Quatro quartos, uma cozinha iluminada e uma sala de estar do tamanho de uma pista de dança — Sasha conduziu Alena pelo novo apartamento como um guia turístico mostrando um museu de suas próprias conquistas.
“Olha o tamanho disso tudo!” ele varreu o braço pela sala de estar. “Agora dá pra acomodar todos os parentes — e ainda sobra espaço. Mamãe sempre sonhou com um lugar onde toda a família pudesse se reunir.”
Alena escutava e assentia. Uma hipoteca de vinte anos era algo sério, claro, mas pelo menos o lar agora era deles — nada mais de aluguéis, nada mais de morar com os pais. Depois de cinco anos num estúdio cuja cozinha era menor que um guarda-roupa, aquilo parecia um verdadeiro palácio.
Os primeiros meses sumiram entre reformas e decoração. Cheio de entusiasmo, Sasha escolhia papéis de parede, discutia com os pedreiros e desenhava layouts de móveis. Mostrava orgulhosamente cada etapa para os amigos que apareciam — sempre trazendo uma garrafa — para brindar o novo lar.
Silenciosamente, Alena comemorava os novos eletrodomésticos da cozinha: agora dava para preparar o jantar em metade do tempo.
“Imagina as festas que a gente vai dar!” Sasha repetia sem parar. “Toda a minha família adora se reunir! Mamãe ama grandes encontros de família.”
Alena podia imaginar. Sua sogra, Svetlana Pavlovna, já gostava de aparecer de surpresa — para ver como o seu precioso filho estava vivendo. O que aconteceria agora?
Eles comemoraram a mudança de forma modesta — Sasha queria fazer uma grande festa, mas Alena insistiu que se instalassem primeiro.
“Temos tempo,” ela disse. “Vamos desembrulhar cada caixa e colocar tudo em seu lugar.”
Essa conversa aconteceu numa sexta-feira. No domingo de manhã, o telefone tocou.
“Sashenka, pensamos em passar aí para ver como vocês estão instalados,” a voz da mãe dele soou tão inocente que Alena imediatamente entendeu — eles vinham para uma verdadeira visita.
“‘Pensamos’? Quem é ‘pensamos’?” ela perguntou, tensa.
“Mamãe e Natasha. Elas não vão demorar,” Sasha minimizou. “Só um chá.”
“Só um chá” se estendeu pelo dia inteiro. Assim que cruzou a porta, Svetlana Pavlovna começou a dar ordens:
“Alena, põe a água para ferver. O que você tem para o chá? Nada? Bom, eu trouxe algo.”
Ela se acomodou numa poltrona como uma rainha em seu trono e tirou uma caixa de doces da bolsa.
“Eu não como essas coisas de padaria,” ela declarou, “mas comprei para vocês.”
Natasha, irmã de Sasha, imediatamente partiu para um tour pelo apartamento.
“Um… papel de parede interessante,” comentou no quarto. “Uma escolha… incomum.”
Alena deixou passar. Papel de parede era papel de parede — cinza neutro com um padrão discreto.
“E que tipo de azulejo vocês escolheram na cozinha? Eu jamais teria escolhido esses,” Natasha passou o dedo pelo balcão. “Branco? É prático?”
À noite, quando os visitantes finalmente se foram, Alena se sentia espremida como uma esponja. Enquanto recolhia as xícaras e lavava os pratos, disse a Sasha:
“Da próxima vez eles podiam avisar, né? Assim eu arrumava melhor o cabelo.”
Sasha apenas riu. “Ah, amor, é a minha família — sem formalidades.”
A próxima visita não demorou a chegar. Uma semana depois, Kolya — o irmão de Sasha — apareceu à porta com a esposa Irina e os dois filhos.
“Oi-oi! Mamãe disse que vocês estão morando no luxo agora,” Kolya bateu no ombro de Sasha e entrou sem nem limpar os pés.
As crianças se espalharam pelos cômodos, enquanto Irina se acomodava no sofá, olhando ao redor com interesse.
“Só uma horinha,” ela disse. “Só para dar uma olhada.”
Essa “horinha” durou até tarde da noite. As crianças corriam como dois furacões. Uma delas derrubou um vaso de flores, encharcando o tapete novo. Alena correu para limpar, mas Irina apenas acenou com a mão:
“Ah, logo seca. É só água! Criança é assim mesmo.”
Às dez da noite, quando os convidados finalmente se foram, Alena sentiu uma vontade feroz de trancar a porta e nunca mais abrir.
“Noite ótima,” Sasha bocejou depois que a porta fechou. “Temos que repetir.”
“Repetir,” Alena ecoou, encarando a mancha no tapete.
Mas “repetir” aconteceu já na semana seguinte. E na outra. E na outra.
As visitas de domingo lentamente viraram tradição. Às vezes a mãe de Sasha aparecia com Natasha, às vezes Kolya trazia toda a família, e às vezes vinham todos juntos. Toda vez, Alena acabava na cozinha.
“Você não vai deixar a mesa vazia para os convidados, né?” Sasha ficava genuinamente confuso sempre que ela protestava. “Isso é falta de educação. Prepara alguma coisa. Você sabe que provavelmente teremos visitas no domingo — se abastece para todo mundo.”
No décimo domingo, Alena já havia aprendido a levantar uma hora mais cedo para deixar o almoço pronto antes da chegada dos visitantes. No vigésimo, ela parou de fazer planos próprios para o fim de semana. No trigésimo, ela contava os dias até a próxima visita com o mesmo pavor de quem aguarda um desastre inevitável.
Sasha genuinamente aproveitava as reuniões. Ele se iluminava quando a mãe elogiava a comida de Alena ou quando Kolya olhava a sala espaçosa com admiração e inveja.
“Agora parece até um bom restaurante!” ele se gabava. “Sempre uma mesa posta, música agradável, espaço para todo mundo.”
Alena apenas sorria por trás do cansaço. Na faculdade onde lecionava Literatura, todos a achavam paciente e gentil. Os alunos adoravam suas aulas; os colegas valorizavam sua calma. Ninguém via como, todo domingo, ela se transformava numa besta de carga arrastando um carro interminável de obrigações que nunca quisera.
Ao fim do primeiro ano, ela parou de fazer perguntas. Passava metade de cada sexta-feira inventando cardápios, fazia compras no sábado e acordava ao amanhecer no domingo para cozinhar. No segundo ano, já sorria tão convincentemente que ninguém notava o esforço. No terceiro, quase aceitou que sua casa tinha se tornado uma passagem pública — e ela, um anexo silencioso do fogão.
Três anos. Cento e cinquenta e seis domingos. Milhares de horas cozinhando, arrumando mesas, limpando. Alena contava o tempo como prisioneiros contam os dias para a liberdade.
Sua sogra passou a considerar as visitas como um direito adquirido. Já nem perguntava se podia vir — simplesmente aparecia com uma caixa de bombons ou um bolo do mercado. Às vezes no sábado, às vezes no domingo.
“Estava passando por aqui,” ela dizia, indo direto para a cozinha. “Resolvi visitar as crianças.”
Sempre que isso acontecia, Alena fazia um inventário mental da geladeira, tentando adivinhar o que poderia cozinhar rapidamente. Mesmo que a sogra aparecesse de surpresa, havia uma regra não escrita: sempre deveria haver comida na casa. E se Alena não conseguisse preparar algo a tempo, Sasha logo lembrava depois que os convidados iam embora.
“A mamãe adora sua torta,” ele dizia com reprovação. “E você nem se deu ao trabalho de fazer algo decente. Eles não vêm todo dia — só nos fins de semana.”
“Eles vêm todo domingo, Sasha. E muitas vezes sem avisar,” Alena tentava argumentar.
“São minha família,” ele retrucava. “Quero que se sintam em casa aqui.”
E Alena se perguntava, cada vez mais — onde ela deveria se sentir em casa.
Ela conhecia intimamente os gostos daquela família: a mãe detestava comidas apimentadas, Natasha não comia cebola, Kolya só aceitava salada Olivier e as crianças torciam o nariz para qualquer coisa que não se parecesse com fast food.
Durante a semana era mais calmo. Alena dava aulas na faculdade, Sasha trabalhava no escritório, e o filho Denis ia para a escola. À noite jantavam juntos, assistiam a filmes; às vezes Alena ainda conseguia ler. Mas bastava o fim de semana chegar, e a ordem desmoronava — a casa se enchia das vozes, pedidos e demandas dos outros.
Ela tentou conversar com Sasha.
“Será que a gente podia reduzir os encontros?” ela sugeriu. “Talvez uma vez por mês?”
“O quê?” ele ficou genuinamente surpreso. “Por quê? Mamãe adora nos visitar.”
“Mas é toda semana, Sasha. Eu estou exausta.”
“Exausta de quê?” ele a encarou. “Você já cozinha todo dia mesmo.”
“Cozinhar um jantar simples para três não é o mesmo que preparar um banquete para dez!” Alena explodiu. “Sua mãe quer uma coisa, Natasha outra, Kolya outra diferente, e as crianças não comem nada! Não é só cozinhar — é um dia inteiro de tensão, sem conseguir descansar, ler, ou até tomar banho em paz.”
Here is the translation into Portuguese:
Sasha franziu a testa, como se o pensamento nunca tivesse ocorrido a ele.
«A mãe diz que uma mulher de verdade deveria ser capaz de receber visitas», disse ele devagar. «É um sinal de uma boa dona de casa. Você não gostaria que ela pensasse que você é—»
«Pensasse que eu sou o quê?» Alёna interrompeu. «Uma má dona de casa? Uma má esposa? Ou simplesmente uma pessoa com suas próprias necessidades e desejos?»
«Não distorça minhas palavras,» ele se encolheu. «Eu só quero uma família normal, unida. Que a mãe e os outros se sintam bem aqui.»
«E quanto a eu me sentir bem? Isso se encaixa na sua definição de uma família normal?»
Sasha não respondeu. Apenas fez um gesto com a mão e saiu da sala—como tantas outras vezes antes, a conversa se acabou antes de começar.
Ela se conformou. Ou quase. Exteriormente, sim—ela não discutia mais, levantava-se cedo todo domingo e cozinhava para todos. Mas por dentro, a irritação e a incompreensão só aumentavam.
«Você está agindo de maneira tão estranha ultimamente,» Sasha comentou um dia. «Tão quieta e afastada.»
«Eu sempre fui quieta,» ela respondeu.
«Não, você costumava ser… diferente,» ele tentou encontrar as palavras certas. «Mais alegre, talvez.»
Alёna ficou em silêncio. O que você pode dizer quando ninguém realmente ouve de qualquer forma? O que você pode dizer quando a tensão constante e o trabalho sem fim para os outros deixam você sem forças nem para sorrir? Quando o cansaço se acumula como uma bola de neve, pressionando e pressionando…
Naquele fatídico domingo, nada prenunciava qualquer mudança. Um dia comum, convidados comuns, conversa comum à mesa. Sua sogra havia chegado cedo—para «ajudar», o que, em sua língua, significava sentar na cozinha e dar conselhos. Natasha trouxe outra caixa de doces, que foi imediatamente aberta e devorada com chá. Kolya, com sua esposa e filhos, juntou-se ao almoço.
Desde a manhã, Alёna sentia uma irritabilidade vaga. Não raiva, nem fúria—apenas uma exaustão constante, como uma dor de dente que simplesmente não ia embora.
«Alёnchka, por que você está tão carrancuda?» perguntou sua sogra, observando Alёna cortando legumes. «Você não dormiu bem?»
«Está tudo bem,» Alёna respondeu sem olhar para cima.
«E que tipo de salada você vai fazer? Com maionese? Você sabe, eu estou de dieta.»
«Molho separado—eu me lembro.»
«E você vai assar ou fritar o frango?»
«Vou assar.»
«Mmm. Eu prefiro frito.»
Alёna silenciosamente abriu a geladeira e tirou um segundo frango. Então, teria que ser feito de ambos os jeitos. Bem, não seria a primeira vez.
À uma hora, a mesa estava posta. Frango assado, frango frito, batatas, dois tipos de salada, molhos, pães, bebidas. Alёna chamou todos para a mesa.
«Oh, que lindo!» exclamou Natasha ao se sentar. «Você sempre arrasa.»
Alёna forçou um sorriso fraco e ficou perto do fogão—precisava tirar a torta do forno.
«Alёn, onde está o sal?» Sasha a chamou.
«Está na mesa.»
«Não vejo.»
Alёna se aproximou e colocou silenciosamente o saleiro bem na frente dele.
«Alёnchka,» sua sogra interrompeu imediatamente, «tem molho para o frango? Parece um pouco seco, não é?»
«Está ali na molheira,» Alёna fez um aceno na direção.
«E o molho de alho? Você sabe que eu fico com azia por causa do alho.»
Alёna voltou à cozinha e fez outro molho, desta vez sem alho. Mais uma vez hoje, mais uma vez nestes três anos.
Voltando à sala, ela viu que todos já estavam devorando a refeição com entusiasmo, falando alto. O seu lugar à mesa tinha sido ocupado pela bolsa de sua sogra.
«Ah, desculpa,» a mulher fingiu um susto ao perceber o olhar de Alёna. «Eu só coloquei minhas coisas aqui. Vou tirar agora.»
Alёna colocou o molho na mesa e se sentou na beirada de uma cadeira. Não estava com fome. Queria deitar, fechar os olhos e fazer tudo desaparecer. Que o silêncio descesse.
«Por que você não está comendo?» Sasha perguntou com a boca cheia. «Vai esfriar.»
«Depois,» ela balançou a cabeça.
A conversa à mesa continuava como de costume. Discutiam sobre o casamento de alguém, depois os preços em alta, depois o sucesso das crianças na escola. Alёna só conseguia pegar fragmentos de frases, como se através de algodão.
«Alёna, onde está aquela mostarda maravilhosa sua?» Kolya de repente perguntou. «Lembra, da última vez estava tão forte que você lambeu os dedos.»
«Eu já vou trazer,» ela disse enquanto se levantava e ia para a cozinha.
Mas não havia mostarda na geladeira. Aparentemente, acabou; talvez ela tivesse esquecido de comprar. Ou não esquecido, apenas negligenciado—em meio ao ciclo interminável de compras e cozimento, não era surpresa esquecer algo.
«Sem mostarda,» ela disse ao voltar.
«O que quer dizer, sem mostarda?» Kolya gesticulou dramaticamente. «Como posso viver sem mostarda? Ah, você desrespeitou completamente seus convidados!»
Era uma piada. Ela sabia que era uma piada. Mas algo dentro dela estremeceu, esticou-se até o limite como uma corda prestes a se romper.
«Alёn,» Sasha disse, limpando a boca com um guardanapo, «ainda tem compota na geladeira. Traz um pouco, por favor?»
Silenciosamente, ela foi e trouxe a compota. Serviu em copos e voltou para o seu lugar.
«Só um pouquinho para mim,» sua sogra insistiu de maneira caprichosa. «Eu posso ter diabetes por causa do excesso de açúcar.»
Alёna pegou o copo dela e despejou metade de volta no pote.
«Você não está se sentindo um pouco agitada hoje?» Sasha sussurrou para ela enquanto se aproximava. «Pelo menos sorria um pouco—os convidados vão ficar com comida fria.»
Ela forçou um sorriso, que fez seus lábios se contorcerem de dor.
«É isso, querida,» ele paticou sua mão. «Você sabe o quanto eu adoro quando você sorri.»
A refeição estava chegando ao fim. Alёna começou a juntar os pratos vazios.
«Deixa pra lá; você pode lavar depois,» Sasha fez um gesto com a mão. «Traga a torta.»
Ela trouxe a torta, cortou e serviu uma fatia para cada um.
«Alёn, onde está o chantilly?» Kolya imediatamente perguntou. «Você sempre trouxe chantilly com a torta!»
«E me faça um café também,» Sasha acrescentou. «Café combina muito mais com torta do que chá.»
Ela fez o café. Fez o chantilly. Serviu todos e então se sentou novamente em sua cadeira, sentindo os ombros entorpecidos de cansaço.
«Exquisito!» Sasha disse, enquanto mordia a torta com prazer, sujando os lábios com chantilly. Ele alcançou o vaso de frutas e pegou uma laranja grande.
«Descasca pra mim, vai?» ele disse, entregando a laranja a Alёna. «Eu ficaria com as mãos todas sujas e teria que lavar de novo.»
Ela olhou para as mãos dele. Estavam limpas, arrumadas—até com uma manicure feita. Olhou para a laranja—uma fruta redonda e comum. Então olhou para Sasha, depois para sua sogra, e depois para todos os outros à mesa.
Três anos. E esta laranja. Esta laranja tão comum.
«Não,» ela disse.
Sua voz soou inesperadamente alta no silêncio repentino. Ela mesma se surpreendeu com a clareza daquela única palavra.
«O quê?» Sasha perguntou, sem acreditar no que ouvia.
«Eu disse—não,» Alёna repetiu. «Eu não vou descascar sua laranja.»
Um silêncio caiu sobre a mesa tão profundo que se podia ouvir o tique-taque dos relógios em outro cômodo. Sua sogra congelou com um garfo na mão, sem conseguir colocar um pedaço de torta na boca. Natasha riu nervosamente, como se tivesse ouvido uma piada indecente. Kolya encarava sua xícara, tentando com todas as suas forças ignorar a situação constrangedora.
«Você está… brincando?» Sasha tentou sorrir, mas o sorriso saiu torto e forçado.
«Não, eu não estou brincando,» Alёna respondeu. Agora, com essa primeira palavra dita, tudo desabou. «Eu não vou descascar sua laranja. E não vou trazer mais compota. E não vou servir mais ninguém. Chega.»
«Alёna, o que aconteceu com você?» a voz de sua sogra carregava um toque de indignação justa. «Você está bem?»
«Completamente bem,» Alёna assentiu. «Pela primeira vez em muito tempo.»
«Vamos para a cozinha,» Sasha disse, levantando-se abrupt
amente. «Nós precisamos conversar.»
Mas Alёna ficou onde estava. O jantar continuou em um estranho silêncio, enquanto ela permanecia na mesma posição, sentindo as palavras, antes guardadas, se dissiparem.