O médico o denunciou como apenas perseguindo drogas-e o motociclista desmaiou, implorando por ajuda, antes de morrer.

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**“Mais um motociclista procurando droga,”** anunciei para as enfermeiras enquanto o homem vestido de couro mancou até a minha emergência às 2 da manhã. Na casa dos sessenta, rabo de cavalo grisalho, colete surrado da Harley coberto de patches, graxa sob as unhas. Já tinha visto esse tipo de pessoa umas cem vezes — caras durões que se acidentam de moto fazendo alguma besteira e depois querem analgésicos para a “dor 10 em 10”.

**“Diz que está com dor no peito,”** informou a enfermeira Williams, me entregando a ficha de triagem. **“Acidente de moto há três dias. Finalmente decidiu vir.”**

Revirei os olhos. Três dias depois? Comportamento clássico de quem busca drogas. Esperam até o final de semana, quando acham que os médicos mais jovens estão de plantão, mais propensos a prescrever opioides.

**“Coloque-o na baia 4,”** disse de forma indiferente. **“Vou atendê-lo depois das emergências reais.”**

O homem, William “Tank” Morrison, segundo sua ficha, estava curvado na maca quando entrei quarenta minutos depois. O rosto pálido, suor formando gotas na testa apesar da temperatura baixa.

**“Então, Sr. Morrison,”** falei, sem esconder o ceticismo. **“Dor no peito por acidente de moto há três dias? Por que não veio antes?”**

Ele olhou para mim com olhos cinzentos que carregavam mais dor do que eu queria reconhecer. **“Não podia faltar ao trabalho. Pensei que fosse só costelas machucadas. Mas está piorando.”**

**“Hum.”** Fiz questão de olhar no prontuário. **“E que tipo de analgésico espera que eu prescreva?”**

A mandíbula dele se apertou. **“Não quero remédios. Quero saber por que não consigo respirar direito.”**

Mas eu já tinha decidido. O colete de couro, os patches que indicavam ser membro de algum clube de motociclistas, a demora para procurar atendimento — tudo gritava ‘buscador de drogas’ para mim. Em meus oito anos como médico de emergência, virei expert em identificá-los. Ou pelo menos achava que sim.

O que eu não vi — e me recusei a ver — foi um homem realmente lutando para respirar. Um homem que passou três dias tentando aguentar porque faltar ao trabalho significava que sua esposa inválida não teria dinheiro para remédios. Um homem cuja moto era seu único transporte para o trabalho na construção, que mal pagava as contas.

Fiz um exame superficial, deliberadamente brusco ao pressionar suas costelas. Ele fez uma careta, mas não gritou, outro ponto contra na minha avaliação preconceituosa. Buscadores de drogas sempre exageravam na dor.

**“Parece costelas machucadas para mim,”** anunciei. **“Tome ibuprofeno. Descanse. Vai ficar bem.”**

**“Doutor, algo está realmente errado,”** insistiu ele, lutando para respirar fundo. **“Já tive costelas quebradas antes. Isso é diferente.”**

**“Sr. Morrison,”** falei com condescendência, **“faço isso há oito anos. Acho que sei a diferença entre quem busca droga e quem tem uma lesão de verdade. Você veio aqui de moto, entrou andando. Está bem.”**

Vi o flash de raiva nos olhos dele, rapidamente contido. **“Você está me julgando por causa da minha aparência. Porque eu ando de moto. Porque sou trabalhador braçal.”**

**“Estou julgando pela apresentação médica,”** menti suavemente. **“Costelas machucadas. Ibuprofeno. Descanso. A enfermeira Williams vai liberá-lo.”**

Virei para sair, mas a mão dele agarrou meu jaleco. A força era fraca, outro sinal que eu deveria ter percebido.

**“Por favor,”** disse ele baixinho. **“Só faça alguns exames. Pago em dinheiro se o problema for o seguro. Algo está errado. Eu sinto.”**

Afastei minha mão do seu aperto. **“Sr. Morrison, emergências são para emergências. Você já desperdiçou tempo demais.”**

Essas foram as últimas palavras que eu disse para William “Tank” Morrison.

Duas horas depois, eu atendia um adolescente com ferimento de skate quando o alarme de trauma disparou. Paramédicos entraram apressados com um paciente em parada cardíaca total.

**“Encontrado caído no estacionamento,”** anunciou o paramédico chefe. **“Testemunha disse que ele tentou subir na moto e caiu. Sem pulso por pelo menos cinco minutos antes da gente conseguir o retorno da circulação espontânea.”**

Só quando o colocaram na maca de trauma que vi seu rosto. Tank Morrison. O “buscador de drogas” que eu havia descartado. O homem cujos apelos eu ignorei.

**“Tragam o ultrassom, rápido!”** ordenei, as mãos já em movimento no ritmo familiar da medicina de emergência. Mas, mesmo enquanto trabalhava, eu sabia. O ultrassom confirmou — hemorragia interna massiva. Provavelmente um baço lacrado que vazava lentamente há dias.

Um simples exame de tomografia teria detectado. Um exame básico de sangue mostraria a queda no hemoglobina. Qualquer teste além dos meus preconceitos teria salvo sua vida.

Trabalhamos nele por quarenta minutos. Quebrei seu peito, massageei o coração manualmente, transfundi unidade após unidade de sangue em seu corpo moribundo. Mas já era tarde demais. O homem que eu havia descartado como um motociclista buscador de drogas morreu na minha maca de trauma, seu colete de couro cortado e jogado no chão como as suposições que fiz sobre ele.

O Dr. Harrison, o cirurgião de trauma, revisou o caso com um nojo mal disfarçado. **“Três dias de hemorragia interna. Ele devia estar compensando até que o corpo não aguentou mais. Por que isso não foi detectado quando ele chegou?”**

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