**A noite em que pensei que alguém tinha invadido minha casa. Eu não fazia ideia de que a verdadeira traição tinha começado muito antes — e vinda de quem eu mais confiava: minha sogra.**
Depois que meu marido faleceu, minha vida desmoronou como um álbum de fotos antigo: as imagens eram as mesmas, mas a realidade era completamente diferente. Quando Tim finalmente começou a pré-escola, voltei ao trabalho. Eu não tinha escolha. O dinheiro estava catastroficamente curto.
— Bom, pelo menos tem café… ou não — murmurei uma manhã.
A cafeteira sem vida vinha zombando de mim desde a primavera. Cada tentativa de ressuscitá-la terminava com dedos queimados e um cheiro forte de fio queimado.
A vida tinha virado uma lista interminável de tarefas: trabalhar, buscar Tim, pagar contas, consertar a máquina de lavar, trocar a lâmpada do corredor, arrumar a cerca — porque, como eu dizia sarcasticamente para os amigos:
— Os gatos do vizinho transformaram meu quintal no Coachella deles.
— Ei, Claire, por que você não contrata um faz-tudo? — sugeriu Megan ao telefone uma noite.
— Haha, claro, se ele aceitar cookies e abraços como pagamento.
Nossa vida costumava ser tão organizada quando meu marido estava vivo: ele consertava tudo, e eu cuidava do resto. No final das contas, eu estava tentando ser faz-tudo, contadora e terapeuta ao mesmo tempo.
E sinceramente? Eu estava apenas sobrevivendo.
Nem tempo para o luto eu tive. Me agarrei à vida com unhas e dentes. E de alguma forma, depois de alguns meses, consegui criar uma rotina frágil. Pela primeira vez em muito tempo, eu conseguia respirar.
— Talvez eu até vire a Mulher-Maravilha — ri.
Mal sabia eu que minha próxima grande habilidade seria sobreviver a uma invasão domiciliar… de pijama.
—
Naquela noite, tudo estava correndo conforme o planejado.
Tim dormia profundamente no quarto do outro lado do corredor.
Coloquei a louça na lava-louças e finalmente me enrosquei na cama com uma caneca de chá de camomila fumegante. O laptop estava aberto, o relatório trimestral piscando na tela. Suspirei, satisfeita.
— Vamos lá, Claire. Talvez desta vez você termine no prazo!
A casa estava silenciosa. Tranquila. Até que — *click*.
— O que foi isso? — sussurrei para o vazio.
Alguns batimentos depois, ouvi passos. Pesados. Decididos. Alguém revirava as gavetas da cozinha. Meu coração disparou.
— Tim? Tim, é você?
Nenhuma resposta.
Os passos ficaram mais altos. Mais pesados. Alguém subia as escadas.
O primeiro degrau rangeu.
Depois o segundo.
E o terceiro.
Enfiei os pés nos chinelos e agarrei a primeira coisa que vi — um desodorante em spray.
Os passos estavam mais próximos agora. Minha pele se arrepiou de suor frio.
— Meu Deus… Por favor, não um maníaco. Não hoje. Não enquanto estou de pijama listrado.
A porta do meu quarto rangeu ao se abrir. E ali, recortado contra a luz fraca do corredor, estava um homem.
— Aaaaaah!
Descarreguei uma nuvem furiosa de desodorante direto no rosto dele.
— Ei, ei, ei!
O homem gritou, se protegendo com as mãos. — O que você está fazendo?!
— Sai da minha casa! — gritei, brandindo o desodorante como uma espada. — Eu sei karatê!
O homem se desequilibrou, recuando às cegas. Corri até o quarto, peguei um Tim sonolento no colo e desci as escadas correndo.
Tim murmurava: — Só mais cinco minutos, mãe…
Tentei digitar no celular, errando os números umas três vezes antes de conseguir ligar para o 911.
— Meu Deus — ofeguei, apertando Tim contra mim. — Rápido, por favor, rápido!
Sirenes começaram a soar ao longe.
— Aguenta firme, filhote. A mamãe ainda tá de pé. E a mamãe tá furiosa.
Naquele momento, eu ainda não fazia ideia de que o “invasor” talvez tivesse mais direitos legais sobre minha casa do que eu.
—
Cinco minutos depois, dois policiais escoltaram o homem para fora, com as mãos algemadas nas costas. Ele piscava, genuinamente confuso com o que acabara de acontecer.
Eu estava ali, enrolada num cobertor, tremendo como uma folha ao vento. Um dos policiais se aproximou.
— A senhora disse que esse homem invadiu sua casa?
— Sim! — quase gritei. — Ele invadiu! No meio da noite! Achei que ia me roubar! Ou… ou me comer!
Os policiais trocaram olhares. Um deles virou-se para o homem.
— Senhor? Sua versão?
O homem engoliu em seco e apontou para a mochila aos seus pés.
— Eu… eu aluguei este lugar. O contrato tá aí dentro.
Um dos policiais abaixou-se, abriu a mochila e tirou uma pasta.
Levantei a sobrancelha tão alto que quase tocou o teto.
— Que contrato?! Esta é a MINHA casa!
O policial folheou os papéis com atenção.
— Hm. De acordo com isso, Robert é um inquilino legal. Proprietária listada como Sylvia.
— O QUÊ?! — gritei tão alto que o cachorro do vizinho começou a latir.
— Essa é a minha sogra!
— Senhora — disse o policial com calma —, nesse caso, trata-se de uma questão civil. Não podemos expulsá-lo. Você terá que resolver isso na justiça.
Fiquei boquiaberta.
— Quer dizer que… ele vai ficar?
— Até que um juiz diga o contrário, sim.
Robert deu um passo cauteloso, esfregando os pulsos desconfortavelmente.
— Me desculpe mesmo. Não quis causar confusão. Se quiser, eu vou embora.
Suspirei tão profundamente que os dois policiais se encolheram.
— Não… pode ficar por enquanto. Tem um quarto de hóspedes no térreo. Banheiro privativo. E, por favor… sem mais sustos no andar de cima.
— Claro! — Robert concordou rapidamente. — Mais silencioso que um rato.
— Um rato que já detonou meus nervos — resmunguei.
Na manhã seguinte, acordei com cheiro de… café. Semicerrei os olhos em direção à cozinha.
— O que foi agora? Um pouso forçado de OVNI?
Vesti meu suéter e desci em silêncio. E lá estava: um café da manhã de revista. Omeletes, torradas com manteiga, geleia, café fresco…
E, milagre dos milagres, minha cafeteira funcionando de novo como uma fênix renascida.
— Hm… foi você quem fez tudo isso? — perguntei com cautela, olhando para Robert, que fritava ovos no fogão.
— Uma oferta de paz — disse ele, sorrindo. — E sua cafeteira? Era só um fio solto.
— Sério? — gemi. — Um mês inteiro sem café… por causa de um fiozinho?!
— Fico feliz em ajudar — disse ele, piscando com charme.
Dei um gole e quase gemi de prazer. Café de verdade. Transformador.
E então…
— BAM! —
A porta da frente se escancarou.
— Como você OUSA tratá-lo assim?! — Sylvia gritou, entrando como um furacão. — Esse pobre rapaz! Não tem coração?!
— Sylvia — disse eu, pousando a caneca antes que a quebrasse —, você alugou a MINHA casa?
— A casa do meu filho! — ela berrou. — E eu precisava do dinheiro! Pra arrumar a varanda! E comprar uma secadora nova!
Pisquei.
— Eu tenho um testamento! A casa foi deixada para MIM!
Sylvia ergueu o queixo, desafiadora.
— Um testamento é uma coisa. Registrar a propriedade é outra, querida. Você enrolou. Então, tecnicamente, ainda é parcialmente minha.
— Mesmo que fosse verdade, você não pode simplesmente alugar a casa sem me avisar!
— Você tem espaço de sobra! Robert é escritor! Você nem ia notar!
— Ah, claro. Difícil não notar um cara gigante andando pelo corredor!
Robert se remexeu, tossindo discretamente.
— Se estou causando problemas, posso devolver o dinheiro e procurar outro lugar.
— Você já pagou por um ano inteiro! — choramingou Sylvia. — E eu já gastei! Comprei a secadora! E um massageador de pescoço!
Pisquei. Duas vezes.
— Sylvia… Você sabe que isso é basicamente fraude?
Ela deu de ombros como se não fosse nada.
— Posso devolver o que sobrou — talvez o suficiente pra nove meses.
Fiquei olhando para ela, atordoada.
— Então você pode devolver nove meses, mas três já foram?
Ela assentiu, sem um pingo de arrependimento.
— Exatamente.
Soltei um longo suspiro e me virei para Robert.
— Muito bem. Robert, fique pelos três meses que você já pagou. Assim terá tempo de encontrar outro lugar, e ela — lancei um olhar fulminante para Sylvia — vai devolver o restante.
Robert me lançou um sorriso pequeno e caloroso.
— Justo.
— Justo — ele concordou.
Me virei de novo para Sylvia, encarando-a.
— Nada de surpresas, Sylvia. Nunca mais.
Quando a porta bateu atrás dela, soltei um suspiro como se fosse o primeiro em meses. Eu não fazia ideia de que o caos, às vezes, podia trazer uma paz inesperada… e até algo melhor.
Três meses passaram mais rápido do que eu jamais esperava. Robert ficou no quarto de hóspedes, exatamente como combinamos, mas de alguma forma, ele rapidamente se tornou parte da casa.
Ele nunca se impôs — ele simplesmente estava lá, consertando a cerca e desentupindo os calhas. À noite, ele jogava futebol com Tim no quintal, suas risadas ecoando pelo bairro.
No começo, mantive distância. Disse a mim mesma que ele era apenas um inquilino, algo temporário.
Mas dia após dia, ficou mais difícil ignorar como sua risada preenchia os espaços vazios da nossa casa, como ele sempre sabia exatamente quando eu precisava de uma mão amiga ou apenas de alguém para sentar ao meu lado em silêncio.
Nos fins de semana, ele lia rascunhos de seus artigos em voz alta na mesa da cozinha enquanto eu tomava café, fingindo ser uma crítica literária severa.
Tim adorava ele. Mas, acima de tudo, algo dentro de mim começou a se curar. As paredes que eu havia construído ao redor do meu coração desde que perdi meu marido… começaram a rachar.
Uma noite, eu estava sentada na varanda da frente, observando Robert correr atrás de Tim no quintal com uma bola de futebol. Estava respirando a alegria tranquila do momento e pensei:
“Acho que você ficaria bem com isso, meu amor. Acho que você estaria sorrindo, me vendo rir de novo.”
Robert correu até a varanda, um pouco sem fôlego, e se sentou ao meu lado em silêncio.
Após um momento, ele estendeu a mão, seus dedos tocando suavemente os meus. E pela primeira vez, desde que eu me lembrava, eu não me afastei.