Meu marido me deixou por sua amante quando acabei em uma cadeira de rodas, mas me recusei a deixá — lo levar nossa filha também-História do dia

Histórias interessantes

Achei que meu marido ficaria ao meu lado, não importa o que acontecesse. Mas na noite em que o encontrei com minha melhor amiga, meu mundo desabou. Fugi para a tempestade, cega pelas lágrimas—sem enxergar a curva fechada à frente.

Sempre me considerei feliz. Tinha um marido amoroso, uma filha que eu adorava e uma melhor amiga em quem confiava completamente. Minha vida parecia um quadro perfeito—jantares aconchegantes, risadas à mesa, beijos antes de dormir.

Mark era meu alicerce. Sempre sabia como me fazer rir, mesmo nos meus piores dias.

—Kate, não estressa. Qual é o pior que pode acontecer? O jantar queimar? A gente pede pizza. Problema resolvido.

Sophie, nossa filha de seis anos, era pura alegria. Ela adorava histórias na hora de dormir, sorvete de caramelo e nossas festas de dança improvisadas.

—Mamãe, me gira! Mais alto! —ela ria, girando nos meus braços.

—Ok, mas se eu cair, é você quem vai ter que me carregar pra cama —brinquei, fazendo-a rir ainda mais.

Mark costumava balançar a cabeça.
—Duas encrenqueiras. Eu não tenho chance nesta casa.

Éramos uma equipe, um trio perfeito. Ou assim eu pensava.

E então havia Sarah. Minha melhor amiga. A pessoa em quem eu confiava para tudo.

Quando ela me disse que não queria comemorar o aniversário, achei que era apenas mau humor. Mas um aniversário sem comemoração? Isso parecia errado.

Então decidi fazer uma surpresa. Comprei seu bolo favorito de chocolate com cereja, sorrindo comigo mesma.

Ela vai revirar os olhos e dizer: «Kate, você é ridícula.»

Estacionei em frente à casa dela, mas algo parecia estranho. A porta estava entreaberta.

—Sarah? —chamei, entrando.

Silêncio. Dei mais alguns passos e parei.

Mark estava no sofá dela. Sua mão descansava na parte inferior das costas dela. Seus dedos entrelaçados. Seu rosto… muito próximo ao dela. Próximo demais. O ar saiu dos meus pulmões.

—Kate… —Mark se levantou, pálido.

Os olhos de Sarah se arregalaram.
—Espera, é que…

As vozes deles se embaralharam, abafadas. Meu coração batia tão forte que parecia ensurdecedor. O bolo caiu das minhas mãos, pousando no chão com um baque surdo.

Eu me virei e corri. Lá fora, a chuva batia forte contra minha pele enquanto eu tentava destravar as chaves. Minhas mãos tremiam tanto que mal conseguiam encaixar na ignição.

—Respira, Kate. Só respira.

O motor rugiu. Meu peito arfava. Minha visão embaçou.

Pisei no acelerador. As luzes dos postes se esticaram em faixas douradas.

Placa de curva fechada. Tarde demais. Pneus derrapando. Um impacto violento, esmagador.

Escuridão.

***

Acordei em uma cama de hospital. Meu corpo parecia estranho, quebrado, insensível. Tentei me mover, mas algo estava errado…

—Kate —veio a voz calma do médico—, você precisa saber…

As palavras dele queimaram como fogo. Paralisia da parte inferior do corpo. Cadeira de rodas. Possibilidade de recuperação, mas sem garantias.

Eu não conseguia entender como aquilo era possível. Como eu não podia mais andar?

O pânico apertou minha garganta. Então eu a vi.

Sophie estava na porta. Seus olhos enormes, cheios de medo e dor. Ela correu até mim, jogou os braços ao meu redor e enterrou o rosto no meu ombro.

—Mamãe…

Eu a abracei com toda a força que consegui.

Mark estava lá. Seu rosto distante, frio, sem um pingo de arrependimento. Olhei para ele e, pela primeira vez, senti medo de verdade.

—Vamos superar isso —sussurrei, porque eu precisava acreditar nisso. Eu precisava.

Ele soltou um longo suspiro.
—Kate…

Pedi para Sophie ir brincar com seu ursinho no corredor. Uma enfermeira gentil se ofereceu para ficar com ela por alguns minutos.

Mark finalmente continuou.
—Eu não aguento mais.

O mundo parou.

—O quê?

—Eu vou embora.

Sem desculpas. Sem remorso. Sem hesitação. Apenas uma simples afirmação.

Agarrei os lençóis com tanta força que meus dedos ficaram brancos.
—Por ela?

Ele não respondeu.

—Vou ficar com a Sophie por enquanto —acrescentou, num tom seco. —Depois decidimos o resto.

E simplesmente virou as costas e foi embora. Fiquei sozinha. As lágrimas escorriam silenciosamente pelo meu rosto.

Eu precisava me reerguer. Pela Sophie.

***

A reabilitação foi um inferno. Foi aí que Alex entrou na minha vida.

Ele era meu fisioterapeuta, vinha todos os dias e me ensinava a me mover. Eu era como uma criança aprendendo a andar pela primeira vez. Ele era gentil e paciente, mas nunca me deixava desistir.

—De novo, Kate. Você consegue.

Mas eu não conseguia.

Estava com raiva. De mim. Do meu marido. De Alex, que continuava insistindo nas minhas pernas enquanto tudo o que eu queria era me afogar na autopiedade.

Uma semana de sessões fracassadas passou. Então Sophie voltou.

Ela não estava apenas feliz—ela brilhava. Corria pelo quarto, pulava na cama, os cabelos voando, a voz cheia de empolgação.

—Mamãe, você não vai acreditar! Fomos ao parque de diversões! —Ela se jogou na minha frente, os olhos brilhando. —Papai me deixou ir na maior montanha-russa, e a Tia Sarah comprou o maior algodão-doce!

As palavras dela me atingiram como um soco. Tia Sarah.

Forcei um sorriso, mesmo com o nó na garganta.

—Que ótimo, meu amor.

—Mamãe, da próxima vez podemos ir juntas? —ela pegou minha mão com entusiasmo.

Eu queria dizer «sim».

Mas eu mal tinha aprendido a entrar e sair da cadeira de rodas sozinha. Realizar tarefas básicas era um desafio exaustivo. A ideia de ir a qualquer lugar naquela cadeira parecia insuportável, impossível.

Eu queria prometer que correria ao lado dela, riria com ela, seguraria sua mão enquanto gritávamos de alegria nos brinquedos. Mas eu não podia. Minhas pernas não se moviam. Minhas pernas não existiam no mundo em que ela vivia.

Sophie esperava. Seus olhos grandes me olhavam cheios de esperança, e isso doía mais do que qualquer palavra.

Desviei o olhar.
—Eu não sei, querida.

A decepção brilhou nos olhos dela. Ela soltou minha mão suavemente, os ombros caindo.

—Ah… quem sabe outro dia —sussurrou.

Naquela noite, Mark ligou.

—A Sophie está ótima comigo —sua voz era calma, segura, como se já tivesse decidido tudo—. Acho que ela deveria morar aqui.

Agarrei o telefone.
—Você nem sequer me perguntou.

—Kate, seja realista. É difícil para você. A Sophie merece uma infância normal.

Quase gritei.
—E você acha que eu não posso dar isso a ela?

Mark suspirou, como quem fala com uma criança teimosa.

—Você mesma sabe. Eu a pego amanhã—ela tem consulta no dentista e depois uma festa de aniversário. Ou você quer levá-la?

Cerrei o maxilar. Ele nem esperou minha resposta. Desligou.

***

Na manhã seguinte, Sophie foi embora. Quando Alex chegou, o encarei friamente.

—Acabou pra mim.

Ele ficou surpreso, mas não abalado.

—Kate, é normal estar cansada. Mas não agora. Você já conquistou tanto.

—E pra quê? —minha voz quebrou, a histeria surgindo—. Pra quê? Pra ver minha filha se divertindo com meu ex e a amante? Pra saber que ela prefere estar com eles do que comigo? Pra ficar olhando para minhas pernas, esperando que elas magicamente voltem a funcionar?

Alex apertou os lábios.
—A Sophie te ama. Mas você precisa de tempo.

—Ela precisa de uma mãe que possa andar.

Ele suspirou pesado.
—Ela precisa de uma mãe que não desista.

—Eu não consigo mais —sussurrei.

Alex me olhou por um longo momento, seus olhos cheios de compreensão.

—Ok.

Franzi a testa.
—Ok?

—Se você quiser desistir, eu não posso te impedir.

Ele se levantou.
—Mas se algum dia precisar da minha ajuda de novo, sabe onde me encontrar.

E foi embora. Fiquei olhando pela janela enquanto a chuva começava a cair.

***

No dia seguinte, minha mãe apareceu. Eu não a tinha chamado. Nem sequer contei o que estava acontecendo. Suspeitei que Alex tivesse encontrado seu número e ligado.

Ela entrou no quarto sem pedir permissão e sentou-se ao meu lado.

—Minha menina —ela pegou minha mão, do jeito que fazia quando eu era pequena e tinha medo—, tudo vai ficar bem.

Eu não respondi.

—Os médicos disseram que você precisa acreditar em si mesma.

Dei uma risada seca.
—Eu não acredito em mais nada, mãe.

Ela suspirou, acariciou minha mão e, sem dizer mais nada, abriu o laptop.

Na tela, eu me vi criança. Correndo na praia, rindo, caindo na areia, levantando, correndo para minha mãe, que me ergueu no ar e me girou.

Olhei, chocada.
—O que é isso?

Mamãe sorriu.

—Sua infância. Foi na época em que eu não tinha forças para te levantar. Eu tinha câncer. Estava me recuperando da quimioterapia.

Um calafrio percorreu meu corpo.

—Eu lembro dessa época… mas não sabia que você estava doente. Você parecia tão forte. Só começou a usar aquele lenço… Mas eu nunca soube.

Ela me olhou, seus olhos firmes e doces.

—Quando seu pai morreu, fiquei doente. Os médicos me deram 50% de chance.

—Mas você se curou.

—Porque vi seus olhos —ela apertou minha mão—. Eu não queria trair a sua felicidade.

Eu nunca soube. Ela afastou uma mecha do meu cabelo.

—E a Sophie… ele quer tirá-la de mim —sussurrei.

—Querida, eu cuido da Sophie. Até você ficar de pé de novo. E isso vai acontecer em breve. Eu acredito.

Ela piscou.
—E acho que o Alex acredita também.

De repente, vi minha mãe de uma forma totalmente nova. E naquele momento, percebi: se ela conseguiu, eu também conseguiria.
Naquela noite, liguei para ele.

—Quero voltar para a reabilitação.

—Eu sabia que você voltaria —ele respondeu.

***

Os dias seguintes foram brutais. Mas Sophie e minha mãe estavam lá, e isso me deu forças para seguir em frente.

Eu caía. Alex me segurava. Eu tentava de novo. E de novo.

—Se precisar de mim fora daqui, eu posso ajudar com a Sophie. Sua mãe também merece um descanso às vezes.

Olhei para ele, sentindo algo quente e inesperado dentro de mim.

—Essa é a sua maneira de me chamar para sair?

Ele riu.
Então veio meu primeiro passo. Depois o segundo.

Um mês depois, fiz uma festa de aniversário para a Sophie. Estava em pé ao lado dela. Sem cadeira de rodas.

Alex segurou minha mão.
Mark nos observava de longe.
Mas eu nunca mais olhei para trás.

Visited 183 times, 1 visit(s) today
Rate the article
( 1 оценка, среднее 5 из 5 )