Cresci cercada de luxo, mas em vez do canto dos pássaros, ouvia apenas o tilintar das ambições que outros me impunham. A família Artemiev é um clã influente, cuja fortuna foi construída ao longo de gerações. Mas nem para mim, nem para nenhum dos parentes, isso trouxe verdadeira felicidade. Pelo contrário — transformou nossa casa num campo de batalha constante pela primazia. Não havia calor nos laços familiares — só competição. Em tudo: roupas, notas na escola, até o saldo bancário.
— Anna, você precisa se lembrar: a primeira impressão é a que fica — dizia minha mãe, ajeitando meu penteado antes de uma apresentação importante.
— Não se preocupe, mãe, eu entendo — respondia, escondendo a ansiedade.
Era, de fato, um momento crucial. Meu projeto poderia representar um avanço real para a empresa. Mas eu sabia: Katya, minha irmã mais nova, também não estava parada. Sempre esteve por perto — como uma sombra, um lembrete constante de que eu precisava ser melhor, mais rápida, mais forte. Crescemos juntas, mas fomos criadas como rivais. A avó, matriarca da família, nos via como instrumentos para fortalecer a influência do clã. Qualquer desempenho abaixo do esperado ameaçava nosso direito à herança.
Ao descer, vi que o motorista já tinha chegado.
— Ekaterina, você está deslumbrante hoje — ouvi o elogio da avó ao passar.
Katya estava ao lado, sorrindo com orgulho. Usava um vestido de grife que custava uma fortuna.
— Obrigada, vovó. Me esforcei muito — respondeu ela, lançando-me um olhar rápido e cheio de superioridade.
Naquela noite, depois da apresentação, sentei no meu escritório, folheando documentos. Tudo correu bem, mas sentia que algo faltava. Houve uma batida na porta.
— Posso entrar? — Katya espiou para dentro.
— O que você quer? — nem levantei os olhos dos papéis.
— Só vim te parabenizar — entrou e sentou numa cadeira. — Sua apresentação foi boa.
— Obrigada — respondi friamente.
— Mas… — ela começou, e eu sabia o que viria. — Acho que você poderia ter feito melhor.
— É mesmo? E como? — levantei os olhos.
— Você poderia ter sido mais convincente — disse ela, cruzando os braços. — Seus argumentos não foram tão fortes quanto poderiam ser.
— Agora você é especialista? — perguntei com sarcasmo.
— Só estou dizendo o que vi — deu de ombros. — Aliás, a vovó também pensa assim.
Senti uma dor amarga. Será que não poderia ser diferente? Katya saiu satisfeita, enquanto eu mal contive as lágrimas. Veio como se fosse apoiar — e apenas cutucou a ferida.
A vida é estranha. Sempre tivemos uma relação tensa. Tentei muitas vezes melhorar, sem sucesso. Katya parecia presa à juventude, onde o mais importante era a aprovação da avó e o título de “herdeira principal”. E eu? Só percebi tarde demais que estavam tentando me moldar como uma ferramenta obediente, e só então aprendi a valorizar minhas pequenas vitórias.
Lembro quando encontrei meu velho amigo Vitalik na rua. Não nos víamos havia uns cinco anos. Ele, com brilho nos olhos, contava que havia fundado sua própria startup de tecnologia.
— Imagina, Anya! Do zero! Agora tenho escritório, a equipe está crescendo, os pedidos não param. É o meu sonho! — ele irradiava entusiasmo.
Fiquei sinceramente feliz por ele.
— Vitya, você é incrível! Sempre soube que conseguiria! — apertei sua mão.
Mas, semanas depois, ouvi por acaso a Lena, uma conhecida em comum, ao telefone:
— Pois é, o Vitya abriu um negócio. Diz que vai bem. Claro, foi sorte… ele deu sorte, né?
E naquele momento, algo ferveu dentro de mim: inveja. Por que ele teve sorte e eu não? O que ele tinha que eu não tinha? Lembrei que, na juventude, gostava de fotografia. Naquela mesma noite comprei uma câmera profissional, me matriculei em um curso, comecei a fotografar de tudo — retratos, paisagens, eventos.
Logo minhas fotos estavam sendo publicadas em revistas, fui convidada para exposições, recebi propostas vantajosas. Ganhava bem — talvez até mais que o Vitalik naquela época.
— Agora vou mostrar pra todos! — pensava. — Especialmente pra Katya!
Trabalhava como louca, esquecia do descanso. O mais importante era o sucesso, o reconhecimento, o dinheiro. E eu consegui. Era elogiada, convidada para eventos da alta sociedade. Eu e Vitya passamos a nos ver mais, sair juntos. E então conheci Sasha. E tudo mudou.
Vendi a câmera, voltei ao antigo emprego. Abandonei ambições e metas, mergulhei de cabeça no novo relacionamento. Para mim, nada mais existia além do Sasha. Minha família mal me reconhecia — parei de brigar com a Katya, de reagir às provocações da avó. Como dizem os jovens, tudo passou a “me ser indiferente”.
Conhecia Sasha desde a infância. Podia chamá-lo de amigo de infância, embora na escola não nos suportássemos. Eu raramente podia sair, e cada saída terminava numa discussão com ele.
— Lembra quando a gente fazia castelos de areia na praia? — perguntava ele, me abraçando durante um passeio.
— Claro! E você sempre destruía os meus! — respondi brincando, cutucando seu cotovelo.
— Ué, era pra você melhorar! Formação de caráter — ele ria.
Eu me perdia nos olhos verdes dele e sentia meu coração transbordar de amor. Era meu príncipe dos sonhos — carinhoso, atencioso, inteligente e lindíssimo.
Até gostava quando falava do trabalho no mar. Dava um toque de romance à nossa história. Sasha era marinheiro, capitão de navio, domador dos mares, um verdadeiro herói — pelo menos pra mim. Morávamos juntos num apartamento alugado, sonhávamos em nos mudar para perto do mar e criar no mínimo dois filhos. Esperava com paciência cada retorno dele das viagens. Nunca reclamava da solidão — só queria que ele não se preocupasse com nada.
Quando ele partiu de novo para o mar, recebi uma ligação da Katya.
— Oi, Anya! Onde você está?
— Em casa. Por quê?
— Tenho uma notícia… ruim. Acabei de descobrir uma coisa sobre o Sasha…
— O quê? Aconteceu algo?
— Bem… Ele não é exatamente quem diz ser. Quer dizer, ele é marinheiro sim, mas não capitão. É apenas um marinheiro raso.
— Não acredito! Tá com inveja, só isso!
— Queria que fosse mentira… Mas quem me contou trabalha na mesma empresa que ele. Viu com os próprios olhos.
Desliguei e caí no choro. Será que Sasha mentiu todo esse tempo? Liguei para Misha, seu melhor amigo de infância.
— Misha, oi. Me disseram… É verdade que o Sasha não é capitão?
Ele fez uma pausa e respondeu com cuidado:
— Ele quer muito chegar lá… Por enquanto é marinheiro. Mas está se esforçando. Só… Anya, não fica brava com ele.
Tudo desmoronou. Meus sonhos, minhas esperanças, a imagem do homem ideal — tudo se quebrou. Não porque um marinheiro ganhe menos que um capitão, mas porque ele começou nossa história com uma mentira. Isso foi o que mais doeu.
Quando Sasha voltou da viagem, fui recebê-lo no aeroporto com uma frieza calma.
— Oi, amor! — tentou me abraçar e beijar, mas me afastei.
— Precisamos conversar.
Fomos ao parque, sentamos num banco e fui direta:
— É verdade, Sasha? Você não é capitão? Você mentiu por mais de um ano?
Ele abaixou o olhar e ficou em silêncio. Esperei cinco minutos, depois me levantei e fui embora. Voltei para casa com vergonha. Mas minha família me acolheu, embora ninguém demonstrasse alegria. Especialmente minha mãe, que parecia fazer questão de provocar:
— Ah, Aninha… O Sasha é um cara bacana! Vai dizer que nunca mentiu? Perdoa ele, vai…
Tentei não reagir. Mas logo ela soltou:
— Ah, e ele comprou um apartamento no centro recentemente!
— Que bom pra ele — respondi contida, mesmo com o sangue fervendo. A inveja, como uma cobra, se enroscava no meu peito. Quanto mais minha mãe o elogiava, mais eu queria provar que era melhor.
— E você? Quando vai encontrar um homem decente? Já pensou em ligar pro Sasha?
— Mãe, por favor. Chega. Tenho minha própria vida.
Mas era tarde. A velha inveja despertou de novo:
“Ele está melhor que você. Ele venceu. Prove que você é superior. Supere-o.”
E comecei a provar. Mergulhei no trabalho, aceitei mais projetos, esqueci descanso e sono.
Meses depois, Sasha se casou. Soube por conhecidos. Para minha surpresa, não senti raiva ou ciúmes. Senti… alívio. A escolhida foi Alena — uma moça simples e gentil. Nos conhecemos numa festa, e eu a adorei de cara. Sem arrogância, sem joguinhos. Ela combinava com ele.
Sasha estava feliz, e isso, estranhamente, me deixava feliz também. Ele tinha encontrado sua metade. Talvez eu nunca tivesse sido essa metade.
Mas a culpa permanecia. Eu destruí nosso amor. Por inveja.
Curiosamente, ainda mantenho amizade com a Lena. Conversamos às vezes. E sempre penso: que oportunidade deixei escapar. Hoje olho para Sasha com carinho — uma mistura de gratidão e vestígios de amor antigo. Mas não é mais paixão. É nostalgia da juventude e dos sonhos que não se realizaram.
Quando minha mãe começa a elogiar Sasha de novo, apenas sorrio:
— Sim, ele é uma boa pessoa.
E é verdade. Ele merece ser feliz. Mesmo que não seja comigo. Mas me livrar totalmente da inveja? Ainda não consegui. Às vezes penso: Alena teve mais sorte — tem família, marido, lar. E eu… só essa inveja.
Mas não estou sozinha. Logo após o fim com Sasha, conheci Ilya. No começo, tudo ia bem, mas depois começaram os atritos. Ele virou meu “espelho invertido” — a personificação de todos os meus defeitos. Vivemos numa eterna competição, tentando mostrar quem é melhor.
— E seu projeto? — pergunto, fingindo desinteresse.
— Uma bobagem. A apresentação é amanhã. Deve correr bem — ele responde…
Quero recomeçar tudo de novo. Me tornar outra pessoa. Livre da inveja, da necessidade de provar algo para o mundo. Uma pessoa que sabe se alegrar com a vida, que é capaz de amar e ser amado.
Mas há outra parte — aquela que tem medo das mudanças. Que teme ficar sozinha, sem a dor e a dependência habituais. Aquela que se apega ao antigo porque não sabe o que a espera adiante. Eu odeio essa minha fraqueza, a incapacidade de tomar uma decisão. Às vezes parece que a única saída é ir embora para algum lugar longe, começar tudo do zero, desaparecer.
Mas eu entendo: o problema não está no lugar, mas em mim. Se eu não resolver meus conflitos aqui, eles me seguirão para lá. Porque fugir de si mesmo não é um caminho para a liberdade, mas para um labirinto ainda mais profundo.
E enquanto isso, eu fico. Fico com a esperança de que, em algum momento, a inveja se calará, que o rival se tornará o amado, e a dor — um silêncio no qual será possível ouvir novamente o próprio coração.