Polina examinou cuidadosamente as novas cortinas. Azul claro com um delicado padrão floral—exatamente o que ela tinha imaginado para a sala de estar. Ajustou as pregas com precisão, deu alguns passos para trás e sorriu.
“Sergey, o que você acha?” Polina perguntou, virando-se para o marido, que estava absorto em seu celular na poltrona.
“Está bom,” Sergey murmurou, sem levantar os olhos da tela.
“Talvez deveríamos ter comprado com um padrão maior?” Polina hesitou.
O marido olhou rapidamente para a janela, deu de ombros.
“Qual é a diferença? Cortinas são só cortinas.”
Polina suspirou. Ultimamente, Sergey parecia distante, como se algo estivesse incomodando-o. Ela se sentou na beirada do sofá e colocou a mão sobre a dele com delicadeza.
— Aconteceu alguma coisa? Você tem agido de forma diferente ultimamente.
Sergey hesitou, largou o celular e esfregou o nariz.
— Polina, precisamos conversar, — a voz dele soou mais séria do que o normal. — A minha mãe vai se aposentar semana que vem.
— E? — Polina levantou uma sobrancelha.
— E ela vai ter dificuldade em ficar sozinha. Está acostumada a socializar, a ter pessoas por perto. Ficar em quatro paredes não é para ela.
Polina se enrijeceu, já entendendo para onde a conversa estava indo.
— Eu estava pensando, — Sergey continuou, — talvez ela pudesse ficar com a gente por um tempo? Até se acostumar com o novo ritmo de vida.
Polina fechou os dedos em um punho. Larisa Arkadyevna, a mãe de Sergey, sempre fora fria com ela. Cada vez que se encontravam, a sogra encontrava algo para criticar: Polina estava muito magra, suas roupas eram inadequadas, ou ela não estava cuidando do apartamento direito.
— Por quanto tempo? — Polina perguntou com cuidado.
— Bem, um mês ou dois, — Sergey levantou as mãos. — No máximo, até o outono.
— Tudo bem, — Polina concordou depois de uma pausa. — Mas só temporariamente.
— Você é a melhor! — Sergey a abraçou impulsivamente. — A mãe vai agradecer o seu cuidado.
Uma semana depois, Larisa Arkadyevna entrou pela porta com duas malas grandes.
— Espero que tenha preparado um quarto para mim, — a sogra disse, olhando criticamente para o corredor.
— Claro, mãe. O quarto de hóspedes é todo seu, — Sergey pegou as malas e as levou para o quarto.
Polina sorriu sem entusiasmo.
— Entre, Larisa Arkadyevna. Quer um pouco de chá?
— Sim. Mas sem açúcar, — a sogra resmungou enquanto passava por Polina. — E tire essas horríveis trapos floridos da janela. Eles fazem meus olhos doerem.
Polina mordeu o lábio, mas não disse nada. Apenas mais alguns meses, ela se lembrou.
Mas o que seriam apenas alguns meses se transformou silenciosamente em seis. Larisa Arkadyevna se estabeleceu, preencheu as prateleiras da cozinha com seus potes de geleia e picles, e mudou os quadros da sala. Ela jogou fora as almofadas decorativas favoritas de Polina, alegando que elas apenas «recolhiam poeira.»
— Sergey, não aguento mais, — Polina sussurrou para o marido, tarde da noite no quarto deles. — Sua mãe está agindo como se esse fosse o apartamento dela.
— Ela está só acostumada a ser a dona da casa, — Sergey suspirou. — Você sabe que ela está tendo dificuldades agora. É uma fase de transição, uma crise.
— Que crise aos sessenta anos? — Polina levantou as mãos. — Ela jogou minha coleção de bonequinhas de porcelana fora ontem!
— Ela não jogou fora, ela colocou em uma caixa. Estavam ocupando muito espaço.
— No meu apartamento!
— No nosso apartamento, — Sergey corrigiu.
— O apartamento que eu comprei antes de nos casarmos com o dinheiro da venda do apartamento da minha avó, — Polina lhe lembrou.
Sergey fez uma careta.
— Não vamos começar essa conversa. Seja paciente mais um pouco.
Polina virou-se para a parede e fechou os olhos. Conversas como essa estavam acontecendo cada vez mais.
Logo, as críticas abertas de sua sogra também começaram.
— Você exagerou no sal de novo, — Larisa Arkadyevna bufou, afastando o prato de batatas ensopadas. — Na minha época, as meninas eram ensinadas a cozinhar pelas mães.
— Na sua época atrasada, as mulheres também eram casadas sem ser perguntadas, — Polina retrucou, imediatamente se arrependendo do que havia dito.
— Sergey! Você ouviu como ela está falando comigo? — Larisa Arkadyevna se virou para o filho. — Eu sou uma pessoa idosa; mereço respeito!
— Polina, não comece, — Sergey disse cansado. — A mãe tem razão, precisamos respeitar os mais velhos.
Polina se levantou silenciosamente da mesa e foi para o quarto. Um nó de ressentimento cresceu dentro dela. Não só a sogra, mas até o marido a estava transformando em uma convidada na própria casa.
Na manhã seguinte, enquanto se preparava para o trabalho, Polina descobriu que sua blusa favorita tinha sumido do seu guarda-roupa.
— Larisa Arkadyevna, você viu minha blusa branca? — ela perguntou, espiando a cozinha.
— Aquela coisa sem gosto? Eu lavei. Você está lavando errado, por isso ela está parecendo um trapo.
— Mas eu ia usar ela hoje! — Polina apertou os punhos.
— Compre algo decente para você, — a sogra interrompeu. — E, aliás, já está na hora de você aprender a se vestir direito. Na sua idade, você deveria parecer uma mulher, não uma adolescente.
Polina queria responder, mas naquele momento Sergey entrou na cozinha.
— O que está acontecendo?
— Sua mãe pegou minhas coisas sem pedir! — Polina exclamou.
— Eu só estou ajudando ela a se manter apresentável, — Larisa Arkadyevna rebateu. — Sergey, diga a ela que não é apropriado para uma mulher casada usar coisas tão reveladoras.
— Uma blusa branca é reveladora? — Polina olhou para a sogra incrédula.
Sergey levantou as mãos em um gesto conciliatório.
— Vamos parar de discutir por causa de uma blusa. Polina, usa outra coisa. E você, mãe, da próxima vez, peça permissão antes de pegar as coisas de alguém.
Polina se atrasou para o trabalho e se sentiu exausta o dia todo. Ela não queria voltar para casa. Nas últimas semanas, o apartamento tinha se transformado em um território estrangeiro, onde cada passo que ela dava era seguido por comentários e críticas.