Vera estacionou o carro em frente a uma casa impecável de dois andares e olhou para o relógio — ela havia chegado meia hora antes do horário marcado.
No último momento, teve a ideia de surpreender a irmã comprando a sua torta de mirtilo favorita naquela padaria da esquina. Natalia sempre adorara os doces especiais de lá.
Pegando um pequeno espelho da bolsa, Vera examinou criticamente seu reflexo. Aos cinquenta anos, ela parecia digna: seus cabelos grisalhos mal tocavam as têmporas e as rugas ao redor dos olhos só apareciam quando sorria.
Hoje, escolheu seu traje com cuidado especial: um vestido azul escuro, que Viktor adorava, e brincos de pérola — um presente de sua irmã no seu quadragésimo aniversário.
Pensamentos sobre o marido fizeram sua testa franzir. Nos últimos meses, algo havia mudado entre eles. Viktor começara a ficar até tarde no trabalho, surgiram viagens de negócios inesperadas e, o mais importante — ele parecia ter se afastado, erguendo uma barreira invisível entre eles.
Vera tentou afastar os pensamentos inquietantes, atribuindo tudo a uma crise normal no relacionamento. Afinal, vinte e cinco anos de casamento não eram pouca coisa.
Pegando a caixa da torta e a bolsa, ela se dirigiu para a casa. Natalia havia se mudado para lá apenas um mês atrás, após o divórcio. “Nova vida — novo lugar”, ela dissera ao telefone na época.
Vera se lembrava de como a irmã descrevera animada a sala de estar espaçosa com janelas panorâmicas e a cozinha acolhedora. Agora, finalmente, veria tudo com seus próprios olhos.
Subindo até a varanda, Vera pegou a chave que Natalia lhe entregara “caso fosse necessário” por meio de uma amiga em comum. A porta da frente se abriu com facilidade. A casa estava semi-escura — as cortinas estavam fechadas, criando uma atmosfera misteriosa. Música suave flutuava de algum lugar — parecia jazz.
“Natasha?” Vera chamou suavemente ao entrar no hall. Não houve resposta, mas vozes abafadas provinham da sala de estar. Sorrindo, Vera seguiu o som, antecipando como a irmã ficaria encantada com a visita inesperada.
Ela acabava de abrir a boca para anunciar sua presença quando parou na soleira da sala de estar.
A caixa da torta escorregou de seus dedos trêmulos e caiu no chão com um baque surdo.
Por um breve segundo, Vera se perguntou se seus olhos estavam lhe enganando. No sofá, na meia-luz romântica iluminada apenas pela chama das velas, estavam duas pessoas. Natalia, sua irmã mais nova, estava aconchegada nos braços de um homem, com a cabeça apoiada no ombro dele. Esse homem era Viktor — seu marido.
Sobre a mesa de centro, uma garrafa quase vazia de vinho tinto caro — o mesmo que Viktor sempre comprava para ocasiões especiais. Dois copos, restos de sobremesa, a luz suave — tudo indicava um momento íntimo. Vera sentiu a náusea subindo na garganta.
“Surpresa… hein?” sua voz saiu calmamente, quase mecânica. Natalia se afastou rapidamente de Viktor, seu rosto empalidecendo tanto que as sardas no seu nariz pareciam manchas de tinta.
“Vera, eu…” Natalia começou, mas as palavras ficaram presas na garganta. Viktor levantou-se lentamente do sofá, seu rosto normalmente confiante contorcendo-se de culpa e medo. Ele parecia um garoto travesso pego no ato.
“Não se incomode, Natashenka,” Vera disse, usando o nome diminuto da irmã com tanto amargor que fez ela estremeceu.
“Agora entendo porque você insistiu que nos encontrássemos às seis em ponto. Estava com medo de eu pegar o seu pequeno… idílio?”
Todos aqueles meses de comportamento estranho de Viktor de repente fizeram sentido. Retornos tardios para casa, telefonemas misteriosos depois dos quais ele se afastava para outro cômodo, viagens de negócios para as mesmas cidades onde as conferências de Natalia supostamente aconteciam. Como ela pôde ser tão cega?
“Não é o que você pensa,” Viktor começou, dando um passo à frente, mas Vera levantou a mão para impedi-lo.
“Será? E o que eu deveria pensar, Vitya? Que vocês estão aqui discutindo sobre o tempo? Ou talvez planejando o meu aniversário?” Sua voz escorria com uma ironia venenosa.
“A propósito, quanto tempo vocês estão… planejando isso?” Viktor perguntou.
Natalia levantou-se do sofá, puxando nervosamente o vestido.
“Seis meses,” ela sussurrou, sem olhar para cima. “Vera, sei que é imperdoável.”
“Seis meses,” Vera repetiu, afundando-se em uma poltrona. “Então, quando você chorou no meu ombro após o seu divórcio, me dizendo como estava sozinha… você já estava com ele?”
Viktor correu até o bar e pegou um copo.
“Vamos conversar calmamente. Quer um drink?”
“Oh, agora você sugere que eu beba?” Vera riu, embora seu riso fosse mais como um soluço. “Que nobre da sua parte, querido.”
Ela olhou pela sala de estar — agora notando os pequenos detalhes que havia ignorado no começo. O casaco de um homem jogado sobre o encosto de uma cadeira — o mesmo que ela dera de presente a Viktor no Natal passado. Uma fotografia sobre a lareira, onde os três — ela, Natalia e Viktor — estavam rindo ao fundo do mar. Aquele mesmo feriado de um ano atrás. Já havia algo errado?
“Eu sempre soube que você tinha inveja de mim, Natasha,” Vera disse, suavemente.
“Desde a infância. Meus brinquedos, meus sucessos, meus relacionamentos… Mas nunca pensei que você fosse tão longe.”
“Isso não é inveja!” Natalia gritou. “Nós… nós simplesmente nos apaixonamos.”
“Se apaixonaram?” Vera avançou, ficando quase em cima da irmã. “E quanto ao meu amor, minha confiança? Onde você os colocou? No mesmo lugar onde escondeu seus segredos sujos?”
Viktor tentou se interpor entre elas:
“Vera, escuta…”
“Não, você escuta,” a voz dela ficou fria e dura. “Vinte e cinco anos de casamento, Vitya. Quinze anos de amizade, Natasha. E todo esse tempo eu pensei que te conhecia. Como eu fui tola.”
Vera se aproximou lentamente da mesa, pegou o copo meio cheio e o bebeu de uma vez só.
“Você sabe, qual é a parte mais engraçada, Natasha? Eu vim aqui pedir o seu conselho. Queria compartilhar os meus medos, perguntar como salvar o meu casamento. Achei que talvez eu estivesse fazendo algo errado.”
Natalia estremeceu, como se tivesse levado um tapa.
“Vera, eu não queria… só aconteceu…”
“Só aconteceu?” Vera colocou o copo na mesa com tanta força que ele quebrou. “Você foi parar na cama do meu marido por acaso? Ou talvez tenha tropeçado e caído nos braços dele?”
Viktor avançou:
“Pare, você está nos machucando…”
“Estou machucando?” Vera virou-se para ele. “E você, fez todo mundo feliz? Decidiu que uma irmã não era suficiente, então teve que tentar com a segunda?”
Um pesado silêncio preencheu a sala. Somente o tique-taque do relógio marcava os segundos desse pesadelo. Vera olhou para sua aliança — um simples anel de ouro que ela nunca tirou em vinte e cinco anos. Lentamente, tirou-o do dedo.
“Aqui,” disse, colocando o anel sobre a mesa. “Você pode ficar com isso também. Assim como tudo o que você me tirou.”
“Vera, por favor…” A voz de Natalia tremia. “Vamos conversar.”
“Sobre o que? Sobre como você planejava me contar? Ou sobre como você riu nas minhas costas?” Vera se dirigiu para a porta. “Sabe, até sou grata por ter chegado cedo. Pelo menos não precisei ouvir suas desculpas patéticas durante o jantar festivo.”
Três meses depois.
Vera estava em seu novo apartamento, revisando os documentos do divórcio. Tudo acabou sendo mais simples do que ela pensava: Viktor não discutiu, aceitou todos os termos. Talvez a consciência dele tenha despertado, ou talvez ele apenas quisesse fechar aquele capítulo o mais rápido possível.
O telefone vibrou — outra mensagem de Natalia. Agora eram mais de uma dúzia, todas não lidas:
— “Me perdoe…”
— “Eu sei que é imperdoável…”
— “Podemos pelo menos conversar?”
Vera abriu a última mensagem:
— “Irmã, não posso viver assim. Sinto sua falta. Por favor, me dê uma chance de explicar.”
Sorrindo, ela apagou todas as mensagens. Então, abriu uma foto de infância no seu desktop — ela e a irmã se abraçando e rindo. Olhou para ela por alguns segundos e, decidida, a enviou para a lixeira.
“Às vezes, é preciso deixar ir para seguir em frente,” ela disse em voz alta.
De pé à janela, Vera olhou para a cidade ao entardecer. Seu novo emprego na editora estava se mostrando interessante, e seus colegas eram amigáveis. Ontem, ela até aceitou um convite para o teatro do chefe de marketing — apenas uma saída amigável, mas já se sentia uma pequena vitória.
A dor não havia desaparecido — ela simplesmente aprendera a conviver com ela. Como uma lasca que, com o tempo, se envolve em tecido. Às vezes, ela picava, lembrando-a de sua presença, mas já não impedia sua respiração.
No peitoril da janela, havia um vaso de violetas — a única coisa que ela havia levado da casa antiga. Uma vez, Natalia lhe dera, dizendo: “Elas são resilientes, assim como nós, minha irmãzinha.”
Vera regou as flores e sorriu:
“Você está certa, Natasha. Resilientes. Mas agora cada flor está em seu próprio vaso.”
Do lado de fora, a chuva começou a cair, lavando o passado e abrindo uma página limpa para uma nova história. Uma história na qual Vera finalmente era a heroína de sua própria vida.