Como detetive particular, assumi um caso que revelou uma verdade chocante sobre mim — a história do dia

Histórias interessantes

Contrataram-me para encontrar a mãe de um homem — algo comum, ou pelo menos assim eu pensava. Mas quanto mais eu cavava, mais coincidências estranhas apareciam, levando-me a lugares onde eu jamais esperava estar. Algumas respostas trazem alívio. Outras abrem portas que seria melhor deixar fechadas.

Eu estava sentado no meu escritório, encarando uma pilha de contas de aluguel não pagas. Os carimbos vermelhos de aviso me encaravam como um juiz prestes a dar seu veredito. Suspirei, esfregando as têmporas.

Já fazia meses desde meu último cliente. Eu não entendia o que realmente pensava quando decidi virar detetive particular.

Provavelmente imaginei que resolveria casos chamativos, ganharia muito dinheiro e viveria como os detetives dos filmes.

Mas, no lugar disso, mal podia pagar um jantar decente. Macarrão instantâneo era minha única refeição.

Recostei-me na cadeira, rodando um baralho entre os dedos. Já tinha construído metade de um castelo de cartas na minha mesa quando ouvir um batida na porta. O som repentino me fez sobressaltar, e toda a construção desmoronou.

Suspirei de novo.

Antes eu tinha uma assistente, Stacy, mas sem clientes, não podia pagar seu salário. Estava tempo demais silencioso.

A batida se repetiu.

— Pode entrar! — gritei.

A maçaneta girou e um homem entrou. Parecia ter mais ou menos a minha idade, mas estava visivelmente nervoso.

Ele esfregava as mãos, gotas de suor apareciam em sua testa. Os olhos dele se moviam pela sala.

Ele hesitou, sem saber por onde começar, então falei primeiro.

— Estou ouvindo — disse, apontando para a cadeira em frente à minha mesa. — Pode sentar, não mordo.

Ele demorou, então sentou-se com insegurança. Os dedos tremiam enquanto ele esfregava as mãos. O pé batia no chão.

— Hum, obrigado — murmurou com voz baixa e incerta.

Inclinei-me para frente, apoiando os cotovelos na mesa.

— É a primeira vez que faz algo assim?

— Sim — ele admitiu. — Eu não sei como funciona. Nem tinha certeza se devia vir.

— Mas veio, e isso já é alguma coisa — disse. — A primeira vez é sempre a mais difícil. A segunda será mais fácil.

Ele riu nervosamente, mas continuava tenso.

— Vamos começar pelo básico. Qual seu nome? — sugeri.

— Matt — respondeu.

— Prazer, Matt — assenti, tentando tranquilizá-lo. — Como posso ajudar?

Ele apertou os braços da cadeira.

— Preciso encontrar minha mãe… não, minha mãe morreu há dois anos — ele parou, respirou fundo — Quero dizer a mulher que me deu à luz.

Olhei para ele com atenção. A mandíbula dele estava tensa, os olhos fixos nas mãos.

— Você quer encontrar sua mãe biológica — disse.

Ele assentiu, engolindo em seco.

— Tem alguma pista?

— Só a cidade onde nasci e minha data de nascimento.

Peguei meu bloco de notas.

— Qual cidade?

Ele disse o nome e eu anotei. Para minha surpresa, éramos da mesma cidade.

— Data de nascimento?

— 19 de novembro de 1987.

Minha mão parou. O estômago apertou. Era também a minha data de nascimento.

Forcei-me a continuar escrevendo.

— Vai aceitar o caso? — perguntou ele.

— Sim — respondi. Precisava de dinheiro. Mas aquilo ficou pessoal.

— Obrigado — sussurrou, levantando-se.

— Mais uma coisa — disse quando ele se dirigia à porta.

Ele se virou.

— Como me encontrou?

— Uma garota do trabalho. Stacy.

Sorri. Então Stacy ainda se lembrava de mim.

— É só isso — disse.

Matt assentiu e saiu.

No dia seguinte, estava na minha cidade natal, olhando para as ruas familiares. O ar estava frio e cheirava a asfalto molhado.

A cidade quase não mudara. Velhos prédios de tijolos, placas desbotadas, ruas silenciosas. Era estranho voltar.

Peguei esse caso não só pelo dinheiro. Era pessoal. Muito pessoal. Nasci ali. Na mesma cidade. No mesmo dia.

Eu não sabia o que aconteceu com minha mãe. Nenhum registro. Nenhuma pista. Nada.

Passei a infância pulando de orfanato em orfanato, sem entender por que ela me abandonara.

Convenci-me de que ela simplesmente não queria de mim. Era mais fácil assim do que procurar e descobrir que estava certo.

Mas Matt queria saber a verdade. E isso me fez pensar se eu realmente queria.

Cheguei ao hospital onde Matt nasceu. O prédio era antigo, com partes do tijolo caindo. Fui até a recepção.

Uma enfermeira de meia-idade levantou os olhos. Seus óculos de leitura estavam no nariz. Olhos cansados, mas atentos.

— Posso ajudar? — perguntou, cruzando os braços.

— Preciso consultar registros antigos — disse. — Não vai demorar.

Ela balançou a cabeça.

— Impossível. Esses arquivos são confidenciais.

Apoiei-me no balcão.

— Olha, estou tentando ajudar alguém a encontrar sua mãe biológica. Isso é importante.

Seus lábios se apertaram.

— Regras são regras.

Suspirei profundamente e baixei a voz.

— Entendo. Mas se não achar o que procuro, terei que voltar com muitas perguntas. Talvez até com requerimentos legais. Isso será um problema para ambos.

Ela suspirou, batendo os dedos na mesa.

— Está bem. Duas horas. No máximo.

Bingo.

Folheei os registros de nascimento de novembro de 1987. Página após página. Nada. No dia 19, nenhum menino registrado.

Olhei ao redor da sala e vi um armário trancado. Meu instinto mandou que eu checasse. A fechadura era velha, não foi difícil abrir.

Dentro, encontrei uma pasta: “Recém-nascidos deixados no hospital.”

Dois meninos. Matt. E eu.

As mães tinham o mesmo nome: Carla. Uma com sobrenome. Outra, só o nome, sem dados.

Tirei fotos dos documentos, guardei o celular no bolso e saí.

No carro, digitei o nome completo da mulher no laptop. Ela ainda morava ali.

Coloquei o endereço no GPS e fui.

Parado diante da casa dela, senti um nó no estômago. Minhas mãos se fecharam em punhos antes que eu as soltasse. Meu peito ficou apertado.

E se ela for minha mãe?
E se não for?
Não sabia qual resposta me assustava mais.

Respirei fundo e toquei a campainha.

Alguns segundos depois, a porta se abriu.

Diante de mim estava uma mulher. Algo nela me tocou. Seu cabelo ruivo, embora desbotado, me lembrou o meu na infância. As mesmas covinhas, o mesmo formato do nariz.

Minha garganta secou. Não estava preparado.

— Posso ajudar? — ela perguntou com voz cuidadosa.

— Você é Carla? — minha voz falhou.

— Sim — ela olhou para mim.

Engoli em seco.

— Há mais de 30 anos você teve um menino. Em 19 de novembro de 1987. Você o deixou no hospital.

Seus lábios se abriram um pouco. Ela agarrou a moldura da porta como se tentasse se segurar.

— Como você…? — sua voz tremia.

Ela se afastou.

— Entre.

Ela me levou por um corredor estreito. Nas paredes, fotos — só dela e de um mesmo homem. Nenhuma criança, nenhum sinal de família grande.

Entramos na cozinha. O cheiro de café estava no ar. Ela apontou para uma cadeira. Sentei.

Ela sentou de frente para mim, com as mãos cruzadas na mesa.

— Sou detetive particular — disse. — Fui contratado para encontrá-la.

Seus ombros se enrijeceram.

— Quem?

Hesitei.

Queria perguntar por que ela me abandonou? Por que não me procurou? Por que passei a vida imaginando que para ela eu não importava?

Mas então notei algo — uma marca de nascença no pulso dela.

E imediatamente lembrei de Matt. As mãos que ele sempre esfregava. A mesma marca.

Meu fôlego faltou.

Expirei lentamente.

— Um homem chamado Matt. Ele é seu filho. Quer encontrá-la.

Carla tapou a boca com as duas mãos. Seus olhos se encheram de lágrimas.

— Eu não mereço isso… — ela sussurrou. — Eu era jovem. Tinha medo. Cometi o pior erro da minha vida… — sua voz falhou — Me culpei todos os dias. E nunca mais tive filhos. Talvez eu não merecesse.

Apertei a borda da mesa.

— Ele quer encontrá-la — disse firme. — Não o abandone de novo.

Seus ombros tremeram com o choro. Ela assentiu, cobrindo o rosto com as mãos.

— Obrigada… — ela disse entre soluços.

Levantei. Ela também. Na porta, hesitei.

— Última pergunta — disse, me virando.

Ela enxugou os olhos.

— Sim?

— Você lembra da mulher que teve um bebê no mesmo dia que você? Também se chamava Carla.

Seus lábios formaram um sorriso triste.

— Sim… — disse baixinho. — Eu a levei ao hospital. Ela já estava em trabalho de parto, mas não tinha carro.

Seus olhos suavizaram.

— Ela também teve um menino. Era você, não? Você tem os olhos dela.

Um nó subiu na minha garganta.

— Você sabe o que aconteceu com ela? — perguntei. — Nos registros não há sobrenome.

Carla suspirou profundamente.

— Ah, querido… — a voz dela ficou macia — Ela morreu no parto. Foi tudo muito rápido. Nem chegaram a registrar os dados dela.

Inspirei com força.

— Sei pouco, só o que ela contou no caminho — continuou Carla. — Ela não era da cidade. Só estava passando. Você nasceu prematuro. Ela estava assustada, mas queria muito você. Tudo o que ela pensava era em você.

Minhas mãos tremiam. Os olhos se encheram de lágrimas.

— A família dela nunca foi encontrada — disse Carla. — Ela foi enterrada aqui. A poucos quarteirões. No túmulo só tem o nome e a data dela.

Assenti, sem conseguir falar.

— Vou dar seu endereço ao Matt — finalmente disse. — E… obrigada.

— Obrigada a você… — ela sussurrou.

Saí da casa.

No carro, mandei o endereço da mãe para Matt.

Depois fui direto ao cemitério.

Encontrei o túmulo da minha mãe — uma pedra simples com nome e data.

Passei os dedos nas letras, pensando como ela era. Sempre acreditei que ela me abandonou. Mas agora eu sabia a verdade.

Ela me queria. Lutou por mim. Só não teve chance.

Não sei quanto tempo passou. O ar ficou mais frio, mas eu não conseguia sair.

Naquela noite, passando pela casa da Carla, vi Matt parado à porta dela. Ela o abraçou forte assim que ele entrou.

Senti alívio.

Pelo menos devolvi a alguém sua família.

Visited 293 times, 1 visit(s) today
Rate the article
( Пока оценок нет )