MEU PAI DEIXOU MINHA MÃE POR SUA «ALMA GÊMEA» —MAS ELE NUNCA NOS DISSE QUEM ERA

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Quando meu pai nos chamou para conversar e disse que estava deixando minha mãe, achei que tinha ouvido errado. Meus pais estavam casados há 26 anos. Eles não eram perfeitos, mas também não pareciam do tipo que se divorcia. Pelo menos, era o que eu pensava.

“Conheci alguém”, ele disse, esfregando as mãos como se estivesse tentando aquecê-las. “Não planejei que isso acontecesse, mas… não posso ignorar. Essa pessoa é minha alma gêmea.”

Olhei para minha mãe, esperando que ela explodisse. Mas ela apenas ficou sentada, em silêncio. As mãos repousando no colo, os olhos fixos na mesa.

“Quem é?” perguntei, com a voz trêmula.

Ele hesitou. “E-eu acho que isso não importa.”

“É claro que importa!” rebati. “Você está destruindo a nossa família por alguém, mas a gente não pode nem saber quem é?”

Ele não respondeu.

Nas semanas seguintes, ele se mudou, alugou um apartamento do outro lado da cidade e se recusou a dizer uma palavra sobre a tal pessoa misteriosa. Nada de fotos. Nada de apresentações. Nada. Minha mãe nunca perguntou, ou se perguntou, nunca me contou.

No começo, presumi que fosse um caso. Alguma mulher do trabalho, ou talvez alguém do passado. Mas quanto mais o tempo passava, mais estranho tudo parecia. Ele não se casou de novo. Não levou ninguém aos eventos de família. Era como se tivesse desaparecido em seu próprio mundo.

Até que, uma noite, encontrei com ele numa cafeteria. Quase não o reconheci — ele parecia… mais leve. Mais feliz. E não estava sozinho.

Ele estava com alguém. A conversa entre eles era baixa, íntima. Mas não era como um homem sentado com uma amante. Era outra coisa. Algo que eu nem tinha considerado.

E naquele momento, finalmente entendi por que ele nunca nos contou por quem havia nos deixado.

A pessoa sentada do outro lado da mesa não era uma mulher. Nem mesmo um parceiro romântico. Era o melhor amigo de infância dele, Robert.

Robert sempre esteve por perto quando eu era criança. Lembro dele nas churrascadas, assistindo futebol com meu pai, fazendo piadas que faziam minha mãe revirar os olhos, mas nunca de verdade irritada. Ele era parte da periferia da família — sempre presente, mas nunca em foco.

Até agora.

Meu pai olhou para cima e me viu. Seu rosto congelou por um segundo antes de relaxar e sorrir. Um sorriso de verdade. Não aquele sorriso tenso e arrependido com o qual eu me acostumei no último ano.

“Oi, filho(a),” ele disse, como se a gente tivesse se esbarrado no supermercado.

Não me sentei, mas também não fui embora. Apenas fiquei ali, parado(a), olhando para eles. Meu pai e Robert. Robert e meu pai.

Eu não estava com raiva. Nem triste. Eu estava só… confuso(a). E pela primeira vez desde que ele foi embora, eu queria uma resposta honesta.

“Então… você deixou a mamãe por causa do Robert?” perguntei.

Robert se mexeu, desconfortável, mas meu pai apenas suspirou. “Não. Eu fui embora porque não estava feliz. Porque passei anos sendo alguém que achava que precisava ser. E quando finalmente admiti a verdade para mim mesmo, soube que não podia continuar.”

Franzi a testa. “Mas você e o Robert…?”

“Não estamos juntos,” meu pai disse suavemente. “Ele é meu melhor amigo. Sempre foi. Foi a primeira pessoa para quem contei quando percebi que precisava partir. Ele tem me ajudado a descobrir quem eu realmente sou.”

“Então quem é sua alma gêmea?” perguntei, com a frustração voltando à minha voz.

Meu pai sorriu tristemente. “Eu.”

Demorei para entender. Não de verdade. Mas mais tarde, naquela noite, deitado(a), repassando nossa conversa, caiu a ficha.

Ele não tinha deixado minha mãe por outra pessoa. Ele tinha saído para se encontrar.

Durante muito tempo, imaginei alguma traição dramática — uma amante secreta que surgiu do nada e o levou embora. Mas a realidade era muito mais simples, e de certa forma, mais triste. Ele passou a maior parte da vida vivendo pelos outros. Primeiro pelos pais, depois pela minha mãe, depois por mim e pelos meus irmãos. E, em algum momento, ele se perdeu completamente.

Quando finalmente se olhou no espelho e viu um estranho olhando de volta, soube que não podia continuar fingindo. Então ele foi embora.

Não por causa do Robert. Nem por mais ninguém.

Por si mesmo.

Demorei muito para aceitar isso. Era mais fácil sentir raiva, culpá-lo por ter destruído nossa família. Mas conforme fui amadurecendo, comecei a entender. Minha mãe seguiu em frente. Construiu uma vida que a fazia feliz. E meu pai? Encontrou paz. Viajou, arranjou novos hobbies, fez amizades com pessoas que o conheciam como quem ele tinha se tornado — não como quem ele costumava ser.

Anos depois, ele me disse algo que nunca esqueci.

“Eu sei que te magoei,” ele disse. “E sei que talvez você nunca me perdoe completamente por ter ido embora. Mas espero que, se algum dia você se encontrar vivendo uma vida que não parece ser sua, tenha coragem de ir embora. Mesmo que seja difícil. Mesmo que ninguém entenda.”

Essa foi a última conversa de verdade que tivemos antes de ele falecer. E penso nisso o tempo todo.

Às vezes, amar a si mesmo é a coisa mais difícil que você vai fazer. Mas também é a mais importante.

Se essa história tocou você, compartilhe. Você nunca sabe quem pode estar precisando ouvir isso.

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