EU A DEI UM BEIJO DE DESPEDIDA—MAS ELA NÃO ME OLHAVA NOS OLHOS

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**Segurei as mãos dela por tempo demais na calçada do aeroporto. Estavam frias. Ou talvez fossem as minhas. Não dava pra saber.**

Ela estava usando aquele suéter azul claro que comprei pra ela no outono passado — aquele que a fazia parecer uma aquarela. Cabelo preso. Sem maquiagem. Olhos vermelhos. Grávida de oito meses e ainda tentando parecer que estava tudo bem.

**“Você não precisa ser forte,” sussurrei, encostando minha testa na dela.**

Ela não respondeu. Só balançou a cabeça lentamente, como se ao abrir a boca algo pudesse se quebrar.

Eu queria acreditar que estaria de volta antes do bebê nascer. Foi o que o tenente disse. “Quatro meses. Talvez cinco.” Mas nada era certo. E nós dois sabíamos disso.

Ela finalmente levantou os olhos pra mim, e eu vi algo que não via havia semanas — medo. Cru, agudo, tremendo sob a calma que ela tentava manter.

**“Não quero que ele conheça seu nome só por uma bandeira dobrada,”** ela disse, baixinho.

Minha garganta ardia. Quase disse que não deixaria isso acontecer. Que eu voltaria. Que veria ele dar os primeiros passos, ouviria ele dizer “papai”.

**Mas promessas parecem perigosas quando você sabe que não pode garantir nada.**

Então, em vez disso, beijei a lateral da barriga dela. Sussurrei:
**“Ei, garotão. Aqui é o papai. Vou voltar antes que você pisque, tá bom?”**

Ela se virou quando eu disse isso. Como se não suportasse me ouvir mentir para nosso filho ainda não nascido.

O taxista começou a bater no volante. A porta estava aberta. O tempo tinha acabado.

**Abracei ela pela última vez, e soltei antes de estar pronto.**

Ela não me viu ir embora. Apenas ficou ali, uma mão na barriga, a outra ainda pairando no ar onde a minha costumava estar.

**Só olhei pra trás quando já estava dentro do terminal.**

E quando olhei… ela tinha ido embora.

**A missão foi difícil.**

O calor, a areia, o som do nada e de tudo ao mesmo tempo. Tinha noites em que eu dormia com o zumbido dos geradores e acordava com sirenes cortando o ar como lâminas. Os caras da minha unidade faziam piada sobre as coisas de casa — de quem levaria o pé na bunda primeiro, quem voltaria pra encontrar um berço e um estranho.

**Nunca participei dessas piadas.**

Mantive o nome dela, **Mira**, escrito de canetão por dentro do meu capacete. De vez em quando, sentia as letras pressionando minha testa como um lembrete:
**você tem mais do que só a si mesmo pra voltar.**

As cartas dela vinham devagar. Uma a cada duas semanas. Depois, uma foto. Depois, um silêncio que durou tempo demais.

**Esse silêncio? Era pior que o som dos tiros.**

Mas aí… um dia, o capelão chamou meu nome.

Achei que era o fim. Aquela hora em que sentam você com cuidado e entregam a notícia embrulhada em pena.

**Mas ele me entregou um telefone.**

**“Ela teve o bebê,”** disse. **“Está tudo bem.”**

Não consegui nem falar. Só fiquei ali, com o telefone tremendo na mão como se fosse de vidro.
Aí ouvi a voz dela — suave, cansada, mas sorrindo.

**“O nome dele é Calder,”** ela disse. **“Ele tem seus olhos.”**

Acho que ouvi aquele recado umas cem vezes. A cada tiroteio, a cada refeição fria, a cada momento em que quis desistir — eu imaginava o Calder. Imaginava ela naquele suéter azul, segurando ele no colo, esperando por mim.

Quatro meses viraram seis. Depois quase sete.

Quando finalmente pousei, minhas mãos não paravam de tremer. Nem arrumei direito a mala. Só joguei as coisas numa mochila e corri pela alfândega como se minha vida dependesse disso.

**Ela estava esperando na retirada de bagagens. Mesmo suéter azul claro, só mais largo agora. E nos braços dela — aquele serzinho pequeno e perfeito, piscando pro mundo como se já entendesse tudo melhor que a gente.**

Parei de andar. As botas plantadas no chão. Ela olhou pra cima e me viu.

**Dessa vez, ela não desviou o olhar.**

Ela sorriu. Não um sorriso educado. O verdadeiro — aquele que eu não via desde antes de partir.

**“Você voltou,”** ela disse.

Dei um passo à frente e abracei os dois. Só percebi que chorava quando senti a manga dela ficando molhada.

**“Posso segurar ele?”** perguntei.

Ela não disse nada. Só o colocou nos meus braços, com cuidado, como se eu já fosse o lugar seguro dele.

Ele bocejou, a mãozinha se fechando no meu dedo mindinho. E naquele momento, juro que senti cada milha, cada bala, cada noite solitária se dissolver em algo diferente.

**Algo melhor.**

**Algo que valeu a pena.**

Voltamos pra casa juntos naquela noite. Mira fez o jantar. Dei ao Calder a primeira mamadeira vinda de mim. Ele ficou me encarando o tempo todo, como se quisesse decorar meu rosto.

Mais tarde, quando ela adormeceu no sofá com ele encostado no peito, sentei no chão só pra observar os dois. Não precisei de TV. Nem quis olhar o celular.

**Só fiquei ali — no silêncio, na paz, no presente.**

A vida tem um jeito estranho de te ensinar o que importa. Você pode correr atrás de promoções, de sobreviver, de medalhas — mas nada se compara ao peso do seu filho nos braços. Ou ao momento em que sua parceira te olha como se ainda valesse a pena voltar pra casa.

**Se você tem alguém te esperando — volte. Esteja lá. Esteja presente. Não desperdice esse amor.**

E se você ainda está aí, lutando pra encontrar paz… continue. Vale a pena.

❤️ Se isso tocou seu coração, compartilhe. Alguém aí fora precisa desse lembrete.
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