Em um quarto de uma clínica particular cara, uma jovem mulher silenciosamente se foi. Os médicos circulavam ao redor dela com cuidado, como se tivessem medo de perturbar a própria morte. De vez em quando, lançavam olhares nervosos aos monitores, onde seus sinais vitais piscavam fracamente. Ficava claro para eles: nenhum dinheiro podia sempre trazer alguém de volta do limite da vida.
Enquanto isso, uma reunião tensa acontecia no escritório do médico-chefe. Médicos de jalecos brancos impecáveis se reuniam em volta da mesa sob uma iluminação tênue. Sentado ao lado deles estava o marido dela, um empresário elegante com um terno caro, corte de cabelo estiloso e relógios de ouro reluzentes. O jovem cirurgião Konstantin estava visivelmente agitado, insistindo fervorosamente por uma operação.
— Nem tudo está perdido! Podemos salvá-la! — quase gritou, batendo o dedo na mesa com força.
Então o marido respondeu:
— Não sou médico, mas sou a pessoa mais próxima da Tamara — começou dramaticamente, cheio de tristeza. — Por isso sou totalmente contra a cirurgia. Por que submetê-la a mais dor? Isso só prolongará… o sofrimento — disse com tanta emoção que até o mais endurecido na sala enxugou uma lágrima.
O médico-chefe murmurou incerto:
— Você pode estar errado…
Mas Konstantin levantou-se, com a voz tremendo de raiva:
— Você ao menos percebe que está negando a ela a última chance?!
No entanto, Dmitry — esse era o nome do marido — permaneceu firme, como uma rocha. Tinha seus métodos para influenciar decisões, e os usou sem hesitação.
— A cirurgia não será realizada — disse com firmeza. — Eu assinarei qualquer recusa.
E ele assinou. Um golpe rápido da caneta — e o destino da mulher estava selado.
Poucos sabiam o motivo cruel por trás dessa decisão. Embora, se olhasse com atenção, tudo fosse óbvio. Dmitry havia enriquecido graças a ela — suas conexões, seu dinheiro, sua inteligência. E agora, enquanto ela oscilava entre a vida e a morte, ele já antecipava o momento em que poderia controlar livremente o império dela. A morte da esposa lhe era vantajosa — e ele não escondia isso daqueles que poderiam denunciá-lo.
Ele entregou ao médico-chefe uma «recompensa» impossível de recusar — para garantir que a operação não fosse apoiada. Dmitry já havia escolhido um lugar no cemitério para a mulher viva!
— Excelente terreno — pensou, caminhando entre as sepulturas com o ar de um especialista imobiliário. — Lugar seco, uma elevação. Daqui, o espírito de Tamara poderá contemplar a cidade.
O zelador do cemitério, um homem idoso com olhos profundos, ouvia confuso:
— Quando planeja trazer… bem, o corpo?
— Ainda não sei — respondeu Dmitry indiferente. — Ela ainda está no hospital. Ainda resistindo.
O homem engasgou involuntariamente.
— Então você escolheu um lugar… para uma pessoa viva?
— Ora, não pretendo enterrá-la viva — Dmitry zombou. — Só sei que em breve ela se livrará do sofrimento.
Argumentar era inútil. Dmitry estava com pressa — esperava férias no exterior e uma amante de pernas longas. Sonhava em voltar a tempo do funeral.
— Que cálculo de sorte — pensou, acomodando-se em seu Mercedes. — Vou voar, tudo estará pronto, o funeral — e a liberdade.
O zelador não disse mais nada. Toda a papelada estava em ordem, o dinheiro pago — sem perguntas, sem objeções.
Enquanto isso, no quarto, Tamara continuava lutando pela vida. Sentia suas forças esvaírem, mas não queria desistir. Jovem, bonita, desejando viver — como poderia simplesmente partir? Ainda assim, os médicos permaneciam silenciosos, olhos baixos. Para eles, ela já era como uma folha morta.
A única pessoa que ficou ao lado dela até o fim foi Konstantin Petrovich — o jovem cirurgião. Insistia obstinadamente na operação, apesar do constante atrito com o chefe do departamento. E o médico-chefe, para não prejudicar sua relação com o chefe do departamento, sempre lhe dava razão, pois, diziam, ele era como um filho para ele.
De repente, Tamara ganhou outro defensor — o zelador do cemitério, Ivan Vladimirovich. Algo no pedido do terreno levantou suspeitas. Após analisar os documentos, ele congelou: o nome de solteira da mulher moribunda lhe parecia familiar.
Ela fora sua ex-aluna — a melhor da turma, inteligente e promissora. Lembrava-se de como seus pais haviam morrido anos antes. Depois ouviu que a moça havia se tornado uma empresária de sucesso. E agora seu nome aparecia nos documentos para o túmulo…
— E agora ela está doente, e esse parasita mimado já quer enterrá-la — pensou o velho professor, lembrando do rosto convencido de Dmitry. Algo não cheirava bem. Especialmente considerando que o marido de Tamara, aparentemente, não tinha talentos especiais — tudo que adquiriu foi graças a ela.
Sem hesitar, Ivan Vladimirovich foi até a clínica. Queria pelo menos se despedir ou tentar mudar algo. Mas não conseguiu falar com Tamara.
— Não adianta falar com ela — dispensou-o a enfermeira cansada. — Ela está em coma induzido. É melhor assim — não está sofrendo.
— Mas está recebendo cuidados adequados, certo? — perguntou o professor ansioso. — Ela é tão jovem…
Tentou falar com o chefe do departamento, depois com o médico-chefe — em todos os lugares ouviu a mesma coisa: «A paciente está perdida, os médicos fazem o que podem.» Percebendo que não obteria a verdade, Ivan Vladimirovich saiu da clínica, lutando para conter as lágrimas. O rosto pálido da ex-aluna, outrora cheia de vida e energia, o assombrava.
Quando saía, o jovem cirurgião Konstantin o chamou — foi ele quem insistira apaixonadamente pela operação na reunião.
Ivan Vladimirovich explicou por que estava tão abalado:
— Não posso acreditar que ela está condenada… Parece que o marido dela quer deliberadamente que ela morra.
— Concordo totalmente! — exclamou Konstantin. — Ela pode ser salva, mas é preciso ação decisiva!
— Farei qualquer coisa por Tamara! — respondeu o professor.
A solução veio de repente. Ivan Vladimirovich começou a lembrar de seus ex-alunos, na esperança de encontrar alguém influente. E encontrou — um deles se tornara um alto funcionário da área da saúde. Contatou-o e contou tudo sobre Tamara.
— Entende, Roman Vadimovich, a vida dela depende de você. Ela deve viver!
— Ivan Vladimirovich, por que você usa ‘você’ e ‘Vadimovich’? Graças às suas aulas, cheguei aqui! — sorriu ele. — E logo ligou para o médico-chefe.
A ligação deu resultado. Logo, a questão da cirurgia foi decidida positivamente, e Tamara foi literalmente trazida de volta da beira da morte.
Enquanto isso, Dmitry curtia suas férias em um resort, saboreando a vida. Sentado sob o sol escaldante, regozijava-se em sua astúcia:
— Deu certo! Agarrei uma rica herdeira enquanto seus pais estavam mortos e ela estava de luto. Só tive que mostrar alguma preocupação, ajudar no funeral, parecer um amigo fiel… E agora — estou com o dinheiro deles.
Mas o peso da dependência da esposa ainda o atormentava. Ela começava a notar suas aventuras, a desconfiar de suas verdadeiras intenções. E então a doença dela — um presente do destino. Agora, ele se tornaria um viúvo livre.
— Não vou mais casar com mulheres inteligentes — pensou, acariciando a coxa da amante. — Melhor uma beleza burra, alguém que eu possa levar pela nariz.
De repente, o telefone tocou. Era a enfermeira da clínica. Dmitry franziu a testa:
— Cedo demais… cedo demais. Vou ter que cortar minhas férias.
— Dmitry Arkadievich! — a voz tremia. — Sua esposa foi operada… e sobreviveu. Dizem que está fora de perigo.
— Como eles fizeram isso?! O que significa ‘fora de perigo’?! — rugiu, atraindo olhares curiosos dos turistas.
Percebendo que agora sua própria vida estava em risco, Dmitry fez as malas apressadamente para voltar para casa. Sua amante não entendia:
— Dimka, onde você vai?
— Minhas férias acabaram. Preciso resolver isso!
Em casa, exigiu explicações do médico-chefe. Pagara para garantir a morte de Tamara, mas obteve o contrário. Eles apenas deram de ombros:
— Não agimos por conta própria. Havia pessoas mais influentes que nós, e elas tomaram a decisão.
— Quem poderia ser? Quem precisa dela? — gritou Dmitry furioso.
O médico-chefe apontou para Konstantin, colocando a culpa nele. Isso foi o bastante para Dmitry. O jovem cirurgião foi demitido, sua reputação destruída de tal forma que poderia esquecer a medicina.
Konstantin quase bate
u a porta da clínica, jurando vingança contra aqueles que conspiraram contra ele.
Mas o destino tem suas próprias regras. A jovem Tamara não apenas sobreviveu, como recuperou sua força e decidiu assumir o controle de tudo. Ela soube da traição do marido, do plano para matá-la, da perseguição que sofrera.
A verdade veio à tona no tribunal. Dmitry foi preso por tentativa de homicídio, fraude e abuso de confiança. A fortuna da mulher ficou protegida, e Tamara renasceu das cinzas como uma fênix.
Na cidade, seu nome virou sinônimo de coragem e justiça. E Ivan Vladimirovich e Konstantin receberam honras por salvarem uma vida, mostrando que às vezes os verdadeiros heróis estão nos lugares mais inesperados.