funcionar, a aparência abatida de Nastya caía como uma luva — e ela nem precisava fingir.
**— Sabe, Svet… Acho que o Sergey está me traindo,** suspirou Nastya, observando a amiga.
Svetlana se enrijeceu, mas tentou manter a voz estável.
**— O quê? Não pode ser. E por que ele faria isso? Ele tem um harém aqui em casa,** zombou, tentando soar leve.
**— Não sei… mas ele chega tarde, e está cheirando a perfume de mulher. Você não percebeu?**
**— Eu não fico cheirando seu marido, né, querida,** retrucou nervosa.
Mas Nastya notou um brilho de suspeita surgir nos olhos dela.
**— Bem, sim, talvez seja paranoia minha. Mas sinto que algo está errado…**
Uma semana depois, as amigas tomavam café novamente.
**— Como você está, Nast? Parece melhor,** disse Karina.
**— Estou bem, Kari. Me acalmei e agora sei exatamente o que fazer. E você?**
**— Tudo certo. Nosso Dom Juan já está até com flores. Romântico!** disse cobrindo a boca com a mão para conter o riso.
As duas caíram na gargalhada.
**— E você? Já começou o “tratamento” com o alvo?** brincou Karina.
**— O tratamento segue firme. O alvo está em crise existencial, sem apetite, dormindo mal,** relatou Nastya, fazendo continência como se fosse uma missão militar.
Agora, com a decisão tomada, Nastya se sentia mais leve. Não chorava mais por sua sorte, estava se vingando com frieza. Mas o ato final ainda estava por vir.
**— Então, vamos finalizar?** disse Karina. **— Quando?**
**— Sexta-feira. Não muito tarde, enquanto as crianças estiverem na creche.**
**— Tem certeza? Não quer apenas expulsar a folgada e perdoar o marido?**
**— Não, Karina. Não posso perdoar nenhum dos dois. Prefiro que minha filha cresça sem pai do que com um traidor desses.**
**— Então está decidido…**
**— Svet, vamos tomar um café? Arejar a cabeça? Tem um lugar legal aqui perto, dá tempo antes de buscarmos as crianças. Sergey vai chegar tarde mesmo.**
**— Vamos sim. Faz tempo que não saímos só nós duas. Parece que estamos sempre juntas, mas nunca relaxamos.**
No café, as duas pediram algo e se sentaram numa mesa com boa visão do salão.
**— Como anda a busca por apartamento?** perguntou Nastya.
**— Nem comecei direito… você sabe, só voltei a trabalhar agora,** respondeu Svetlana.
**— O quê, já quer nos expulsar? Cansou da gente?** disse tentando brincar, mas Nastya notou a tensão.
**— Não, fiquem o tempo que precisarem. Só pensei que vocês não precisam ouvir minhas brigas com o Sergey, e elas vão acontecer.**
**— Você descobriu alguma coisa?** perguntou Svetlana, apreensiva.
**— Não descobri nada concreto, mas os sinais estão lá…**
Nesse momento, a porta do café se abriu e entrou um casal. A mulher ria alto, jogando a cabeça pra trás, e segurava um enorme buquê de rosas brancas. O homem a acompanhava, segurando-a pelo braço.
Todos olharam. Alguns sorriram, outros apenas observaram. Nastya olhou para Svetlana, que primeiro franziu a testa e depois ficou pálida de raiva.
**— Mas que…** começou ela, sem conseguir terminar.
A mulher com o buquê — Karina — caminhou até a mesa com confiança.
**— Oi, Nastya! Quanto tempo!** disse, dando um beijo amigável na bochecha.
**— Que coincidência!**
**— Oi,** respondeu Nastya como se nada estivesse errado.
**— É seu namorado?** perguntou, indicando Sergey.
Ele parecia petrificado.
**— Sim, esse é o Sergey, meu namorado,** respondeu Karina com um sorriso, apresentando-o à própria esposa e à amante secreta.
**— E com quem você está?**
**— Essa é Svetlana, minha melhor amiga,** respondeu Nastya calmamente.
**— E ela tem certeza de que o Sergey é namorado dela,** completou com leveza.
Svetlana engasgou de raiva, sem conseguir dizer nada, apenas soltou um chiado ininteligível.