**“Acabei de ser assaltada!”** gritei, limpando o rosto molhado com as duas mãos. “Ele levou tudo—minha mala, meu passaporte, meu dinheiro—tudo!”
Dean piscou. “O quê? Quem?”
“Pensei que ele fosse taxista. Perguntei sobre um hotel. Ele sorriu, e então simplesmente—simplesmente fugiu!”
Ele não disse nada de imediato. Apenas me olhou por um longo segundo e suspirou.
“Tá bom,” disse ele. “Vamos lá. Vamos prestar queixa. A gente resolve isso.”
Fiquei olhando para ele.
Queria gritar. Mandá-lo embora. Mas de que adiantaria?
Ele era a única pessoa que eu conhecia nesse país inteiro.
E eu estava cansada demais, perdida demais e sozinha demais para dizer não.
A delegacia era pequena e cheirava a poeira quente e café forte. Um ventilador no canto girava preguiçosamente, mal mexendo o ar pesado.
Sentei numa cadeira de plástico encostada na parede, agarrada ao meu celular como se fosse a única coisa que me mantinha firme.
Dean ficou no balcão, falando com o policial atrás do vidro. E não estava apenas falando—estava mesmo falando.
O espanhol dele era suave, claro e confiante. Sem pausas, sem tropeços, sem erros constrangedores.
Observei enquanto ele descrevia cada detalhe: a marca e o modelo do carro, o cabelo do homem, a camisa, até um pequeno arranhão no para-choque.
Ele lembrou de coisas que eu nem tinha notado. Até me ajudou a reconstruir a placa do carro de memória.
Pisquei, surpresa.
Sempre vi Dean como alguém que deixava bagunças para os outros limparem. Mas ali estava ele, calmo, focado, assumindo o controle como se fosse natural.
Quando finalmente voltou até mim, trazia um sorriso cansado no rosto.
“Disseram que encontram o cara até amanhã,” disse ele, abaixando a voz. “Já viram esse golpe antes. Alguém assim não vai muito longe.”
Só consegui assentir. Minha boca se abriu, mas nenhuma palavra saiu. Pela primeira vez em muito tempo, eu não precisava ser a responsável por consertar tudo.
Alguém mais estava assumindo. Carregando o peso que sempre carreguei sozinha.
Dean me olhou por um segundo antes de pigarrear. “Olha… você pode ficar no meu quarto de hotel esta noite.”
Pisquei. “Sério?”
“Tem duas camas,” ele disse rapidamente. “E você está sem passaporte, sem dinheiro. Já está tarde. Você precisa de um lugar pra dormir.”
Cruzei os braços. “Tá bom. Mas nada de coisas estranhas.”
“Não sou um tarado, Susan.”
Saímos da delegacia e seguimos em silêncio. O hotel não era longe, um prédio bege simples com uma placa de néon brilhando.
O quarto dele cheirava levemente a lençóis limpos e sabonete de coco. Sentei rígida na beirada de uma das camas, sem saber onde colocar as mãos ou os pensamentos.
Dean se sentou na outra cama e olhou para o chão. O silêncio entre nós esticava-se como uma corda tensionada.
Finalmente, ele falou.
“Por que você está tão brava comigo?”
Soltei uma risada seca. “Você está mesmo perguntando isso?”
“Tô. Quero entender.”
“Você largou a Jolene,” disparei. “Ela está dormindo no meu quarto de hóspedes, chorando no travesseiro toda noite. Você destruiu ela.”
Ele levantou os olhos para mim, com um olhar mais suave agora. “Eu não fui embora sem dizer nada. Falei a verdade pra ela.”
Franzi a testa. “Que verdade?”
Dean se inclinou, apoiando os cotovelos nos joelhos.
“Que estávamos nos distanciando. Que só estávamos insistindo porque já nos amamos um dia. Mas isso não era mais suficiente. Já fazia tempo.”
Cruzei os braços. “Então você se entediou. E decidiu correr atrás de outra.”
“Não,” ele disse baixinho. “Me apaixonei por outra pessoa.”
Aquilo me paralisou. Meu peito apertou.
“Por quem?” sussurrei.
Ele não desviou o olhar.
“Por você,” ele disse.
E, de repente, o ar do quarto ficou imóvel.
O ar entre nós parecia denso, como se pesasse nos meus ombros, desafiando-me a dizer algo.
“Você tá brincando,” falei, minha voz afiada, como se tentasse cortar o peso que pairava no quarto.
“Não tô,” respondeu Dean calmamente. “Não foi planejado. Eu não queria que acontecesse. Mas toda vez que eu te via… era diferente. Eu me sentia visto. Eu conseguia respirar perto de você.”
Levantei tão rápido que a cama rangiu. “Então é isso, Dean? Você destrói seu casamento e agora vem me contar tudo isso como se fosse final de comédia romântica?”
Ele balançou a cabeça. “Não falei esperando algo. Falei porque precisava ser honesto. Pela primeira vez na vida, queria dizer a verdade.”
Virei o rosto, encarando a parede bege do hotel. O silêncio voltou a se instalar, espesso e desconfortável.
Mas por dentro, eu tremia. Não só de raiva. De medo. Por saber que uma parte de mim queria acreditar nele.
Porque a verdade é que sempre houve algo. Pequenas faíscas que eu nunca me atrevi a alimentar.
Pequenos momentos quando conversávamos demais nos jantares de família, ou quando nossos olhares se cruzavam por um segundo a mais do que deviam.
Eu odiava isso. E me odiava por não odiá-lo o bastante.
“Preciso dormir,” disse baixinho. “A gente resolve isso amanhã.”
Mas o sono não veio. Só o teto e o zumbido do ar-condicionado. Meu coração batia no peito como um tambor.
De manhã, a polícia ligou. Tinham encontrado minhas coisas. Arrumei minhas coisas sem dizer uma palavra a Dean.
Não consegui encará-lo—não sem desejar algo que eu ainda não estava pronta para desejar.
Ainda não. Não com a Jolene chorando no meu sofá, lá em casa.
De volta para casa, o ar parecia mais frio. Mais silencioso. Jolene ainda estava na minha casa. Não perguntou nada, apenas me ofereceu uma xícara de chá e um aceno quando cheguei.
Mais tarde, abri meu celular e rolei até o contato de Dean.
Fiquei olhando por um longo tempo. Então, contra tudo o que eu achava que sabia, digitei:
**“Que tal um café qualquer dia desses?”**
Talvez eu estivesse errada. Talvez fosse egoísmo.
Mas talvez fosse honestidade.
E agora, a honestidade era a única coisa que não parecia uma mentira.