— E que tempo ruim hoje! — resmungou ele, olhando para o nevoeiro branco. — Deus me livre, se eu ficar preso no meio do caminho…
A tempestade de neve furiosa jogava flocos de neve com violência, transformando a rua num redemoinho gelado. Mikhail encolheu a cabeça nos ombros, tentando se proteger das agulhas geladas que penetravam na pele. O dia exaustivo de trabalho havia drenado suas forças, e só o pensamento no chá quente em seu apartamento acolhedor o fazia seguir adiante, atravessando os montes de neve.
A entrada do prédio, como um farol no oceano de neve, já aparecia à frente quando um leve gemido o fez parar. Um som parecido com o farfalhar de folhas secas ao vento mal conseguia romper a tempestade. Mikhail aguçou a audição, olhando para os montes de neve.
— Socorro… por favor… — a voz desaparecia, como um gelo derretendo ao sol.
No começo, ele pensou que era uma alucinação causada pelo frio extremo, mas uma voz interior insistia: isso era real.
— Ei! Tem alguém aí? — gritou ele, cobrindo a boca com o cachecol.
Só o eco respondeu, até que de novo soou: — Aqui… bem perto…
Aproximando-se da parede coberta de neve do prédio, Mikhail distinguiu uma silhueta humana entre os montes. Uma senhora idosa estava caída, quase enterrada na neve, a mão com uma aliança de casamento de ouro agarrava desesperadamente a borda do monte.
— Meu Deus! — ele caiu de joelhos, sentindo o jeans molhar. — O que aconteceu? Como você foi parar aqui?
Elena Sergeevna olhava para ele como através da névoa, sua respiração saía em nuvens de vapor. Mechas grisalhas cobertas de geada pareciam um manto rendado.
— Caí… acho que quebrei um osso… — as palavras saíam com dificuldade. — As pessoas passavam… não viram…
Mikhail tirou o casaco pesado e o colocou sobre ela, sentindo o ar frio atravessar seu corpo. Pegou o telefone e chamou socorro, cobrindo as mãos trêmulas da senhora.
— Aguente firme, os médicos já estão a caminho — dizia ele, esfregando os dedos gelados dela. — Não vou sair daqui, prometo.
Nos olhos dela, uma centelha de esperança brilhou, e as bochechas ganharam um leve rubor.
— Como devo chamá-la? — perguntou para distraí-la da dor.
— Elena Sergeevna… — ela sussurrou, como se aliviasse ao dizer o nome.
— Mikhail. Não se preocupe, tudo vai melhorar — ele limpou a neve das sobrancelhas dela.
Parecia que uma eternidade passou até que a sirene da ambulância soou. Os paramédicos de jaquetas azuis emergiram da tempestade como salvadores de um conto de fadas.
— Vocês são parentes? — levantou a sobrancelha o médico.
— Não, sou um estranho que passava — respondeu ele, mas a senhora interrompeu:
— Ele é meu protetor! — sua voz tremia, mas soava firme. — Sem ele eu…
O médico assentiu, apertando os olhos:
— Quer acompanhá-la?
Mikhail olhou para as janelas do seu apartamento, que brilhavam como olhos de um gigante bondoso. Hesitou e entrou no carro seguindo a maca.
No hospital, o cheiro de antisséptico e tristeza estava no ar. Ele esperava enquanto os médicos preenchiam os papéis e estremecia a cada ranger das rodas da maca no corredor. Uma hora depois, um médico cansado se aproximou.
— Sua… conhecida tem uma fratura no colo do fêmur e hipotermia. Precisa repousar — encostou-se à parede. — Ela perguntou se você estava bem. Que cuidado surpreendente para um estranho.
O peito de Mikhail apertou como em uma armadilha. Aquela mulher que quase morreu na neve se preocupava com ele!
— Quando posso visitá-la?
— Amanhã, depois do almoço. Agora ela está na soro.
Na saída, a enfermeira devolveu seu casaco, com cheiro de cloro hospitalar. Ele assentiu, sem sentir o frio que agora parecia uma zombaria.
Na manhã seguinte, o sol refletia nos montes de neve. Mikhail, com uma cesta de tangerinas e chocolate quente na garrafa térmica, apressava-se pelos caminhos limpos.
Elena Sergeevna no quarto parecia uma delicada estatueta de porcelana. Almofadas apoiavam suas costas, e um buquê de flores do campo enfeitava o criado-mudo — presente das enfermeiras.
— Você voltou! — seus olhos, como lagos, brilharam. — Tive medo que fosse só um sonho bom…
— Nunca duvidei que viria — sentou-se, notando como os dedos dela apertavam a borda do cobertor. — Como está se sentindo?
— Melhor, obrigada. Você nem imagina… — tossiu, lágrimas surgiram. — Meu filho não respondeu às mensagens… E você…
— Não precisa agradecer — ele deu um sorriso tímido. — Conte-me sobre você. Como viveu?
Ela falou dos anos ensinando, do filho que se mudou para uma metrópole distante, dos netos que via só pela tela do laptop. Mikhail ouvia, guardando cada palavra como se fossem trechos de seus livros favoritos.
Lá fora, os flocos dançavam um valsa e o barulho do hospital silenciava no corredor. Foi então que ele entendeu: o destino os uniu por um motivo.
— Ele é um bom rapaz, só está ocupado demais — defendeu o filho ela, mas a voz carregava saudade. — Tem família, carreira…
Quando o horário de visitas acabou, Mikhail prometeu voltar no dia seguinte. E, estranhamente, essa promessa não o pesava, mas o enchia de uma alegria estranha, como se encontrasse um sentido naquele encontro.
Mikhail cumpriu a palavra. Visitava diariamente, trazendo não só frutas, mas histórias da infância, casos engraçados do trabalho para afastar a solidão dela. Conversavam sobre literatura, sobre destinos de personagens, sobre como o mundo mudava.
— Sabe, Mikhail — confessou um dia Elena Sergeevna — quando caí naquela tempestade, o medo não era da fratura. Tinha medo de desaparecer sem ninguém notar… virar um vazio, como se meu rastro na terra fosse apagado.
Mikhail segurou delicadamente a mão frágil dela:
— Isso não vai acontecer. Agora você tem a mim.
Ela sorriu com esforço:
— Você é mais gentil do que muitos. Mas não quero ser um fardo para um jovem.
— Você não é um fardo — apertou a mão dela. — Você… virou minha alma gêmea.
E era verdade. Durante os dias no hospital, Mikhail criou um laço com a professora, vendo nela não uma aposentada solitária, mas a guardiã de uma época que se vai.
No dia da alta, Mikhail chegou cedo. Elena Sergeevna, vestida com um vestido antigo de flores desbotadas, tentava ajeitar o cabelo, mas ele continuava bagunçado.
— Ah, aqui está seu neto! — disse a enfermeira, ajeitando a almofada.
Elena Sergeevna queria negar, mas Mikhail adiantou:
— Sim, estou com a avó. Está tudo pronto?
Na porta, um carro importado brilhava, e um homem arrogante esperava ao volante. Assim que o táxi parou, ele saltou como um mola.
— Mãe! Finalmente! — André, seu filho, falou alto, mas sem calor na voz. — Estes são Sergey e Olga — apresentou o casal em casacos caros. — Eles vão comprar seu apartamento. O preço é ótimo, lembra?
Elena Sergeevna desviava o olhar do filho para os estranhos, apertando a bengala até os nós dos dedos ficarem brancos.
— Mas… eu não dei meu consentimento…
— O que há para decidir? — André cortou, com olhar frio como aço. — Você já concordou. E assinou a procuração.
— Eu não assinei a venda! — pela primeira vez, Elena Sergeevna elevou a voz.
— Assinou, mãe, só esqueceu — André tirou uma pasta com documentos da bolsa de couro. — Olhe só.
Mikhail, que observava calado num canto, deu um passo à frente:
— Posso ver?
André lançou-lhe um olhar irritado:
— Quem é você? Isso é coisa de família!
— Sou amigo de Elena Sergeevna — Mikhail pegou os papéis e o sangue congelou em suas veias. — Aqui há uma falsificação óbvia. A data da assinatura é quando ela estava na UTI!
Sergey e Olga trocaram olhares, claramente desconfortáveis. André ficou vermelho:
— Mãe, chega de drama! Você não pode morar sozinha. Esse dinheiro vai garantir sua velhice!
— Quero morar aqui! — Elena Sergeevna tremia, mas mantinha a postura. — Esta é minha casa. Aqui cheira à sua infância, aqui…
— Aqui só tem umidade e velhice! — gritou André. — Você vai morar comigo. Em condições decentes!
Mikhail se pôs
entre eles, firme:
— Elena Sergeevna tem o direito de decidir.
André empurrou-o:
— Cale a boca, medíocre!
Nesse instante, a enfermeira entrou, e sem aviso, ligou para o gerente do hospital.
— Senhor, temos que chamar a polícia. Tentativa de fraude e coerção de paciente.
A porta se fechou atrás de André, que finalmente recuou. Elena Sergeevna olhou para Mikhail, os olhos cheios de lágrimas e gratidão.
— Obrigada… — sussurrou.
Mikhail sorriu, sentindo que, apesar da tempestade, havia encontrado sua luz no inverno.