Quanto mais se aproximava o dia do casamento, mais sombrio Illya ficava. Mila não conseguia entender o que havia acontecido com ele. Talvez ele tivesse mudado de ideia e, como ela, começado a se sentir culpado em relação ao amigo? Ele era carinhoso com ela, cuidava de Vanechka, e tudo parecia bem na superfície. Mas Mila sentia que algo o consumia por dentro.
— Illya, — ela não aguentava mais. — O que está te incomodando? Aconteceu alguma coisa?
O coração de Mila de repente deu um salto.
— É alguma notícia sobre o Vanya?
Illya baixou o olhar e falou com a voz abafada.
— Achei que guardaria esse segredo para sempre, mas agora percebo que não posso fazer isso com você. Depois do que você vai ouvir, não vai querer ser minha esposa. Mas eu preciso dizer. Vanya está vivo. Está morando na cidade natal dele.
— O que você está dizendo? — Lágrimas escorriam pelas bochechas de Mila. — Quando você descobriu isso? Por que não me contou? Ele está ferido? — Mila de repente ficou assustada e pareceu entender tudo. — Ele ficou deficiente, não foi? Não quer ser um fardo pra mim? Eu vou até ele agora mesmo!
Ela correu até o guarda-roupa e começou a abrir gavetas, procurando algo, como se estivesse mesmo prestes a fazer uma mala e partir.
Illya segurou sua mão.
— Espera, Mila. O Vanya está bem. Ele voltou comigo. Ele me pediu para dizer que estava desaparecido. Veja, ele queria deixar a porta aberta para poder voltar pra você.
Mila ouvia Illya sem entender direito o que ele estava dizendo.
— Vanya conheceu outra pessoa. Seu primeiro amor. Ela é dez anos mais velha que ele e sempre o rejeitou, mas da última vez que ele visitou os pais, tudo finalmente se encaixou e… Ele decidiu tentar com ela. E se não der certo, ele volta pra você.
— Você está mentindo! — gritou Mila. — Todos vocês estão mentindo! Por que estão dizendo coisas tão cruéis?
— Mila, me perdoa, — ele suspirou. — Eu te amo, e não consigo mais mentir, mesmo sabendo que a verdade vai te machucar tanto.
Mila enxugou as lágrimas e disse:
— Vai embora. Eu não quero te ver. Nunca mais, está ouvindo?
— Eu sabia que isso ia acontecer, — ele assentiu. — Você tem razão — eu mereço isso. Eu não devia ter entrado nessa com ele, devia ter te contado a verdade desde o início. Sinceramente, eu esperava que ele percebesse que ninguém era melhor do que você e voltasse pra você e pro Vanya. Por isso fiquei em silêncio. Depois me apaixonei por você, e não queria te machucar. Me perdoa de novo.
Ele tentou abraçá-la, mas se conteve, abaixou os braços, ficou ali parado, derrotado e miserável, e depois foi embora.
Mila não queria mais chorar. Havia um nó gelado no peito que não deixava as lágrimas saírem. Lá no fundo, ela já sabia que tudo o que Illya disse era verdade. Mas ela queria ver com os próprios olhos. Mila pegou Vanya, comprou uma passagem de avião. Ela tinha o endereço — estava naquele mesmo envelope que continha uma carta da mãe de Ivan. Mila não sabia o que diria, mas decidiu que o mais importante era chegar lá, e depois veria o que fazer.
Uma senhora idosa com um vestido florido e um colete de pele longo abriu a porta. Ela olhou para Mila, depois para o filho dela, e resmungou:
— Ele é a cara do Vanya quando era criança. Ele disse que você está mentindo. Entra.
Mila entrou na sala e se sentou. Vanya ficou tímido e se agarrou à mãe.
— Então, por que veio? — perguntou a mãe de Ivan. — Quer o endereço dele, né?
Mila assentiu.
— Vou ligar pra ele agora, — ela disse. — A esposa dele é muito ciumenta.
— Esposa? — repetiu Mila.
Quando viu Ivan, sua primeira reação foi correr para seus braços. Mas foi recebida por um olhar frio, que passou brevemente pelo filho, e ela congelou.
A mãe de Ivan levou o neto pela mão até a cozinha. Mila e Ivan ficaram sozinhos.
— Você tem ideia do que eu passei? — perguntou Mila, em voz baixa.
— Então no fim deu tudo certo? Ouvi dizer que você vai se casar, né? — Havia uma agressividade estranha na voz de Ivan, algo que Mila nunca tinha ouvido antes. Como se ela, Mila, fosse quem o tivesse traído.
— Eu não vou mais me casar, — respondeu ela, amargamente.
— Bom, problema seu, — ele deu de ombros. — Fala logo o que tem pra dizer. A Alla pode ligar a qualquer momento.
Mila de repente percebeu que o Ivan que conhecera e amara não existia mais. Ele amava outra mulher, provavelmente era feliz com ela, tolerava seu ciúme, e mesmo agora, ao ver seu filho pela primeira vez, a única coisa em que pensava era que a esposa poderia ligar.
Mila se levantou e disse:
— Nada. Embora… só tenho uma pergunta: você nunca quis ver seu filho?
— Illya me mandou fotos, — respondeu ele. — Me contou como vocês estavam. Ofereci dinheiro pra ajudar, mas ele recusou. Então, não é culpa minha.
Ele ficou mais um pouco parado e perguntou:
— Bom, posso ir?
Mila assentiu. O que mais havia para dizer?
Ela estava prestes a ir embora, mas a mãe de Ivan a impediu.
— Deixa eu te dar comida ao menos. E a criança precisa dormir, você está seguindo os horários dele?
— Estou, — respondeu Mila, desafiadora.
— Então, coma e ponha ele pra dormir.
Mila não sabia como tudo tinha chegado àquele ponto, mas enquanto Vanechka dormia, ela contou tudo àquela mulher. Como tinha sido feliz com o filho dela, como tinham economizado para comprar uma casa e casar, como esperou por ele e não conseguia acreditar que Vanya estava desaparecido.
— Que sem-vergonha, — a mãe de Ivan murmurou, repreendendo o filho com relutância.
Antes de Mila ir embora, ela disse:
— A Alla é uma moça teimosa, é melhor não vir mais aqui. Mas vou tentar ir até você, afinal, você é sangue do meu sangue. Não me julgue mal, como eu ia saber que esse era o filho do Vanya? E sobre o Illya… Ele é um bom rapaz, não se joga fora um homem assim. Ele errou, mas queria ajudar o amigo. Perdoa ele, ele só queria fazer o que achava certo.
Mila acenou com a mão, sem muito ânimo.
Ela perdoou Illya, mas não imediatamente. Foi Vanechka quem ajudou, chorando e resmungando, sentindo falta de Illya, que há muito já era como um pai para ele.
— Mamãe, onde está o tio Illya? — ele perguntou. — Ele não gosta mais da gente?
E então Mila cedeu. Afinal, todos podem ser perdoados. Especialmente quando se ama.
