**Um menino de uma pequena cidade chamada Maple Valley, situada na parte oeste de Vermont, estava brincando do lado de fora na neve recém-caída. Quando sua mãe o chamou para o almoço, ele não respondeu. E quando ela foi ao quintal procurá-lo, ele havia desaparecido — como se tivesse sumido no ar. Oito anos depois, o pai dele ouviu o cachorro do vizinho latindo furiosamente na casinha.**
**Um dia, um garotinho desapareceu do quintal! Sete anos depois, seu pai olhou debaixo da casinha do cachorro do vizinho — e ficou pálido…
O que ele viu ali fez seu sangue gelar. A pequena cidade de Maple Valley, com uma população que mal chegava a 2.000 habitantes, era conhecida por sua comunidade unida e invernos rigorosos. Era o tipo de lugar onde todos conheciam a vida uns dos outros, compartilhavam tristezas e comemoravam juntos.**
**A cidade se orgulhava de sua segurança e baixíssimos índices de criminalidade. As crianças brincavam livremente do lado de fora, os vizinhos deixavam as portas destrancadas e a comunidade parecia uma grande família. Pelo menos até oito anos atrás, quando Caleb Johnson desapareceu.**
**Numa manhã fria de sábado, com flocos de neve girando preguiçosamente no ar, Thomas Johnson estava sentado à mesa de jantar, folheando documentos da polícia. Esses papéis haviam se tornado parte da mobília da casa — relatórios, depoimentos de testemunhas, pistas que nunca levavam a lugar algum.**
**Seu olhar vagou até a janela com vista para o quintal da frente, e seus pensamentos inevitavelmente voltaram para aquele dia fatídico. Sua esposa, Emily, circulava pela casa, limpando. Os sons rítmicos da faxina traziam um leve consolo. Pequenas tarefas pareciam dar a ela um senso de normalidade.**
**Apesar dos anos, a casa parecia congelada no tempo, como se ainda esperasse pelo retorno do filho.
— Ainda está fuçando esses papéis? — perguntou Emily, passando com uma cesta de roupas.
Thomas assentiu, folheando mais uma pilha de documentos.**
**O detetive Harper disse no mês passado que receberam algumas novas pistas.
— Nada concreto, mas… — ele não precisou terminar. Os dois se agarravam a essas fagulhas de esperança, por menores que fossem.**
**Caleb tinha cinco anos, um menino ruivo com uma risada contagiante que preenchia a casa. Naquela manhã de inverno, ele implorou para brincar na neve fresca. Thomas e Emily permitiram, como já haviam feito tantas vezes antes.**
**O terreno deles fazia divisa com uma pequena área arborizada, bem conhecida pelas crianças da cidade. Thomas prometeu que verificaria em vinte minutos. Quando saiu para ver, Caleb havia sumido.**
**A busca que se seguiu foi algo nunca visto em Maple Valley. A cidade inteira se mobilizou. Grupos de busca vasculharam os bosques. Mergulhadores inspecionaram um lago congelado a meio quilômetro de distância. A polícia interrogou todos os moradores. Dias viraram semanas, semanas viraram meses, até que as buscas foram oficialmente encerradas.**
**Mas Thomas e Emily nunca pararam de procurar.
Uma batida na porta arrancou Thomas de seus pensamentos. Ele se levantou da mesa, ajeitou o suéter e foi atender.**
**Era o vizinho da frente, Michael Grayson, parado na varanda. Michael era um homem alto, de seus quarenta e poucos anos, com cabelos grisalhos precoces e expressão séria. Morava em Maple Valley há mais de vinte anos, mas tornou-se cada vez mais recluso depois de perder a esposa e o filho numa invasão domiciliar dez anos atrás.**
— Bom dia, Thomas — disse Michael, mudando o peso de um pé para o outro. — Desculpe incomodar, mas a nevasca de ontem derrubou de novo sua cerca. Está tombando pro meu lado.
— Puxa, me desculpa, Michael. Aquela cerca velha vive dando problema.
— Vou tirar do seu lado, mas preciso pegar a solda primeiro. A minha quebrou, ainda não comprei outra.
— Não se preocupe. Já consertei. Só queria te avisar.
**Thomas ficou surpreso e um pouco envergonhado.**
— Você não precisava fazer isso. Obrigado.
— Sem problemas — respondeu Michael com um leve encolher de ombros. — Eu tinha as ferramentas e já estava trabalhando mesmo.
**Eles conversaram brevemente. Emily, ao saber do gesto de Michael, sugeriu convidá-lo para jantar em agradecimento. Apesar de hesitar, Thomas cedeu.**
**Mais tarde, Thomas foi até a casa de Michael para convidá-lo pessoalmente. Encontrou o vizinho nos fundos, trabalhando num canil antigo — o mesmo que estava lá há anos, mesmo sem ele ter mais cachorro. Michael se colocou rapidamente entre Thomas e o canil, o que pareceu estranho. Disse que estava pensando em adotar um novo cão.**
**Thomas ofereceu ajuda para terminar o novo canil e sugeriu irem juntos ao criador local buscar um filhote. Michael agradeceu, mas pouco depois cancelou o passeio, alegando que tinha outro compromisso — algo estranho vindo de alguém tão solitário.**
**Enquanto Thomas seguia seu dia, indo ao supermercado buscar itens para o jantar, uma sensação incômoda não o deixava em paz. Algo em Michael — o canil velho, a pressa em se colocar à frente dele, a desculpa de ter outros planos — não parecia certo.**