Tenho 38 anos e ainda vivo com medo da minha própria mãe. Isso me corrói por dentro.
Todos os anos, me olho no espelho e me lembro de quem me tornei — uma mulher que conquistou tanto: um diploma universitário, um cargo sênior em uma empresa de logística em Manchester, um casamento estável, embora sem filhos próprios. Amo e respeito meu marido, Edward, que é meu alicerce, e o filho dele de um casamento anterior, Oliver, que passei a considerar como meu. Por todos os critérios, tenho uma família, conforto e segurança. Mas, lá no fundo, ainda há um medo — um medo que não é aquele terror passageiro da infância, mas algo muito mais profundo, mais visceral. Medo da minha própria mãe.
Aos trinta e oito, gerencio um departamento, resolvo problemas complexos, negocio com parceiros, contrato e demito funcionários. Mas, no instante em que ela aparece, tudo desmorona. Meus joelhos fraquejam, minha garganta se fecha, minhas mãos ficam frias, e na minha mente vejo cenas da infância: ela arrancando minhas cobertas, me arrastando pelos cabelos porque eu não lavei a louça. Arremessando um chinelo em mim quando cheguei tarde da escola. Rindo de mim na frente de mais um pretendente, me comparando a outras garotas. Seus três casamentos foram puro tormento. Meu pai desapareceu sem deixar vestígios, e nem sei se está vivo. Minha mãe só ficou mais dura, mais cruel com o tempo.
Edward vê tudo. Ele não apenas desconfia — ele testemunhou. Viu-me congelar ao som da voz dela no telefone, me ouviu tropeçar nas palavras quando ela apareceu sem avisar. Sugeriu terapia, insistiu que eu preciso me libertar desse peso. Mas eu… eu não consigo. Uma mulher adulta, chefe de departamento, temo parecer fraca. Procurar ajuda significaria admitir que não estou no controle. Passei a vida construindo uma fachada inabalável. Mas basta uma ligação dela, e a mulher de ferro se desfaz em uma criança trêmula.
No início, ela “visitava rapidamente” — apenas alguns dias. Depois, esses dias viraram uma semana. Chegou com malas, remexeu em nossos armários, fuçou papéis, uma vez até abriu meu laptop. Durante o jantar, perguntou casualmente a Edward:
**»Quantas amantes você já teve, sendo casado com uma mulher tão fria e sem graça?»**
Eu não consegui falar. Nenhuma palavra. Encarei meu guardanapo enquanto Edward, furioso, a expulsou de casa.
Mas ela ficou. Mais dois dias. Com uma frase: **“Sou sua mãe. Você é minha filha.”** Só isso. Com essas palavras, apagou todos os limites, toda a culpa, toda a invasão indesejada.
E eu não consigo recusá-la. Essa é a minha tragédia. No momento em que ouço sua voz, minha língua vira pedra. Não consigo dizer **não.** Sempre digo, **»Tá bem, venha…»**, mesmo quando cada parte de mim grita, **»Não! Eu não quero você aqui!»** Minto para mim mesma, para meu marido, para todos. E me odeio por isso.
Há uma semana, ela ligou e anunciou calmamente:
**“Comprei as passagens. Estarei aí do dia 30 de dezembro ao dia 10 de janeiro.”**
Não importava que Edward, Oliver e eu já tivéssemos planejado nossas férias — uma escapada tranquila para York, só nós três. Eu já tinha até planejado o cardápio. Mas minha mãe decidiu, e ponto final. E, claro, eu ainda assim não consegui dizer, **»Não venha.»**
Desta vez, Edward e eu tomamos uma decisão diferente. Vamos embora. Reservar um hotel. Desligar os celulares. Fugir. Deixá-la chegar, beijar a porta, e fazer o que quiser. Isso não é vingança. É sobrevivência. Porque eu não aguento mais um Ano Novo com ela.
Às vezes, me assusta admitir, até para mim mesma — eu não amo minha mãe. Eu a temo. E não entendo por que ela me odeia tanto, por que ainda envenena a minha vida. Tudo o que eu quero é viver — sem lágrimas, sem medo, sem essa constante angústia de dor, humilhação, zombaria.
Não sei se fugir da minha própria casa é a decisão madura. Mas, neste momento, é a única coisa que pode me salvar. Mesmo que só um pouco. Mesmo que só por um tempo. Da mãe que ainda não consigo enfrentar — nem aos trinta e oito anos.